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Entre os castelos do Diabo e dos Condes em Gent

Saindo da Sint Baafskathedraal e finalmente do pedaço das Três Torres que prende bastante a gente, rs, decidi fazer uma caminhada até o Gravensteen, porque fiquei bastante curiosa ao ver sua torre do alto do Belfry.

Mas antes resolvi passar por outro castelo, o Geeraard de Duivelsteen.
O castelo foi construído no século 13 e recebeu esse nome por causa do cavaleiro Geeraard Vilain, nascido em uma família de viscondes que orgulhosamente se auto intitulavam de Senhores de Gent.

Enfim, o cavaleiro em questão era conhecido como “Geeraard de Duivel” que significa “Geerard, o Diabo”. Um nome de dar inveja ao Conde Vlad Dracul, mas que na verdade era por causa da cor escura do seu cabelo e de sua pele.

Apesar do nome e sua aparência sombria, o diabo mesmo nunca morou nesta fortaleza que, ao longo dos séculos seguintes, acabou sendo usada para diversos fins como residência de cavaleiros, arsenal, mosteiro, escola e seminário do bispo. Em 1623, chegou a se tornar um hospício para doentes mentais e lar para meninos órfãos.

Uma outra parte do edifício foi usada como prisão. Em 1830, o Geeraard de Duivelsteen tornou-se um posto de bombeiros. Perto do final do século 19 foi comprado pelo estado belga para servir como um arquivo nacional. Por causa disso, uma nova ala foi construída.

Curiosamente, desde 2010 o castelo está à venda, devido à sua atual inadequação para o armazenamento dos arquivos do país. Fica a dica para quem quiser morar na casa do Diabo em Gent.

Engraçado que só depois que conheci esse castelo que fui perceber que a cerveja Duvel significa diabo (em dialeto de Antuérpia). Uma boa pedida para acompanhar o almoço, mas não foi essa que pedi estando em Gent. Aproveitei para provar uma que não conhecia, a Keizer Karel Charles Quint, uma cerveja de alta fermentação, bem gostosa. Como o próprio nome diz, essa cerveja foi criada em homenagem ao imperador Carlos V, que era um grande apreciador de cervejas. E que bom para ele que podia tomar cerveja belga todos os dias, rs.

Ali pertinho do castelo, nas costas da Sint Baafskathedraal , encontra-se o monumento em homenagem aos irmãos Van Eyck, esse dois gênios da pintura flamenga.  O monumento foi desenhado pelo escultor Geo Verbanck, falecido em 1961. Sua inauguração ocorreu em 9 de agosto de 1913, na presença do rei Alberto da Bélgica. Bem apropriado para os pintores do Retábulo de Gent e de tantas outras belas obras.

No monumento, os irmãos Jan e Hubert Van Eyck estão recebendo a homenagem dos habitantes da cidade. Homens, mulheres e crianças trazem flores e guirlandas para os pintores. Hubert, o mais velho dos dois irmãos, olha através das páginas da Bíblia enquanto sua paleta e pincéis estão a seus pés, enquanto Jan, olha para frente segurando sua paleta.

Na caminhada em zigue-zague que sempre acabo fazendo, entre o Geeraard de Duivelsteen e o Gravensteen , acabei passando por várias instituições de ensino que me chamaram a atenção. A primeira delas foi a Vlerick Business School,ou simplesmente Vlerick, uma escola particular de business da Bélgica, com campus em Gent, e em outras cidades como Leuven, Bruxelas e São Petersburgo. A escola funciona ali desde 2007, mas o prédio foi construído em 1905 para servir como seminário da maior da diocese da cidade e posteriormente vendido para o município.

Outra construção que me chamou a atenção foi a da Hogeschool. Essa é a maior universidade na região Flandres, com três faculdades, uma Escola de Artes e 13.000 estudantes. Que maravilha que deve ser estudar artes em Gent!

A sua criação em 1995 é o resultado de duas fusões bem sucedidas que envolveram dezesseis instituições de ensino superior belgas. As faculdades atuais estão espalhadas pelo centro da cidade de Gent e Aalst.

E por fim, a última instituição de ensino, cujo prédio salta às vistas, é a De Oogappel, que na verdade é um tipo de escola experiencial, daquelas em que as crianças podem viver, aprender e trabalhar e os processos de aprendizagem e trabalho partem das ideias e experiências das crianças. Me lembra bem o sócio construtivismo e as teorias de Howard Gardner que admiro bastante. Não é à toa que meus filhos mesmo estudam em uma escola que se inspira nas teorias de Gardner e Piaget.

Já chegando no Gravensteen , vemos outra interessante construção do chamado Groot Vleeshuis,edifício usado como Salão de Carne, cujo início da construção data de 1407, sendo concluído somente em 1419. A fachada principal e as fachadas laterais extensas, que se refletem na água, são exemplos interessantes da arquitetura da classe comerciante de Gent. Até hoje o lugar abriga comércio de carnes e outros produtos regionais como presunto típico de Gent, mostarda de Tierenteyn, queijos feitos com cerveja, e claro, uma infinita variedade de cervejas.

Ai que tentação! Melhor continuar caminhando para o Castelo dos Condes.

O Gravensteen, possui um nome mais agradável que o Castelo do Diabo, e é também mais elegante e charmoso, mas uma história mais turbulenta. Resultado da complexa, e por vezes tempestuosa, história política e social da cidade. Ele é o único castelo medieval remanescente com um fosso e um sistema de defesa praticamente intacto na região de Flandres.

Sua história na verdade remonta até aos tempos da ocupação romana, quando já havia um assentamento em um banco de areia pelo rio Lys. Após um breve período de saques vikings, os Condes de Flandres converteram as primeiras construções de madeira em uma fortaleza na Idade Média, com muralhas construídas inteiramente de pedra e repletas de 24 torres.

O imponente prédio com sua arquitetura militar virou então um símbolo do poder dos condes na agitada cidade de Gent.

Infelizmente não consegui entrar no castelo, pois quando cheguei já estava fechando. Isso acontece com quem pára para observar cada prédio interessante que vê pelo caminho em Gent, rs. O simpático segurança, deixou que eu ao menos tirasse fotos da entrada e pátio. Bem, fica para uma próxima visita.

Apesar não ter visitado, o Castelo dos Condes possui em seu interior uma coleção única de equipamentos de tortura. Ele também abriga todos os tipos de atividades culturais, eventos e atividades. Além disso também é um local popular para os moradores de Gent se casarem. Afinal quem nunca quis casar em uma castelo a beira de um rio?

Dá para subir nas suas torres para ter uma boa vista do centro histórico da cidade, bem como das áreas residenciais e industriais.

A região próxima do castelo também é super agradável. Dali saem os passeios de barco pelos canais.  A praça Saint Veerler é repleta de lindas casas que datam do século XVI. Apenas a entrada para o Oude Vismijn é uma exceção a essa regra, já que ele é do século XVII. Sobre a sua  entrada monumental no estilo barroco há uma estátua do deus grego Poseidon, (Netuno para os romanos) com seu tridente e das divindades dos dois rios de Gent, o Leie e o Schelde.

Seu nome significa algo como Velho Mercado de Peixe e ele era exatamente isso, o mercado de peixe, carne e vegetais mais antigo do centro da cidade. Hoje o local abriga um bar, uma brasserie, dois salões de eventos, além do Centro de Informações Turísticas de Gent, que por ironia, só fui entrar no final da minha viagem de bate e volta para essa encantadora cidade.

Hora de pegar o trem de volta para Bruxelas.

O que há para ver na região das Três Torres em Gent

Que as Três Torres de Gent, formadas pela Sint Niklaaskerk, Belfry e Sint Baafskathedraal, são um “must-do” daqueles que amamos fazer, isso ninguém duvida. E que também há muito para se ver em Gent ao redor delas também é algo que não dá para negar.

Afinal Gent, junto com sua vizinha Bruges, parece ser daquelas cidades onde para qualquer lugar que você olha, há algo interessante para se ver e admirar.

Começamos então pelas proximidades da Sint Niklaaskerk. Ali temos a praça Korenmarkt, cujo nome deriva de Mercado do Trigo ou Mercado do Milho, de acordo com diferentes traduções. Esses e outros cereais eram trazidos para Gent e vendidos nessa praça nos séculos 10 e 11. Desde então, a Korenmarkt tem sido o centro comercial e econômico da cidade. Ao seu redor podemos ver várias construções históricas com lindas fachadas que hoje formam principalmente bares e restaurantes.

É de lá que partem as charretes para passear em Gent e também é por onde passam boa parte dos ônibus.

Na Korenmarkt fica um dos prédios que mais me chamaram a atenção em Gent. E só fui perceber isso quando fui organizar as fotos e vi a quantidade de fotos que tirei desse prédio. Estou falando do imponente Post Plaza construído em 1910 sobre as fundações do que originalmente se pretendia ser o Teatro Real Holandês. A instigante construção é uma mistura de estilos gótico e renascentista. Deve ser essa a principal razão do seu charme. É sem dúvida, uma joia arquitetônica, que antes funcionava como correios e agora foi convertido em um shopping, hotel de luxo e bar.

Passando pelo Post Plaza, chegamos na Sint-Michielsbrug, a ponte de São Miguel, de onde temos uma linda vista do canal e das belas casas ao redor. De um lado vemos no horizonte as torres fortificadas do castelo Gravensteen e do outro lado, a Igreja Sint-Michielskerk, ou Igreja de São Miguel. É uma ponte para os casais apaixonados tirar lindas fotos e também para fazer se apaixonar por Gent. Afinal de qualquer ângulo, você tem uma visão encantadora.

A Sint-Michielskerk foi iniciada em 1440 e concluída em 1648. É uma igreja espaçosa no estilo gótico tardio. Embora seja uma bela construção, perto da Sint Niklaaskerk e Sint Baafskathedraal, ela fica parecendo uma “Igreja anã”. O interessante é que era para ser o contrário, ou quase isso. O campanário da Igreja foi planejado para se destacar acima de todos os outros, mas seu destino foi diferente. O “monumento do triunfo” como foi chamado na época, era para ter 134 metros de altura, mas ficou apenas com 24. Em 1828, a torre inacabada finalmente adquiriu um telhado, acabando assim com qualquer pretensão da Igreja de crescer um pouco mais.

Bom, vamos voltar agora para a Sint Niklaaskerk, indo em direção à Segunda Torre, o Belfry. No caminho há outra interessante construção, o Metselaarshuis, ou Salão da Associação dos Maçons, bem do ladinho da Igreja de São Nicolau. A construção do século XVI chama a atenção principalmente porque no topo do frontão há seis dançarinos que ficam girando alegremente com o vento.

Assim como a Igreja de São Miguel, o Metselaarhuis também possui uma história curiosa. Acreditava-se que o desenho original da fachada tivesse sido inteiramente perdido durante as reconstruções do século XIX. Mas, então, em 1975, a fachada foi novamente redescoberta por trás da parede construída anteriormente e, finalmente, demolida. Que bom, agora podemos apreciar essa interessante fachada e seus alegres dançarinos. Abaixo do edifício existe uma adega do século 13.

Entre a Sint Niklaaskerk e o Belfry, vemos ainda o Stadhuis, a prefeitura de Gent. Essa construção é o que podemos chamar de prédio de dupla personalidade, resultado de nada manos que seis séculos de história de construção. O prédio é claramente dividido em duas partes.

De um lado temos o estilo gótico tardio que data do início do século XVI, ricamente ornamentado e detalhado e do outro lado, em extravagante contraste, temos as linhas limpas do estilo renascentista mais sóbrio, no qual o edifício foi concluído.

Do lado gótico podemos ver as muitas estátuas dos Condes de Flandres, embora essas tenham sido adicionadas somente no início de 1900 . E do lado renascentista, construído entre 1559 e 1618), temos colunas e pilastras dóricas, iônicas e coríntias inspiradas nos palácios italianos.

A Stadhuis conta internamente com 51 quartos, incluindo a Capela de Casamentos, já que é lá que os locais fazem seus votos de casamento. Reza a lenda que muitas noivas foram cativadas pelos belos vitrais românticos e acabaram perdendo-se no labirinto de corredores e câmaras no interior da construção bipolar.

Continuamos nossa caminhada para a Terceira Torre, a magnífica Catedral de São Bavão, ou Sint Baafskathedraal , e vamos encontrar o NTGent ou Nederlands Toneel Gent, que traduzindo seria Teatro Real Holandês. Esse teatro foi fundado em 1965 como o teatro da cidade de Gent e apresenta suas próprias produções teatrais com atores flamengos e holandeses, além de produções de convidados. O teatro possui 600 lugares e é subsidiado pela Comunidade Flamenga, assim como pela própria cidade.

No alto de sua fachada, vemos um lindo mosaico de Apolo e as Musas de Parnaso. Um trabalho super apropriado para uma casa de teatro. Representa uma ode às artes teatrais e foi concluído em 1898.

Ainda na praça Sint Baafsplein, vemos um momento em homenagem à Jan Frans Willems, um escritor flamengo tido como o pai do movimento flamengo, que nada mais era que um movimento político para promover a cultura flamenga na época em que Bélgica era governada pelos franceses.

O Monumento feito de mármore mostra um um jovem representando o Vlaamse Beweging, ou Movimento Flamengo, removendo o véu de uma mulher flamenga. Abaixo há um círculo com o retrato de pedra do escritor e nomes de outras pessoas do movimento.

Esse movimento aliás permanece bem vivo ainda na região e hoje visa a independência de Flandres, considerada região mais rica da Bélgica e de idioma neerlandês, do restante do país em que predominam a língua francesa. O nacionalismo flamengo tem recebido grande apoio na região, e sua aceitação é crescente, sendo muito defendido por partidos de direita. É bem nítida essa questão separatista, como pude bem presenciar em Bruges.





Sint Baafskathedraal, a Catedral de São Bavão, local de adoração e arte em Gent

E chegamos na terceira das “Três Torres de Gent”. Depois da Sint Niklaaskerk e do Belfry, é a vez da terceira e talvez mais famosa torre, a Catedral de São Bavão, em português, ou Sint Baafskathedraal, em neerlandês. Também é comum ver essa catedral chamada de Catedral de São Bavo, uma mistura com o nome inglês do santo.

Essa catedral é aquele “must-do” impossível de não visitar quando em Gent. Seja pela sua imponente arquitetura gótica, seja pelo seu destaque no meio de tanta coisa linda para se ver na cidade, seja pelo motivo religioso, seja pelo fato de ser o lar de uma das pinturas mais famosas do século XV, ou seja apenas pela curiosidade turística, mesmo. Ela é um must-do e isso é indiscutível, rs.

A Sint Baafskathedraal tem sua origem em uma capela fundada em 942 e dedicada a São João Batista, o santo padroeiro mais antigo da cidade comercial. Isso mesmo, era outro santo que era o homenageado pela capela original.

Em 1274, os ricos comerciantes de renda da Idade Média que tanto contribuíram para o engrandecimento comercial de Gent construíram uma outra igreja sobre esta capela. Mas foi somente no século XV que decidiram trocar o santo em questão. Em 1540, São Bavão virou não somente o santo padroeiro da nova igreja, como também o da cidade.

Em 1462, a primeira pedra para a construção das torres foi colocada, sendo estas concluídas somente em 1569. O imperador Romano-Germânico Carlos V, foi batizado nesta igreja ainda inacabada. Em 1550, ele concedeu uma importante quantia em dinheiro para que janelas arqueadas com vitrais fossem incluídas na igreja. Pouco tempo depois da revolta na cidade contra ele em 1539 devido aos pesados ​​pagamentos de impostos. Apesar de ter acabado rapidamente com a revolta, o imperador pelo jeito não era de guardar rancor.

A catedral gótica é um deleite para os amantes de arte. Além de sua belíssima estrutura interna, há esculturas e pinturas distribuídas por todo o seu interior ricamente adornado com mármore branco e escuro. O interior é tão belo que até dá para entender porque quem visita a Sint Niklaaskerk depois, acha essa última “simples”. Há tanta beleza disputando a atenção que para se ter uma ideia, eu consegui tirar mais de 100 fotos do seu interior e mesmo assim ainda parece não ser suficiente, rs. Preparem a bateria da máquina!

Podemos começar pelo belo altar barroco da catedral, feito de mármore, madeira dourada, cobre e bronze. Uma combinação de materiais que resultou em uma bela obra de arte. O altar foi introduzido no início do século XVIII.

Ele chama a atenção obviamente, mas no caso da Sint Baafskathedraal, vale muito a pena mencionar o púlpito. Acredito que esse foi um dos púlpitos que mais me chamou a atenção nas muitas igrejas e catedrais que já visitei. De 1745, feito em carvalho, madeira dourada e mármore é um belo exemplo da arte rococó. A cruz meio que caída, ou se levantando, dá para interpretar de várias formas, e toda a dramaticidade de suas esculturas revelam, na minha opinião, um encontro de um mundo superior de paz em ascensão com mundo abaixo turbulento. Esse belo trabalho é obra de Laurent Delvaux, um escultor flamengo que transitava também em outros estilos como o barroco e o neoclassicismo.

Acrescente a isso a magnífica pintura A conversão de São Bavão, de 1623 de ninguém menos que Rubens, um dos mais influentes artistas do barroco flamengo.

Mas a obra de arte mais famosa e muito provavelmente um dos principais motivos de visitação da Sint Baafskathedraal, é a obra”Adoração do Cordeiro Místico“, ou simplesmente “Cordeiro Místico’ dos irmãos Jan e Hubert Van Eyck, iniciada em 1420 e concluída em 1432.

A mundialmente famosa pintura fica em uma uma capela construída especialmente para abriga-la. Trata-se do que é conhecido como políptico (do grego polýs, “numeroso” e ptýx, “dobra, prega”). Ou seja é um conjunto de painéis que formam uma determinada cena ou tema. Eles podem ser fixos ou móveis (como neste caso), unidos por dobradiças como se fossem várias pequenas portas, e que formam uma obra quando aberto ou fechado.

A obra também é conhecida pelo nome “Retábulo de Gent”. Retábulo é uma estrutura de madeira, mármore ou de outro material, que fica por trás ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou em relevo. Nesse caso específico, o Retábulo de Gent foi pintado em painéis de carvalho e as tintas usadas eram uma mistura de pigmentos minerais diluídos em cimento de óleo secante.

O Cordeiro Místico é provavelmente a obra-prima mais conhecida dos primitivos flamengos, uma vez que é, sem dúvida, o principal trabalho da Escola Flamenga no século 15.

São doze painéis, que abertos totalmente, formam uma obra de arte de 3,4 por 4,6 metros. O tema principal é a glorificação de Cristo e a salvação e santificação do homem pelo Seu sacrifício. Os irmãos van Eyck decidiram por mostrar esse tema de uma maneira mais visionária, daí o surgimento de algumas versões que a pintura escondia segredos incluindo um mapa para tesouros cristãos, o que atraiu o profundo interesse, senão obsessão de até mesmo Hitler.

A harmonia das cores, a riqueza de detalhes e o próprio tamanho da obra completa chamam a atenção e admiração de qualquer um, por mais leigo em história da arte que a pessoa possa ser. É uma obra de grande excelência que exerce grande fascínio desde a sua criação. Todo pedaço dessa obra é pintado com detalhes notáveis. Dá para ficar horas admirando cada expressão, cada roupa, cada paisagem de fundo, cada figura distribuída nos 12 painéis. Mas infelizmente o tempo de permanência na capela é de apenas 15 minutos, em silêncio e sem fazer fotos ou vídeos. A fotos aqui são do site Visit Gent e os créditos de Hugo Maertens.

Noah Charney, historiador de arte e autor de vários livros, entre eles, Stealing the Mystic Lamb (Roubando o Cordeiro Místico, em tradução livre já que o livro infelizmente ainda não foi lançado no Brasil), afirma que “A Adoração do Cordeiro Místico é provavelmente a pintura mais influente de todos os tempos, e é também a obra de arte mais frequentemente roubada da história!”.

Isso porque resumidamente falando entre 1794 e 1946, a pintura inteira, ou alguns de seus painéis passearam várias vezes pela Alemanha, França, Itália e Vaticano. Na verdade, desde sua conclusão em 1432, esta pintura a óleo foi saqueada em três guerras diferentes, queimada, desmembrada, forjada, contrabandeada, vendida ilegalmente, censurada (os painéis com Adão e Eva nus), escondida, atacada por iconoclastas da Reforma Protestante que a consideravam como idolatria, caçada pelos nazistas e por Napoleão, usada como ferramenta diplomática, resgatada por agentes duplos austríacos e roubada um total de treze vezes, retornando a Gent somente em 1946.

Em 1986, a pintura completa com todos os painéis finalmente “parou de andar por ai” e foi levada definitivamente para a catedral. Ufa! Os painéis estão sendo retirados nos últimos anos mas para uma minuciosa restauração, que segundo os especialistas é chamada de o renascimento da pintura.

Apesar de fazer parte das Três Torres de Gent, só é possível subir em sua torre durante as festividades da cidade. Fora dessas datas, melhor mesmo subir no vizinho Belfry para se ter uma linda visão da cidade e ainda conhecer o simpático mascote de Gent, o dragão de cobre.

Na catedral há uma lojinha com souvenires da cidade. Como é proibido tirar fotos da Adoração ao Cordeiro Místico, acabei por comprar um livro que trazia mais detalhes sobre a obra. Mais um livro para a minha coleção de livros de arte. Amo muito!

Em maio de 2013, foi iniciado o trabalho de restauração da catedral com um custo aproximado de cerca de 6.300.000 euros! Eu visitei a Sint Baafskathedraal bem no período de restauração, por isso não consegui nenhuma foto boa do seu exterior, já que haviam telas por toda a parte. Mas é possível encontrar lindas fotos em muitos sites, inclusive no site oficial.

A Catedral é aberta ao público no verão, entre abril a outubro, das 8:30 as 6:00. No inverno, entre novembro a março, fecha mais cedo às 17:00. Aos domingos o horário também muda, a catedral abre às 10:00.

Para admirar o Cordeiro Místico é necessário comprar um ingresso a parte, no valor de 4,00 euros, com um áudio guia incluso no valor. Estudantes pagam 1,50 euros. Os áudios guias estão disponíveis em inglês, francês, alemão, holandês, espanhol e japonês.

Os horários da capela também são diferentes. No verão a capela é aberta entre 9:30 e 17:00 e no inverno entre 10:30 e 16:00. Aos domingos a capela abre às 13:00.   Para que se tenha a chance de ver todos os painéis do Retábulo, os painéis externos são dobrados todos os dias entre 12:00 e 13:00. Os ingressos para esta capela são vendidos até 15 minutos antes do horário de fechamento.

Como já mencionei acima, dentro da capela não são permitidos fotos ou vídeos, além de ser pedido silêncio durante os poucos 15 minutos permitidos de permanência.

Belfry, o campanário cheio de histórias e segredos de Gent

O Belfry ou Campanário é o símbolo da autonomia e independência da cidade de Gent. É impossível não localizá-lo facilmente, uma vez que sua torre de 93 metros de altura é vista de vários pontos da cidade.

De qualquer forma, ele fica na praça Sint-Baafsplein, bem no centro histórico e perto das outras duas torres medievais com vista para a cidade velha, a Catedral de São Bavão (Sint Baafskathedraal) e da Igreja de São Nicolau (Sint Niklaaskerk). Sua altura faz com que seja o campanário mais alto da Bélgica.

Um orgulho na história da cidade, construído entre os séculos XIII e XIV. Nessa época, Gent precisava de um prédio especial onde os documentos da cidade pudessem ser mantidos em segurança e de onde a guarda da cidade pudesse manter vigia.

Dessa forma, o Belfry tinha três diferentes funções. A primeira era a manutenção dos privilégios municipais. Estes eram mantidos em um baú na sala de sigilo, ou “Het Secreet”, o salão no térreo do campanário, desde 1402. Essa é a primeira sala que vemos quando entramos no campanário.

Essa sala possuía duas portas, cada uma equipada com três fechaduras. As chaves de cada fechadura eram guardadas por três diferentes associações de artesanato. Dentro da Het Secreet, os documentos ainda eram guardados em um baú com dezoito compartimentos, e que também era trancado por três chaves, uma guardada pelo oficial de justiça e as outras duas pelos guardiões da cidade.

Isso sim é que é segurança!

A segunda função do campanário era servir como torre de vigia. Desde 1442 até 1869, os guardas, juntamente com os tocadores de trombeta e de sinos da cidade formavam o que era conhecido como os “Homens que Guardavam Gent”.

A vida dos guardas não era fácil. Eles tinham de percorrer o parapeito a cada hora para demonstrar que não estavam dormindo em serviço. Suas tarefas incluíam ficarem sempre atentos a um possível ataque inimigo, soarem o alarme em caso de incêndio e tocarem os sinos durante períodos de grande perigo.

E falando em sinos, chegamos à terceira função do Belfry, que inclui o carrilhão e sinos. Inicialmente, os sinos eram usados ​​para fins religiosos, porém, devido ao crescimento das cidades na Idade Média, os sinos eram mais frequentemente usados ​mesmo ​para regular a vida diária dos habitantes.

O sino de alarme, que foi instalado no campanário 1325, foi de 1378 em diante também usado como sino de hora em hora. Depois disso, o carrilhão foi gradualmente expandindo para 53 sinos após a restauração em 1982, com o último sino sendo acrescentado em 1993.

O Belfry foi reconhecido patrimônio mundial da UNESCO em 1999. Ele entrou para a lista junto com outros campanários da Bélgica e França. Na verdade um grupo de 56 construções históricas!

Vale muito a visita. Caindo no clichê mais básico, andar pelo campanário e subir suas escadas é voltar no tempo. Mais do que isso, é sentir a atmosfera dos tempos áureos de Gent.

De brinde, ainda temos a linda vista que se tem da cidade do alto do campanário. Como falei anteriormente, ele faz parte das torres medievais de Gent.

Além disso, ainda é possível ver um dos orgulhos de Gent, o famoso dragão de cobre que foi colocado na torre em 1377. O dragão era visto na história de Gent como o guardião simbólico da liberdade da cidade durante séculos. Há várias lendas populares ao redor dele, como sempre há para símbolos históricos. Segundo a história do dragão, ele mantinha não apenas os olhos na cidade, mas era também o guardião dos privilégios tão bem seguros dentro do campanário.

Curiosamente, o Belfry não sofreu nenhum incêndio durante a sua história, como sempre acontece com construções medievais. É, talvez, o dragão mascote da cidade tenha também impedido qualquer risco de incêndio, ou foram os incansáveis guardas que executaram muito bem a sua tarefa de proteger Gent.

Eu particularmente gostei mais do Belfry de Gent do que o de Bruges, cuja arquitetura é um tanto quanto desengonçada para mim.

Grudadinho no campanário encontra-se o antigo Salão de Rendas, ou Lakenhalle, construído entre 1425 e 1445. O local servia como ponto de encontro dos poderosos comerciantes da indústria de tecidos que tanto tornaram a cidade próspera na Idade Média.

Junto a ele ainda há a prisão municipal, com uma fachada datada de 1741. É fácil reconhecer a fachada, pois há nela uma escultura em relevo logo acima da entrada representando a antiga lenda de Simon, um romano sentenciado à morte por inanição. Sua filha Pero ia todos os dias visitá-lo na prisão e, como tinha acabado de dar à luz, amamentava em segredo o pai faminto. Os guardas acabam por descobrir o truque de Pero, mas sensibilizados pelo amor filial decidem libertar o prisioneiro.

Desse relevo surgiu o nome popular de “De Mammelokker” que foi dado a este edifício. “Mamme” significa “mama” e “lokken” significa “sugar” em um dialeto antigo de Gent.

Voltando ao Belfry, há um elevador do primeiro andar, mesmo assim, o campanário não é lá muito acessível a visitantes com mobilidade reduzida. Ele é aberto à visitação diariamente das 10:00 às 18:00 e o ingresso custa 8,00 euros para adultos. Pessoas entre 19 e 25 anos ou da terceira idade possuem descontos. Abaixo de 19 anos, a entrada é gratuita. Há visitas guiadas também para quem tem interesse.

Apesar de antigo, o Belfry é bem moderninho, pois possui um aplicativo para baixar no Google Store. Para quem não possui Android, há a opção de baixar um pdf com várias explicações.

Primeira parada em Gent, a impressionante igreja de São Nicolau ou Sint Niklaaskerk

O primeiro lugar que entrei em Gent foi a Igreja de São Nicolau, ou Sint Niklaaskerk. Essa igreja no centro histórico de Gent é impressionante não apenas pelo seu tamanho, não apenas pela sua construção gótica, não apenas por ser referência turística, mas também por ainda ter uma história, por assim dizer, cheias de altos e baixos.


E mesmo com tantos momentos digamos caidinhos no seu passado, ela segue imponente disputando a atenção com seus companheiros de torres, o Belfry, o campanário vizinho a ela, e a Catedral de São Bavão (Sint Baafskathedraal).

A primeira Sint Niklaaskerk foi construída em estilo romanesco em meados do século XI. No entanto, foi destruída por dois grandes incêndios, o primeiro em 1120 e o segundo em 1176. Esses foram só os primeiros “baixos” na sua história.

Com o crescimento do comércio e da indústria em Gent, foi possível a sua reconstrução. Afinal, desde a sua fundação, ela era a igreja dos ricos comerciantes da cidade, sendo que as associações de artesãos e comerciantes tinham suas atividades no Korenmarkt, bem pertinho da igreja. Não é por acaso que São Nicolau foi escolhido como o santo padroeiro desta igreja. Os endinheirados que financiaram a construção da igreja escolheram justamente o santo padroeiro dos comerciantes, dos marinheiros, capitães e padeiros.

A Igreja foi então reconstruída em estilo gótico usando as pedras azuis escuras extraídas da região de Tournai. Essa região é de onde veio a ideia de contrastar veios escuros contra alvenaria branca, um estilo arquitetônico que foi usado por um longo período.

Andando ao redor dessa igreja, tive a impressão que ela foi construída como um “amontoado’ de estruturas. Sua história de expansão e contínuas restaurações acabou por confirmar minha impressão.

A capela principal e a nave foram concluídas entre 1220 e 1250. Porém, desde o início, a igreja teve que lidar com problemas de estabilidade.  As atividades de construção continuaram ainda nos séculos XIV e XV e as primeiras renovações foram realizadas.

O coro foi ampliado e expandido nessa época. Ainda no século XV, a capela principal também foi expandida por meio de uma série de capelas externas que, com o tempo ameaçaram desmoronar. Por causa disso, mais pedras foram adicionadas para fortalecer toda a estrutura. O resultado foi a perda do aspecto simétrico da igreja e dai, na minha opinião, a provável impressão de estrutura amontoada.

Para deixar sua história ainda mais turbulenta, a Igreja sofreu outros danos no século XVI, quando os iconoclastas da Reforma Protestante destruíram suas imagens religiosas. Outro fato curioso, é que em 1580, durante a Revolução Francesa, a Sint Niklaaskerk foi transformada em estábulo! Difícil olhar para essa deslumbrante igreja e imaginá-la cheia de cavalos! Não dá para entender muito bem, mas enfim, história é história.

Já no século XVIII apareceram várias rachaduras que foram apenas escondidas debaixo de camadas de gesso. Nessa época, as janelas da igreja foram fechadas e para piorar a situação, casas e lojas foram construídas em suas paredes externas.

A situação atingiu o ponto mais baixo no final do século 19, e olha que é difícil imaginar o que pode ser mais trágico que virar estábulo. Mas foi aí então que várias restaurações finalmente se seguiram e as casas construídas nos muros externos da igreja foram na sua maioria demolidas. Ufa!

Em 1960 veio mais uma restauração resultando na reabertura do coro com as capelas, o transepto e a torre somente em 1992. As janelas também foram emparedadas para garantir a estabilidade. A restauração da nave só veio a acontecer depois.

Porém sua história de intervenções e restaurações parece estar longe de terminar. Como resultado da tempestade que caiu em Gent no dia 10 de março desse ano (2019), uma parede da igreja desmoronou. Como é de se esperar, por razões de segurança, a Sint Niklaaskerk está agora temporariamente inacessível ao público.

A Sint Niklaaskerk faz parte das chamadas “Três Torres de Gent”, ao lado do Belfry e Sint Baafskathedraal. São as três torres altas de Gent. Na verdade, até o Belfry ser construído, as torres da Igreja é que eram usadas como um posto de guarda para a defesa da cidade. Um  fato interessante é que sua torre  fica bem em cima do cruzamento da nave e transeptos e não na entrada como normalmente é no estilo gótico. Isso permite que a luz entre no transepto vindo pela torre.

O interior da Igreja, cuidadosamente restaurado, é um paraíso para os amantes de fotografia, principalmente pela claridade que sem tem dentro da Igreja. E o melhor, é permitido tirar fotos do seu interior! A estrutura interna com as abóbadas e colunas com escudos, em conjunto com as estátuas dos apóstolos em tamanho natural próximas ao chão, fornecem um efeito visual imponente e ao mesmo tempo de calma e tranquilidade, contrastando com a turbulenta história da Igreja.

Vale mencionar o impressionante órgão do século XIX, feito pelo famoso fabricante de órgãos francês Aristide Cavaillé-Col. Os órgãos de igrejas medievais são sempre impressionantes, é verdade, mas nesse caso, esse é um dos órgãos mais importantes da Bélgica. Como era de se esperar, ele também tem uma história interessante. O órgão foi encaixotado em 1960 e somente exposto novamente para o público em 2010. Em 2013, o órgão teve seu processo de restauração iniciado.

Os dois grandes vitrais também são do século XIX, enquanto que o exuberante altar da igreja foi construído no período barroco na mesma época que as belas estátuas dos apóstolos.

Interessante que quando fui havia uma exposição de vestimentas de diferentes locais. Um museu na nave da igreja. Exposições assim parecem fazer parte da rotina.

Em situações normais, a Sint-Niklaaskerk abre todos os dias das 10:00 às 17:00. Somente as segundas-feiras que a igreja abre mais tarde, as 14:00. A entrada é gratuita.

Torcemos para que sua história de instabilidades e restaurações tenha um final ao estilo “felizes para sempre” e que a igreja possa reabrir logo.

Gante, Ghent ou Gent? Não importa, a “capital de Flandres” é linda independente do idioma

Gante, em português, Ghent em inglês, Gent em neerlandês ou ainda Gand em francês, é uma charmosa cidadezinha medieval, capital da região de Flandres na Bélgica. Como no idioma local é Gent, vamos seguir assim mesmo.

É até um fato histórico o porquê que essa bela cidade tem tantos nomes, por assim dizer. A explicação mais aceita é que o nome Gent deriva da antiga palavra gaulesa (celta) “Ganda”, que significa a confluência de dois rios, no caso, os rios Schelde e Leie . Mais tarde, as tribos germânicas que substituíram os celtas na área, adaptaram nome para Ganta.

Aliado a isso, ainda há a importância histórica de Gent para a região de Flandres e durante a Idade Média. Gent foi fundada no século VII em torno das duas abadias de São Bavão e São Pedro. Naquela época a cidade era conhecida ainda como como Ganda e foi construída entre os rios Schelde e Leie, já mencionados acima.

Por volta do século XI, a cidade foi destruída pelos normandos, e como resultado, os condes de Flandres decidiram construir uma fortaleza, que mais tarde ficou conhecida como Gravensteen. Um centro de comércio cresceu em torno desta fortaleza e Gent se tornou a capital de Flandres.

Foi nessa época, que o comércio de rendas e linho teve um enorme crescimento. Grandes navios traziam a glória e as riquezas de terras distantes para a cidade e Gent tornou-se então uma cidade de grande importância durante a Idade Média. Afinal, até o século XIII Gent foi a segunda maior cidade europeia, perdendo apenas para Paris. Dentro de suas muralhas viviam mais de 65 000 pessoas.

No século XIV, a cidade foi destruída por conflitos civis, enquanto que o século seguinte foi marcado por uma luta pelo poder. No século XVII, a cidade era palco de muitos cercos e guerras. Foi somente no século XVIII que Gent pôde retornar à prosperidade econômica, através do estabelecimento de novas indústrias.

Muita história para uma cidade tão pequena!

E com tudo isso, Gent ainda era totalmente desconhecida para mim. Uma vergonha, eu sei. Só fui ter o prazer de adicioná-la ao meu mapa, na minha terceira viagem para Bruxelas, quando em um domingo preguiçoso, estava pensando em retornar a Bruges, porém na estação de trem vi uma foto de Gent e não deu outra. Resolvi entrar no trem que me levaria para lá.

E posso dizer que foi uma ótima escolha! A saudade de Bruges vai ter que esperar até uma próxima viagem….

Gent fica ainda mais perto de Bruxelas do que Bruges, então, para quem está com pouco tempo, é mais uma ótima opção de bate-volta. O tempo médio de viagem entre Bruxelas e Gent é de 43 minutos, com o primeiro trem saindo logo que começa o dia, as 00:29! Mas não precisa pegar esse, por dia, circulam em média 77 trens entre Bruxelas e Gent, saindo um trem aproximadamente a cada 19 minutos.

Aqui tem algumas opções de horários entre 7:30 e 9:30. Afinal acordar cedo em viagem é bom, mas não precisa ser tããão cedo, rs. No site RailEurope tem muitas outras opções para madrugadores e sonecadores. O trem de Bruxelas sai da estação Bruxelles Midi e chega na estação Gent Sint Pieters.

Quando cheguei na estação, acabei tendo a surpresa de ver todas as informações de ônibus e trams em neerlandês. Sim, não haviam informações em inglês e nem em francês. Por outro lado haviam vários ônibus estacionados vazios e sem nenhum motorista que pudesse me indicar qual ônibus pegar para o centro histórico.

Então decidi colocar aqui as linhas e horários de ônibus para que ninguém passasse o mesmo perrengue de quem decide o destino de viagem na porta do trem como eu fiz.

Aqui tem várias informações sobre o transporte público de Gent. E se eu tivesse consultado antes, saberia que o tram 1, linha vermelha, é o que leva direto para a Korenmarkt, bem no centro histórico. E foi esse mesmo que eu peguei, quando surgiu o motorista. Outras opções são o tram 2 (laranja) e 4 (verde), mas esses dão uma volta maior. Essas três linhas na verdade levam de um lado para o outro de Gent, passando pelo centro.

O ticket deve ser comprado nas máquinas ou “Lijnwinkel”, existentes na estação Gent-Sint-Pieters ou na Korenmarkt para a volta. Uma curiosidade sobre os tickets de ônibus ou tram em Gent é que eles são válidos não somente na cidade, mas em toda a região do Flandres, já que é a mesma companhia que opera, a De Lijn. O ticket único custa 3,00 euros e é válido por até 60 minutos. Crianças menores de 6 anos, inválidos de guerra, desempregados, policiais e outros grupos específicos não precisam pagar a passagem.

Mas foi somente no trecho estação de trem-centro histórico que eu peguei o tram. Gent é pequena e fácil de andar o suficiente para ser desbravada a pé. Além do que é muito mais gostoso descobrir uma cidade a pé do que de ônibus e principalmente de metrô. Para falar a verdade, tenho muita preguiça de pegar metrô, só mesmo para grandes distâncias em cidades maiores e com pouco tempo disponível.

Assim, como a vizinha Bruges, Gent nos presenteia com horas de história, arquitetura medieval, arte e lindos canais. Parece que todos os cantos disputam nossa atenção e nossa máquina fotográfica. Fiquei apenas um dia, um bate-volta, e não deu tempo de ver tudo o que queria, então vale a pena “gastar’ mais um dia por lá. Principalmente se você é como eu que gosta de apreciar tudo com calma e qualidade. Não foi à toa que um cabojano me falou uma vez “vocês ocidentais gostam de apreciar e aprender né?” E foi nesse momento que percebi quantas perguntas eu estava fazendo a ele sobre o a cultura do Camboja, rs.

Bom, agora vamos parar de enrolação e viajar no tempo pelas ruas de Gent, mas só nos próximos posts.

Para saber mais:

Visit Gent