Dramaticidade, romance, natureza, arte e muita, mas muita beleza no Museu de Rodin em Paris

Dentre os estilos de arte, o Impressionismo é um dos que mais sou apaixonada. A quebra de paradigmas, a leitura através de cores e efeitos da luz e a vida desses lindos artistas focada no desejo de fazer essa arte ser reconhecida me fizeram aprender que nem só de Renascentismo (minha primeira paixão) vive a arte, rs.

Esse foi meu maior aprendizado visitando museus mundo afora. Não apenas ter a felicidade de ver de perto obras que eu só conhecia através dos meus livros de arte, mas também poder aprender sobre outros estilos e escolas, bem como sobre outros pintores e escultores.

E esses são os dois motivos principais que me fazem ser tão apaixonada e porque não dizer obcecada por museus. Há ainda um terceiro forte motivo, a paixão também por História, em especial História Antiga. É por isso que costumo dizer que não sou boa companhia para viajar, porque adoro ficar enfurnada em um museu. E é por isso também que já fui expulsa de vários, por ficar até o último segundo antes fechar, inclusive comigo dentro. Como aconteceu em Estocolmo no museu Vasamuseet. Fazer o que? A paixão pela arte e história fala mais alto que o bom senso, rs.

E se Monet é um dos meus pintores favoritos, que me faz ficar horas admirando suas pinturas e sua história de vida, Rodin não podia deixar de ser um dos meus escultores prediletos.

E como não ser? A paixão e dramaticidade desse escultor francês envolvem o expectador de uma tal maneira que é impossível admirar seu trabalho sem ser tocado, e até mesmo arrastado, profundamente por ele.

E foi por tudo isso, que, em uma das vezes que mochilava na linda Paris, reservei um dia para conhecer a casa do meu amigo Rodin, o Musée Rodin.

François-Auguste-René Rodin, ou Auguste Rodin, ou simplesmente Rodin, nasceu em Paris em 12 de novembro de 1840. Era o segundo filho de uma família operária. Ele começou a desenhar já com apenas 10 anos e usava a massa de pão da mãe para fazer esculturas. Quando mais velho, tentou entrar na Grand École, ou escola de Belas Artes de Paris, mas foi rejeitado, não apenas uma vez, mas três vezes!!!

Essa é a parte da História em que temos que dar risadas. Como grandes artistas não são reconhecidos no seu tempo, com exceção dos Renascentistas, ufa! E bem, Rodin não escapou da regra, ele, assim como outros impressionistas não apenas não foram reconhecidos, como ainda foram criticador arduamente. E isso inclui suas esculturas mais famosas.

Em 1875, Rodin decide ir para a Itália, onde ele conhece os trabalhos de Michelângelo, o que acaba por influenciá-lo. Quando descobri esse fato da vida de Rodin que comecei a entender porquê suas esculturas me fascinam tanto, rs. Afinal Michelângelo é incomparável!

Foi em 1878 que Rodin começou a ganhar reconhecimento e fama. E em 1885 ele conheceu sua pupila, mais famosa, Camille Claudel, com apenas 19 anos de idade e com quem teve um relacionamento amoroso bem tumultuado com um fim trágico.

O relacionamento foi tão intenso que os trabalhos Camille são muitas vezes confundidos com os de Rodin. Camille por fim foi considerada insana e em 1913 é internada em um manicômio, onde permaneceu até o final de seus dias. A vida de um artista nem sempre é fácil, quando se juntam dois então…

Em 1908, o escultor passou a viver no Hôtel Biron, que abriga o Musée Rodin, desde o seu falecimento em 1917. Nessa época, Rodin era finalmente e merecidamente um artista consagrado em toda a Europa.

Logo que se entra no museu, se vê O Pensador, uma das mais famosas esculturas em bronze. De 1881, essa bela escultura contemplativa fica sobre o túmulo do seu criador. Inicialmente O Pensador era chamado de O Poeta, quando ele foi desenhado para ficar em cima da Porta do Inferno. Mas então a obra ficou independente, após uma exposição em 1888, foi ampliada em 1904 e se tornou O Pensador que vemos hoje, um homem profundamente perdido em pensamentos, mas cujo corpo musculoso remete a um homem de ação. Talvez mais uma provocação mente versus corpo proposta por Rodin.

Andando em sentido anti-horário pelo jardim na frente do museu, vemos outras belas e famosas esculturas misturadas com o verde. A primeira delas é o conjunto de esculturas que formam O Monumento dos Burgueses de Calais, de 1889. Uma obra admirável de vários ângulos, com rostos dramáticos e gestos fortes. O monumento descreve uma ocorrência na Guerra dos 100 Anos, quando a cidade de Calais foi sitiada pelo rei inglês Eduardo III, que concordou em levantar o cerco da cidade já padecendo de fome, somente se seis dos seus cidadãos mais distintos se entregassem. O rei exigiu que eles deixassem a cidade vestindo apenas camisas, cada um com uma corda no pescoço e as chaves da cidade fortificada na mão.

Na sequência vemos a turbulenta Porta do Inferno, com figuras retorcidas em uma aflição sem fim. Rodin trabalhou fervorosamente neste projeto por vários anos. Ele criou mais de 200 figuras e grupos que formaram um terreno fértil para as idéias que ele continuou desenhou pelo resto de sua vida. Alias, ideias e pensamentos são o que não falta na nossa cabeça quando vemos essa obra inquietante.

Em cima da porta vemos O Pensador em alusão à Dante Aliguieri, que observa impassível toda a turbulência logo abaixo. Uma escultura desconcertante, sem dúvida.

Dentro do museu, vemos outras obras igualmente famosas e belas, incluindo a que eu mais queria ver, O Beijo, de 1888-1889. Obra que já foi considerada infame e sexual demais. Rainer Maria Rilke, um poeta tcheco, em seu livro Auguste Rodin de 1903, assim descreve O Beijo: “… quase se pode sentir as ondas que passam pelos os corpos a partir do vários pontos de contato na superfície, chuvas de beleza, intuição e poder. Isso explica como sentimos que podemos ver o êxtase desse beijo em todas as partes esses corpos. É como um sol nascente, lançando sua luz em todos os lugares.”

Melhor descrição que essa, impossível. Só mesmo um poeta para descrever tão bem as sensações que essa escultura de Rodin pode causar.

Rodin em seu atelier com a escultura em mármore O Beijo © musée Rodin

Se não bastasse todas as belas obras, há ainda um jardim muito bem cuidado para nos trazer paz e tranquilidade contrapondo todas as esculturas com seus dilemas e angústias.

O jardim é tão gostoso e tão tranquilo (pelo menos quando fui, na baixa temporada), que aproveitei para deitar em uma das espreguiçadeiras e relaxar. A calmaria foi tanta que acabei tirando um cochilo, rs. Uma boa soneca no meio da natureza e das obras de Rodin. Quer relaxamento melhor que esse?

O Musée Rodin fica na rue de Varenne 77. Eu fui de metrô para lá, as estações mais próximas são Varenne (linha 13) e Invalides (linhas 13 e 8 e linha C do RER). Para quem preferir ir de ônibus, pode escolher as linhas 69, 82, 87 e 92. Paris sempre oferece muitas opções de transporte.

O museu abre de terça a domingo entre 10:00 e 18:30, sendo o último ingresso vendido as 17:15. O belo jardim é fechado ao público nos meses de inverno, entre 1 de outubro e 31 de março. O ingresso custa 12,00 euros. Quem quiser pode comprar combinado com o Musée D’Orsay, nesse caso fica 21,00 euros. Dá para comprar o ingresso online também aqui.

O museu disponibiliza áudio guias, em francês, inglês, espanhol, chinês, alemão e português!!!! Finalmente um áudio guia em português, rs. O valor do áudio guia é de 6,00 euros.

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