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Pomerode – volta ao passado com a Rota do Enxaimel e a Casa do Imigrante

Pomerode é uma cidade agradável e charmosa, mesmo sendo pequena, há vários atrativos. Mas o que a torna mais famosa é sem dúvida a Rota do Enxaimel. É localizada no bairro Testo Alto, uma área rural, porém próxima ao centro da cidade (como eu falei a cidade é pequena). A Rota do Enxaimel possui aproximadamente 16 km.

Nesse caminho, encontra-se a maior concentração de casas em estilo enxaimel existente fora da Alemanha, mesmo porque muitas foram destruídas durante a II Guerra Mundial. São cerca de 70 casas espalhadas ao longo da rota. Muitas delas foram tombadas pelo patrimônio histórico.

A arquitetura enxaimel retrata bem o modo de vida dos imigrantes alemães. Trata-se de uma técnica de construção onde a madeira assume a função estrutural. Os espaços entre a madeira são então vedados com tijolos que ficam aparente. O resultado são casas charmosas com uma aparência única.

Mapa da Rota do Enxaimel

A rota inicia-se perto do Portal Norte, na rua Testo Alto, com a casa Haut, um estabelecimento comercial e possui três alternativas. A primeira, mais curta, vai até a rua Gustav Krahn, retornando pela rua Progresso. A mais longa continua pela Testo Alto até a rua Morro Schmidt, antes de retornar pela rua Progresso, e a terceira, embora não faça parte oficial da rota, é recomendada pois vai até a Casa de Taipa de 1898. Nessa casa, o preenchimento da estrutura foi feito com taipa de mão, deixando as paredes brancas.

Casa de taipa de 1898 no final da rota mais longa do enxaimel

Na volta, a rota passa pelo mais antigo cemitério da cidade, próximo à Igreja de Testo Alto e termina na casa Wachholz-Voigt, a mais antiga casa enxaimel da região, de 1867, onde hoje funciona uma pousada. Cada casa tem o nome da família que a habita, o que dá mais personalidade ainda para a rota.

É muito tranquilo e gostoso andar pelas ruas de terra que compõem a rota, observando as casas com seus celeiros antigos, tudo emoldurado por uma bela paisagem bucólica. Como é área rural ainda vemos bois pastando na grama ao redor das casas e patos e marrecos andando de um lado para o outro sossegadamente. Tudo muito calmo, em uma harmonia perfeita com a paisagem existente no local.

Percorrendo aquele caminho, não tem como não pensar na calmaria que deve ser morar na região, um ambiente de natureza exuberante e muita paz. Afinal, para quem já morou na paulicéia desvairada, fazer o percurso na estrada de chão entre casas e celeiros antigos, é como ir de um extremo ao outro.

Estrada de chão batido na Rota do Enxaimel

Em uma das casas que paramos para fotografar, o proprietário apareceu para conversar e nos contou, em um português carregado de sotaque alemão, que aquela casa tinha 100 anos. Foi construída pelo seu pai e deixada de herança para ele, o filho caçula de muitos irmãos.

Entrada da casa do senhor Wendelin Siewert
Celeiro antigo a ser restaurado com madeiras doadas pela prefeitura

O simpático senhor Wendelin Siewert nos contou sobre sua família, pai, irmãos e filhos, todos habitando em Pomerode, a maioria na região da Rota do Enxaimel. Disse também que ia demolir o celeiro existente em frente à sua casa, do outro lado da rua, porém a prefeitura lhe doou as madeiras necessárias para a reforma com o objetivo de manter o celeiro o mais próximo possível do seu estado original. Isso mostra como a prefeitura age no sentido de manter o patrimônio histórico da cidade, uma atitude bem louvável.

O simpático senhor Siewert fez questão que sua cachorra aparecesse na foto

A rota pode ser percorrida de carro ou de bicicleta, sendo que dá para alugar bicicletas no Centro de Informações Turísticas, localizado no Portal Sul.

 

Casa do Imigrante Carl Weege

Para complementar o passeio pelas casinhas históricas, a melhor opção é visitar a Casa do Imigrante Carl Weege, localizada no alto da rua Frederico Weege, fora da rota. O museu é uma autêntica casa enxaimel decorada com móveis e objetos da época da colonização, incluindo roupas e até mesmo quadros e bordados escritos em alemão. O acervo constitui parte do patrimônio deixado pelo imigrante Carl Weege, que dá o nome para o museu.

Entrada da Casa do Imigrante Carl Weege
Uma linda igrejinha na região ajudando a compor a paisagem ao redor do museu

É muito interessante ver e sentir um pouco sobre como era a vida dos imigrantes nos primeiros anos de colonização, retratada nos móveis antigos, roda d’água, rancho com moenda de cana de açúcar e moinho de fubá de milho.

Quarto de casal no interior da casa
Armário da cozinha com louça da época

Se não bastasse isso, a paisagem ao redor do museu é linda, um local digno de ser visitado sem pressa. O museu é aberto de terça a domingo entre 9:00 e 12:00 e 13:00 e 17:00. O acesso é bem fácil e a entrada é gratuita.

Quarto no sótão cuja escada termina na cozinha
Bíblia antiga escrita em alemão

Marrakech – O que torna a praça Djemaa el Fna tão especial

O que faz a praça Djemaa el Fna (ou Jemaa el Fna) ser tão famosa? Afinal é impossível falar em Marrakech sem mencionar a Djemaa el Fna. Situada dentro da medina, a praça é o símbolo e o coração pulsante da cidade e talvez até mesmo do país.

Durante o dia, apenas um lugar calmo e vazio em Marrakech

Djemaa el Fna quer dizer algo parecido com Assembléia dos Mortos. O nome é devido ao fato de que antigamente era o local para execução de criminosos, porém não há muita certeza histórica sobre a veracidade da analogia.

Durante o dia o local é apenas um espaço aberto por onde circulam pessoas a pé ou em motos e bicicletas. Há também algumas barracas vendendo especiarias, frutas secas e suco de laranja. Porém, mesmo que à primeira vista pareça um local sem atrativos que não faz jus à sua fama, ainda assim é interessante conhecer a praça. Isso porque durante o dia já é possível encontrar encantadores de cobras e outros artistas. Por ter menos movimento nesse horário, fica mais fácil de tirar as tão esperadas fotos dos encantadores e suas cobras.

O encantador e sua flauta tocando sem parar

É um espetáculo único ver o encantador sentado calmamente no chão tocando sua flauta em uma música contínua, sinuosa, hipnótica. Ao seu lado ficam outros homens com pandeiros e outros instrumentos.

No site da Wikipédia há uma explicação sobre o encantamento das serpentes. Na verdade as cobras, incluindo a Naja, a mais comum nesse tipo de apresentação, são surdas aos sons emanados pela flauta, mas conseguem sentir as vibrações do solo. O que seduz a cobra de fato é o movimento da flauta e não sua música. Os encantadores de cobra também podem passar urina de rato na flauta, o que faz com que a cobra procure sua presa natural.

Música contínua, sinuosa e hipnótica

Como é de se esperar, para tirar as fotos é preciso pagar aos encantadores, ou qualquer outro artista que estiver no local. A melhor forma para não se esquentar com isso é combinar o preço antes assim como o número de fotos que deseja tirar. Os performistas podem ficar um pouco agressivos se acharem que não estão pagando o devido valor às fotos. Então o melhor a fazer é combinar o preço e tirar suas fotos sem se deixar apressar por eles. Em geral, pode-se pagar entre 10 a 20 dihans (11 dihans = 1 euro). É lógico que quanto mais fotos, mais dihans devem ser combinados. Como em qualquer negociação no Marrocos, aqui vale a pena pechinchar também.

Os performistas são insistentes para que se tirem fotos e alguns chegam a colocar a cobra no pescoço dos turistas. Então, quem não quiser ter uma cobra enrolada no pescoço na hora da foto é bom deixar bem claro. No meu caso acabei tirando várias fotos com uma cobra aparentemente mansa enrolada em mim, mas devo confessar que sentir aquela pele fria não é lá muito agradável.

Cobras e mais cobras aparentemente hipnotizadas

Também há adestradores de macacos, mas esses me desagradam profundamente, pois acho que o macaco deveria estar solto na floresta e não acorrentado em exposição para atrair a atenção dos turistas. Assim como fazem com as cobras, os adestradores também colocam os macacos nos ombros dos turistas que param para olhar ou mesmo que apenas passam perto de um deles.

Mesmo no caso das cobras é de se pensar que esse espetáculo, por mais exótico e histórico que seja, não deixa de ser exploração dos animais. No final das contas, não dá para ter certeza  se as cobras e macacos não estão expostos a maus tratos. Além disso, por estar fora de seu habitat natural, esses animais podem ter seu tempo de vida reduzido.

A multidão toma conta da Djemaa el Fna após o pôr do sol

Bom, se a praça é calma e vazia durante o dia, ao entardecer ela se transforma totalmente. À noite a Djemma el Fna  torna-se palco de um cenário deslumbrante formado por performistas, acrobatas, contadores de histórias, tatuadores de henna, encantadores de serpente, músicos, adivinhos, inúmeras barracas vendendo comida, vendedores de incensos e ainda mais.

Apesar de turística, a Djemaa el Fna é dos marroquinos e para os marroquinos, independente da classe social, se é homem ou mulher, se é árabe ou bérbere. Ali todos se juntam, todos se divertem e todos formam uma cultura única e rica. Por todo esse jeito excêntrico e curioso de ser, a Djemaa el Fna entrou para a lista de Patrimônio Imaterial e Oral da UNESCO. A praça também ganhou seu espaço no livro 1000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer de Patricia Schultz.

Mesas das inúmeras barracas de comida, restaurantes ao ar livre

É difícil explicar ou mesmo descrever a Djemaa el Fna. Palavras parecem não ser adequadas para expressar o que se vê no local, é preciso estar lá para sentir a vida pulsante, a transformação mágica que ocorre após o sol se pôr. Pessoas de todos os tipos, jeitos e pensamentos se misturam e se aglomeram, ficam paradas em volta dos contadores de histórias que gritam e se agitam em uma encenação sem fim, sentam para jantar nas mesas dispostas na frentes das incontáveis barracas que funcionam como restaurante onde os homens trabalham como cozinheiros, atendentes e garçons no meio de couscous, tajines ou cabeças de carneiros, ou simplesmente transitam entre os grupos formados.

A agitada multidão funciona como um antônimo para o nome, a Praça dos Mortos é cheia de vida.

Tajine, um dos pratos mais tradicionais do Marrocos, sendo preparado

É uma experiência tão única, rica e encantadora estar na praça que simplesmente não dá vontade de ir embora. Ali podemos nos perder, seja no meio da multidão, na mistura de performistas ou nos aromas vindo das barracas de comida ou dos vendedores de incenso. Para complementar, basta levantar os olhos e teremos uma bela visão do minarete da mesquita Koutoubia, que parece observar de longe toda aquela confluência de pessoas.

Para quem preferir não se aventurar no meio da multidão, dá para apreciar a agitação dos terraços dos muitos restaurantes existentes em volta da praça, comendo um tajine ou tomando um delicioso e tradicional chá de menta açucarado. Os passeio de charrete (ou caléche) também saem próximos da praça, tanto durante o dia, quanto à noite.

Uma das muitas barracas de comidas dispostas em longas fileiras

Alguns turistas podem ficar apreensivos de permanecerem na praça à noite, eu mesma vi alguns cuja curiosidade parecia brigar com o sentimento de insegurança. Como qualquer lugar turístico com muita aglomeração de pessoas, é bom tomar alguns cuidados e ficar atento. Não há assalto, mas podem existir alguns trombadinhas. Porém, nada que atrapalhe a diversão. A Djemaa el Fna é o coração e a alma de Marrakech, um lugar inesquecível que, com certeza absoluta, merece ser visitada e experimentada em tudo que ela oferece.

Uma mistura de aromas vindo das barracas permeia todos os cantos da Djemaa el Fna

 

A mesquita Koutoubia, símbolo de Marrakech

O primeiro lugar que visitamos no dia seguinte a nossa chegada em Marrakech foi a mesquita Koutoubia, localizada na avenida Mohammed V, próximo à praça Djemaa el Fna, o coração da medina. Eu particularmente estava muito ansiosa para visitá-la, pois havia lido vários relatos sobre sua beleza e imponência únicas. A visita é apenas do lado de fora, já que a entrada é proibida para não muçulmanos.

O minarete da Koutoubia domina a paisagem na avenida Mohammed V

o nome Koutoubia significa escritores. Uma das explicações para a mesquita ter esse nome era porque lá era o local onde se escreviam os livros. Outra explicação é que antigamente havia um mercado de livros nas proximidades.

A mesquita é considerada pelos marroquinos como tendo o minarete mais belo de todo o norte da África. Ela foi construída pelo sultão Yacoub Al Mansour, cujo desejo era construir 7 mesquitas para entrar no céu e ser recebido por 14 virgens. Sua construção teve seu início em 1150, terminando somente 40 anos depois.

O monumento é um típico exemplo da arte moura no país. Sua arquitetura serviu de modelo para outras duas mesquitas, a de Servilla, conhecida como Giralda, e a não terminada Hassan, a mesquita que rendeu boas histórias para os marroquinos em Rabat, mas não o paraíso para o sultão megalomaníaco, que morreu antes de finalizar a sétima mesquita.

 

A mesquita é rodeada por um belo jardim

Seu desenho é de uma beleza simples porém sofisticada, com formas detalhadas e proporcionais, daí sua fama de ser um dos monumentos mais bonitos da região do Maghreb (norte da África). Seu minarete possui 77 metros de altura com paredes de 13 metros de largura. Ele pode ser visto em um raio de até 25 kilômetros. Isso é favorecido também pela tradição marroquina de que nenhuma construção pode ser mais alta do que o minarete das mesquitas, pois seria arrogância construir uma casa ou prédio mais altos do que qualquer edifício, nesse caso as mesquitas, dedicado à Deus.

Outras construções e casas também foram influenciadas pela arquitetura da Koutoubia. A larga faixa vista na parte superior formada por cerâmica, as ameias pontiagudas no parapeito, a decoração diferente em cada lado da torre, os pequenos arcos e vários outros motivos decorativos florais, arabesques ou de caligrafias em relevo, podem ser visto em muitos edifícios espalhados por todo o Marrocos.

Detalhes do alto do minarete, com as faces que diferem entre si

No alto do minarete há três grandes esferas de cobre de tamanhos decrescente, um quesito tradicional nas mesquitas do país. A maior delas, que fica abaixo de todas, possui um diâmetro de dois metros. Normalmente são apenas três, porém, como tudo no Marrocos tem uma história, a Koutoubia não poderia ficar de fora. Diz a lenda local que a quarta esfera existente no alto foi um presente da esposa do sultão Yacoub el Mansour, como penitência por quebrar o jejum de três horas durante o Ramadã.

Visão da lateral e fundos da mesquita

A Koutoubia é rodeada por um belo jardim, um lugar ideal para uma parada de descanso onde podemos admirar com uma certa tranquilidade a beleza da arquitetura da mesquita. Digo com certa tranquilidade pois com toda certeza aparecerão vendedores de artesanatos e outras coisas procurando por turistas. No nosso caso, um insistente vendedor de roupas apareceu enquanto fotografávamos a frente da mesquita.

Lateral direita da mesquita vista do jardim

Pela sua beleza, história e símbolo de religiosidade do país, a Koutoubia domina a paisagem no horizonte de Marrakech. Além de ser tida como uma casa de espiritualidade para os marroquinos, a mesquita também é um must to see para turistas de todo o mundo. Não é à toa que alguns livros comparam sua importância turística para Marrakech sendo tão grande como a da Torre Eiffel para Paris.

No caminho de Fès a Marrakech, vivenciando a festa religiosa no Marrocos

No último dia em Fès, arrumamos nossa bagagem e saímos cedinho rumo à tão esperada Marrakech. Esse era um dia muito especial no Marrocos, e acredito que em todos os países muçulmanos também, afinal era a festa religiosa conhecida como O Sacrifício de Abraão ou a Festa do Cordeiro, fazendo referência à passagem bílbica onde Deus pede para Abraão sacrificar seu filho em honra a Ele, porém, na hora do sacrifício, um anjo é enviado e entrega a Abraão um cordeiro para ser sacrificado no lugar de seu filho Isaque (Gênesis, 22:1-19).

Desde nosso primeiro dia no Marrocos, em Casablanca, que víamos pessoas carregando cordeiros em carros, camionetes, carrinhos de mão e até mesmo nos próprios ombros. A mesma cena se repetia várias e várias vezes em Rabat, Meknès e Fès. Isso obviamente despertou minha curiosidade e foi então que descobri, que toda aquela movimentação era na verdade os preparativos para a festa religiosa, assim como as compras de Natal para nós.

Nas ruas de Casablanca, o comércio de cordeiros por todos os lados

A medida em que se aproxima a data, o comércio de cordeiros fica ainda mais intenso. A movimentação dentro da medina aumenta ainda mais, com pessoas agitadas comprando todos os preparativos para a grande festa.

No dia em si, as pessoas parecem mais calmas, mais tranquilas, mais centradas na festividade. Logo cedo, elas tomam um café da manhã bem especial e vão para as mesquitas participarem do culto. Os homens se dão quatro beijos para desejar boas festas. As crianças ganham roupas e sapatos novos, doces, presentes e dinheiro. Nesse ponto, a festa religiosa é parecida com o Natal com relação à importância da data e à troca de presentes. No entanto, as similaridades param por ai.

Em Casablanca víamos várias camionetes carregando cordeiros para diversas famílias

Quando as pessoas voltam da celebração na mesquita, elas dão início ao sacrifício do cordeiro e ai entra a parte que, para nós ocidentais, é difícil de compreender. As famílias vão então para a frente de suas casas e lá sacrificam o animal. Depois disso o penduram de cabeça para baixo para que todo o sangue escorra. O significado da festa está justamente no sacrifício do cordeiro, por isso não se pode apenas comprar a carne, deve-se comprar o cordeiro vivo e sacrificá-lo na frente da casa. Isso para reviver o sacrifício de Abraão, patriarca de todos os muçulmanos, que iria ceder seu filho a Deus. Sendo assim, as pessoas fazem esse ritual para atrair as bençãos de Deus para sua família e descendentes, uma vez que eles próprios são descendentes de Abraão. Assim, eles mantém vivo o compromisso de Abraão e sua descendência para com Deus.

Eu, particularmente, apesar de respeitar a fé e crença de cada um e de entender o forte significado religioso, não me senti bem com a questão do sacrifício. Quem me conhece, sabe como sou apegada a bichos e por isso decidi não olhar para nenhuma casa onde estivesse acontecendo o sacrifício. Essa atitude me rendeu muitas horas de viagem sem olhar para a estrada, pois por todos os lados haviam famílias comemorando a data.

Um rapaz leva seu cordeiro em um carrinho de mão em Meknès

Mesmo para eles é difícil encarar o ato de matar o cordeiro, principalmente para as crianças. Esse é o motivo pelo qual elas recebem mimos como presentes e doces, afinal os pequenos se apegam ao cordeiro nos dias em que precedem a comemoração e acabam sofrendo quando ele é morto. Alguns adultos também ficam sentidos. Nosso guia me contou que ele ainda lembra de quando era criança e via o cordeiro sendo morto. Ele também mencionou que, mesmo agora sendo adulto, não tem coragem para sacrificar o cordeiro. Quando isso ocorre,  um vizinho é chamado para executar a tarefa. Isso não deixa de ser um bonito ato de solidariedade, esquecendo de que se trata do ato de matar um bicho.

Outro ato de solidariedade religiosa é o fato de que famílias ricas costumam comprar dois 2 cordeiros, um para elas e outro para doarem a uma família pobre que não tem condições de adquirirem um. Dessa forma ninguém fica sem comemorar o dia religioso.

A mesma cena se repete nas ruelas da medina de Fès

No dia da festa mesmo não se come a carne, só no dia seguinte. Esse também é um dos motivos pelo qual o café da manhã é bem reforçado. No dia festivo, apenas o sangue é derramado lembrando o ato de Abraão, nos demais dias que se come a carne e depois aproveita até mesmo o couro do carneiro.

A Festa do Cordeiro não tem data fixa para ocorrer, assim como nossa Páscoa. Ela corresponde  ao final do ano muçulmano. Nesse caso, o  ano que começava para eles era o 1432, enquanto que para nós era novembro de 2010. O ano 1 islâmico corresponde ao nosso ano 622. Na verdade, eles seguem o calendário lunar, ao contrário de nós que seguimos o calendário solar ou gregoriano. No Islam, o ano começa com a fuga de Maomé de Meca para Medina (Hegira). O calendário possui 12 meses como o nosso, porém são mais curtos, com 30 ou 29 dias, o que dá 355 ou 354 dias, 11 dias a menos que o calendário gregoriano.

De um jeito....
....Ou de outro, o cordeiro vai para casa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vivenciar essa festa religiosa foi bom pelo fato de poder conhecer mais da cultura e fé do marroquino, porém para ser sincera foi um momento bem difícil para mim, por amar aos bichos (embora eu coma carne) e também pelo forte sentido religioso, envolvendo filhos e sacrifício. Mas de tudo, ou quase tudo, tiramos uma boa experiência e lição de vida.

À tarde, as casas, ruas e estradas ficaram silenciosas e aparentemente vazias. No final do dia, somente as viúvas dos carneiros permaneciam nos campos.

Ao final do dia, somente as viúvas dos cordeiros restam nos pastos na beira da estrada

 

 

 

Viajando com bebês pela primeira vez

Viajante de carteirinha como sou, uma das coisas que mais sonho em fazer com meu filho é justamente viajar com ele pelo Brasil e pelo mundo. Mas, agora que ele finalmente chegou para fazer parte da família de mochileiros, começaram a aparecer  as dúvidas: Quando começar a viajar com ele? Qual a idade adequada? Para onde ir? E, principalmente, o que levar?

Foi então que comecei a procurar na internet blogs de pessoas que viajam com crianças e encontrei vários com relatos de mães e pais que viajam sem problema com seus fofuchos. Coincidentemente, nessa mesma época, o site Viaje na Viagem do Ricardo Freire fez um levantamento de vários blogs sobre viagens com bebês e crianças. Recentemente, ainda foi publicado um post sobre destinos tidos como adultos onde se pode levar as crianças sem problema algum.

Lendo os relatos, vi que sim, é possível viajar com bebês, mesmo que sejam pequeninos e também que é mais comum do que se pensa a existência de pais e mães que viajam com seus filhotes, embora o “senso comum” diga que é trabalhoso, que não se deve viajar com bebês ou que o destino escolhido deve ser algo que tenha um parque ou piscina.

Sendo assim, com o carnaval chegando, o verão bem estabelecido e a vontade de viajar costumeira, tomei coragem e decidi viajar com uma companhia a mais, a do meu lindinho de apenas 2 meses e meio. Antes disso, realmente não é recomendável pela questão das vacinas.

Como estava procurando algo com natureza e um local que não fosse tão longe, por ser a primeira viagem com ele, acabei optando por uma pousada em Morretes, interior do Paraná. Um destino calmo, tranquilo, próximo da cidade onde moramos (Curitiba) e com muita natureza. Sem dúvida, um local agradável e bem adequado para quem queria fugir da agitação do carnaval.

Escolhido o local, comecei a pesquisar hospedagem. Aqui é importante escolher bem o tipo de acomodação de acordo com a necessidade. O quarto tem que ter uma infraestrutura que permita o bem estar de todos e principalmente do bebê. Assim, é adequado que o quarto possua ventilador ou aquecedor, conforme a estação do ano. Também é essencial ter um frigobar para guardar as frutas, sucos ou outros alimentos que o bebê faça uso.

No nosso caso, como a acomodação era um chalé, facilitou bastante o fato de ficarmos hospedados próximos à piscina. É bom perguntar no hotel ou pousada a localização do quarto em relação ao local onde ficará a maior parte do tempo (piscina, restaurante, etc), pois isso ajudará nas idas e vindas até a acomodação, afinal sempre tem algo que esquecemos de levar para a piscina ou outra coisa que o bebê necessite de acordo com a hora do dia.

Outra coisa para se ter em mente é o tempo gasto no trajeto. Como fomos no Carnaval, é de se esperar que as estradas estejam bem congestionadas, com um trânsito e uma lentidão que podem irritar o pequeno. Assim decidimos por fazer uma viagem mais reduzida, saindo no sábado e retornando na terça. Com isso não pegamos trânsito algum, nem na ida, nem na volta.

Antes de sair de casa para pegar a estrada é bom trocar a fralda no nenê e amamentá-lo, assim, ele viajará mais tranquilo, provavelmente dormindo a maior parte do tempo, se for muito novinho.

Quanto ao que levar, segue abaixo uma listinha de tudo o que o bebe pode precisar. Viajando de carro fica mais fácil, agora de avião já complica um pouco mais quanto à questão do espaço na bagagem para tanta coisa.

Roupas – aqui é só fazer o que toda mãe já está acostumada a fazer, independente do local escolhido, levar roupas leves e também as mais quentinhas, assim o bebê fica preparado para qualquer mudança de temperatura. Adicione manta, cueiro (que serve como um coringa em muitas situações) e um cobertozinho, aqueles que abotoam para virar saco de dormir são ótimos para levar, pois ocupam menos espaço e deixam o bebê bem acomodado.

Banho e higiene – Para o banho, uma boa substituta para a banheira é uma piscina inflável. Levamos uma e funcionou muito bem, aliás, ele adorou tomar banho na piscina. Ela também pode ser usada para refrescar o bebe durante o dia. Como em Morretes estava muito quente, colocamos a piscininha ao lado da piscina da pousada para um “mergulho” refrescante durante o dia.

Piscina inflável, boa para refrescar do calor e também para um banho gostoso no final do dia

Ainda para o banho, eu optei por levar sabonete líquido para cabelos e corpo. É mais fácil para guardar na nécessaire do que o sabonete em barra e ocupa menos espaço do que levar sabonete e shampoo. Outros itens para a higiene do bebê incluem cotonetes, lenços umedecidos, algodão (mesmo que não os use para a troca de fralda, é útil para aplicar alguma loção, repelente, etc e para limpeza também), pente ou escova e fraldinhas de boca, que são muitos úteis na hora da refeição, limpeza do suor, higiene da boquinha, dentre outras coisas. Para quem usa, é bom levar também o termômetro de banho para verificar a temperatura da água antes de dar banho no baby, porém esse item pode ser facilmente trocado pelo toque do cotovelo na água.

Quanto às fraldas descartáveis, leve apenas o necessário para os primeiros dias. Se a viagem for longa, procure desde o primeiro dia a farmácia mais próxima para comprar mais se precisar. O mesmo vale para os lenços umedecidos. Isso economiza espaço na bagagem. Agora, se você estiver indo para um lugar com dificil acesso a farmácias, calcule o número de trocas para saber a quantidade e o tamanho do pacote a ser levado. Na dúvida, conte 2 fraldas para cada mamada. Não esqueça também de levar a pomada contra assaduras.

Hora do sono– Como meu fofucho ainda dorme no carrinho de bebê, levei-o no porta-malas. Assim, embora estivesse fora de casa, ele dormiu na sua “caminha”, como se estivesse no seu quarto. Isso deixa o bebê mais tranquilo, afinal ele reconhece o lugar onde dormirá as próximas noites, mesmo que o quarto seja outro. Levamos também o mosquiteiro para o carrinho por causa dos muitos mosquitos existentes em Morretes. Para bebês novinhos, é bom levar o rolinho para colocar no carrinho na hora de dormir e evitar que eles virem durante o sono.

Medicamentos – Essa é a parte chata que preferimos não usar, mas mesmo assim é importante levar. Minha farmacinha inclui Rinosoro infantil (ou Sorine, tanto faz), Tylenol bebê e termômetro, para casos de febre inesperada, e um medicamento para cólica.

Cadeira de balanço, indispensável em qualquer viagem

Outros itens – Inclua na nécessaire do bebê o filtro solar, caso vá para a praia ou outro lugar com muito sol, e o repelente infantil, para lugares com muitos mosquitos, como era o nosso caso. Se o bebê usar chupetas, leve-as também, afinal acalmam, deixando-o bem tranquilo. O brinquedinho preferido também deve fazer parte da bagagem.

Outro item mágico é a cadeira de balanço. Meu bebê tem uma da Fisher-Price que mostrou ser algo indispensável em uma viagem. Com ela, ele ficava sentadinho, dormindo ou acordado, na beira da piscina, no jardim, no restaurante, na varanda, enfim, em todos os lugares, bem confortável, tranquilo e contente. Na hora do soninho, era só ligar o treme-treme, que ele dormia sem dar o menor trabalho.

Para os momentos de caminhadas com o bebê, aconselho levar o sling. Ele é prático para levar e deixa o bebê bem acomodado. O meu dorme quase o tempo todo quando estamos andando, afinal fica quentinho e o balançar do corpo na troca de passos, acaba por nina-lo. Não aconselho o canguru, pois, alguns podem fazer mal à coluna e articulações do bebê. O sling ajuda a melhor posicionar o peso do bebê, além de deixa-lo próximo da mãe, permitindo que ela fique com os braços livres para carregar bolsa, máquina fotográfica ou qualquer outra coisa. Eu uso o modelo wrap sling pois permite maior contato pele a pele com o bebê.

Acrescente à sua lista sacos de lixo pequenos, para as trocas de fraldas que possam ocorrer fora da acomodação ou até mesmo durante a viagem. Outra coisa que aprendi na viagem é levar sempre uma garrafa com água, para lavar as mãos caso aconteça algum “acidente” na hora da troca, e alcool 70% para desinfetar as mãos.

Com essas dicas, a viagem fica mais fácil e prazerosa para toda a família. A estadia em Morretes foi totalmente segura e meu filhote curtiu bastante. Com isso vi que é possível sim viajar com bebês, mesmo que sejam pequenininhos. Ainda não fiz nenhuma viagem de avião com ele, mas já estou planejando. Acredito que quando a criança cresce viajando e conhecendo novos ambientes e lugares, ele se desenvolve mais rápido e mais confiante.

Já estou sonhando com as próximas viagens. Pretendo aumentar a complexidade delas à medida em que ele for se desenvolvendo. O segredo é toda a família participar e curtir o passeio, sem estresse. Imprevistos podem acontecer, mas se planejarmos bem, estaremos preparados para eles.

O que há para ver na medina de Fès

Em Fès el-Bali (cidade antiga) é onde estão a maioria dos pontos turísticos de Fès. Só para se ter uma idéia, são 10.572 construções de interesse histórico, incluindo 185 mesquitas, numerosas medersas (universidades corânicas), vários palácios, o interessante curtume, além de restaurantes típicos e souks para comércio de tapetes, couro, especiarias, metais, etc.

Por tudo isso, Fès el-Bali entrou em 1981 na lista de patrimônios protegidos pela UNESCO, que atualmente promove a restauração de várias contruções e também da muralha ao redor da medina. Bom, simplesmente estar na medina já vale a pena, pelo fato de ser o lugar onde se vê o cotidiano puro do marroquino, sem a interferência da colonização européia, mas visitar os pontos turísticos existentes ali dentro é melhor ainda. Com certeza, estando em Fès, a medina medieval é o lugar onde se deseja passar a maior parte do tempo.

Nosso dia de exploração da medina começou passando pelo portão Bab Ftouh, um dos principais portões de acesso. Seu nome é devido ao príncipe Zenet, conhecido como Ftouh, que restaurou o portão até então chamado Bab Al-Qibla, dando seu nome a ele. Mesmo sendo famoso, ele não é um dos mais bonitos, na minha opinião. Seu desenho é robusto, quadrado e com linhas retas. No entanto, apesar da sua aparente simplicidade, não resta dúvida de que o portão seja realmente imponente devido ao tamanho e força de seu desenho.

O Bab Ftouh é um dos 4 principais portões de acesso para Fès el-Bali, juntamente com os portões Bab Boujeloud, Bab er R’cif e Bab Guissa. Esses portões servem como referência para caso alguém se perca no labirinto formado pelas ruelas da medina. Por trás desses portões há muito mais do que podemos imaginar ou esperar. Há um lugar onde a modernidade, máquinas, tecnologia e outros aspectos da vida moderna ainda não dominaram o cenário.

Linhas simples porém fortes do Bab Ftouh, um dos principais portões de acesso para a medina

Porém, não foi pelo Bab Ftouh que entramos na medina na nossa visita durante o dia, e sim pelo Bab er R’cif, um portão mais centralizado e melhor localizado. O Bab er R’cif possui um desenho mais trabalhado, sendo formado por um arco maior central ladeado por dois arcos menores. Em frente, há uma praça com várias pessoas transitando, assim como muitos ônibus de turismo, já anunciando a grande movimentação dentro da medina.

No local há vários guias oferencendo seus serviços. É mais seguro escolher os guias oficiais para acompanhar na visita à medina. No entanto, se optar por escolher um guia, é melhor deixar bem claro para ele se deseja ou não fazer compras, caso contrário ele levará somente para conhecer as lojas para turistas.

Bab er R’cif visto do terraço de uma loja de tapetes

O primeiro lugar que visitamos, após muito andarmos pelas ruas cheios de curiosidade, foi a Place Seffarine, um lugar aberto, em contraste com as ruelas onde pessoas e animais se espremem para conseguirem se locomover. Essa é a região do Souk das lojas de objetos de cobre e prata. Esclarecendo melhor, todo o comécio na medina está divido em souks de acordo com o tipo de artesanato ou produto vendido, então existem os souks para compras de tapetes, couro, henna, especiarias, etc.

Nesta praça se concentram os responsáveis por uma das profissões mais antiga de Fès, os artesãos que fabricam vasos, bandejas, candelabros, lustres, caldeirões e outros utensílios de ferro, cobre e prata.  São objetos que enchem a vista, sendo muito procurados para casamentos e festivais pelos nativos, além dos turistas ávidos por compras, obviamente.

Objetos de cobre, prata e ferro fabricados e vendidos na Place Seffarine

A Place Seffarine é a principal porta de entrada para a Biblioteca Kairaouine, que abriga mais de 32.000 manuscritos, incluindo textos sobre islamismo, matemática e ciência.

Escadaria da Biblioteca Kairaouine, que faz parte da universidade mais antiga do mundo árabe

A biblioteca faz parte do complexo formado pela universidade mesquita construída em 857 e tida como a mais antiga do mundo árabe. A fundação da universidade marca o início da Idade de Ouro de Fès.

A partir dessa época, houve um aumento das construções de mesquitas e foundouks na cidade, além de residências de luxo (algumas transformadas em belas lojas hoje em dia) e medersas (universidades).

Com isso, Fès acabou por se tornar a capital de um vasto império com comerciantes, artistas, estudiosos e estudantes de todo o mundo árabe reunindo-se em seus portões. Sua influência cultural e espiritual foi tamanha que a cidade chegou a ser referida como a “Atenas de África”.

Durante muitos séculos, a universidade Kairaouine foi a única fonte de estudo do Marrocos, daí a fama intelectual que permeia até hoje a cidade de Fès, motivo de orgulho para seus habitantes.

Não muçulmanos podem entrar e tirar foto na bela escadaria azul, mas não podem passar desse ponto.

A mesquita Kairaouine foi fundada pela filha do sultão Fatima el Fihria. Seu nome se origina da cidade de Kairouan, na Tunísia, cujos imigrantes costumavam viver nas proximidades. Ela faz parte de um dos importantes locais para ensino do islamismo e é considerada pelos marroquinos como o santuário dos santuários para oração e meditação.

 

Minarete da mesquita Kairaouine visto do terraço de uma loja de tapetes

É a única construção almorávida ainda em uso. Mais tarde, as dinastias almoáda, merenida, saadiana e alaoíta deixaram suas características no prédio. Sua forma atual foi conseguida no ano de 1135 pelo sultão almorávida Ali ibn-Yusuf. No início o local era pequeno, porém, posteriormente recebeu várias restaurações. Uma delas feita por artistas andaluzes que realçaram a arte moura-hispano, com portas e arcos feitos com cedro. A mesquita agora se extende por uma grande área dentro da medina e possui 14 entradas, com capacidade para até 20.000 pessoas.

Como é de esperar, é proibida a entrada de não mulçumanos, mas, se as portas estiverem abertas, podemos apreciar uma parte de seu interior do lado de fora das portas de cedro. Dessa forma dá para ter uma idéia do tamanho que a mesquita ocupa. Até a construção da mesquita Hassan II em Casablanca, a Kairaouine era a maior mesquita do Marrocos. O desenho interior da mesquita é similar à existente em Córdoba, com um pátio aberto e uma grande fonte no centro.

Interior da mesquita Kairaouine
Porta e arco trabalhados no interior da mesquita

 

 

Saindo da Place Seffarine, fomos caminhando até chegar no Fondouk Tetouani. Fondouks eram centros mercantis utilizados como casas de comércio, hotéis e armazéns. No geral, eles estão localizados ao longo das principais vias da Medina (Talaa el Kibira, Talaa Sghira, Ras Cherratine e Nejjarine) e próximos aos portões principais.

O Fondouk Tetouani foi fundado no século 14 por comerciantes vindos da cidade bérbere Tétouan, localizada no nordeste do Marrocos, daí seu nome. Originalmente o local servia como hotel para os comerciantes em viagem. Hoje em dia, a construção merenida é um lugar para vendas de tapetes. Pode-se entrar no fondouk sem a obrigação de comprar algum tapete, pois há um pátio central próprio para visitação.

Tapetes expostos nas sacadas do Fondouk Tetouani
Detalhe da fechadura da porta de entrada para o Fondouk Tetouani

Saindo do Foundouk Tetouani, vimos outra mesquita conhecida como Sidi Ahmed Tijani. Essa mesquita é dedicada aos peregrinos vindos do oeste africano em direção à Meca, a cidade sagrada para o Islamismo. A mesquita do século 18 contém a tumba de Sufi Shaykh, fundador da ordem Tijani.

A mesquita é facilmente reconhecida pelo belo minarete decorado com azulejos verdes e a porta no canto com desenhos pintados em tons vermelhos. Assim como as demais mesquitas da medina, a entrada é proibida para não muçulmanos.

Entrada para a mesquita Sidi Ahmed Tijani
Minarete decorado com grande quantidade de azulejos verdes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seguindo nossa visita à medina, chegamos em um dos lugares mais sagrados para os habitantes de Fès, a Zaouia Moulay Idriss II, localizada no coração da medina. Zaouia é uma mesquita construída ao redor da tumba de um santo do Islamismo, chamado de marabout. Nesse caso, a zaouia abriga o túmulo de Moulay Idriss II, fundador da cidade de Fès. Foi originalmente construída no século 6 em honra ao fundador da cidade e mais tarde restaurada pelos merenidas no século 13.

Barra de madeira indicando o limite para a passagem de não muçulmanos.

Ao lado das mesquitas Kairaouine e Koutoubia (em Marrakech), a zaouia Moulay Idriss II é uma das mais importantes mesquitas construídas. A zaouia possui uma grande barra de madeira entalhada que sinalizava o lugar onde cristãos e judeus não podiam mais passar. Os muçulmanos que passavam desse ponto podiam pedir asilo, caso estivessem fugindo da polícia, pois era proibido fazer qualquer prisão na área considerada sagrada.

Pátio interno da Zaouia Moulay Idriss II visto do lado de fora

Como o esperado, é proibida a entrada de não muçulmanos, mas é possível observar seu interior do lado de fora e os belos trabalhos em zellij (azulejos) que existem no local. Também é possível avistar o túmulo de Moulay Idriss II.

A zaouia é local de constante peregrinação, especialmente por mulheres devotas de Moulay Idriss II, que vão em busca de baraka ou boa sorte e fertilidade. Em uma das paredes da zaouia existe uma abertura própria para inserir cartas com os pedidos ou envelopes de doações.

Detalhe do belíssimo interior da Zaouia onde está o túmulo de Moulay Idriss II, fundador de Fès.

Depois da Zaouia, fomos almoçar, visitar algumas lojas e saímos da medina. No tempo em que ficamos fora, aproveitamos para visitar o Palais Royal ou Dar El-Makhzen (Palácio Real), localizado na Place des Alaouites, em Fès El Djedid (Ville Nouvelle). Este magnifico palácio, construído no século XIII pelos merenidas, possui imponentes portas de bronze e ocupa uma área de nada menos que 80 hectares. O Palácio tem a reputação, notadamente merecida, de estar entre as construções mais elegantes do Marrocos.

Fachada do Palácio Real na Ville Nouvele em Fès

Infelizmente, o palácio não é aberto à visitação, mas a simples visão da sua fachada já compensa. Dá para imaginar como é seu interior.

Enquanto estávamos na frente do palácio, um fotógrafo apareceu para tirar fotos dos turistas. No dia seguinte, ele estava vendendo as fotos na porta do nosso hotel. Isso acaba sendo algo bem comum no Marrocos. No entanto, deve-se tomar cuidado quando for tirar fotos que apareçam outras pessoas, pois eles tem o costume de pedir dinheiro quando percebem que saíram em alguma foto de turista. Além disso, também é considerado ofensivo tirar fotos das mulheres, especialmente daquelas usando a burca.

Detalhe dos mosaicos ao redor da porta de bronze

Perto do Palácio Real, ainda em Fès El Djedid fica o bairro judeu Mellah, fundando pelo sultão no final do século XVI para a comunidade judaica que habitava em Fès. Seu nome deriva da palavra árabe melh, que quer dizer sal.

O bairro difere dos outros locais em Fès pela arquitetura de suas casas. As moradias árabes possuem como característica principal o átrio ou jardim no meio da casa cercado pelos quartos, que são distribuídos ao redor do átrio. Com isso, a fachada das casas é, em geral, bem simples, ao contrário do seu interior. Já as casas judias possuem janelas, sacadas e decorações voltadas para o exterior, parecidas com as nossas mesmo.

Uma das ruas do bairro Mellah, com as casas judias acima das lojas do comércio.

Retornamos para a medina à noite, entrando dessa vez pelo portão de acesso mais famoso e mais bonito, o Bab Boujloud, um monumental portão decorado com zellijs azuis, localizados na face externa do portão, representando a cor de Fès,  e verdes, no lado interno do portão, representando a cor do alcorão. Apesar da aparência supostamente antiga, esse é o portão mais novo da medina, construído em 1913 pelos franceses durante o protetorado.

As construções ao redor do portão também são recentes, há vários restaurantes e cafés no local. Alguns deles com belos terraços para uma melhor visão da medina e suas construções.

Portão Bab Boujeloud com a Medersa Bou Inania ao fundo

Do Bab Boujeloud já se avista a Medersa Bou Inania, construída no século XIII pelo sultão merenida Abu Inane, do qual deriva seu nome. Medersas são escolas teológicas, onde se ensina o Alcorão. A Medersa Bou Inania é a maior e mais conhecida medersa merenida em Fès. Ela funciona como escola e local de oração. A construção é impecável, sua porta é de bronze e os degraus decorados com ônix e mármore, enquanto o minarete é decorado com mosaicos de madeira de cedro.

Próximo à medersa está o relógio de água feito de madeira entalhada em um friso. Reza a lenda que foi construído por um mago. Independente de ter sido ou não, é difícil imaginar como o relógio funciona. Abaixo dele tem um restaurante chamado Café Clock.

Relógio de água feito de madeira inscrustada na parede. Só mesmo o mago que o criou para saber como funciona…

Terminamos o dia andando pelas ruas da medina, vivenciando toda a movimentação da multidão às vésperas do importante feriado religioso chamado Sacrifício de Abraão, com toda agitação no comércio e bancas que vendiam especiarias, perfumes caseiros, especiarias, coentro, menta (expostos no chão) e até mesmo dentaduras, que são experimentadas pelos clientes antes de compra-las (arghhhh!).

Saímos da medina próximo ao portão Bab Chorfa, conhecido como o portão dos nobres e  construído em 1069.

Bab Chorfa, o portão dos nobres, visto à noite

Com certeza ainda há muito mais a ser visto, mas infelizmente tínhamos apenas um dia para visitar a medina. O tempo é curto para apreciar toda a riqueza cultural e arquitetônica de Fès el-Bali.

Após nossa bela visita à medina, retornamos ao nosso hotel para um delicioso jantar de tajine de carneiro e carne de caça com música ao vivo e uma muito esperada apresentação de dança do ventre, partes da cultura marroquina que serão melhores descritas em um próximo post.

Inshalá, vamos entrar na medina de Fès

Entrar na medina de Fès foi para mim um dos momentos mais esperados da viagem ao Marrocos. Depois de tanto ler sobre o local, em casa antes de viajar e durante o vôo para Madri, não tem como a curiosidade e a imaginação não aumentarem e criarem várias versões sobre como seria estar dentro da mais antiga medina do mundo árabe.

São tantos casos contados pelos turistas e guias e tantos anos de história dentro daqueles muros que ficamos extasiados só de atravessar os portões e sentir de perto o que é a vida dentro dos muros da medina.

Porém, antes de atravessar os portões e vivenciar o cotidiano mais puramente marroquino, nós subimos até o museu Borj Nord para termos uma magnífica vista da medina. O Borj Nord abriga o museu de armamento com uma coleção notável das armas feitas ou usadas no Marrocos.

Exterior do Borj Nord, o museu de armas fabricadas ou usadas no Marrocos

O Borj Nord era inicialmente um forte construído no século XVI, fazendo parte das muralhas de proteção da cidade, que posteriormente foi transformado no museu de armas, seguindo a tradição militar do local. São mais de 5000 peças em exibição divididas em 13 salas, incluindo armas do período pré-histórico até rifles modernos. A coleção é formada principalmente por doações da família real. Além do acervo marroquino há peças de origens européia, indiana e asiática.

Na verdade, esse não é o tipo de museu que gosto de visitar, mas, com certeza, a subida até o Borj Nord compensa pela vista que se tem da medina e dos seus arredores.

Medina de Fès vista do Borj Nord

Olhando dali de cima, a medina parece um local calmo e tranquilo, nem de longe deixando transparecer a agitação e barulho causados pela multidão que habita, transita, estuda, reza e trabalha por trás dos muros.

Estando ali, no alto do Borj Nord, admirando a bela paisagem formada pela medina com as montanhas ao fundo, naquela paz e quietude, a ansiedade para descer e atravessar os muros da cidade antiga aumentava cada vez mais.

Uma visão mais próxima da medina mostrando o amontoado de habitações, comércios e mesquitas

De lá de cima, também é possível avistar as ruínas das Tumbas Merenidas, rodeadas por uma belíssíma paisagem formada pela vegetação e pelas montanhas ao fundo. O local onde se encontram as tumbas, conhecido como Al Qolla, foi escolhido no século XIV para servir de necrópole real.

Lá foram enterrados vários sultões de linhagem real, porém hoje em dia o local encontra-se em ruínas. De fato, a paisagem em volta chama mais atenção dos que as tumbas somente.

Ruínas das Tumbas Merenidas vistas do Borj Nord

Após descer do Borj Nord, ainda passamos pelas muralhas do Kasbah Cherarda, um forte construído em 1670 pelo sultão Moulay Rashid com o objetivo de manter afastados as tribos bérberes do deserto. São no total 15 km de impressionantes muralhas que protegiam o suprimento de grãos dos ataques inimigos.

Os bérberes são na verdade os primeiros povos a habitarem no Marrocos, sendo que os árabes invadiram depois o local. Existe uma grande diferença cultural entre bérberes e árabes, incluindo idioma, crenças e hábitos, o que leva a uma certa rivalidade entre os dois povos até os dias de hoje.

Trecho das muralhas do Kasbah Cherarda. Os furos nas paredes são devido ao processo de restauração conduzido pela UNESCO

A medida em que nos aproximávamos da medina, maior era o número de pessoas na rua. Quando passamos de frente ao portão Bab Ftouh, um dos principais portões de entrada, vimos uma multidão de pessoas se espremendo por detrás dos muros. A mesma cena se repetiu quando passamos próximo ao Bab Boujeloud, outro imponente portão principal.

Isso era em parte justificável pois era véspera de um importante feriado religioso conhecido como O Sacrifício de Abraão. Por causa disso, todos os marroquinos estavam se preparando para a festa religiosa a ser celebrada no dia seguinte por todo o país.  O feriado e a sua comemoração serão em breve descritos em outro post, devido ao caráter forte da data e o tipo de comemoração, principalmente aos olhos de turistas ocidentais como nós.

Multidão de pessoas vista pelo lado de fora do Bab Boujeloud, uma das entradas principais para a medina
Nosso simpático guia explicando sobre as casas existentes dentro da medina

É importante saber que é totalmente necessária a presença de um guia para acompanhar a visita. Mesmo para mochileiros de plantão e viajantes de carteirinha experientes, é um risco desnecessário se aventurar pelas ruelas da medina sem a compania de um guia.

São 9400 ruelas espremidas dentro de 15 km de muralhas. A chance de alguém se perder lá dentro é bem grande.

E isso inclui até mesmo os próprios marroquinos, pois eu vi no noticiário da TV local, à noite, uma reportagem sobre pessoas desaparecidas que foram vistas pela última vez na medina.

Outra vantagem de se ter um guia é que ele pode explicar melhor tudo o que é visto na medina, suas contruções, seu comércio, suas mesquitas. São informações que enriquecem o passeio e nos dão um prazer maior por estar conhecendo um mundo tão diferente do nosso.

Nosso guia era muito simpático e bem humorado. Antes de entrarmos,  ele deixou bem claro o risco de se perder lá dentro, quando disse alegremente:

Inshalá, vamos entrar na medida e Inshalá sairemos de lá.

Inshalá é uma expressão árabe usada à exaustão pelos marroquinos e quer dizer “Se Deus quiser”. Bom, depois de ouvir isso, nossa vontade em conhecer as ruelas da medina aumentou ainda mais.

Quando atravessamos o portão para entrar na medina foi como se tivéssemos sido transportados para outro século. É como voltar no tempo ou estar em um filme como aqueles que passavam antigamente na Sessão da Tarde. É outro mundo, outra realidade, outra cultura. As palavras parecem poucas para descrever toda a sensação que temos por estar lá, é preciso vivenciar para melhor compreender.

Estando espremida no meio da multidão, o primeiro pensamento que vem à tona é “Socorro, me tirem daqui”. O segundo pensamento ” Espere um pouco, parece interessante” e o terceiro e definitivo é ” Oba, me deixem aqui, isso é realmente divertido”.

A medina é formada por uma confusão de pessoas e bichos se movimentando, rezando, fazendo comércio, enfim vivendo o dia a dia marroquino. Ali nossos sentidos ficam aguçados, visão, tato, olfato e audição são bombardeados com imagens, cheiros, sons, objetos que combinam e diferem ao mesmo tempo, formando uma estranha, porém instigante sinfonia.

Pessoas se espremendo nas ruelas da medina

Medina em árabe significa cidade antiga. É o centro urbano em que se vivia, e que ainda se vive, em muitas das cidades árabes. Na medina de Fès (Fés el Bali) vivem cerca de 500 mil pessoas que habitam e transitam por suas ruas.

O comércio é formado pelo que poderíamos chamar de quiosques ou bancas, um do lado do outro, onde são vendidos cereais, carnes, utensílios domésticos, roupas e quaquer outra coisa que se queira comprar, tudo misturado. Algumas lojas são maiores formadas por casas espaçosas. São as lojas mais especializadas que vendem tapetes, roupas e especiarias.

Loja de azeitonas em uma das ruas da medina. As azeitonas são altamente apreciadas pelos marroquinos, sendo servidas inclusive no café da manhã

Quanto ao comércio de alimentos, laticínios, carnes e peixes, podemos dizer que eles desconhecem qualquer conceito de vigilância sanitária. Não há refrigeração e tudo fica muito exposto. Vimos até mesmo maços de coentro distribuidos em tapetes no chão, próximos aos pés das pessoas e mulas. Isso me faz pensar quão bom deve ser o sistema imunológico dos marroquinos.

Nos açougues é vendido de tudo, desde carnes de carneiros até de camelos. Todas as partes são apreciadas, inclusive as cabeças. Algumas placas anunciam em específico o preço das cabeças. Essas carnes também são vendidas sem refrigeração ou qualquer outra medida de higiene e ficam expostas próximas à passagem de pessoas, mulas e o que mais estiver transitando no local.

Cabeça de camelo sendo vendida em um açougue. Qualquer tipo de carne serve como fonte de alimento

Na medina não é possível entrar carros, então o transporte é feito com mulas que são conhecidas como os taxis da medina. Quando se escuta alguém falando “Balak Balak” é porque está passando com uma mula e por isso pede licença. Nesse caso é bom se espremer contra uma das paredes ou bancas para deixa-los passar, pois como dizia nosso guia, esse é um tipo de taxi que pode morder.

Taxis da medina

Escutamos muitos” Balak Balak” e era sempre uma diversão pois todos do grupo começavam a gritar Balak Balak também, juntamente com o dono da mula, porém obviamente os marroquinos eram bem mais discretos com o Balak do que nós viajantes admirados.

Lavadores de lã executam suas tarefas em uma das ruelas da medina

Para quem gosta de bichos e tem por hábito e crença defender os animais, como eu, a visão das mulas sobrecarregadas de peso, com a língua para fora, não é muito agradável. Dá pena dos pobres bichos trabalhando tão arduamente, carregando alimentos, tecidos, objetos pessoais e tudo o mais que puder ser colocado em suas costas.

O que não é carregado pelas mulas, acaba sendo transportado por carrinhos de mão ou levado nas costas das pessoas. Mesmo com pena das mulas, nota-se que a vida também não é fácil para os habitantes da medina e pessoas que necessitam transitar por lá diariamente.

 

Foi na medina de Fès que as cenas da novela O Clone foram gravadas. Curiosamente, eles lembram desse fato até hoje se referindo como a “famosa novela brasileira”.

As casas habitadas parecem ser muito simples vistas por fora, pois vemos apenas a porta de entrada, porém na verdade são grandes e espaçosas por dentro. Seguindo a arquitetura típica árabe, há um corredor por trás da porta de entrada que leva para um átrio central, alguns com fonte de água do meio, rodeado pelos cômodos.

No segundo andar ficam os quartos, geralmente espaçosos também e no último andar o terraço, que alguns usam como varanda ou quintal. É comum ver ali alguns varais com roupas estendidas para secarem.

A maioria das casas também possuem comunicação entre si, assim as mulheres poderiam visitar umas às outras sem precisarem sair nas ruas. Dessa forma, elas permaneciam grande parte do tempo dentro das moradias.

No alto das casas é possível ver pequenas janelas com grades de ferro feitas com desenhos arabescos. Essas janelinhas serviam para permitir às mulheres que vissem a movimentação das ruas sem serem vistas por quem lá estivesse passando.

Outro ponto em comum das casas dentro da medina é que elas não possuem forno, pois seria impossível assar alguma coisa nas casas sem “poluir” o ar da medina. Há um forno grande e comunitário que os moradores usam. É comum ver várias meninas novas carregando sobre as cabeças ou nas mãos tabuleiros de pães para assar ou recém assados no forno comunitário.

A estrutura interna das casas é bem visível nas lojas de tapetes ou couro que visitamos. As lojas, assim como as compras tão desejadas para quem vai ao Marrocos, serão melhor detalhadas em outro post. Isso porque comprar no Marrocos não é uma atividade qualquer, leva tempo e dedicação para o extenso processo de barganha tão característico do país.

Parecem estranhos, mas esses vegetais secos à venda são usados como palito de dentes pelos marroquinos

Os únicos momentos em que a vida dentro dos muros da medina parece se acalmar um pouco são durante as chamadas para oração. Nessa hora, várias pessoas se dirigem à mesquita mais próxima para orar. É nítida a mudança de humor nas ruas e comércios. O respeito pela fé e crença fala mais alto do que qualquer atividade cotidiana.

Uma rua incrivelmente calma e vazia durante o chamado para a oração. Algumas lojas já estão fechadas por causa do feriado religioso

Para que todos possam se dirigir à mesquita, há por todas as ruas uma linha formada por círculos salientes nas paredes. Essas bolinhas existentes por todos os lados servem para guiar os cegos, que tocando nas bolinhas conseguem se locomover em direção às mesquitas e assim cumprirem as obrigações religiosas.

Quando termina o chamado, a vida volta a pulsar freneticamente em todas as ruelas e comércios existentes.

Tâmaras,passas e outras frutas secas de um lado…
… e uma loja de vestidos ricamente bordados do outro

Estando dentro da medina, não se sente vontade de sair. Sem dúvida, é um mundo diferente, algo que parece ser possível apenas na imaginação ou nos contos árabes. Visitamos o local durante o dia e à noite, e cada momento foi prazeiroso e memorável, mesmo com toda a agitação da multidão, aumentada ainda mais por ser a véspera do feriado religioso, mesmo com a presença das mulas, carneiros e outros bichos se misturando com as pessoas. No final, tudo era novo e fascinante.

Vendedor de perfumes trabalhando à noite
Confusão em uma das lojas da medina

Para quem vai ao Marrocos, a visita à medina de Fès é com certeza um ponto obrigatório. Tanto por ser a medina mais antiga do mundo árabe, quanto por ser um experiência única, com direito a sermos transportados para outra época, um período onde o tempo permaneceu o mesmo, sem se alterar apesar de todas as mudanças ocorridas no mundo tecnológico em que vivemos hoje em dia.

De todos os lugares que visitei no Marrocos, a medina de Fès é um dos que mais me lembro com saudade e com uma imensa vontade de voltar para vivenciar novamente toda a confusão, aglomeração e barulho existentes por detrás das muralhas. Não é à toa que a medina faz parte do patrimônio mundial protegido pela UNESCO.

À noite, os muros da medina parecem ainda mais imponentes

 

Lavadores de lã executam suas tarefas em uma das ruelas da medina

Para quem gosta de bichos e tem por hábito e crença defender os animais, como eu, a visão das mulas sobrecarregadas de peso, com a língua para fora, não é muito agradável. Dá pena dos pobres bichos trabalhando tão arduamente.

Fès, a cidade imperial mais antiga do Marrocos

Saindo de Meknès, e após passar por Volubilis, fomos para Fès que, para mim, foi o auge da viagem ao Marrocos.

Em Fès, podemos sentir o mais puro jeito de ser do marroquino. Sua medina formada pelo labirinto de ruelas, os souks repletos de lindos tapetes, artesanatos e roupas, com vendedores ávidos por turistas, as muitas mesquitas, o belíssimo palácio real, a multidão de pessoas nas ruas e a olaria onde aprendemos como são feitos os magníficos mosaicos são lembranças que, com certeza, não serão esquecidas.

Decididamente, Fès é uma cidade que deve constar no roteiro de qualquer pessoa que vá para o Marrocos.

Fès está situada a 60 km de Meknès. A cidade é a mais antiga dentre as cidades imperiais do Marrocos, sendo a primeira capital do país. É uma das cidades mais prestigiadas no mundo islâmico, devido ao fato de ter sido por séculos o centro da cultura e religião para a civilização Magrebe (povos do noroeste da África, abrangendo Marrocos, Tunísia e Argélia).

Vista do alto da medina de Fès, a mais antiga do mundo árabe

A cidade foi fundada em 789 por Idriss I. Sua localização geográfica nas terras férteis ao pé do Monte  Zalagh, favoreceu o crescimento econômico e político, sendo um fator decisivo para o desenvolvimento e influência da cidade.

Fès foi a capital política e espiritual de Marrocos por mais de 1.000 anos desde a sua criação por Moulay Idriss. Sua fase áurea foi na Idade Média, quando estava no centro da vida política, cultural e religiosa do Marrocos e de todo o mundo muçulmano, sendo referência em matemática, filosofia e medicina.

Muros ao redor de Fès el-Bali, a cidade antiga

No reinado dos Almorávidas e Almoádas, a capital do Marrocos se mudou para Marrakech, somente quando os Merenidas chegaram ao poder que Fès voltou a ser a capital do reino. Nessa época, a cidade era pequena demais e um novo centro urbano teve que ser desenvolvido, chamado de Fès el-Jedid (nova Fès), onde se encontra o palácio real.

Fès el-Bali (antiga Fès) foi submetida à restauração e é, no meu ponto de vista, o lugar mais interessante para se visitar, pois é onde se encontra a intrigante medina. Mais tarde, a capital voltou a ser Marrakesh, no reinado dos sauditas e, posteriormente foi transferida para Meknès, no reinado de Moulay Ismail. Durante todo esse tempo, aproximadamente 2 séculos, Fès caiu no abandono. Somente no reinado do sultão Alauíta Moulay Abdullah que a cidade voltou a ser a capital, até o estabelecimento de Protetorado, onde então a capital do reino do Marrocos passou a ser Rabat, que permanece até hoje.

Aglomerado de pessoas em uma das portas de entrada para a medina.

Hoje em dia, Fès é a segunda maior cidade do Marrocos, com uma população de aproximadamente 1 milhão de  habitantes. A cidade mostra influências dos povos árabes, berberes, judeus e da Andaluzia. Ela é conhecida por seus belos artesanatos, sendo uma das melhores cidades para ir às compras.

Uma vez que comprar no Marrocos é praticamente um processo que necessita tempo e dedicação, esse será um tópico discutido mais adiante.

Vendedores no interior de uma loja de tapetes em Fès el-Bali

Assim como cada cidade no Marrocos é conhecida por uma cor, Fès também possui sua cor característica, o azul cobalto, facilmente visível no artesanato, principalmente nos mosaicos e vasos.

Belíssimo mosaico feito manualmente na olaria de Fès

O povo de Fès é simpático e amigável. Eles são orgulhosos de sua cidade pela importância histórica, cultural e religiosa. Afinal a cidade possui a medina mais antiga do mundo árabe. Sua autenticidade e seus mais de 1200 anos de idade lhe valeram a entrada para a lista de Patrimônio da Humanidade da UNESCO, dentre as muitas construções famosas em Fès, pode-se citar a primeira universidade islâmica que se encontra no interior da medina.

Vendedor de tâmaras no interior da medina

Fès é um mundo a ser descoberto. A cidade ainda mantém o ar de Idade Média, misturado com a vida moderna fora dos muros da medina.

Visitar Fès é uma experiência única que merece ser vivida com calma, mergulhando na sua autenticidade, onde os anos parecem não ter passado. O local é fascinante, é preciso estar lá para entender e sentir todo o mistério, magia e peculiaridades da sua medina e de tudo o mais que envolve e representa a cidade.

Decididamente, nenhuma viagem ao Marrocos está completa se Fès não fizer parte do roteiro.

 

 

 

Volubilis, um pedaço do Império Romano no Marrocos (parte II)

Detalhe de uma coluna coríntia em Volubilis

No post anterior, falei sobre o sítio arqueológico de Volubilis desde a entrada até o final da Decumanus Maximus, a principal via leste-oeste das cidades romanas. Agora partiremos desse ponto até a saída de Volubilis.

Ao final da Decumanus Maximus, encontra-se a Maison à l’Ephèbe (Casa de Éfebo), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um jovem (éfebo) encontrada em suas ruínas e hoje em exposição no museu de Rabat.

O desenho da casa é muito semelhante à Casa de Orfeu, com um átrio central, quartos privados e públicos e uma prensa de azeite na parte traseira. Essas prensas, aliás, eram bem comuns em Volubilis, já que um dos principais cultivos existentes era de olivas.

O mosaico na casa mais conhecido é uma representação de Baco, o deus do vinho, em uma carruagem puxada por panteras.

Nesse ponto, a Decumanus Maximus cruza com a Cardus Maximus, que era a principal via norte-sul das cidades romanas. Era nessa via que se encontravam as principais construções como fórum, capitólio e basílica.

Um fator interessante da Cardus Maximus era que essa via era sempre direcionada para a próxima cidade romana, e assim sucessivamente, até chegar em Roma. Daí se originou o ditado “Todos os caminhos levam à Roma“.

Neste cruzamento, encontra-se o belíssimo Arco Triunfal ou Arco de Caracalla, construído em 217 DC em homenagem ao imperador Caracalla. O arco relativamente preservado possui colunas coríntias feitas com mármore importado. Em cada pilar encontram-se medalhões esculpidos que retratam provavelmente o imperador Aurelius Antoninus (Caracalla) e sua mãe Julia Augusta, cujo nome também está nas inscrições acima do arco.

Belo Arco de Caracalla no cruzamento da Decumanus Maximus com a Cardus Maximus

O propósito do arco era claramente o de mostrar a onipotência de Roma e de seu imperador aos olhos das populações árabes. As inscrições acima do arco exaltam as virtudes e o poder do imperador Caracalla e de sua mãe Julia Augusta.

Detalhe das inscrições existentes no alto do Arco de Caracalla

Logo ao lado do Arco de Caracalla está a Maison au Chien (Casa do Cachorro), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um cachorro encontrada no local. A casa é facilmente reconhecida por ter em seu interior uma pedra com um orgão masculino esculpido. A escultura servia para indicar o caminho para o bordel, um tipo de casa existente em todas as cidades romanas. Os bordéis eram identificados por sinais como esse, pintados ou esculpidos, sempre apontando em direção ao estabelecimento.

Também em frente ao Arco de Caracalla e a Maison au Chien, encontram-se as Termas, onde ficavam os banheiros públicos.

Termas romanas existentes no centro de Volubilis, em frente ao Arco de Caracalla

Os banheiros romanos geralmente são reconhecíveis por possuírem lugares para se encostar, como assentos, por onde passava água corrente por baixo para levar os resíduos. Os assentos eram distribuídos de forma cicular. Os menores no interior eram destinados para mulheres e crianças, enquanto os maiores no exterior eram para os homens.

Imagino que esses banheiros públicos não deviam ser nada agradáveis nem higiênicos. Segundo o guia, a água que corria por baixo continha rosas com o objetivo de mascarar o odor. Arghhh!

Guia mostrando como as pessoas se sentavam nos banheiros públicos

Continuando a caminhada pela Cardus Maximus, chegamos na Maison au Desultor (Casa do Atleta ou Casa do Acrobata), onde há mosaicos se referindo à vida cotidiana de Volubilis. Um deles retrata um acrobata em cima de um cavalo, outro mostra o desenho de peixes com a inscrição Piscat (pesca) em cima.

Mosaico mostrando um acrobata sentado de costas em um cavalo

Chegamos agora nas principais construções romanas em Volubilis. A primeira delas é o Fórum ocupando uma área de 1300 metros². O Fórum consistia na principal base da vida administrativa, política e religiosa da cidade. Era no Fórum que eram feitos discursos em homenagens a algum nobre falecido ou ao imperador.

Em um dos lados do prédio ficava o templo e no outro, a Basílica. O local era rodeado de muitas estátuas de mármore ou bronze, porém hoje em dia restam apenas os pedestais das mesmas.

Ruínas do Fórum, centro da vida política, administrativa e religiosa da cidade

A Basílica estende-se por cerca de 1000m². Sem dúvida, esta é a construção que mais chama a atenção em Volubilis. Logo da entrada já é possível ver suas imponentes ruínas.  Era na Basílica que aconteciam as audiências  judiciárias e a administração da cidade, dirigida por sete juízes.

Este é um dos locais mais bonitos de Volubilis que fornece um belo exemplo da arquitetura romana, além de mostrar claramente como funcionava a parte política e administrativa da cidade na época.

Basílica de Volubilis, um dos principais prédios da cidade romana

Logo atrás da Basílica está o Templo Capitolino, construído em honra do imperador Macrinus em 217 DC.  O templo ficava em um espaçoso pátio pavimentado, cercado de vários  pórticos. Ao pé da escadaria ficava o altar retangular para os sacrifícios.

O Templo Capitolino possui quatro colunas na frente que foram  magnificamente restauradas e duas outras na parte posterior.

Imponentes ruínas do Capitólio com um lindo ninho de cegonha em uma das colunas

Chegamos agora ao final da Cardus Maximus e da visita aos principais pontos de Volubilis.

Como dá para notar, vale muito a pena visitar Volubilis. Esse grande sítio arqueológico merece ser explorado calmamente, pois há várias casas, mosaicos, ruas, arcos e os belos edifícios públicos como a Basílica, o Fórum e o Capitólio. Volubilis nos presenteia com uma mostra muito completa do que era uma cidade romana na época, sua organização, mosaicos e arquitetura.

Como acontece em vários outros sítios arqueológicos, muitas das peças encontradas no local estão dispersas por vários museus no mundo. Algumas peças porém permanecem no Marrocos, no Museu Arqueológico em Rabat.

Infelizmente também, muitos dos mármores existentes nas construções foram retirados a mando do sultão megalomaníaco Moulay Ismail para as suas construções em Meknès, contribuindo para a depredação do local. Além disso, vários prédios que ainda estavam de pé acabaram por ruírem devido ao terremoto de Lisboa em 1772.

Uma das muitas oliveiras existentes no local, principal cultivo de Volubilis (não caiam na tentação de provar uma, são terrivelmente ruins...).

O simpático guia local que nos acompanhou lamentou profundamente que Volubilis não está tão preservada quanto deveria e completou falando que ainda tem muito o que explorar no local, pois, na verdade, menos da metade de todo o sítio foi escavado.

Fico imaginando quanta riqueza e história ainda estão escondidas abaixo de toda aquela imensa área a ser escavada.

Ruínas de Volubilis rodeadas pela bela paisagem das Montanhas Atlas.

O sítio arqueológico de Volubilis, assim como o Heri es Souani de Meknès, foi usado como cenário para o filme de  Martin Scorsese, A Última Tentação de Cristo.

O local é aberto diariamente ao público entre 9:00 e 12:00 e depois das 14:30 às 18:00. O ingresso custa 20,00 dihans, aproximadamente 2,00 euros.

Mais informações:

Site de Volubilis

Volubilis, um pedaço do Império Romano no Marrocos (parte I)

Após conhecer Meknès, fui para Volubilis, um sítio arqueológico, protegido pela UNESCO desde 1997. A cidade que ali existia pertencia ao Império Romano,  porém, sua origem parece ser ainda mais antiga. Algumas escavações feitas em 1915 revelaram que o local já era habitado na Idade do Ferro e no período Cartagiano no século 3 AC.

Com a dominação romana, em 45 DC,  o local ganhou as características típicas da urbanização das cidades romanas: muralhas, fórum, capitólio e basílica. A cidade aumentou de tamanho e ganhou uma grande malha de ruas em 169 DC.

Como muitos lugares no Marrocos, existem guias locais na entrada oferecendo seus conhecimentos. Nesse caso, compensa aproveitar a presença do guia, pois ele nos mostra detalhes que passariam despercebidos ou seriam interpretados erroneamente. Os guias falam inglês, francês, espanhol e árabe.

Volubilis fica a apenas 33 km de Meknès e 4 km de Moulay Idriss. É possível se hospedar em qualquer uma dessas cidades e de lá pegar o Grand Taxi para até Volubilis. Esses taxis são do mesmo tipo existentes nas demais cidades do Marrocos e não saem muito caro.

As ruínas que se vê hoje em dia são dos séculos II e III DC. Estima-se que em seu auge, Volubilis tinha uma população de cerca de 20.000 pessoas. A cidade era o posto mais afastado de Roma e fornecia ao Império olivas e trigo, além de animais selvagens como leões e ursos do Atlas para os jogos nas arenas. Foram tantos animais enviados à Roma, que o urso do Atlas, único urso da África, entrou em extinção. O último a ser visto foi em 1867, na fronteira entre Marrocos e Argélia.

Ruínas do templo com as montanhas Atlas ao fundo

A entrada  para a cidade romana é feita pela porta sudeste. De lá dá para ver a cidade sagrada de Moulay Idriss e seu formato de camelo deitado. A paisagem ao redor também é muito bonita, com as montanhas Atlas ao fundo.

Começamos a caminhada pelo sítio arqueológico andando por entre as ruínas do Templo dedicado a Saturno, deus do tempo (Cronos para os gregos), porém, o templo parece ter sido um local de adoração para os cartagianos também, pois várias oferendas votivas foram descobertas durante as escavações.

Ruínas de um dos templos encontrados em Volubilis

Passando pelas ruínas, chega-se à rua do Aqueduto construído ao final do primeiro século DC. O aqueduto coletava água de uma fonte localizada a cerca de 1 kilometro da cidade. Dele saiam tubulações que forneciam água para as casas particulares, fontes e banhos e banheiros públicos.

No alto da rua do Aqueduto, encontra-se a Maison au Cortège de Vénus (Casa da Procissão de Vênus), onde estão um dos mais preservados mosaicos de Volubilis. Não se pode entrar na casa, mas é possível ver os mosaicos andando ao redor dela. O primeiro mosaico mostra a cena da deusa da caça, Diana, sendo surpreendida durante o banho pelo caçador Actéon. Irritada com a intromissão, Diana transforma o descuidado caçador em um cervo que acaba sendo devorado pelos próprios cães.

Belíssimo mosaico representando a cena de Diana sendo surpreendida no banho por Acteón

O segundo mosaico mostra a cena de Hylas sendo seduzido e levado pelas ninfas do lago. Hylas era um rapaz amado por Hércules que foi raptado pelas ninfas da água quando foi matar a sede em um rio.

A casa de Vênus é uma das maiores de Volubilis (mais de 1000 m²) e mostra o típico arranjo de casas romanas. A entrada principal conduz a um vestíbulo de grande porte que se abre diretamente para um pátio com piscina. Ao redor do pátio estão os quartos e salas de recepção, estar e jantar. Não se sabe quem morou nessa casa, mas com certeza fazia parte da alta classe de Volubilis, pois foram encontrados os bustos de Cato e Juba II, personagens importantes na história de Roma.

Detalhe da Maison au Cortège de Vénus, mostrando algumas paredes e o chão enfeitado com o mosaico de Diana e Acteón

Chegamos agora na rua principal de Volubilis, a Decumanus Maximus, essa avenida existia em todas as cidades romanas, sendo a principal via que ligava a cidade na direção leste-oeste.  Nela se encontravam as melhores mansões e seus belos mosaicos. No topo da Decumanus Maximus se vê a Porta de Tanger que data de 168 DC e servia como porta de entrada para Volubilis.

Porta de Tanger vista da Decumanus Maximus, o portal servia como entrada para a cidade

Continuando pela Decumanus Maximus, iremos passar por várias das principais mansões de Volubilis. Logo no início se encontra o Palais de Gordien, facilmente reconhecido pela quantidade de colunas. O local era a residência dos procuradores que administravam a cidade. Infelizmente, hoje se encontra bem depredado e sem mosaicos, graças aos saques comandados por Moulay Ismail de Meknès.

Colunas que restaram do Palais des Gordien

Na sequencia, ao lado direito, tem-se as casas Maison des Fauves, com mosaicos de leões, panteras e tigres, Maison du Bain des Nymphes e Maison de Dionysos. Bem de frente, do outro lado da rua, está a Maison des Néréides. Na Maison de Dionysos, o deus do vinho é representado nos mosaicos coroado com folhas de videira. Além do deus, os mosaicos também fazem alusão às quatro estações do ano.

Detalhe do mosaico na Maison de Dionysos, o deus do vinho conhecido também como Baco.

Após, tem-se a Maison aux Travaux d’Hercule (Casa dos Trabalhos de Hércules). Nessa casa, os mosaicos, distribuídos em painéis ovais, representam os 12 trabalhos que Hércules executou: Matar o leão de Neméia, matar a Hidra de Lerna, capturar o javali de Erimanto, capturar a corsa de Cerinéia, que tinha os cascos de bronze e os chifres de ouro, expulsar as aves do lago Estinfale, na Arcádia, limpar os estábulos do rei Augias, da Élida, em um só dia, capturar o touro selvagem de Minos, rei dos cretenses, capturar os cavalos devoradores de homens do rei Diomedes da Trácia, obter o cinto de Hipólita, rainha das Amazonas, as mulheres guerreiras, buscar o gado do monstro Gerião, levar as maçãs de ouro do jardim das Hespérides para Euristeu e, por fim, capturar Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os infernos.

Na casa de Hércules também há mosaicos com motivos para espantar o mau olhado, como golfinhos, tridentes e a suástica.

Detalhes do belo mosaico existente na Casa dos Trabalhos de Hércules

A casa vizinha é a Maison au Cavalier (Casa do Cavaleiro), com o parcialmente destruído, porém belo, mosaico de Dionísio descobrindo sua amada Ariadne dormindo na praia de Naxos. A casa ganhou esse nome por ter sido o local onde foi encontrada, em 1918, uma estátua de bronze de um cavaleiro. A casa apresenta um formato quadricular com uma área total de 1700 m².

Olhando o estraordinário mosaico, fica-se imaginando como era feito na época um trabalho tão detalhista e perfeito.

Mosaico incompleto mostrando Dionísio e Ariadne na praia de Naxos

Atravessando uma porta, entramos na casa vizinha, a Maison aux Colonnes (Casa das Colunas), parcialmente restaurada. A casa não possui mosaicos, no centro há uma grande piscina circular rodeada por colunas retorcidas, as quais deram origem ao seu nome.

É possível entrar nessa casa e andar ao redor da piscina.

Interior da Maison aux Colonnes com as colunas retorcidas ao fundo

Chegamos agora ao final da Decumanus Maximus, no cruzamento com a Cardus Maximus, próximo ao Arco de Caracalla. Essa outra parte do sítio arqueológico de Volubilis inclui alguns dos prédios mais bem conservados e será descrita no próximo post.

Os aeroportos mais perigosos do mundo

Esse post é mais para divertir do que para amendrontar. Pesquisando sobre a qualidade dos aeroportos e sobre os melhores do mundo, acabei me deparando também com os piores e mais perigosos aeroportos do mundo.

As listas variam de site para site, mas alguns aeroportos são bem populares na disputa pelo primeiro lugar dentre os piores. Sendo assim, reuni aqui os aeroportos mais citados nas listas dos mais perigosos do mundo.

Apertem os cintos e comecem a fazer todas as mandingas para atrair boa sorte, pois, para aterrisar ou levantar vôo nestes aeroportos é necessário não somente uma excelente habilidade dos pilotos, como também uma boa dose de fé.

Funchal, Ilha da Madeira

O Aeroporto de Madeira, também conhecido como Funchal Airport, é um aeroporto internacional localizado em Funchal, na Ilha da Madeira. Ele controla o tráfego nacional e internacional da ilha.

O aeroporto ficou famoso devido sua pista curta ladeada de um lado pelo mar e pelo outro a montanha, o que o torna um desafio para a aterrissagem, até mesmo para os pilotos mais experientes, que necessitam voar em direção às montanhas, para depois alinhar o avião com a pista de pouso.

Aeroporto Funchal, Ilha da Madeira. Fonte: Structurae

Inicialmente, a pista possuía apenas 1.400 metros de comprimento, mas depois foi estendida para atingir o comprimento de 2.700 metros. A extensão foi construída sobre o oceano, apoiada em uma série de 180 colunas de 70 metros de altura.

Devido a essa ponte construída em 2004, o aeroporto inaugurado em junho de 1964 ganhou o Prêmio Mundial de Engenharia de Estruturas e foi escolhido como uma das “100 Obras de Engenharia Civil do Século XX”. O desenho e a engenharia para a construção da ponte foram feitos pela construtora brasileira Andrade Gutierrez. Porém, mesmo com a extensão, o Aeroporto Funchal é conhecido por ser um dos aeroportos mais perigosos do mundo.

Courchevel International Airport, França

Esta pista é sem dúvida alguma, a mais bizarra do mundo. Além de totalmente sinuosa, ela ainda é inclinada em 18,5º. Para piorar a situação, a pista é extremamente curta, com apenas 525 metros de comprimento.

A estranha pista foi construída em uma área de esqui nos Alpes Franceses e foi usada na cena de abertura do filme 007 – O Amanhã Nunca Morre. Segundo o The Times, “aterrissar no Courchevel dá medo, mas o pior é decolar, já que a visão de dentro do avião é prejudicada por causa da inclinação da pista.”

Pista sinuosa do Courchevel Airport na França

Aterrissar no Courchevel não é uma tarefa fácil, por isso, os pilotos necessitam obter uma certificação especial antes de tentarem a sorte da perigosa pista. As operações no aeroporto se limitam a vôos privados durante a temporada de esqui.

Gibraltar Airport

O Aeroporto Internacional de Gibraltar fica a apenas 500 metros do centro da cidade, mas não é isso que o torna popular nas listas dos aeroportos mais perigosos do mundo. O ponto forte para que ele apareça em praticamente todas as listas é o fato da Avenida Winston Churchill cruzar a pista de pouso e decolagem.

Se não bastasse esse estranho fato, a turbulência provocada pela formação rochosa a 400 metros da pista provocam sérias sacudidas nos aviões.

Aeroporto Internacional de Gibraltar e a avenida que cruza a pista

Gibraltar é uma cidade espremida entre montanhas, para resolver a falta de espaço, a solução foi que a avenida atravessasse a pista de pouso. Os veículos trafegam normalmente nos intervalos entre pousos e decolagens.

Resta saber se em Gibraltar, o cruzamento entre a avenida e a pista do aeroporto funciona como nas linhas férreas de trem: “Pare, olhe e escute antes de atravessar”.

Princess Juliana International Airport, Saint Martin, Antilhas Holandesas

Aviso alertando os turistas dos perigos da proximidade com as aeronaves

Dentre todos os aeroportos bizarros, este é o meu preferido. O Aeroporto Princess Juliana é um dos mais movimentados do Caribe.

Ele é famoso pelas aterrissagens de grandes aviões em sua pista curta, cerca de 2.180 m. Mas a parte mais curiosa é que uma das cabeceiras fica localizada a poucos metros da praia.

É comum que os banhistas se agrupem para acompanhar a chegada dos aviões, que passam a pouco mais de 20 metros de suas cabeças. Isso sem contar os carros que passam na rua próxima à praia.

Caminhões mais altos podem oferecer um risco maior tanto para a aterrissagem quanto para o próprio veículo, que pode tombar em virtude do vento causado pelas aeronaves.

Avião pousando no Aeroporto Internacional de Saint Martin. Fonte Jetphotos

A proximidade com as aeronaves faz com que alguns turistas se agarrem nas grades na pista para serem jogados nas ondas pelo vento causado por aviões pousando.

Ver as fotos e vídeos existentes na internet sobre esse aeroporto realmente dá vontade de conferir de perto a estranha combinação pista de pouso e praia.

Lukla Airport, Nepal

Localizado a 2900 metros acima do nível do mar, o aeroporto de Lukla, no Nepal, tem uma pista de apenas 527 metros de comprimento, 20 metros de largura e uma inclinação de 11 graus.

Se não bastassem as dimensões reduzidas da pista, ainda há uma montanha de 900 metros que se encontra em uma de suas cabeceiras. No outro lado há um despenhadeiro. Para deixar tudo ainda mais emocionante, também há fortes ventos e baixa visibilidade devido às nuvens.

Pista do Lukla Airport no Nepal com as montanhas ao fundo

Com tantas razões contra esse aeroporto, somente helicópteros e aviões de pequeno porte podem aterrissar no local. Apesar das pequenas dimensões, Lukla é bastante movimentado por ser o início da jornada ao monte Everest.

Juancho E. Yrausquin Airport, Saba, Antilhas Holandesas

O fator de perigo deste aeroporto é o local onde a pista foi construída, uma ponta rochosa da ilha que avança para o mar. Por isso, ambas as cabeceiras terminam com desfiladeiros de rochas que, por sua vez, terminam no oceano. Ou seja, não há área de escape.

Aeroporto Juancho E. Yrausquin nas Antilhas Holandesas. Fonte: Airliners.net

Devido à limitada área da ilha e sua topografia pouco favorável, não houve outra opção para a construção do aeroporto. No final da pista há um X marcado para indicar que o aeroporto é fechado para aviações comerciais.

Curiosamente, a ilha de Saba fica perto de St. Martin. É possível ver o Aeroporto Juancho E. Yraude de alguns pontos da ilha.

Barra Airport, Escócia

Se os aeroportos citados até agora possuem pista pequena, sinuosa ou cortada por uma avenida, o Barra Airport sequer possui uma pista para pouso e decolagem. O aeroporto fica localizado na praia Traigh Mhòr na ilha de Barra. É o único aeroporto do mundo que usa a areia da praia como pista. São três pistas no total, sendo que cada uma delas é marcada com postes de madeira. As pistas são escolhidas para pouso ou decolagem de acordo com a direção do vento.

Uma placa no Barra Airport avisa aos pedestres para se afastarem da área quando a biruta estiver voando e o aeroporto funcionando. Fonte: Wikipedia

Em virtude da ausência de asfalto e lâmpadas sinalizadoras na pista-praia, quando as condições climáticas pioram, os moradores do local deixam os faróis acesos ao longo da praia para orientar os pilotos. Uma luz na torre de controle avisa os pedestres quando um avião está prestes a chegar para que eles fiquem atentos à biruta e liberem o trecho de praia a ser percorrido pelo avião.

Para complementar o quadro bizarro desse aeroporto, quando a maré está alta, as três pistas ficam completamente submersas e, portanto, impossíveis de serem utilizadas.

Gustaf III Airport, Saint Bart

Este aeroporto também fica localizado no Caribe, na ilha de Saint Barthélemy. Ele é considerado como um dos mais perigosos do mundo devido ao local onde se encontra a pista de pouso e decolagem.

Aterrisagem íngreme no Gustaf III Airport. Fonte Titof, Panoramio

Ela se inicia no final de uma encosta e termina na praia. Além disso, assim como no aeroporto Princess Juliana na ilha de Saint Martin, os aviões passam diretamente acima dos banhistas quando decolam.

Para a aterrisagem, os vôos  vêm da direção oposta, mas isso não ajuda nem um pouco já que os pilotos são obrigados a fazerem uma descida íngreme, devido à colina existente.

Sem dúvida alguma, esses aeroportos são bem intrigantes. Porém, apesar de todas as adversidades, não há tantos casos de acidentes como seria o esperado. E apesar de todas as particularidades envolvendo cada um deles, deve ser bem divertido pousar nesses aeroportos.

Em todo o caso, vale a pena levar o santinho preferido, só para garantir.

Os melhores aeroportos do mundo eleitos em 2011

A Skytrax divulgou a lista dos melhores aeroporto de 2011. Novamente se nota a preponderância dos aeroportos asiáticos, assim como em 2010. A premiação World Airport Awards™ é feita baseada em um pesquisa realizada com 11,38 milhões de participantes de mais de 100 diferentes nacionalidades, cobrindo mais de 240 aeroportos do mundo todo. A pesquisa teve duração de 9 meses.

O grande vencedor foi o Aeroporto Internacional de Hong Kong, eleito como o melhor aeroporto do mundo. Em 2010, ele aparecia em terceiro lugar na pesquisa, mas rapidamente subiu para o topo da lista.  O Aeroporto Internacional de Hong Kong (HKIA) está localizado a menos de cinco horas de vôo para a metade da população do mundo e, hoje em dia, é o terceiro mais movimentado aeroporto de passageiros internacionais no mundo.

Só em 2010, cerca de 50,9 milhões de passageiros passaram por este aeroporto. Além disso, ele ainda possui cerca de 900 vôos diários, conectando 160 destinos através de mais de 95 companhias aéreas.

Substituindo o antigo aeroporto de Kai Tak, o HKIA foi inaugurado em 1998 a 16 milhas no meio do mar. Antes de construir o maior terminal do mundo, os engenheiros tiveram que construir uma ilha artificial para suporta-lo e vários túneis, pontes e estradas para conecta-lo à terra.

Desenhado pelo famoso arquiteto britânico Lord Norman Foster, o HKIA fica localizado em Chek Lap Kok na Ilha de Lantau. O aeroporto está totalmente conectado com as áreas urbanas através de uma cadeia de rodovias, ferrovias e pontes.

Desde sua inauguração, o aeroporto coleciona prêmios, em apenas dez anos, ele ganhou sete Prêmios Skytrax de Satisfação do Cliente. O HKIA funciona em um dos maiores terminais construídos no mundo, 24 horas por dia e é a principal porta de entrada para a China e todo o resto da Ásia. O HKIA também é o principal ponto para as empresas aérea Cathay Pacific Airways, Dragonair, Hong Kong Express Airways, Hong Kong Airlines e Air Hong Kong. Ele também serve como ponto de paragem para várias outras linhas aéreas como Air New Zealand, China Airlines, Vietnam Airlines, Qantas, Virgin Atlantic, United Airlines e Air India.

Visão aérea do Aeroporto Internacional de Hong Kong

Dentre as facilidades oferecidas aos passageiros, pode-se citar a variedade de bancos e casas de câmbio existentes nos terminais e mais de 150 pontos de venda de alimentos e bebidas. Há também um cinema 4D com capacidade para 360 pessoas, um centro chamado Aviation Discovery Centre, onde os passageiros podem se divertir com simulações de vôos, locais para prática de esporte com simulações de futebol, basquete, golf e outros e até mesmo um terminal de jogos Playstation.

Assim dá para esperar até mesmo a  conexão mais longa, sem reclamar. Não é a toa que o HKIA permanece há anos na lista dos 10 melhores aeroportos do mundo.

Aeroporto Internacional de Hong Kong

 

O sempre favorito Aeroporto Changi de Singapura, eleito o melhor aeroporto em 2010, ficou em segundo lugar esse ano. Esse aeroporto é servido por mais de 100 companias aéreas internacionais ligando cerca de 200 cidades em 60 países.

Os demais números do Singapore Changi Airport também são impressionantes, são quase 5.400 aterrisagens e decolagens por semana e mais de 42 milhões de passageiros por ano. Isso corresponde a mais de 7 vezes o tamanho da população de Singapura! Com mais de 40.000 metros quadrados de espaço comercial, o Changi Airport é também o maior local de compras de Singapura.

Que vontade que dá de dar uma esticadinha até Singapura…

Singapore Changi Airport. Fonte: www.2010airportreservations.com

Quanto aos demais aeroportos, Incheon International Airport, Kuala Lumpur e Zurich Airport caíram de posição na lista, sendo que o aeroporto Kuala Lumpur foi do quinto lugar direto para a nona posição no ranking. Apesar isso, esse aeroporto ganhou o prêmio de Melhor Imigração na categoria Serviços. Nada mau, pois todos sabem como pode ser chato passar na Imigração, principalmente quando esse processo é chato e você acabou de chegar de uma viagem de 15 horas…

Este ano, o quinto lugar ficou para o Beijing Capital Airport, que subiu do oitavo lugar devido à continuidade nos planos de melhoramento que o aeroporto já estava fazendo. O Beijing Capital Airport também foi eleito o melhor aeroporto da China.

Arquitetura futurista do Beijing Capital Airport. Fonte: www.fivefootway.com

 

Amsterdam Schiphol Airport eAuckland International Airport também melhoram de posição no ranking. O aeroporto de Amsterdam também foi eleito o melhor aeroporto da Europa ocidental, enquanto o de Auckland também foi eleito novamente o melhor aeroporto da Austrália/Pacífico.

Munich Airport foi o único que permaneceu na mesma colocação, o aeropoto também ganhou o título de melhor aeroporto da Europa. A novidade fica por conta do Copenhagen Airport, que aparece na lista, subindo da 15° posição. A qualidade de serviços e o conforto e ambiente dos terminais foram os principais fatores de maior pontuação para esse aeroporto.

Copenhagen Airport. Fonte: www.toscandinavia.com

 

Brasil

E quanto ao nosso país? O Brasil também aparece nas listas de premiações da Skytrax. Esse ano o Aeroporto Internacional de Guarulhos, Cumbica, foi eleito o terceiro melhor aeroporto da América do Sul, tomando o lugar do Aeroporto de Buenos Aires. O Aeroporto Internacional de Lima permanece em primeiro lugar enquanto o Aeroporto de Guayaquil tomou o segundo lugar do Aeroporto de Santiago.

Esse ranking se manteve o mesmo na premiação por Melhor Qualidade de Serviços, onde Cumbica foi eleito o terceiro melhor da América do Sul.

O Aeroporto Internacional de Guarulhos está localizado a 25 kilômetros de São Paulo e é o aeroporto mais movimentado do Brasil. Em 2010, mais de 26 milhões de passageiros passaram por ele. Todo esse tráfego de passageiros é dividido em 2 terminais com 260 pontos de check-in.

O aeroporto funciona 24 horas por dia, servindo em média 20,5 milhões de passageiros por ano.

Provavelmente, o que ajudou Cumbica a aparecer na lista foi o plano de construção de 2 novos terminais e uma terceira pista, trazendo para o aeroporto a total capacidade para atender as operações de passageiros e de carga.

Saguão de Cumbica. Fonte: www.culturamix.com

O Brasil também se destaca nas outras categorias premiadas pela Skytrax. São Paulo Airport Marriott Hotel ganhou o prêmio de melhor Hotel Aeroporto da América do Sul. O hotel fica a apenas a 5 minutos do maior aeroporto da América do Sul, sendo constantementebem classificado pelos hóspedes, não só pela eficiência global do serviço, mas também pela sua atmosfera descontraída e simpática.

Em quarto lugar na lista, aparece o Luxor Airport Hotel do Rio de Janeiro. O hotel fica localizado no terceiro piso do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Galeão Antônio Carlos Jobim, a poucos passos das áreas de partida e de chegada.

O Galeão também aparece na lista de premiação por Melhor Aeroporto Regional, em segundo lugar, ficando atrás apenas do Aeroporto de Guayaquil.

O Galeão é considerado a principal porta de entrada para o Brasil, localizado a 20 km ao norte do Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, na Baía de Guanabara. Existem dois terminais no aeroporto conectados por uma esteira rolante. O aeroporto possui restaurantes e cafés em ambos os terminais.

Espero que com a Copa e as Olimpíadas, nossos aeroportos melhorem de posição nas premiações da Skytrax.

 

Galeão no Rio de Janeiro. Fonte: finestrino.com.br

 

Mausoléu Mohammed V e outros lugares em Rabat

Já li em alguns lugares que não compensa conhecer Rabat, a capital do Marrocos, principalmente quando comparada com as outras cidades imperiais como Fès e Marrakech.

Eu discordo muito dessa afirmação. Existem lugares lindos para visitar em Rabat e vou descrever alguns aqui.

O primeiro lugar que visitei na capital foi o Palácio Real, já falado no post anterior sobre Rabat.

De lá fomos para o Mausoléu de Mohammed V, avô do atual rei Mohammed VI, e o responsável pelo nome de várias avenidas por todo o Marrocos.

Chellah

Logo na saída do palácio, avistamos o Chellah, um belo conjunto de ruínas merínidas levantadas por cima de ruínas romanas.

O lugar, como já dá para perceber, tem um significado histórico duplo. Foi lá que os romanos construíram a antiga cidade de Sala Colonia. Até hoje ainda não foram descobertas ruínas significativas da presença romana no local, porém as escavações  já mostraram a existência da cidade e dão um idéia de sua importância na época.

Já a presença dos Merínidas, que vieram após os romanos, é bem mais evidente no Chellah. Os Merínidas foram uma dinastia bérbere (povo nativo do Marrocos) que reinou no país entre os séculos XIII e XV, logo após a queda dos Almóadas em Marrakech. Durante o reinado dessa dinastia, a capital foi transferida para Fès e posteriormente para Rabat.

A dinastia Merínida foi construída sobre uma combinação entre o islamismo tradicional e o folclore bérbere. Os governantes merínidas incentivaram muito o desenvolvimento das artes e arquitetura marroquina. Na época de seu domínio, o Chellah funcionava como um cemitério real.

Beleza e força da arquitetura merenida na muralha e porta do Chellah

Uma das partes que mais chama a atenção ​​do Chellah é a bela porta de 800 anos, típica da arquitetura merenida, que combina simplicidade e solidez. Em seu estado original, a porta era revestida de mármore com cores vivas e decorada com azulejos. Dá para imaginar que ela deveria ser então bem mais imponente e bela do que se vê hoje.

O Chellah abre diariamente das 9:00 as 17:30, o ingresso custa 10 dihans.

Mausoléu Mohammed V

Após passar o Chellah, chegamos ao Mausoléu Mohammed V, construído em 1962 pelo Rei Hassan II, o mesmo responsável pela construção da Mesquita Hassan II de Casablanca. Ele mandou construir esse imponente mausoléu em honra ao seu pai, o sultão Mohammed V, chamado pelos marroquinos como o “libertador do Reino”.

O sultão é lembrado como responsável pela luta que resultou na independência do Marrocos. Hoje em dia, Hassan II e seu irmão, Moulay Abdellah, também estão enterrados, ao lado de seu pai.

Fachado do Mausoléu de Mohammed V, construído com mármore branco e azulejos verdes

O mausoléu é uma obra prima da arquitetura hispano-mourisco e da arte tradicional marroquina.  Se do lado de fora ele já chama a atenção, do lado de dentro, seu encanto é ainda maior.

Foram necessários 400 homens para a construção do mausoléu, que levou cerca de 9 anos para ser completado.

 

Entrada principal do Mausoléu Mohammed V
Segurança com roupa típica guarda a porta que leva ao interior do mausoléu

A decoração rica em detalhes atinge o máximo da expressão e evolução da arte no Marrocos. Inscrições, desenhos, formas geométricas, cedro, ouro e mármore dão forma a um espaço belo e cuidadosamente planejado.

 

Interior do Mausoléu com a tumba principal do sultão Mohammed ladeada pelas de seus filhos

Rom Landau (1927-1974), autor britânico e estudioso da cultura árabe marroquina e também de outros países do Oriente Médio, escreveu que o Mausoléu de Mohammed V “une a majestade e a sobriedade da arte almoada, inteiramente dedicada à religião, a elegância e a pompa merenida e o sentido da grandeza das dinastias saadiana (séculos 16 e 17) e alaouita (séculos 17 e 18, os alaouitas são conhecidos por serem árabes descendentes de Maomé)”.

Bom, independente de conhecer ou não esses povos e dinastias, é impossível não se impressionar com a beleza do local.

Beleza do teto de cedro minuciosamente trabalhado

O Mausoléu constitui um importante santuário para os marroquinos e um dos poucos locais onde se permite a entrada de não-muçulmanos.

Devido à sua importância, seja história ou seja religiosa, o local é protegido por vários  guardas vestidos com vibrantes roupas vermelhas.

Inscrições e desenhos geométricos decoram as paredes do mausoléu

O Mausoléu de Mohammed V está localizado na Praça Al-Yacoub Mansour. A entrada é gratuita.

Mesquita Hassan

A Mesquita Hassan fica exatamente em frente ao Mausoléu do Mohammed V. Essa mesquita tem uma história bastante interessante e até certo ponto engraçada.

Inicialmente, a mesquita era o mais ambicioso de todos os edifícios almóadas. Ela foi encomendada pelo sultão Yacoub Al Mansour no final do século 12. Esse sultão pertencia à dinastia Almóada, uma potência religiosa bérbere que se tornou a quinta dinastia moura, tendo se destacado do século XII até meados do século XIII.

O desejo de Al Mansour era construir a maior mesquita do Marrocos, porém a mesma nunca foi concluída. Se tivesse sido finalizada, seria, na época, a segunda maior mesquita do mundo islâmico.

Mesquita Hassan, o projeto mais ambicioso, porém inacabado do sultão Al Mansour

Al Mansour decidiu construir a mesquita para celebrar sua vitória sobre o rei espanhol. Sua idéia de grandiosidade para o edifício superava até mesmo o número de habitantes em Rabat suficientes para frequenta-la.

Na época, a principal mesquita do Marrocos, localizada em Fès, tinha capacidade para 20.000 fiéis, no entanto, seriam necessários 100.000 fiéis para preencher a mesquita Hassan. Esse número nem de longe condizia com a população de Rabat, que naquele tempo era apenas um vilarejo elevado à condição de capital por Al Mansour.

Minarete inacabado de 50 metros de altura. O projeto inicial era de 80 metros

 

A torre teve sua construção iniciada em 1195, ao mesmo tempo em que a mesquita Koutoubia em Marrakech e a Giralda em Sevilha. Todas seguindo o estilo arquitetônico almóada.

Apesar de não aparentar, o minarete da mesquita Hassan é sem dúvida a mais complexa de todas as estruturas almóada, que caracterizam-se pela simplicidade e austeridade.

Cada fachada é diferente, com uma combinação distinta de padrões, com toda a complexidade das arcadas e curvas entrelaçadas sendo baseada em apenas dois modelos formais.

A parte cômica da construção da mesquita Hassan que os marroquinos gostam de contar fica por conta dos anseios religiosos e de grandiosidade de Al Mansour.

Segundo a tradição religiosa, quem constrói 7 mesquitas garante sua entrada direta no Paraíso com direito à compania de 14 virgens. A Mesquita Hassan, seria a sétima e maior mesquita a ser construída pelo sultão. Porém sua grandiosidade acabou atrapalhando seus planos, pois Al Mansour acabou falecendo antes de concluir seu projeto.

Com a sua morte, houve a mudança da dinastia almóada para a merínida e o seu sucessor simplesmente abandonou o projeto da construção da mesquita.

Al Mansour conseguiu construir durante sua vida seis mesquitas e meia e, por isso, o infeliz sultão não conseguiu garantir sua viagem de primeira classe para o Paraíso.

Independente de ter encontrado ou não as virgens no Paraíso, uma coisa é certa, Al Mansour passou a fazer parte das histórias bem humoradas que os marroquinos tanto gostam de contar.

A Mesquita Hassan abre diariamente entre 08:30 e 18:30, a entrada é gratuita.

Pergamonmusem, o museu mais famoso da Ilha dos Museus

O Pergamonmuseum é uma das principais atrações de Berlim. Foi construído entre 1910 e 1930, o edifício foi um dos primeiros na Europa projetado especificamente para abrigar grandes exposições de arquitetura. Ele foi o último dos 5 museus a ser construído na Museumsinsel e também o último que visitei em Berlim.

Fachada do Pergamonmuseum. Ao fundo está o Bodemuseum

Pergamonmuseum é um dos museus de antiguidades mais famosos da Europa. O museu foi concebido com um conceito de “Três asas” (Dreiflügelanlage). Ele abriga três museus distintos: o Antikensammlung (Coleção de Antiguidades Clássicas), ocupando os salões de arquitetura e a ala de esculturas, o Museum Vorderasiatisches (Museu do Antigo Oriente Médio) e o Museum für Kunst Islamisches (Museu de Arte Islâmica).

A reconstrução monumental de sitios arqueológicos como o Altar de Pérgamo, a Porta do Mercado de Mileto e a Porta de Ishtar, incluindo a Via Processional da Babilônia e a fachada Mshatta, tornou o Pergamonmuseum mundialmente famoso.

A grande riqueza das suas coleções é o resultado de muitas escavações realizadas em larga escala por arqueólogos alemães no início do século 20 na Grécia e Oriente Médio.

Coleção de Antiguidades Clássicas

A coleção de antiguidades romanas e gregas de Berlim (Antikensammlung) teve início durante o século 17. Crescendo sempre de forma constante, a coleção foi aberta para visitação pública em 1830, inicialmente no Altes Museum, e a partir de 1930, no recém construído Pergamonmuseum.

Uma das salas do Museu de Antiguidades Clássicas do Pergamonmuseum com a fachada do Templo de Atenas

O ponto alto da coleção é, sem dúvida, o magnífico Altar de Pérgamo, que deu origem ao nome do museu. O altar pertencia à acrópole da antiga cidade grega de Pérgamo, na Ásia Menor (atual Bergama, Turquia). O altar exibido é uma parte de um complexo exuberantemente restaurado para ser abrigado no museu.

O incrível Altar de Pérgamo reconstruído na sala principal da Coleção de Antiguidades Clássicas

Eu fico imaginando como trouxeram todas as partes desse imenso altar para Berlim, como foi a negociação e como transportaram tudo isso na época. Esse mesmo altar foi reconstruído na exposição do Museu de Arte Brasileira da Faap em 2006 São Paulo.

Supõe-se que o altar tenha sido construído para celebrar uma vitória de guerra na época do rei Eumenes em 170 A.C. Provavelmente foi dedicado a Zeus e a deusa da guerra Atenas. O altar foi descoberto pelo arqueólogo alemão Carl Humann que, após longas negociações, conseguiu transportar partes do altar que haviam resistido à deterioração para Berlim. Dá para pensar como o altar devia ser belo durante seu auge em Pérgamo.

Detalhe do friso do Altar de Pérgamo

O friso maior do altar conta a batalha dos deuses contra os gigantes, enquanto o pequeno narra a história de Telephos, suposto fundador da cidade e filho do herói Hercules. Na época isso era uma tentativa de reivindicar uma ascendência ilustre para os príncipes de Pérgamo.

Só para ter uma idéia de seu tamanho, o friso levou mais de 20 anos para ser remontado a partir dos milhares de fragmentos descobertos em Bergama.

A coleção também inclui peças de outras estruturas de Pérgamo do mesmo período, incluindo a parte do templo de Atenas.

Outras peças trazidas de Pérgamo

Também há alguns excelentes exemplares de escultura grega, originais e cópias romanas, assim como muitas estátuas dos deuses gregos desenterradas em Mileto, Samos e Nakosos, além de vários exemplos da arte da cerâmica grega.

Esculturas muito bem conservadas fazem parte do grande acervo do Pergamonmuseum

A bela arquitetura romana é representada pelo portão do mercado da cidade romana de Mileto, na costa ocidental da Ásia Menor. O portão data do século 2 D.C. e mostra uma forte influência helenística.

Descoberto por uma expedição de arqueólogos alemães, foi transportado para Berlim, onde foi restaurado em 1903.

Detalhe do sárcofago de mármore romano do século 2 DC mostrando a história de Medéia

Também em exposição estão uma série de magníficos mosaicos romanos e sarcófagos. Um dos sarcófagos de mármore do segundo século D.C. é bem impressionante. Ele é todo decorado com entalhes delicados em baixo-relevo representando a história da heroína grega Medéia.

Alguns dos mosaicos expostos no Museu de Antiguidades Clássicas do Pergamonmuseum

Museu do Antigo Oriente Médio

A coleção de Antiguidades no Museu do Antigo Oriente Médio (Vorderasiatisches Museum) foi constituída inicialmente de doações individuais de alguns colecionadores. No entanto, foram as escavações de grande sucesso, que começaram durante a década de 1880, que formaram a base de uma das coleções mais ricas do mundo.

Esta seção do museu, fundada em 1899, abriga cerca de 100 mil itens dos locais de escavações alemãs, o que resultou em mais de 6000 anos de história cultural da Mesopotâmia, Síria, Anatólia, Babilônia, Assur, Uruk e Habuba Kabira.

São peças da arquitetura, escultura e ourivesaria da Babilônia, Irã e Assíria. A peça mais famosa e impressionante é a magnífica Porta de Ishtar e a Via Processional que leva até a Porta. Eles foram construídos durante o reinado de Nabucodonosor II (604-562 A.C.), na antiga Babilônia.

A Porta de Ishtar no Museu do Antigo Oriente Médio no Pergamonmuseum

A avenida original era de cerca de 180 m de comprimento. Muitos dos belos tijolos de vidro, em tom azul brilhante, utilizados na sua reconstrução são novos, mas os leões, animais sagrados da deusa Ishtar, são todos originais.

Embora seu tamanho seja impressionante, a Porta de Ishtar não foi, na verdade, reconstruída totalmente. Só a porta interior está em exposição, enquadrada por duas torres. Decorando a porta há dragões e touros, símbolos dos deuses da Babilônia, Marduk, patrono da cidade, e Adad, o deus das tempestades.

Detalhe dos desenhos da Porta de Ishtar

Outras peças famosas incluem os relevos e esculturas em pedra encontrados ao redor de um portão do castelo de Zincirli (antiga Sam’al, séculos 10 e 9 A.C.), e, como exemplo das primeiras arquiteturas de monumentos religioso, há uma fachada feita de mosaicos multicoloridos de argila de Uruk (4 º milênio A.C.).

As inscrições cuneiformes em tabletes de argila encontrados em Uruk e que datam do quarto milênio A.C. são igualmente importantes um vez que documentam o sistema mais antigo de escrita da humanidade.

Peças encontradas nas escavações feitas na região do Oriente Médio

O mobiliário de um templo dedicado à deusa assíria Ishtar do 3 º milênio A.C. fornece um mostra sobre o sistema de crenças religiosas da Mesopotâmia. Toas as peças que compõem o o acervo do museu ilustram a importância da região do Oriente Médio como o berço da cultura antiga e ocidental.

Museu da Arte Islâmica

Esse museu mostra a arte dos povos islâmicos desde o século 8 até o século 19. A história do Museu de Arte Islâmica (Museum für Kunst Islamisches) começa em 1904, quando Wilhelm von Bode doou sua extensa coleção de tapetes orientais.

Beleza e riqueza da arte islâmica

Além dos tapetes, também foi doada a imponente fachada de um palácio no deserto da Jordânia, a Fachada Mshatta de 45 metros, coberta com revestimento de pedra calcária e muito bem esculpida, datando do período Omíada (661 a 750).

A fachada, na verdade foi um presente do Sultão otomano Abdul Hamid para o imperador Guilherme II em 1903.

A Fachada Mshatta construída com função de defesa do palácio da Jordania

Também fascinante é o Mihrab do século 13 feito na cidade iraniana de Kashan conhecida por sua cerâmica. Ele é ricamente trabalhado e coberto com diferentes esmaltes metálicos que o fazem brilhar como se fosse decorado com safiras e ouro.

Mihrab é um termo que designa um nicho ou reentrância em uma parede em uma mesquita como função de indicar a direção da cidade de Meca, para onde os mulçumanos se orientam quando realizam as cinco orações diárias.

Beleza do Mihrab ricamente trabalhado

As obras de arte também incluem artesanatos e livros de arte. O conjunto abrange uma área que vai da Espanha até a Índia, com ênfase no Oriente Médio, incluindo Egito e Irã.

Além disso há, é claro, a belíssima coleção de muitos tapetes vindos de lugares como Irã, Ásia Menor, Egito e Cáucaso.

Um dos muitos livros de arte expostos no Museu de Arte Islâmica do Pergamonmusem
Um exemplar dos belos e mundialmente famosos tapetes orientais

Finalizando a visita, temos mais um exemplo da arquitetura otomana provincial, a famosa sala de recepção do início do século 17 conhecida mundialmente como Sala de Aleppo Zimmer. Esta sala fazia parte da casa de um comerciante cristão na cidade síria de Aleppo.

Sala de Aleppo Zimmer

O Pergamonmuseum fica na Bodestraße 1-3, na Museumsinsel, no bairro central Mitte. Para chegar lá pode-se pegar o U-Bahn/S-Bahn números 1, 2, 3, 4, 5, 13, 15 ou 53. O museu abre de terça a domingo das 10:00 às 18:00. Nas quintas feiras, o Pergamonmuseum fica aberto até às 22:00. É fechado nas segundas feiras.

O ticket de entrada custa somente 8,00 euros para adultos. A entrada é grátis para crianças e adolescentes até 16 anos e também no primeiro domingo de cada mês.

O museu oferece tours guiados e audio tours em alemão, inglês, francês, italiano, espanhol, japonês, grego e polonês. Também há audio tours em turco.

É permitido tirar fotos desde que não se use o flash ou tripés.

Mais informações:

www.smb.museum

www.museumsinsel-berlin.de

A arte do século 19 na Alte Nationalgalerie em Berlim

A Alte Nationalgalerie em Berlim faz parte do complexo formado por 5 museus na Museumsinsel. Ela abriga uma das mais importantes coleções de arte do século XIX da Alemanha.

Estão em exposição obras primas da escola Romântica alemã, pinturas de vários impressionistas e uma extensa coleção de esculturas. São mais de 140 obras primas de artistas como Caspar David Friedrich, Karl Friedrich Schinkel, Ferdinand Waldmüller, Adolph Menzel, Edouard Manet, Claude Monet, Paul Cézanne, dentre outros.

Beleza da arquitetura neoclássica da Alte Nationalgalerie

Logo de início já se impressiona com a arquitetura do museu construído entre 1866 e 1876. A Alte Nationalgalerie é mais um exemplo do neoclassicismo alemão, porém com alguns toques do estilo neo-renascentista.

O edifício é rodeado por um pátio com várias colunas com algumas estátuas espalhadas. A bela arquitetura da Alte Nationalgalerie pode ser apreciada por vários ângulos. O prédio se destaca na Ilha dos Museus, sendo claramente visível a partir das margens do rio.

A escadaria monumental existente na frente fornece um pedestal para a estátua equestre de Friedrich Wilhelm IV, o rei da Prússia responsável por todo o conceito da Museumsinsel, que levou mais de um século para ser concluída.

Estátua equestre de Friedrich Wilhelm IV na frente da Alte Nationalgalerie

 

Todo o desenho da Alte Nationalgalerie foi feito buscando fazer com que o resultado fosse uma magnífica construção  dedicada à celebração das artes e das ciências.

Para quem visita o museu, não resta dúvidas de que o projeto foi bem sucedido.

Detalhe do frontão da Alte Nationalgalerie

Esculturas

No primeiro andar podemos ver obras como as esculturas do período  neoclássico e pinturas da escola realista. Logo na entrada tem-se uma ampla sala com as esculturas classicistas.

Esta ala é designada como Arte na Época de Goethe, um forte defensor da escola neoclássica na Alemanha. A coleção é formada por lindas esculturas em mármore, sendo que a maioria retrata figuras da mitologia grega.

Pinturas

As pinturas estão espalhadas pelos 3 andares do museu. São pinturas belíssimas distribuídas pelas salas temáticas. Pode-se ouvir a explicação de cada uma delas com o guia eletrônico adquirido na entrada.

Primavera nas Florestas de Viena de Ferdinand Georg Waldmüller (1864)

No primeiro andar estão pinturas realistas. No segundo andar também há obras realistas, um estilo fortemente representado nesse museu, e também idealistas e impressionistas. No terceiro andar estão as pinturas classicistas e românticas.

Pinturas realistas retratando momentos da história da Prússia

Eu particularmente tenho um carinho especial pela Alte Nationalgalerie, pois foi lá que pude conhecer as obras magníficas de Adolph Menzel, um pintor realista alemão. Ele foi um dos mais importantes pintores do século XIX da Alemanha.

Menzel participou ativamente da história prussiana, pintando quase 400 ilustrações retratando momentos importantes da história do país.

Adolph Menzel também produziu obras sobre momentos da vida cotidiana. Uma de suas pinturas favoritas minhas é Quarto da Varanda, um quadro belíssimo, com um realismo fantástico e uma sensibilidade apaixonante.

Dá para sentir o vento batendo na cortina. Todo o ambiente nos convida a sentar e sentir a suave brisa que entra pela porta.

Quarto na Varanda de Adolph Menzel (1845)

As obras de Adolph Menzel estão espalhadas pelos 3 andares do museu.

Sejam telas grandes, que ocupam quase toda a parede, ou telas pequenas dispostas discretamente em algum canto da sala, todas as suas pinturas chamam a atenção.

Seja pelo realismo perfeitamente retratado nos detalhes ou na gradiosidade dos momentos históricos registrados por suas pinceladas. Não importa, suas obras são dignas de admiração e respeito.

O Quarto do Artista na Ritterstrabe de Adolph Menzel (pintura a óleo, 1847)

Os pintores franceses também estão muito bem representados. Há obras de Monet, Manet, Degas, Renoir, Cézanne, Delacroix, Corot e Courbet.

Uma das pinturas que me chamou muito a atenção foi o quadro de Gustave Coubert chamado A Onda. O artista consegue mostrar com perfeição todo o movimento do mar mesmo que tenha utilizado poucas cores.

O movimento e a vividez não residem apenas nas ondas do mar agitado, mas também nas nuvens acima delas. Sem sombra de dúvida uma tela magnífica.

A Onda de Gustave Coubet (óleo sobre canvas, 1869)

Outro belo quadro que atraiu minha atenção logo que entrei na sala foi A Ilha da Morte de Arnold Böcklin.

A pintura foi concebida como um sonho e é exatamente essa a impressão que ela nos causa. Somos envolvidos pela aura mística e atemporal do quadro.

É uma das obras mais famosas de Böcklin. A simetria do desenho da ilha e seu reflexo nas águas, a luz do entardecer e o estranho funeral contribuíram sem dúvida para sua fama e captaram a imaginação de muitos admiradores.

De alguma forma, ele me faz lembrar do livro As Brumas de Avalon, como se a Morgana estivesse retornando para Avalon levando o corpo do irmão Artur morto.

A Ilha da Morte de Arnold Böcklin (pintura a óleo, 1883)

Para quem gosta de pinturas, eu recomendo muito que visite a Alte Nationalgalerie quando estiver em Berlim. As salas repletas de telas grandes ou pequenas merecem ser desfrutadas com tempo e calma.

O conjunto de cores distribuídas harmoniosamente entre pinceladas fortes e decididas ou suaves e sensíveis, os fatos históricos retratados ou momentos da vida captados pelos olhos dos artistas com maestria nos encantam e emocionam.

Eu penso que faz bem para nossa alma e espírito visitar um lugar repleto de obras, sejam elas majestosas ou singelas, um lugar onde podemos respirar arte e sensibilidade.

A Alte Nationalgalerie abre das 10:00 às 18:00. Nas quintas feiras, o museu fica aberto até as 22:00. Nesse dia a entrada é gratuita para todos os museus da Museumsinsel (Ilha dos Museus). O Museu fecha nas segundas feiras.

O ingresso custa 8,00 euros. Há desconto para estudantes. A entrada é pela Bodestraße.