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Île de la Cité, onde tudo começou

Fico imaginando que a Île de la Cité deve ser o primeiro lugar que a maioria das pessoas vão visitar quando chegam em Paris. também são tantos monumentos, prédios históricos, beleza e imponência reunidos em um pedaço pequeno de terra que dá para pensar isso mesmo.

E foi nessa pequena ilha no rio Sena que Paris começou. Um livro que gosto muito, A História Secreta de Paris, de Andrew Hussey conta bem esse começo, com uma visão diferente, sob o ponto de vista dos “ladrões, vigaristas, cruzados, santas, prostitutas, déspotas, anarquistas, poetas e sonhadores”. Fiquei sabendo desse livro em uma revista de avião entre as inúmeras vezes que fiz o trecho Curitiba-São Paulo e pela descrição logo me interessei. Recomendo a leitura para todos aqueles que, assim como nós aqui em casa, são apaixonados por essa cidade de incontáveis adjetivos.

No livro, Hussey conta que nunca houve um período em que esse centro geográfico de Paris não tenha sido ocupado. O lugar era uma base fixa para os povos pré-celtas e depois para os próprios celtas, entre eles uma tribo chamada parisii que reverenciava a água e por isso acreditavam que o rio Sena, que na época era duas vezes mais largo que agora, possuía propriedades mágicas.

Os romanos que conquistaram a tribo em 54 A.C deram o nome para o lugar de Lutécia, derivado provavelmente de Louk-tier ou Louk Teih, que em celta significava algo como lugar de lama e pântano. Em 360 DC, o imperador romano Juliano descreveu assim a cidade: “Lutécia é como os celtas chamam a pequena cidade fundada pelos parísios, que na verdade não é nada além de uma ilha cercada de água por todos os lados e com pontes de madeira a cada margem.” O nome Paris surgiu justamente sob o governo de Juliano que a chamou de Civitas Parisiorum, a cidade dos parísios.

Bom, essa pequena cidade lamacenta passou por muita história, e também influenciou a história da humanidade, até virar a Cidade Luz que causa tanta admiração.

Para visitar os muitos monumentos da Île de la Cité há diversas opções de metrô. Assim como para visitar qualquer lugar de Paris, verdade seja dita. A estação de metrô Citê (linha 4) fica bem no meio da ilha. Outras estações muito próximas são Hôtel de Ville (linhas 1 e 11), Châtelet (linhas 1, 4, 7, 11 e 14), Pont Neuf (linha 7) que ficam à margem norte do Sena, e na margem sul, a Saint-Michel Notre Dame (linha 4 e RER B e C). Dá para escolher.

A Île de la Cité vai do Parque Square du Vert-Galant, pertinho da Pont Neuf, até o Mémorial des Martyrs de la Déportation, logo atrás da Notre-Dame. Mas não começaremos a descrever a ilha pela mundialmente famosa Igreja – esse post foi escrito antes do triste incêndio 🙁

Vamos começar pela simbólica Pont Neuf, bem na pontinha da Ilha. Essa é a ponte mais antiga do Sena, apesar do nome (Neuf significa novo em francês). Ela é também uma das pontes mais famosas de Paris e ponto obrigatório para casais românticos tirarem fotos. Há até um filme chamado Les amants du Pont-Neuf (Os Amantes da Pont Neuf) de 1991 com Juliette Binoche. O filme conta a história do relacionamento de dois sem-teto que possuem como moradia essa ponte, já que seus arcos servem como abrigo para muitos andarilhos na vida real.

Continuando em direção à Notre-Dame, chegamos ao Palais de Justice, um belíssimo conjunto de prédio construído onde antes ficava o o antigo Palais de la Cité, o palácio real de alguns reis de Paris e que foi parcialmente destruído em 1358 durante a revolta dos comerciante de Paris. Essa imponente construção serve como tribunal de justiça desde a Idade Média. Durante a Revolução Francesa, ele serviu como Tribunal Revolucionário e agora é a sede da mais alta jurisdição do país, a Corte de Cassação.

O Palais de Justice traz alguns números impressionantes. Ele ocupa uma área de 200.000m². No seu interior há 7.000 portas e corredores que fazem um total de 24 kilômetros, além de possui mais de 3.150 janelas!

Fazem parte da construção a Sainte-Chapelle e as torres da famosa Conciergerie, que são na verdade vestígios ainda do antigo palácio real. A Conciergerie foi a última prisão de Maria Antonieta, famosa pela frase “Que eles comam brioches”. Frase dita ao saber que os camponeses não tinham pão. Embora essa frase seja o maior carrasco na lembrança de Maria Antonieta, não há registros históricos de que ela tenha mesmo dito isso. Bom, o fato é que, mesmo havendo controvérsias sobre a autoria da infeliz citação, Maria Antonieta acabou de fato perdendo a cabeça na guilhotina em 1793.

Conciergerie de dia no verão

Me lembro do meu professor de francês, uma figura cômica que costumava tirar sarro das situações tanto da França quanto do Brasil. Conversávamos sobre muita coisa e inclusive sobre Maria Antonieta. Quando lançaram o filme sobre a vida dela em 2006, ele reclamou bastante dizendo que a atriz que a interpretava, Kirsten Dunst, nunca conseguiria reproduzir toda a personalidade da rainha e a importância que ela teve para a história da França, rs.

Outros prisioneiros famosos também passaram pela Conciergerie, tendo o mesmo fim que a rainha, incluindo o pai da química moderna e descobridor do oxigênio Antoine Lavoisier e Robespierre, uma das figuras mais importantes da Revolução Francesa.

Conciergerie à noite no inverno

A Conciergerie é aberta para visitação todos os dias entre 9:30 e 18:00. O ingresso custa 9,00 euros. Dá para comprar combinado com a visita à Saint-Chapelle, nesse caso o ingresso sai por 15,00 euros. A entrada é gratuita para menores 18 anos e para menores de 25 anos residentes da U.E. A visita também é gratuita as Jornadas Europeias do Patrimônio que ocorrem no terceiro fim-de-semana de Setembro, e no primeiro domingo dos meses janeiro, fevereiro, março, novembro e dezembro.

Interior da Conciergerie

Em uma das torres da Conciergerie fica o relógio mais antigo de Paris, datando de 1371, quando o rei Charles V mandou que fizessem um relógio público para os cidadãos que não podiam comprar um relógio, algo muito caro na época.

O relógio já foi restaurado várias vezes, sendo a mais recente em 2012.

Próximo ao Palais de Justice, fica outro lindo e imponente prédio que é a Préfecture de Police, sede da unidade do Ministério do Interior da França e local que presta serviços administrativos, emergenciais, e como o próprio nome indica, serviços policiais para a cidade. Como Paris não tem sua própria polícia municipal, é a polícia nacional que presta esses serviços para a população.

Ao lado da Préfecture de Police, na Place Louis-Lépine, ocorre o Marché aux Fleurs et Oiseaux, agora chamado de Marché aux Fleurs Reine Elizabeth II. O mercado existe desde o início do século XIX e consiste basicamente de barracas com muitas flores e pássaros, como o antigo nome diz. As flores são lindas de se ver, mas confesso que não gostei dos pássaros enjaulados. Muitos pássaros espremidos em pequenas gaiolas. Não tem como não sentir tristeza por eles. O mercado abre de segunda a sábado para as flores e aos domingos para os pássaros, sempre entre 8:00 e 19:00.

Atravessando a Rue de la Cité, temos o Hôtel-Dieu, o hospital mais antigo de Paris, fundado em 661. A arquitetura atual é, digamos mais nova que sua fundação, de 1877. Atualmente o Hôtel-Dieu é um dos maiores centros europeus de pesquisa em saúde pública, epidemiologia e bioestatística.

Trabalhei uma época com uma parisiense que já havia trabalhado no Hôtel-Dieu e nunca havia entrado na Notre-Dame, que se não bastasse sua fama mundial, ainda fica praticamente em frente ao hospital. Mas até que dá para entender, para quem mora em Paris, todos esses monumentos imponentes e históricos são comuns, fazem parte do dia-a-dia. Posso dizer que já fiz algo parecido, afinal, morei em São Paulo e só fui visitar o MASP depois de me mudar para Curitiba. Uma vergonha, eu sei. Depois dessa, eu prometi a mim mesma que tentaria visitar todos os pontos interessantes de Curitiba antes que resolvesse me mudar daqui também, rs.

E já que começamos falando das tribos celtas e presença romana na Île de la Cité, nada melhor do que terminar esse post falando da Crypte Archéologique, que fica ao lado do Hôtel-Dieu e em frente à Notre-Dame.

A Cripta abrange uma área subterrânea de 80 metros. Aqui estão os
restos arqueológicos descobertos durante as escavações realizadas entre 1965 e 1970 da aldeia dos Parisii. Ruínas do tempo em que a Cidade Luz era a Terra do Pântano. De lá para cá quanta história contida nesse pedacinho de chão, no coração de Paris. Uma cidade que se constrói e reconstrói a mais de 2000 anos. Dos Parisii à Revolução Francesa, de Napoleão à política internacional dos dias de hoje, quantas tribos, quantas mudanças, quantas reviravoltas que teceram não apenas a história de Paris como a da humanidade.

E ficou faltando falar de um “detalhe” da Île de la Cité. Sim a magnífica Cathédrale Notre-Dame de Paris! Mas a Notre-Dame não caberia aqui, essa velha senhora, moradia do Quasímodo, precisa de um post somente para ela. Fica para o nosso próximo assunto.



Entre as gárgulas, Quasímodo e Emmanuel na deslumbrante Notre-Dame de Paris (ou o post que eu não queria editar)

Escrevi o post original no dia 12 de abril pensando em publicá-lo somente no final do mês de maio, depois da série de posts sobre Gent que ainda serão publicadas. No dia seguinte, 13 de abril, mostrei a Catedral Notre-Dame de Paris para meu filho mais velho pelo Google Maps. Enquanto exaltava sua beleza, prometi a ele que um dia levaria ele e seus irmãos para conhecerem as “minhas amigas” gárgulas de perto. Dois dias depois a histórica Notre-Dame é embebida pelas chamas cruéis de um incêndio.

Foi impossível conter as lágrimas enquanto assistia pela televisão a bela senhora queimar. Busquei noticiários do mundo inteiro para tentar compreender o que estava acontecendo. Era simplesmente inacreditável que aquilo estava acontecendo de fato.

Mesmo assim, ainda bela e nobre.

No post original, escrevi que a Notre-Dame “segue imponente, indiferente a tantos acontecimentos históricos, revoltas e guerras que por ela passaram”. Era portanto, inconcebível que ela fosse ceder ao incêndio. Assistir a torre desabar foi surreal. Realmente não podia ser verdade que 850 anos de história, arte e centro espiritual pudessem desabar daquela forma.

Me uni em coração e prece a todos católicos, franceses, historiadores, amantes da arte e de Paris naquelas 12 horas trágicas. Me lembrei de cada momento que passei quando a visitei. Quando fui barrada para assistir a missa pois acharam que eu iria tirar fotos na parte dedicada ao rito religioso, ao que respondi “sou católica e vou assistir a missa!” Os seguranças abriram passagem imediatamente. Quando tentei repetidas vezes tirar uma foto boa da Pietá. Mas todas minhas tentativas foram inúteis. Em nenhuma das vezes que a visitei eu tinha a máquina que tenho hoje. E quando subi os degraus desgastados pelo tempo para ver de perto as gárgulas que tanto admirava.

Lua de Mel, terceira visita à Notre-Dame

Uma coisa era certa, França não seria a mesma sem a Notre-Dame e Paris não seria a mesma sem as gárgulas a observando dia e noite através de tantos anos.

À noite, assisti o discurso do presidente Emmanuel Macron e suas palavras foram inspiradoras. Mais ainda, a bravura, coragem e profissionalismo dos bombeiros que conseguiram finalmente dominar o fogo e salvar a catedral. Como eu queria que isso tivesse ocorrido com nosso inesquecível museu do Rio de Janeiro, cujo incêndio também me fez chorar, e mais ainda, me revoltar com o descaso pela nossa história e arte.

Pensei em nem publicar esse post, pois ele já não corresponde mais à realidade que temos hoje, infelizmente. Mas em respeito à Notre-Dame, e principalmente, à emoção que senti ao subir em sua torre, decidi por publica-lo, e ainda antes da data prevista.

As palavras do Macron foram inspiradoras como eu disse, mas vou terminar esse texto, com as palavras de alguém muito mais inspirador para mim, alguém que me ilumina dia e noite, e por isso que eu o chamo sempre de Sol da Minha Vida, meu filho mais velho. No dia seguinte ao incêndio, ao me ver abatida, ele me falou “Calma mamãe, se eles souberam fazer tanta arte antigamente, eles saberão fazer agora também. Logo logo a igreja estará de pé novamente e você poderá cumprir sua promessa de me levar para conhecer as gárgulas”.

Aguardamos ansiosos por esse momento!

Segue o post original, escrito apenas 3 dias antes do incêndio. E que venha a reconstrução!

Entre as gárgulas, Quasímodo e Emmanuel na deslumbrante Notre-Dame de Paris

Já visitei igrejas, catedrais, mesquitas e templos mundo afora. Todos lindos, cada um a seu jeito. Mas difícil algum deles se comparar com o efeito que a visão dessa emblemática catedral nos causa. Seja sua imponência, seja sua fama, seja sua história, seja sua arquitetura, ou tudo isso junto, a Cathédrale Notre-Dame de Paris pausa nossa respiração quando a observamos por fora, tira nosso fôlego quando entramos nela e acaba com o pouquinho que restou de ar quando subimos na sua torre.

Independente da fé da pessoa, é difícil ficar imune ao impacto que essa catedral nos causa.

Maravilhoso exemplo da arquitetura medieval francesa, citada em inúmeros livros sobre arte gótica, a Notre-Dame de Paris, ou Nossa Senhora de Paris, segue imponente, indiferente a tantos acontecimentos históricos, revoltas e guerras que por ela passaram. Alguns pedaços foram danificados, é bem verdade, mas essa velha senhora permanece de pé recebendo milhares de visitantes que tumultuam seu interior e arredores. E mesmo com tanta gente curiosa querendo conhecê-la, ainda é possível assistir uma missa com muita sensação de paz interior. Eu assisti e foi uma experiência bem gratificante para mim.

O Papa Alexandre III colocou a primeira pedra em 1163, iniciando 170 anos de trabalho de milhares de arquitetos góticos e artesão medievais. A catedral foi erguida sobre um antigo templo romano e quando foi concluída em 1330, tinha 130 metros de comprimento e ostentava colunas, um grande transepto, coro e torres de 69 metros. No seu magnífico interior o rei Henrique VI da Guerra dos 100 Anos, e o imperador Napoleão Bonaparte e sua esposa Josefina foram coroados, cruzados foram abençoados e a heroína e santa francesa, Joana D’Arc, canonizada.

Mas a Notre-Dame também foi palco de violência. Os revolucionários a saquearam e aboliram a religião, transformando-a em templo da razão e depois em depósito de vinho. Na frente da Notre-Dame há 28 estátuas, cada uma com 3,5 metros, que representam os reis de Judéia. Na época da Revolução Francesa, em 1793, todas essas belas estátuas que vemos foram simplesmente decapitadas. Isso mesmo. Os revolucionários entenderam que as estátuas representavam os reis da França e tudo o que eles não queriam era menção a qualquer tipo de monarquia.

Em 1804, Napoleão restaurou a religião e daí o edifício foi restaurado, as estátuas perdidas foram recuperadas e as cabeças decapitadas reconstruídas.

Visitei a Notre-Dame três vezes e em todas as vezes ela me repetiu a mesma lição que teimei em não aprender corretamente. A importante lição de que eu precisava de uma máquina melhor se quisesse tirar fotos perfeitas de seu interior. Mesmo que em cada visita eu tivesse uma máquina diferente, não consegui tirar uma foto perfeita da Pietá no altar e outras partes da catedral. Isso por causa do seu interior muito escuro. A Pietá e o órgão saíram tremidos, mas ao menos deu para aproveitar as fotos dos belíssimos vitrais e das famosas rosáceas.

A rosácea da frente (face oeste) da catedral mostra a Virgem Maria no meio das cores dos demais vitrais.  Já rosácea sul situada no extremo sul do transepto mostra Cristo no centro cercado por virgens, santos e dos doze apóstolos. Este vitral ainda possui algumas pinturas originais do século 13. A rosácea norte também é um vitral do século 13, com 21 metros e altura, e mostra a Virgem Maria cercada de personagens do Velho Testamento.

O anteparo do altar que circunda todo ele é feito de pedra e data do século 14. Dentro da catedral ainda vemos uma estátua de Joana d’Arc, uma maquete da construção da Notre-Dame, o antigo lustre que, por causa do seu peso, agora encontra-se no chão e belíssimas pinturas. Isso porque nos séculos 17 e 18, as associações de trabalhadores de Paris doavam à catedral um quadro todo 1° de maio.

Além disso, o Tesouro da catedral, o Trésor, ainda guarda verdadeiras relíquias como manuscritos medievais e a Coroa de Espinhos e um pedaço da cruz de Cristo. A Coroa de Espinhos só pode ser vista pelos fiéis na primeira sexta-feira de cada mês às 15:00 e na Sexta-feira Santa entre 10:00 e 17:00.

Já que as fotos do interior não ficaram do jeito que eu desejava em nenhuma das minhas visitas, o jeito foi me dedicar mesmo ao que eu mais adoro na Notre-Dame, as gárgulas! Acho cada uma mais linda que a outra. Todas me chamam muito a atenção. Já gostava delas, mesmo antes de conhece-las de perto. Algo em seu aspecto estranho e digamos nada religioso, da forma como imaginamos, acaba me atraindo bastante, rs. São magníficas, cada uma a seu modo.

E tirar fotos da lista vista que se tem do alto da torre com as gárgulas se unindo a paisagem, é algo que de fato encanta e emociona. São 56 gárgulas e esculturas quiméricas construídas por Viollet-le-Duc e Bourdon, que observam Paris incessantemente. E quantas histórias elas devem ter para contar!

A cara da felicidade pela realização de um sonho

Assim como o outro solene morador da Notre-Dame, Quasímodo, o corcunda do livro que Victor Hugo escreveu com apenas 29 anos em 1831. Nessa época, o escritor queria chamar atenção para a catedral que, esquecida, estava sendo aos poucos depredada pela ação do tempo. Tenho esse livro, mas confesso que não li ainda. Acho que Victor Hugo me “traumatizou” com Les Misérables, pois choro toda vez que vejo, e o pior, independentemente da versão! E continuo assistindo mesmo assim, rs, afinal é uma obra divina que, a cada versão mostra uma faceta diferente trazendo uma mensagem a mais.

Minha gárgula favorita!

Bom, para subir na torre e visitar a moradia do Corcunda é preciso subir 387 degraus estreitos em uma escada em espiral já gasta pelos seus muitos anos. No entanto, a vista lá de cima é magnífica e faz a gente esquecer rapidinho dos degraus tortos. Na verdade, dá vontade de permanecer ali fazendo companhia para as graciosas e ao mesmo tempo medonhas gárgulas.

Na torre ainda vemos o Emannuel, o único sino original que resistiu à Revolução Francesa, já que os demais foram todos derretidos e fundidos. O resistente Emannuel só toca agora em datas especiais como Natal, Páscoa, Pentecostes, Anunciação ou em caso de falecimento do Papa. Também foi esse sino que trouxe a boa notícia do final das duas Grandes Guerras Mundiais. Fico imaginando quão especial não deve ter sido ouvir o Emannuel tocar anunciando o final de dois períodos tão turbulentos e tão tristes da História Mundial. O próprio som da libertação!

Coisas que podem ser ditas sobre o desventurado Quasímodo é que suas pernas deviam ser bem fortes para subir 387 degraus todos os dias, que seus ouvidos eram potentes para poder ouvir de perto o sino de 13 toneladas tocar, e que seus olhos se beneficiavam com a bela vista da janela de sua morada.

A fila para subir pode ser mais desanimadora que os velhos degraus em caracol, pois, além de grande, também é demorada já que sobem poucas pessoas a cada vez. Mas como já falei, mais do que vale a pena. O ingresso custa 10,00 euros, mas está incluso no Paris Pass. Para quem preferir uma fila virtual, basta baixar o aplicativo JeFile. Basta reservar o horário e aparecer na hora marcada. É possível fazer a reserva a partir de 7:30, mas sempre no mesmo dia da sua visita. A entrada para a torre está localizada fora da catedral, no lado esquerdo, na rue du Cloister Notre-Dame.

Para subir, fui fazendo algumas pausas no caminho, mas para descer, acabei indo direto. O resultado de descer os 387 degraus em espiral foi uma verdadeira prova de equilíbrio para mim. Sai andando na frente da catedral parecendo uma bêbada, pois não conseguia de forma alguma andar em linha reta no chão. Como eu ainda ria muito dessa situação, imagino a impressão que causei. Mas tudo bem, posso dizer que foi o vinho que tomei com as gárgulas. Um brinde a todas elas!

A catedral é aberta todos os dias das 8:00 às 18:45, estendendo o horário até 19:15 aos sábados e domingos. A entrada é livre, mas não é permitido portar nenhum tipo de bagagem.

As linhas do metrô 4 (Station Cité ou Saint-Michel), 1 e 11 (Station Hôtel de Ville), 10 (Station Maubert-Mutualité ou Cluny – La Sorbonne), 7, 11 e 14 (Station Châtelet) ou RER, linhas B (Station Saint-Michel – Notre-Dame) ou (Station Saint-Michel – Notre-Dame) levam até à Notre-Dame. Para quem preferir ir de ônibus, as opções são as linhas 21, 24, 27, 38, 47, 85 e 96. Paris é uma festa do transporte público!

Dramaticidade, romance, natureza, arte e muita, mas muita beleza no Museu de Rodin em Paris

Dentre os estilos de arte, o Impressionismo é um dos que mais sou apaixonada. A quebra de paradigmas, a leitura através de cores e efeitos da luz e a vida desses lindos artistas focada no desejo de fazer essa arte ser reconhecida me fizeram aprender que nem só de Renascentismo (minha primeira paixão) vive a arte, rs.

Esse foi meu maior aprendizado visitando museus mundo afora. Não apenas ter a felicidade de ver de perto obras que eu só conhecia através dos meus livros de arte, mas também poder aprender sobre outros estilos e escolas, bem como sobre outros pintores e escultores.

E esses são os dois motivos principais que me fazem ser tão apaixonada e porque não dizer obcecada por museus. Há ainda um terceiro forte motivo, a paixão também por História, em especial História Antiga. É por isso que costumo dizer que não sou boa companhia para viajar, porque adoro ficar enfurnada em um museu. E é por isso também que já fui expulsa de vários, por ficar até o último segundo antes fechar, inclusive comigo dentro. Como aconteceu em Estocolmo no museu Vasamuseet. Fazer o que? A paixão pela arte e história fala mais alto que o bom senso, rs.

E se Monet é um dos meus pintores favoritos, que me faz ficar horas admirando suas pinturas e sua história de vida, Rodin não podia deixar de ser um dos meus escultores prediletos.

E como não ser? A paixão e dramaticidade desse escultor francês envolvem o expectador de uma tal maneira que é impossível admirar seu trabalho sem ser tocado, e até mesmo arrastado, profundamente por ele.

E foi por tudo isso, que, em uma das vezes que mochilava na linda Paris, reservei um dia para conhecer a casa do meu amigo Rodin, o Musée Rodin.

François-Auguste-René Rodin, ou Auguste Rodin, ou simplesmente Rodin, nasceu em Paris em 12 de novembro de 1840. Era o segundo filho de uma família operária. Ele começou a desenhar já com apenas 10 anos e usava a massa de pão da mãe para fazer esculturas. Quando mais velho, tentou entrar na Grand École, ou escola de Belas Artes de Paris, mas foi rejeitado, não apenas uma vez, mas três vezes!!!

Essa é a parte da História em que temos que dar risadas. Como grandes artistas não são reconhecidos no seu tempo, com exceção dos Renascentistas, ufa! E bem, Rodin não escapou da regra, ele, assim como outros impressionistas não apenas não foram reconhecidos, como ainda foram criticador arduamente. E isso inclui suas esculturas mais famosas.

Em 1875, Rodin decide ir para a Itália, onde ele conhece os trabalhos de Michelângelo, o que acaba por influenciá-lo. Quando descobri esse fato da vida de Rodin que comecei a entender porquê suas esculturas me fascinam tanto, rs. Afinal Michelângelo é incomparável!

Foi em 1878 que Rodin começou a ganhar reconhecimento e fama. E em 1885 ele conheceu sua pupila, mais famosa, Camille Claudel, com apenas 19 anos de idade e com quem teve um relacionamento amoroso bem tumultuado com um fim trágico.

O relacionamento foi tão intenso que os trabalhos Camille são muitas vezes confundidos com os de Rodin. Camille por fim foi considerada insana e em 1913 é internada em um manicômio, onde permaneceu até o final de seus dias. A vida de um artista nem sempre é fácil, quando se juntam dois então…

Em 1908, o escultor passou a viver no Hôtel Biron, que abriga o Musée Rodin, desde o seu falecimento em 1917. Nessa época, Rodin era finalmente e merecidamente um artista consagrado em toda a Europa.

Logo que se entra no museu, se vê O Pensador, uma das mais famosas esculturas em bronze. De 1881, essa bela escultura contemplativa fica sobre o túmulo do seu criador. Inicialmente O Pensador era chamado de O Poeta, quando ele foi desenhado para ficar em cima da Porta do Inferno. Mas então a obra ficou independente, após uma exposição em 1888, foi ampliada em 1904 e se tornou O Pensador que vemos hoje, um homem profundamente perdido em pensamentos, mas cujo corpo musculoso remete a um homem de ação. Talvez mais uma provocação mente versus corpo proposta por Rodin.

Andando em sentido anti-horário pelo jardim na frente do museu, vemos outras belas e famosas esculturas misturadas com o verde. A primeira delas é o conjunto de esculturas que formam O Monumento dos Burgueses de Calais, de 1889. Uma obra admirável de vários ângulos, com rostos dramáticos e gestos fortes. O monumento descreve uma ocorrência na Guerra dos 100 Anos, quando a cidade de Calais foi sitiada pelo rei inglês Eduardo III, que concordou em levantar o cerco da cidade já padecendo de fome, somente se seis dos seus cidadãos mais distintos se entregassem. O rei exigiu que eles deixassem a cidade vestindo apenas camisas, cada um com uma corda no pescoço e as chaves da cidade fortificada na mão.

Na sequência vemos a turbulenta Porta do Inferno, com figuras retorcidas em uma aflição sem fim. Rodin trabalhou fervorosamente neste projeto por vários anos. Ele criou mais de 200 figuras e grupos que formaram um terreno fértil para as idéias que ele continuou desenhou pelo resto de sua vida. Alias, ideias e pensamentos são o que não falta na nossa cabeça quando vemos essa obra inquietante.

Em cima da porta vemos O Pensador em alusão à Dante Aliguieri, que observa impassível toda a turbulência logo abaixo. Uma escultura desconcertante, sem dúvida.

Dentro do museu, vemos outras obras igualmente famosas e belas, incluindo a que eu mais queria ver, O Beijo, de 1888-1889. Obra que já foi considerada infame e sexual demais. Rainer Maria Rilke, um poeta tcheco, em seu livro Auguste Rodin de 1903, assim descreve O Beijo: “… quase se pode sentir as ondas que passam pelos os corpos a partir do vários pontos de contato na superfície, chuvas de beleza, intuição e poder. Isso explica como sentimos que podemos ver o êxtase desse beijo em todas as partes esses corpos. É como um sol nascente, lançando sua luz em todos os lugares.”

Melhor descrição que essa, impossível. Só mesmo um poeta para descrever tão bem as sensações que essa escultura de Rodin pode causar.

Rodin em seu atelier com a escultura em mármore O Beijo © musée Rodin

Se não bastasse todas as belas obras, há ainda um jardim muito bem cuidado para nos trazer paz e tranquilidade contrapondo todas as esculturas com seus dilemas e angústias.

O jardim é tão gostoso e tão tranquilo (pelo menos quando fui, na baixa temporada), que aproveitei para deitar em uma das espreguiçadeiras e relaxar. A calmaria foi tanta que acabei tirando um cochilo, rs. Uma boa soneca no meio da natureza e das obras de Rodin. Quer relaxamento melhor que esse?

O Musée Rodin fica na rue de Varenne 77. Eu fui de metrô para lá, as estações mais próximas são Varenne (linha 13) e Invalides (linhas 13 e 8 e linha C do RER). Para quem preferir ir de ônibus, pode escolher as linhas 69, 82, 87 e 92. Paris sempre oferece muitas opções de transporte.

O museu abre de terça a domingo entre 10:00 e 18:30, sendo o último ingresso vendido as 17:15. O belo jardim é fechado ao público nos meses de inverno, entre 1 de outubro e 31 de março. O ingresso custa 12,00 euros. Quem quiser pode comprar combinado com o Musée D’Orsay, nesse caso fica 21,00 euros. Dá para comprar o ingresso online também aqui.

O museu disponibiliza áudio guias, em francês, inglês, espanhol, chinês, alemão e português!!!! Finalmente um áudio guia em português, rs. O valor do áudio guia é de 6,00 euros.

C’est Paris, c’est magnifique!

Fui para Paris 3 vezes, a primeira vez foi em agosto de 2000, vindo da Espanha. A segunda vez foi em setembro de 2006, vindo de Bruxelas e a terceira vez, a mais romântica e especial de todas, foi na minha Lua de Mel em pleno inverno de janeiro de 2008. Nessa viagem visitamos Paris em dois momentos, no início da viagem, vindo diretamente de São Paulo, em uma curta passagem antes de ir para a Grécia, e no fim da Lua de Mel, fechando em grande estilo, após passar o Réveillon em Praga.

Bom, o que dizer de Paris? Se tivesse que resumir em 4 palavras apenas, diria como a música que ouvi no show do Lido: “C’est Paris, C’est magnifique” (É Paris, é magnífico). São inúmeros os adjetivos para descrever a Cidade Luz. Paris é linda, charmosa, encantadora, deslumbrante e poderosa.

Depois de visitar Paris pela primeira vez, uma coisa é certa, sempre temos que voltar. Ficamos com essa necessidade e saudade de retornar e rever os inúmeros pontos turísticos, descobrir novos lugares ainda não visitados, ou simplesmente andar por suas ruas charmosas, comer um delicioso queijo, tomar um bom vinho ou assistir os artistas de rua em Montmartre.

Uma animada rua no bairro boêmio de Montmartre
Uma animada rua no bairro boêmio de Montmartre

Bem, já deu para perceber que Paris é uma das minhas cidades preferidas… Assim como provavelmente deve ser também a cidade preferida de milhares de turistas ao redor do mundo. Não é à toa que esta é a cidade mais visitada do mundo. Em 2010, Paris recebeu nada menos do que 15,1 milhões de turistas. A cidade Luz atende a todos os tipos de turistas, seja pelo romantismo, gastronomia, charme, moda, museus ou sua história.

Vista do alto da Notre Dame

Mas e a arrogância e mau humor tão conhecidos dos franceses? Para ser sincera, nunca tive problema com nenhum francês. Acredito que a maioria das pessoas que tenham tido algum tipo de problema, seja pelo fato de falar inglês com os nativos. Franceses e ingleses não se combinam há séculos, então falar inglês em território francês não é um ato visto com bons olhos, mesmo que o inglês seja a língua internacional adotada por muitos turistas.

Para quem não fala francês, a melhor atitude é iniciar a conversa com um “Bonjour, je ne parle pas français” (Bom dia, eu não falo francês). E voilá, mau humor resolvido! Nada que um Bonjour, S’il vous plaît (por favor) e merci (obrigado) não resolvam.

Aliás, essas palavrinhas mágicas vão bem em qualquer país. Sempre tento aprender a falar bom dia, boa noite, por favor e obrigado em qualquer país que eu vou. É educado, simpático, abre portas e além de tudo ainda podemos melhorar nosso vocabulário de idiomas. Assim como nós gostamos dessas palavras, o mundo todo também as aprecia. Educação é bem vinda em todos os lugares, seja aqui no Brasil ou até no mais longínquo pedaço do planeta. E no caso da França, não iniciar uma conversa com um bonjour é visto como uma terrível falta de educação, assim como chamar um desconhecido por você (tu, em francês).

Avenida Champs Elysées à noite enfeitada para o Natal

Mas voltemos à Paris. Se você não tem tempo para conhecer muitas cidades na Europa, eleja Paris como uma das prioridades. O tempo mínimo para ficar na cidade é de 5 dias. Não compensa ficar menos do que isso. Porém, como falo para muitos que não podem ficar ao menos uma semana nessa cidade magnífica, é melhor passar um dia em Paris do que não passar nenhum.

Como a cidade oferece inúmeras opções para qualquer tipo de turista, vou escrever os posts aos poucos, dando a devida importância para cada tópico apresentado. Assim, haverão posts sobre as belas igrejas e catedrais como Notre Dame, Sacre Coeur e Sainte Madelleine, os magníficos museus como Louvre (meu preferido), Orsay e Rodin, bairros como o boêmio Montmarte e o animado Quartier Latin e tantos outros lugares como Jardin du Luxembourg, Invalides, Père Lachaise, Centre Georges Pompidou, Bastille, Trocadero, Place de Vosges, dentre outros.

Belíssimo jardim do Musée Rodin

Isso sem contar é claro com os cartões postais mais famosos da cidade como a Torre Eiffel, Arco do Triunfo e a região da avenida Champs Elysées.  Vou escrever também sobre os shows magníficos do Lido e Moulin Rouge. Embora muitos falem que são shows para turistas com preços também para turistas, esses espetáculos valem muito a pena, são shows completos com música, dança e atrações diversas.

Detalhe de um show no Lido

São tantas coisas para se escrever sobre Paris que é necessário calma e dedicação, para que nenhum detalhe ou informação importantes sejam deixados para trás. Também vou escrever um post sobre como se locomover na cidade, os meios de transporte possíveis e a hospedagem.

As redondezas de Paris também serão citadas, pois é impossível não incluir o majestoso Versailles na lista de locais obrigatórios para se visitar.

Cartaz dentro do metro de Paris, com uma bela frase (Eu estou contente, me resta a vida).

Bom, se você ainda não conhece Paris, não perca tempo. Comece desde já a planejar uma visita a esta cidade tão romântica, tida como uma das mais lindas do mundo e tenha uma belíssima viagem.

Vive Paris, Vive la France!