Emoção e encantamento na Procissão das Velas em Lourdes

A primeira cidade que visitei da França não foi a iluminada Paris, mas sim Lourdes, a cidade religiosa onde Nossa Senhora de Lourdes fez Sua aparição. Isso aconteceu muito porque na primeira vez que fui para a França, eu estava entrado pela Espanha, então geograficamente era vantagem conhecer Lourdes primeiro.

Tenho carinho por essa cidade por vários motivos. Foi lá que pela primeira vez pude colocar em prática meu francês, na época ainda iniciante, e posso dizer que ao contrário do que me falaram, os franceses foram super receptivos e pacientes comigo e meu francês titubeante.

Foi em Lourdes que tive uma das experiências espirituais mais marcantes ao participar da Procissão Noturna das Velas

E finalmente, minha avó se chamava Lourdes, então, esse fato por si só já explica muito da emoção que senti nessa cidade. Além da emoção que vivenciei ao lado de muitas pessoas.

Pessoas de várias nacionalidades, várias línguas, várias culturas, várias idades. Pessoas com sonhos diversos, histórias de vidas diversas, razões e motivos diversos para estarem lá, e no entanto, todas com a mesma fé e esperança no coração. Todas unidas em espírito e e mente, e no entanto cada uma em seu mundinho tão particular e tão íntimo.

Todas as noites, entre a Páscoa e o mês de outubro, às 21:00 ocorre a Procissão das Velas ou Procissão Mariana. Tudo começou em 18 de fevereiro de 1858, no dia da terceira Aparição, uma das duas pessoas que acompanhava Bernadette levara uma vela. Depois disso, a própria Bernadette sempre vinha com uma vela. No entanto a procissão mesmo só foi ter início em 1863, um ano após as Aparições serem oficialmente reconhecidas pela Igreja.

Os peregrinos recebem uma vela embrulhada em uma papel para proteger as mãos e a própria chama da vela da ação do vento.

A procissão sai da Esplanade et Parvis du Rosaire e tem duração de 1 hora a 1 hora e meia, dependendo da multidão.

Não levei máquina para fotografar a procissão obviamente. Estava mais interessada em vivenciar a experiência do que em registrar. Então as fotos aqui (com exceção de duas que são de autoria própria, fora da procissão) são dos sites Lourdes Sanctuary e 260Tours.

O que mais me marcou nessa experiência, além de sentir a vibração de toda aquela energia de fé e religiosidade, foi fazer a caminhada apenas com as luzes das muitas velas ouvindo os hinos cantados em diversos idiomas. Foi bastante tocante ouvir uma música que eu já conhecia em tantos outros idiomas diferentes, alguns até desconhecidos para mim. Me lembro que quando ouvi o hino cantado em romeno tive que perguntar às pessoas mais próximas que idioma era aquele, pois achei de uma sonoridade encantadora. Combinava muito com a sensação daquela noite.

Como tudo tem que ter uma parte também cômica, a minha foi me atrapalhar na música, mesmo quando em português. Isso porque meu pai sempre contava uma piada de duas velhinhas que queriam saber qual bicho tinha saído no jogo do Bicho durante a missa. Para que o padre não percebesse que elas estavam falando de jogo durante a missa elas cantavam a música da missa alterando a letra. Pois era exatamente essa música o hino cantado repetidamente em diversos idiomas. Não deu outra, quando percebi estava imersa na multidão seguindo alegremente cantando “Comadre Maria, qual o bicho que deu? Ave, ave, avestruz”.

Que bom que minha constante distração não atrapalhou o ritmo da procissão. Afinal de contas, o que vale mesmo é o estado de espírito com que você participa e a fé no coração. As palavras acabam sendo suprimidas pela energia da multidão. Sorte minha, ufa!

Uma curiosidade sobre a procissão é que ela também criou a profissão chamada de “feutier”, palavra derivada de Feu, fogo em francês. Essa profissão só existem em Lourdes. Os feutiers são responsáveis pela limpeza dos resíduos das velas queimadas todas as noites durante a procissão e também nas oferendas. São mais de 600 toneladas de resíduos recolhidos pelos feutiers todos os anos. Imagina se não tivessem criado essa profissão em Lourdes.

Enfim, independente se a pessoa viaja para turismo religioso ou não (embora eu ache sinceramente que a maioria das pessoas que viajam para Lourdes seja pelo motivo religioso), acho super válido participar de uma experiência como essa. Pelo menos para mim foi muito agradável e renovador poder estar ali misturada naquela multidão. Um momento que guardei no coração com muita gratidão.

Estando em Lourdes também é possível visitar a gruta onde ocorreu a Aparição, outro momento de grande emoção. E beber a água que jorra incessantemente da fonte. Dá até para encher garrafinhas e levar de lembranças para os parentes e amigos mais religiosos. Eu, claro, trouxe para minha linda avó Lourdes!

Para saber mais

Loudes L’Inspiratrice

Lourdes Sanctuary

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