Emoção e encantamento na Procissão das Velas em Lourdes

A primeira cidade que visitei da França não foi a iluminada Paris, mas sim Lourdes, a cidade religiosa onde Nossa Senhora de Lourdes fez Sua aparição. Isso aconteceu muito porque na primeira vez que fui para a França, eu estava entrado pela Espanha, então geograficamente era vantagem conhecer Lourdes primeiro.

Tenho carinho por essa cidade por vários motivos. Foi lá que pela primeira vez pude colocar em prática meu francês, na época ainda iniciante, e posso dizer que ao contrário do que me falaram, os franceses foram super receptivos e pacientes comigo e meu francês titubeante.

Foi em Lourdes que tive uma das experiências espirituais mais marcantes ao participar da Procissão Noturna das Velas

E finalmente, minha avó se chamava Lourdes, então, esse fato por si só já explica muito da emoção que senti nessa cidade. Além da emoção que vivenciei ao lado de muitas pessoas.

Pessoas de várias nacionalidades, várias línguas, várias culturas, várias idades. Pessoas com sonhos diversos, histórias de vidas diversas, razões e motivos diversos para estarem lá, e no entanto, todas com a mesma fé e esperança no coração. Todas unidas em espírito e e mente, e no entanto cada uma em seu mundinho tão particular e tão íntimo.

Todas as noites, entre a Páscoa e o mês de outubro, às 21:00 ocorre a Procissão das Velas ou Procissão Mariana. Tudo começou em 18 de fevereiro de 1858, no dia da terceira Aparição, uma das duas pessoas que acompanhava Bernadette levara uma vela. Depois disso, a própria Bernadette sempre vinha com uma vela. No entanto a procissão mesmo só foi ter início em 1863, um ano após as Aparições serem oficialmente reconhecidas pela Igreja.

Os peregrinos recebem uma vela embrulhada em uma papel para proteger as mãos e a própria chama da vela da ação do vento.

A procissão sai da Esplanade et Parvis du Rosaire e tem duração de 1 hora a 1 hora e meia, dependendo da multidão.

Não levei máquina para fotografar a procissão obviamente. Estava mais interessada em vivenciar a experiência do que em registrar. Então as fotos aqui (com exceção de duas que são de autoria própria, fora da procissão) são dos sites Lourdes Sanctuary e 260Tours.

O que mais me marcou nessa experiência, além de sentir a vibração de toda aquela energia de fé e religiosidade, foi fazer a caminhada apenas com as luzes das muitas velas ouvindo os hinos cantados em diversos idiomas. Foi bastante tocante ouvir uma música que eu já conhecia em tantos outros idiomas diferentes, alguns até desconhecidos para mim. Me lembro que quando ouvi o hino cantado em romeno tive que perguntar às pessoas mais próximas que idioma era aquele, pois achei de uma sonoridade encantadora. Combinava muito com a sensação daquela noite.

Como tudo tem que ter uma parte também cômica, a minha foi me atrapalhar na música, mesmo quando em português. Isso porque meu pai sempre contava uma piada de duas velhinhas que queriam saber qual bicho tinha saído no jogo do Bicho durante a missa. Para que o padre não percebesse que elas estavam falando de jogo durante a missa elas cantavam a música da missa alterando a letra. Pois era exatamente essa música o hino cantado repetidamente em diversos idiomas. Não deu outra, quando percebi estava imersa na multidão seguindo alegremente cantando “Comadre Maria, qual o bicho que deu? Ave, ave, avestruz”.

Que bom que minha constante distração não atrapalhou o ritmo da procissão. Afinal de contas, o que vale mesmo é o estado de espírito com que você participa e a fé no coração. As palavras acabam sendo suprimidas pela energia da multidão. Sorte minha, ufa!

Uma curiosidade sobre a procissão é que ela também criou a profissão chamada de “feutier”, palavra derivada de Feu, fogo em francês. Essa profissão só existem em Lourdes. Os feutiers são responsáveis pela limpeza dos resíduos das velas queimadas todas as noites durante a procissão e também nas oferendas. São mais de 600 toneladas de resíduos recolhidos pelos feutiers todos os anos. Imagina se não tivessem criado essa profissão em Lourdes.

Enfim, independente se a pessoa viaja para turismo religioso ou não (embora eu ache sinceramente que a maioria das pessoas que viajam para Lourdes seja pelo motivo religioso), acho super válido participar de uma experiência como essa. Pelo menos para mim foi muito agradável e renovador poder estar ali misturada naquela multidão. Um momento que guardei no coração com muita gratidão.

Estando em Lourdes também é possível visitar a gruta onde ocorreu a Aparição, outro momento de grande emoção. E beber a água que jorra incessantemente da fonte. Dá até para encher garrafinhas e levar de lembranças para os parentes e amigos mais religiosos. Eu, claro, trouxe para minha linda avó Lourdes!

Para saber mais

Loudes L’Inspiratrice

Lourdes Sanctuary

Île de la Cité, onde tudo começou

Fico imaginando que a Île de la Cité deve ser o primeiro lugar que a maioria das pessoas vão visitar quando chegam em Paris. também são tantos monumentos, prédios históricos, beleza e imponência reunidos em um pedaço pequeno de terra que dá para pensar isso mesmo.

E foi nessa pequena ilha no rio Sena que Paris começou. Um livro que gosto muito, A História Secreta de Paris, de Andrew Hussey conta bem esse começo, com uma visão diferente, sob o ponto de vista dos “ladrões, vigaristas, cruzados, santas, prostitutas, déspotas, anarquistas, poetas e sonhadores”. Fiquei sabendo desse livro em uma revista de avião entre as inúmeras vezes que fiz o trecho Curitiba-São Paulo e pela descrição logo me interessei. Recomendo a leitura para todos aqueles que, assim como nós aqui em casa, são apaixonados por essa cidade de incontáveis adjetivos.

No livro, Hussey conta que nunca houve um período em que esse centro geográfico de Paris não tenha sido ocupado. O lugar era uma base fixa para os povos pré-celtas e depois para os próprios celtas, entre eles uma tribo chamada parisii que reverenciava a água e por isso acreditavam que o rio Sena, que na época era duas vezes mais largo que agora, possuía propriedades mágicas.

Os romanos que conquistaram a tribo em 54 A.C deram o nome para o lugar de Lutécia, derivado provavelmente de Louk-tier ou Louk Teih, que em celta significava algo como lugar de lama e pântano. Em 360 DC, o imperador romano Juliano descreveu assim a cidade: “Lutécia é como os celtas chamam a pequena cidade fundada pelos parísios, que na verdade não é nada além de uma ilha cercada de água por todos os lados e com pontes de madeira a cada margem.” O nome Paris surgiu justamente sob o governo de Juliano que a chamou de Civitas Parisiorum, a cidade dos parísios.

Bom, essa pequena cidade lamacenta passou por muita história, e também influenciou a história da humanidade, até virar a Cidade Luz que causa tanta admiração.

Para visitar os muitos monumentos da Île de la Cité há diversas opções de metrô. Assim como para visitar qualquer lugar de Paris, verdade seja dita. A estação de metrô Citê (linha 4) fica bem no meio da ilha. Outras estações muito próximas são Hôtel de Ville (linhas 1 e 11), Châtelet (linhas 1, 4, 7, 11 e 14), Pont Neuf (linha 7) que ficam à margem norte do Sena, e na margem sul, a Saint-Michel Notre Dame (linha 4 e RER B e C). Dá para escolher.

A Île de la Cité vai do Parque Square du Vert-Galant, pertinho da Pont Neuf, até o Mémorial des Martyrs de la Déportation, logo atrás da Notre-Dame. Mas não começaremos a descrever a ilha pela mundialmente famosa Igreja – esse post foi escrito antes do triste incêndio 🙁

Vamos começar pela simbólica Pont Neuf, bem na pontinha da Ilha. Essa é a ponte mais antiga do Sena, apesar do nome (Neuf significa novo em francês). Ela é também uma das pontes mais famosas de Paris e ponto obrigatório para casais românticos tirarem fotos. Há até um filme chamado Les amants du Pont-Neuf (Os Amantes da Pont Neuf) de 1991 com Juliette Binoche. O filme conta a história do relacionamento de dois sem-teto que possuem como moradia essa ponte, já que seus arcos servem como abrigo para muitos andarilhos na vida real.

Continuando em direção à Notre-Dame, chegamos ao Palais de Justice, um belíssimo conjunto de prédio construído onde antes ficava o o antigo Palais de la Cité, o palácio real de alguns reis de Paris e que foi parcialmente destruído em 1358 durante a revolta dos comerciante de Paris. Essa imponente construção serve como tribunal de justiça desde a Idade Média. Durante a Revolução Francesa, ele serviu como Tribunal Revolucionário e agora é a sede da mais alta jurisdição do país, a Corte de Cassação.

O Palais de Justice traz alguns números impressionantes. Ele ocupa uma área de 200.000m². No seu interior há 7.000 portas e corredores que fazem um total de 24 kilômetros, além de possui mais de 3.150 janelas!

Fazem parte da construção a Sainte-Chapelle e as torres da famosa Conciergerie, que são na verdade vestígios ainda do antigo palácio real. A Conciergerie foi a última prisão de Maria Antonieta, famosa pela frase “Que eles comam brioches”. Frase dita ao saber que os camponeses não tinham pão. Embora essa frase seja o maior carrasco na lembrança de Maria Antonieta, não há registros históricos de que ela tenha mesmo dito isso. Bom, o fato é que, mesmo havendo controvérsias sobre a autoria da infeliz citação, Maria Antonieta acabou de fato perdendo a cabeça na guilhotina em 1793.

Conciergerie de dia no verão

Me lembro do meu professor de francês, uma figura cômica que costumava tirar sarro das situações tanto da França quanto do Brasil. Conversávamos sobre muita coisa e inclusive sobre Maria Antonieta. Quando lançaram o filme sobre a vida dela em 2006, ele reclamou bastante dizendo que a atriz que a interpretava, Kirsten Dunst, nunca conseguiria reproduzir toda a personalidade da rainha e a importância que ela teve para a história da França, rs.

Outros prisioneiros famosos também passaram pela Conciergerie, tendo o mesmo fim que a rainha, incluindo o pai da química moderna e descobridor do oxigênio Antoine Lavoisier e Robespierre, uma das figuras mais importantes da Revolução Francesa.

Conciergerie à noite no inverno

A Conciergerie é aberta para visitação todos os dias entre 9:30 e 18:00. O ingresso custa 9,00 euros. Dá para comprar combinado com a visita à Saint-Chapelle, nesse caso o ingresso sai por 15,00 euros. A entrada é gratuita para menores 18 anos e para menores de 25 anos residentes da U.E. A visita também é gratuita as Jornadas Europeias do Patrimônio que ocorrem no terceiro fim-de-semana de Setembro, e no primeiro domingo dos meses janeiro, fevereiro, março, novembro e dezembro.

Interior da Conciergerie

Em uma das torres da Conciergerie fica o relógio mais antigo de Paris, datando de 1371, quando o rei Charles V mandou que fizessem um relógio público para os cidadãos que não podiam comprar um relógio, algo muito caro na época.

O relógio já foi restaurado várias vezes, sendo a mais recente em 2012.

Próximo ao Palais de Justice, fica outro lindo e imponente prédio que é a Préfecture de Police, sede da unidade do Ministério do Interior da França e local que presta serviços administrativos, emergenciais, e como o próprio nome indica, serviços policiais para a cidade. Como Paris não tem sua própria polícia municipal, é a polícia nacional que presta esses serviços para a população.

Ao lado da Préfecture de Police, na Place Louis-Lépine, ocorre o Marché aux Fleurs et Oiseaux, agora chamado de Marché aux Fleurs Reine Elizabeth II. O mercado existe desde o início do século XIX e consiste basicamente de barracas com muitas flores e pássaros, como o antigo nome diz. As flores são lindas de se ver, mas confesso que não gostei dos pássaros enjaulados. Muitos pássaros espremidos em pequenas gaiolas. Não tem como não sentir tristeza por eles. O mercado abre de segunda a sábado para as flores e aos domingos para os pássaros, sempre entre 8:00 e 19:00.

Atravessando a Rue de la Cité, temos o Hôtel-Dieu, o hospital mais antigo de Paris, fundado em 661. A arquitetura atual é, digamos mais nova que sua fundação, de 1877. Atualmente o Hôtel-Dieu é um dos maiores centros europeus de pesquisa em saúde pública, epidemiologia e bioestatística.

Trabalhei uma época com uma parisiense que já havia trabalhado no Hôtel-Dieu e nunca havia entrado na Notre-Dame, que se não bastasse sua fama mundial, ainda fica praticamente em frente ao hospital. Mas até que dá para entender, para quem mora em Paris, todos esses monumentos imponentes e históricos são comuns, fazem parte do dia-a-dia. Posso dizer que já fiz algo parecido, afinal, morei em São Paulo e só fui visitar o MASP depois de me mudar para Curitiba. Uma vergonha, eu sei. Depois dessa, eu prometi a mim mesma que tentaria visitar todos os pontos interessantes de Curitiba antes que resolvesse me mudar daqui também, rs.

E já que começamos falando das tribos celtas e presença romana na Île de la Cité, nada melhor do que terminar esse post falando da Crypte Archéologique, que fica ao lado do Hôtel-Dieu e em frente à Notre-Dame.

A Cripta abrange uma área subterrânea de 80 metros. Aqui estão os
restos arqueológicos descobertos durante as escavações realizadas entre 1965 e 1970 da aldeia dos Parisii. Ruínas do tempo em que a Cidade Luz era a Terra do Pântano. De lá para cá quanta história contida nesse pedacinho de chão, no coração de Paris. Uma cidade que se constrói e reconstrói a mais de 2000 anos. Dos Parisii à Revolução Francesa, de Napoleão à política internacional dos dias de hoje, quantas tribos, quantas mudanças, quantas reviravoltas que teceram não apenas a história de Paris como a da humanidade.

E ficou faltando falar de um “detalhe” da Île de la Cité. Sim a magnífica Cathédrale Notre-Dame de Paris! Mas a Notre-Dame não caberia aqui, essa velha senhora, moradia do Quasímodo, precisa de um post somente para ela. Fica para o nosso próximo assunto.



Entre os castelos do Diabo e dos Condes em Gent

Saindo da Sint Baafskathedraal e finalmente do pedaço das Três Torres que prende bastante a gente, rs, decidi fazer uma caminhada até o Gravensteen, porque fiquei bastante curiosa ao ver sua torre do alto do Belfry.

Mas antes resolvi passar por outro castelo, o Geeraard de Duivelsteen.
O castelo foi construído no século 13 e recebeu esse nome por causa do cavaleiro Geeraard Vilain, nascido em uma família de viscondes que orgulhosamente se auto intitulavam de Senhores de Gent.

Enfim, o cavaleiro em questão era conhecido como “Geeraard de Duivel” que significa “Geerard, o Diabo”. Um nome de dar inveja ao Conde Vlad Dracul, mas que na verdade era por causa da cor escura do seu cabelo e de sua pele.

Apesar do nome e sua aparência sombria, o diabo mesmo nunca morou nesta fortaleza que, ao longo dos séculos seguintes, acabou sendo usada para diversos fins como residência de cavaleiros, arsenal, mosteiro, escola e seminário do bispo. Em 1623, chegou a se tornar um hospício para doentes mentais e lar para meninos órfãos.

Uma outra parte do edifício foi usada como prisão. Em 1830, o Geeraard de Duivelsteen tornou-se um posto de bombeiros. Perto do final do século 19 foi comprado pelo estado belga para servir como um arquivo nacional. Por causa disso, uma nova ala foi construída.

Curiosamente, desde 2010 o castelo está à venda, devido à sua atual inadequação para o armazenamento dos arquivos do país. Fica a dica para quem quiser morar na casa do Diabo em Gent.

Engraçado que só depois que conheci esse castelo que fui perceber que a cerveja Duvel significa diabo (em dialeto de Antuérpia). Uma boa pedida para acompanhar o almoço, mas não foi essa que pedi estando em Gent. Aproveitei para provar uma que não conhecia, a Keizer Karel Charles Quint, uma cerveja de alta fermentação, bem gostosa. Como o próprio nome diz, essa cerveja foi criada em homenagem ao imperador Carlos V, que era um grande apreciador de cervejas. E que bom para ele que podia tomar cerveja belga todos os dias, rs.

Ali pertinho do castelo, nas costas da Sint Baafskathedraal , encontra-se o monumento em homenagem aos irmãos Van Eyck, esse dois gênios da pintura flamenga.  O monumento foi desenhado pelo escultor Geo Verbanck, falecido em 1961. Sua inauguração ocorreu em 9 de agosto de 1913, na presença do rei Alberto da Bélgica. Bem apropriado para os pintores do Retábulo de Gent e de tantas outras belas obras.

No monumento, os irmãos Jan e Hubert Van Eyck estão recebendo a homenagem dos habitantes da cidade. Homens, mulheres e crianças trazem flores e guirlandas para os pintores. Hubert, o mais velho dos dois irmãos, olha através das páginas da Bíblia enquanto sua paleta e pincéis estão a seus pés, enquanto Jan, olha para frente segurando sua paleta.

Na caminhada em zigue-zague que sempre acabo fazendo, entre o Geeraard de Duivelsteen e o Gravensteen , acabei passando por várias instituições de ensino que me chamaram a atenção. A primeira delas foi a Vlerick Business School,ou simplesmente Vlerick, uma escola particular de business da Bélgica, com campus em Gent, e em outras cidades como Leuven, Bruxelas e São Petersburgo. A escola funciona ali desde 2007, mas o prédio foi construído em 1905 para servir como seminário da maior da diocese da cidade e posteriormente vendido para o município.

Outra construção que me chamou a atenção foi a da Hogeschool. Essa é a maior universidade na região Flandres, com três faculdades, uma Escola de Artes e 13.000 estudantes. Que maravilha que deve ser estudar artes em Gent!

A sua criação em 1995 é o resultado de duas fusões bem sucedidas que envolveram dezesseis instituições de ensino superior belgas. As faculdades atuais estão espalhadas pelo centro da cidade de Gent e Aalst.

E por fim, a última instituição de ensino, cujo prédio salta às vistas, é a De Oogappel, que na verdade é um tipo de escola experiencial, daquelas em que as crianças podem viver, aprender e trabalhar e os processos de aprendizagem e trabalho partem das ideias e experiências das crianças. Me lembra bem o sócio construtivismo e as teorias de Howard Gardner que admiro bastante. Não é à toa que meus filhos mesmo estudam em uma escola que se inspira nas teorias de Gardner e Piaget.

Já chegando no Gravensteen , vemos outra interessante construção do chamado Groot Vleeshuis,edifício usado como Salão de Carne, cujo início da construção data de 1407, sendo concluído somente em 1419. A fachada principal e as fachadas laterais extensas, que se refletem na água, são exemplos interessantes da arquitetura da classe comerciante de Gent. Até hoje o lugar abriga comércio de carnes e outros produtos regionais como presunto típico de Gent, mostarda de Tierenteyn, queijos feitos com cerveja, e claro, uma infinita variedade de cervejas.

Ai que tentação! Melhor continuar caminhando para o Castelo dos Condes.

O Gravensteen, possui um nome mais agradável que o Castelo do Diabo, e é também mais elegante e charmoso, mas uma história mais turbulenta. Resultado da complexa, e por vezes tempestuosa, história política e social da cidade. Ele é o único castelo medieval remanescente com um fosso e um sistema de defesa praticamente intacto na região de Flandres.

Sua história na verdade remonta até aos tempos da ocupação romana, quando já havia um assentamento em um banco de areia pelo rio Lys. Após um breve período de saques vikings, os Condes de Flandres converteram as primeiras construções de madeira em uma fortaleza na Idade Média, com muralhas construídas inteiramente de pedra e repletas de 24 torres.

O imponente prédio com sua arquitetura militar virou então um símbolo do poder dos condes na agitada cidade de Gent.

Infelizmente não consegui entrar no castelo, pois quando cheguei já estava fechando. Isso acontece com quem pára para observar cada prédio interessante que vê pelo caminho em Gent, rs. O simpático segurança, deixou que eu ao menos tirasse fotos da entrada e pátio. Bem, fica para uma próxima visita.

Apesar não ter visitado, o Castelo dos Condes possui em seu interior uma coleção única de equipamentos de tortura. Ele também abriga todos os tipos de atividades culturais, eventos e atividades. Além disso também é um local popular para os moradores de Gent se casarem. Afinal quem nunca quis casar em uma castelo a beira de um rio?

Dá para subir nas suas torres para ter uma boa vista do centro histórico da cidade, bem como das áreas residenciais e industriais.

A região próxima do castelo também é super agradável. Dali saem os passeios de barco pelos canais.  A praça Saint Veerler é repleta de lindas casas que datam do século XVI. Apenas a entrada para o Oude Vismijn é uma exceção a essa regra, já que ele é do século XVII. Sobre a sua  entrada monumental no estilo barroco há uma estátua do deus grego Poseidon, (Netuno para os romanos) com seu tridente e das divindades dos dois rios de Gent, o Leie e o Schelde.

Seu nome significa algo como Velho Mercado de Peixe e ele era exatamente isso, o mercado de peixe, carne e vegetais mais antigo do centro da cidade. Hoje o local abriga um bar, uma brasserie, dois salões de eventos, além do Centro de Informações Turísticas de Gent, que por ironia, só fui entrar no final da minha viagem de bate e volta para essa encantadora cidade.

Hora de pegar o trem de volta para Bruxelas.

O que há para ver na região das Três Torres em Gent

Que as Três Torres de Gent, formadas pela Sint Niklaaskerk, Belfry e Sint Baafskathedraal, são um “must-do” daqueles que amamos fazer, isso ninguém duvida. E que também há muito para se ver em Gent ao redor delas também é algo que não dá para negar.

Afinal Gent, junto com sua vizinha Bruges, parece ser daquelas cidades onde para qualquer lugar que você olha, há algo interessante para se ver e admirar.

Começamos então pelas proximidades da Sint Niklaaskerk. Ali temos a praça Korenmarkt, cujo nome deriva de Mercado do Trigo ou Mercado do Milho, de acordo com diferentes traduções. Esses e outros cereais eram trazidos para Gent e vendidos nessa praça nos séculos 10 e 11. Desde então, a Korenmarkt tem sido o centro comercial e econômico da cidade. Ao seu redor podemos ver várias construções históricas com lindas fachadas que hoje formam principalmente bares e restaurantes.

É de lá que partem as charretes para passear em Gent e também é por onde passam boa parte dos ônibus.

Na Korenmarkt fica um dos prédios que mais me chamaram a atenção em Gent. E só fui perceber isso quando fui organizar as fotos e vi a quantidade de fotos que tirei desse prédio. Estou falando do imponente Post Plaza construído em 1910 sobre as fundações do que originalmente se pretendia ser o Teatro Real Holandês. A instigante construção é uma mistura de estilos gótico e renascentista. Deve ser essa a principal razão do seu charme. É sem dúvida, uma joia arquitetônica, que antes funcionava como correios e agora foi convertido em um shopping, hotel de luxo e bar.

Passando pelo Post Plaza, chegamos na Sint-Michielsbrug, a ponte de São Miguel, de onde temos uma linda vista do canal e das belas casas ao redor. De um lado vemos no horizonte as torres fortificadas do castelo Gravensteen e do outro lado, a Igreja Sint-Michielskerk, ou Igreja de São Miguel. É uma ponte para os casais apaixonados tirar lindas fotos e também para fazer se apaixonar por Gent. Afinal de qualquer ângulo, você tem uma visão encantadora.

A Sint-Michielskerk foi iniciada em 1440 e concluída em 1648. É uma igreja espaçosa no estilo gótico tardio. Embora seja uma bela construção, perto da Sint Niklaaskerk e Sint Baafskathedraal, ela fica parecendo uma “Igreja anã”. O interessante é que era para ser o contrário, ou quase isso. O campanário da Igreja foi planejado para se destacar acima de todos os outros, mas seu destino foi diferente. O “monumento do triunfo” como foi chamado na época, era para ter 134 metros de altura, mas ficou apenas com 24. Em 1828, a torre inacabada finalmente adquiriu um telhado, acabando assim com qualquer pretensão da Igreja de crescer um pouco mais.

Bom, vamos voltar agora para a Sint Niklaaskerk, indo em direção à Segunda Torre, o Belfry. No caminho há outra interessante construção, o Metselaarshuis, ou Salão da Associação dos Maçons, bem do ladinho da Igreja de São Nicolau. A construção do século XVI chama a atenção principalmente porque no topo do frontão há seis dançarinos que ficam girando alegremente com o vento.

Assim como a Igreja de São Miguel, o Metselaarhuis também possui uma história curiosa. Acreditava-se que o desenho original da fachada tivesse sido inteiramente perdido durante as reconstruções do século XIX. Mas, então, em 1975, a fachada foi novamente redescoberta por trás da parede construída anteriormente e, finalmente, demolida. Que bom, agora podemos apreciar essa interessante fachada e seus alegres dançarinos. Abaixo do edifício existe uma adega do século 13.

Entre a Sint Niklaaskerk e o Belfry, vemos ainda o Stadhuis, a prefeitura de Gent. Essa construção é o que podemos chamar de prédio de dupla personalidade, resultado de nada manos que seis séculos de história de construção. O prédio é claramente dividido em duas partes.

De um lado temos o estilo gótico tardio que data do início do século XVI, ricamente ornamentado e detalhado e do outro lado, em extravagante contraste, temos as linhas limpas do estilo renascentista mais sóbrio, no qual o edifício foi concluído.

Do lado gótico podemos ver as muitas estátuas dos Condes de Flandres, embora essas tenham sido adicionadas somente no início de 1900 . E do lado renascentista, construído entre 1559 e 1618), temos colunas e pilastras dóricas, iônicas e coríntias inspiradas nos palácios italianos.

A Stadhuis conta internamente com 51 quartos, incluindo a Capela de Casamentos, já que é lá que os locais fazem seus votos de casamento. Reza a lenda que muitas noivas foram cativadas pelos belos vitrais românticos e acabaram perdendo-se no labirinto de corredores e câmaras no interior da construção bipolar.

Continuamos nossa caminhada para a Terceira Torre, a magnífica Catedral de São Bavão, ou Sint Baafskathedraal , e vamos encontrar o NTGent ou Nederlands Toneel Gent, que traduzindo seria Teatro Real Holandês. Esse teatro foi fundado em 1965 como o teatro da cidade de Gent e apresenta suas próprias produções teatrais com atores flamengos e holandeses, além de produções de convidados. O teatro possui 600 lugares e é subsidiado pela Comunidade Flamenga, assim como pela própria cidade.

No alto de sua fachada, vemos um lindo mosaico de Apolo e as Musas de Parnaso. Um trabalho super apropriado para uma casa de teatro. Representa uma ode às artes teatrais e foi concluído em 1898.

Ainda na praça Sint Baafsplein, vemos um momento em homenagem à Jan Frans Willems, um escritor flamengo tido como o pai do movimento flamengo, que nada mais era que um movimento político para promover a cultura flamenga na época em que Bélgica era governada pelos franceses.

O Monumento feito de mármore mostra um um jovem representando o Vlaamse Beweging, ou Movimento Flamengo, removendo o véu de uma mulher flamenga. Abaixo há um círculo com o retrato de pedra do escritor e nomes de outras pessoas do movimento.

Esse movimento aliás permanece bem vivo ainda na região e hoje visa a independência de Flandres, considerada região mais rica da Bélgica e de idioma neerlandês, do restante do país em que predominam a língua francesa. O nacionalismo flamengo tem recebido grande apoio na região, e sua aceitação é crescente, sendo muito defendido por partidos de direita. É bem nítida essa questão separatista, como pude bem presenciar em Bruges.





Sint Baafskathedraal, a Catedral de São Bavão, local de adoração e arte em Gent

E chegamos na terceira das “Três Torres de Gent”. Depois da Sint Niklaaskerk e do Belfry, é a vez da terceira e talvez mais famosa torre, a Catedral de São Bavão, em português, ou Sint Baafskathedraal, em neerlandês. Também é comum ver essa catedral chamada de Catedral de São Bavo, uma mistura com o nome inglês do santo.

Essa catedral é aquele “must-do” impossível de não visitar quando em Gent. Seja pela sua imponente arquitetura gótica, seja pelo seu destaque no meio de tanta coisa linda para se ver na cidade, seja pelo motivo religioso, seja pelo fato de ser o lar de uma das pinturas mais famosas do século XV, ou seja apenas pela curiosidade turística, mesmo. Ela é um must-do e isso é indiscutível, rs.

A Sint Baafskathedraal tem sua origem em uma capela fundada em 942 e dedicada a São João Batista, o santo padroeiro mais antigo da cidade comercial. Isso mesmo, era outro santo que era o homenageado pela capela original.

Em 1274, os ricos comerciantes de renda da Idade Média que tanto contribuíram para o engrandecimento comercial de Gent construíram uma outra igreja sobre esta capela. Mas foi somente no século XV que decidiram trocar o santo em questão. Em 1540, São Bavão virou não somente o santo padroeiro da nova igreja, como também o da cidade.

Em 1462, a primeira pedra para a construção das torres foi colocada, sendo estas concluídas somente em 1569. O imperador Romano-Germânico Carlos V, foi batizado nesta igreja ainda inacabada. Em 1550, ele concedeu uma importante quantia em dinheiro para que janelas arqueadas com vitrais fossem incluídas na igreja. Pouco tempo depois da revolta na cidade contra ele em 1539 devido aos pesados ​​pagamentos de impostos. Apesar de ter acabado rapidamente com a revolta, o imperador pelo jeito não era de guardar rancor.

A catedral gótica é um deleite para os amantes de arte. Além de sua belíssima estrutura interna, há esculturas e pinturas distribuídas por todo o seu interior ricamente adornado com mármore branco e escuro. O interior é tão belo que até dá para entender porque quem visita a Sint Niklaaskerk depois, acha essa última “simples”. Há tanta beleza disputando a atenção que para se ter uma ideia, eu consegui tirar mais de 100 fotos do seu interior e mesmo assim ainda parece não ser suficiente, rs. Preparem a bateria da máquina!

Podemos começar pelo belo altar barroco da catedral, feito de mármore, madeira dourada, cobre e bronze. Uma combinação de materiais que resultou em uma bela obra de arte. O altar foi introduzido no início do século XVIII.

Ele chama a atenção obviamente, mas no caso da Sint Baafskathedraal, vale muito a pena mencionar o púlpito. Acredito que esse foi um dos púlpitos que mais me chamou a atenção nas muitas igrejas e catedrais que já visitei. De 1745, feito em carvalho, madeira dourada e mármore é um belo exemplo da arte rococó. A cruz meio que caída, ou se levantando, dá para interpretar de várias formas, e toda a dramaticidade de suas esculturas revelam, na minha opinião, um encontro de um mundo superior de paz em ascensão com mundo abaixo turbulento. Esse belo trabalho é obra de Laurent Delvaux, um escultor flamengo que transitava também em outros estilos como o barroco e o neoclassicismo.

Acrescente a isso a magnífica pintura A conversão de São Bavão, de 1623 de ninguém menos que Rubens, um dos mais influentes artistas do barroco flamengo.

Mas a obra de arte mais famosa e muito provavelmente um dos principais motivos de visitação da Sint Baafskathedraal, é a obra”Adoração do Cordeiro Místico“, ou simplesmente “Cordeiro Místico’ dos irmãos Jan e Hubert Van Eyck, iniciada em 1420 e concluída em 1432.

A mundialmente famosa pintura fica em uma uma capela construída especialmente para abriga-la. Trata-se do que é conhecido como políptico (do grego polýs, “numeroso” e ptýx, “dobra, prega”). Ou seja é um conjunto de painéis que formam uma determinada cena ou tema. Eles podem ser fixos ou móveis (como neste caso), unidos por dobradiças como se fossem várias pequenas portas, e que formam uma obra quando aberto ou fechado.

A obra também é conhecida pelo nome “Retábulo de Gent”. Retábulo é uma estrutura de madeira, mármore ou de outro material, que fica por trás ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou em relevo. Nesse caso específico, o Retábulo de Gent foi pintado em painéis de carvalho e as tintas usadas eram uma mistura de pigmentos minerais diluídos em cimento de óleo secante.

O Cordeiro Místico é provavelmente a obra-prima mais conhecida dos primitivos flamengos, uma vez que é, sem dúvida, o principal trabalho da Escola Flamenga no século 15.

São doze painéis, que abertos totalmente, formam uma obra de arte de 3,4 por 4,6 metros. O tema principal é a glorificação de Cristo e a salvação e santificação do homem pelo Seu sacrifício. Os irmãos van Eyck decidiram por mostrar esse tema de uma maneira mais visionária, daí o surgimento de algumas versões que a pintura escondia segredos incluindo um mapa para tesouros cristãos, o que atraiu o profundo interesse, senão obsessão de até mesmo Hitler.

A harmonia das cores, a riqueza de detalhes e o próprio tamanho da obra completa chamam a atenção e admiração de qualquer um, por mais leigo em história da arte que a pessoa possa ser. É uma obra de grande excelência que exerce grande fascínio desde a sua criação. Todo pedaço dessa obra é pintado com detalhes notáveis. Dá para ficar horas admirando cada expressão, cada roupa, cada paisagem de fundo, cada figura distribuída nos 12 painéis. Mas infelizmente o tempo de permanência na capela é de apenas 15 minutos, em silêncio e sem fazer fotos ou vídeos. A fotos aqui são do site Visit Gent e os créditos de Hugo Maertens.

Noah Charney, historiador de arte e autor de vários livros, entre eles, Stealing the Mystic Lamb (Roubando o Cordeiro Místico, em tradução livre já que o livro infelizmente ainda não foi lançado no Brasil), afirma que “A Adoração do Cordeiro Místico é provavelmente a pintura mais influente de todos os tempos, e é também a obra de arte mais frequentemente roubada da história!”.

Isso porque resumidamente falando entre 1794 e 1946, a pintura inteira, ou alguns de seus painéis passearam várias vezes pela Alemanha, França, Itália e Vaticano. Na verdade, desde sua conclusão em 1432, esta pintura a óleo foi saqueada em três guerras diferentes, queimada, desmembrada, forjada, contrabandeada, vendida ilegalmente, censurada (os painéis com Adão e Eva nus), escondida, atacada por iconoclastas da Reforma Protestante que a consideravam como idolatria, caçada pelos nazistas e por Napoleão, usada como ferramenta diplomática, resgatada por agentes duplos austríacos e roubada um total de treze vezes, retornando a Gent somente em 1946.

Em 1986, a pintura completa com todos os painéis finalmente “parou de andar por ai” e foi levada definitivamente para a catedral. Ufa! Os painéis estão sendo retirados nos últimos anos mas para uma minuciosa restauração, que segundo os especialistas é chamada de o renascimento da pintura.

Apesar de fazer parte das Três Torres de Gent, só é possível subir em sua torre durante as festividades da cidade. Fora dessas datas, melhor mesmo subir no vizinho Belfry para se ter uma linda visão da cidade e ainda conhecer o simpático mascote de Gent, o dragão de cobre.

Na catedral há uma lojinha com souvenires da cidade. Como é proibido tirar fotos da Adoração ao Cordeiro Místico, acabei por comprar um livro que trazia mais detalhes sobre a obra. Mais um livro para a minha coleção de livros de arte. Amo muito!

Em maio de 2013, foi iniciado o trabalho de restauração da catedral com um custo aproximado de cerca de 6.300.000 euros! Eu visitei a Sint Baafskathedraal bem no período de restauração, por isso não consegui nenhuma foto boa do seu exterior, já que haviam telas por toda a parte. Mas é possível encontrar lindas fotos em muitos sites, inclusive no site oficial.

A Catedral é aberta ao público no verão, entre abril a outubro, das 8:30 as 6:00. No inverno, entre novembro a março, fecha mais cedo às 17:00. Aos domingos o horário também muda, a catedral abre às 10:00.

Para admirar o Cordeiro Místico é necessário comprar um ingresso a parte, no valor de 4,00 euros, com um áudio guia incluso no valor. Estudantes pagam 1,50 euros. Os áudios guias estão disponíveis em inglês, francês, alemão, holandês, espanhol e japonês.

Os horários da capela também são diferentes. No verão a capela é aberta entre 9:30 e 17:00 e no inverno entre 10:30 e 16:00. Aos domingos a capela abre às 13:00.   Para que se tenha a chance de ver todos os painéis do Retábulo, os painéis externos são dobrados todos os dias entre 12:00 e 13:00. Os ingressos para esta capela são vendidos até 15 minutos antes do horário de fechamento.

Como já mencionei acima, dentro da capela não são permitidos fotos ou vídeos, além de ser pedido silêncio durante os poucos 15 minutos permitidos de permanência.

Belfry, o campanário cheio de histórias e segredos de Gent

O Belfry ou Campanário é o símbolo da autonomia e independência da cidade de Gent. É impossível não localizá-lo facilmente, uma vez que sua torre de 93 metros de altura é vista de vários pontos da cidade.

De qualquer forma, ele fica na praça Sint-Baafsplein, bem no centro histórico e perto das outras duas torres medievais com vista para a cidade velha, a Catedral de São Bavão (Sint Baafskathedraal) e da Igreja de São Nicolau (Sint Niklaaskerk). Sua altura faz com que seja o campanário mais alto da Bélgica.

Um orgulho na história da cidade, construído entre os séculos XIII e XIV. Nessa época, Gent precisava de um prédio especial onde os documentos da cidade pudessem ser mantidos em segurança e de onde a guarda da cidade pudesse manter vigia.

Dessa forma, o Belfry tinha três diferentes funções. A primeira era a manutenção dos privilégios municipais. Estes eram mantidos em um baú na sala de sigilo, ou “Het Secreet”, o salão no térreo do campanário, desde 1402. Essa é a primeira sala que vemos quando entramos no campanário.

Essa sala possuía duas portas, cada uma equipada com três fechaduras. As chaves de cada fechadura eram guardadas por três diferentes associações de artesanato. Dentro da Het Secreet, os documentos ainda eram guardados em um baú com dezoito compartimentos, e que também era trancado por três chaves, uma guardada pelo oficial de justiça e as outras duas pelos guardiões da cidade.

Isso sim é que é segurança!

A segunda função do campanário era servir como torre de vigia. Desde 1442 até 1869, os guardas, juntamente com os tocadores de trombeta e de sinos da cidade formavam o que era conhecido como os “Homens que Guardavam Gent”.

A vida dos guardas não era fácil. Eles tinham de percorrer o parapeito a cada hora para demonstrar que não estavam dormindo em serviço. Suas tarefas incluíam ficarem sempre atentos a um possível ataque inimigo, soarem o alarme em caso de incêndio e tocarem os sinos durante períodos de grande perigo.

E falando em sinos, chegamos à terceira função do Belfry, que inclui o carrilhão e sinos. Inicialmente, os sinos eram usados ​​para fins religiosos, porém, devido ao crescimento das cidades na Idade Média, os sinos eram mais frequentemente usados ​mesmo ​para regular a vida diária dos habitantes.

O sino de alarme, que foi instalado no campanário 1325, foi de 1378 em diante também usado como sino de hora em hora. Depois disso, o carrilhão foi gradualmente expandindo para 53 sinos após a restauração em 1982, com o último sino sendo acrescentado em 1993.

O Belfry foi reconhecido patrimônio mundial da UNESCO em 1999. Ele entrou para a lista junto com outros campanários da Bélgica e França. Na verdade um grupo de 56 construções históricas!

Vale muito a visita. Caindo no clichê mais básico, andar pelo campanário e subir suas escadas é voltar no tempo. Mais do que isso, é sentir a atmosfera dos tempos áureos de Gent.

De brinde, ainda temos a linda vista que se tem da cidade do alto do campanário. Como falei anteriormente, ele faz parte das torres medievais de Gent.

Além disso, ainda é possível ver um dos orgulhos de Gent, o famoso dragão de cobre que foi colocado na torre em 1377. O dragão era visto na história de Gent como o guardião simbólico da liberdade da cidade durante séculos. Há várias lendas populares ao redor dele, como sempre há para símbolos históricos. Segundo a história do dragão, ele mantinha não apenas os olhos na cidade, mas era também o guardião dos privilégios tão bem seguros dentro do campanário.

Curiosamente, o Belfry não sofreu nenhum incêndio durante a sua história, como sempre acontece com construções medievais. É, talvez, o dragão mascote da cidade tenha também impedido qualquer risco de incêndio, ou foram os incansáveis guardas que executaram muito bem a sua tarefa de proteger Gent.

Eu particularmente gostei mais do Belfry de Gent do que o de Bruges, cuja arquitetura é um tanto quanto desengonçada para mim.

Grudadinho no campanário encontra-se o antigo Salão de Rendas, ou Lakenhalle, construído entre 1425 e 1445. O local servia como ponto de encontro dos poderosos comerciantes da indústria de tecidos que tanto tornaram a cidade próspera na Idade Média.

Junto a ele ainda há a prisão municipal, com uma fachada datada de 1741. É fácil reconhecer a fachada, pois há nela uma escultura em relevo logo acima da entrada representando a antiga lenda de Simon, um romano sentenciado à morte por inanição. Sua filha Pero ia todos os dias visitá-lo na prisão e, como tinha acabado de dar à luz, amamentava em segredo o pai faminto. Os guardas acabam por descobrir o truque de Pero, mas sensibilizados pelo amor filial decidem libertar o prisioneiro.

Desse relevo surgiu o nome popular de “De Mammelokker” que foi dado a este edifício. “Mamme” significa “mama” e “lokken” significa “sugar” em um dialeto antigo de Gent.

Voltando ao Belfry, há um elevador do primeiro andar, mesmo assim, o campanário não é lá muito acessível a visitantes com mobilidade reduzida. Ele é aberto à visitação diariamente das 10:00 às 18:00 e o ingresso custa 8,00 euros para adultos. Pessoas entre 19 e 25 anos ou da terceira idade possuem descontos. Abaixo de 19 anos, a entrada é gratuita. Há visitas guiadas também para quem tem interesse.

Apesar de antigo, o Belfry é bem moderninho, pois possui um aplicativo para baixar no Google Store. Para quem não possui Android, há a opção de baixar um pdf com várias explicações.

Primeira parada em Gent, a impressionante igreja de São Nicolau ou Sint Niklaaskerk

O primeiro lugar que entrei em Gent foi a Igreja de São Nicolau, ou Sint Niklaaskerk. Essa igreja no centro histórico de Gent é impressionante não apenas pelo seu tamanho, não apenas pela sua construção gótica, não apenas por ser referência turística, mas também por ainda ter uma história, por assim dizer, cheias de altos e baixos.


E mesmo com tantos momentos digamos caidinhos no seu passado, ela segue imponente disputando a atenção com seus companheiros de torres, o Belfry, o campanário vizinho a ela, e a Catedral de São Bavão (Sint Baafskathedraal).

A primeira Sint Niklaaskerk foi construída em estilo romanesco em meados do século XI. No entanto, foi destruída por dois grandes incêndios, o primeiro em 1120 e o segundo em 1176. Esses foram só os primeiros “baixos” na sua história.

Com o crescimento do comércio e da indústria em Gent, foi possível a sua reconstrução. Afinal, desde a sua fundação, ela era a igreja dos ricos comerciantes da cidade, sendo que as associações de artesãos e comerciantes tinham suas atividades no Korenmarkt, bem pertinho da igreja. Não é por acaso que São Nicolau foi escolhido como o santo padroeiro desta igreja. Os endinheirados que financiaram a construção da igreja escolheram justamente o santo padroeiro dos comerciantes, dos marinheiros, capitães e padeiros.

A Igreja foi então reconstruída em estilo gótico usando as pedras azuis escuras extraídas da região de Tournai. Essa região é de onde veio a ideia de contrastar veios escuros contra alvenaria branca, um estilo arquitetônico que foi usado por um longo período.

Andando ao redor dessa igreja, tive a impressão que ela foi construída como um “amontoado’ de estruturas. Sua história de expansão e contínuas restaurações acabou por confirmar minha impressão.

A capela principal e a nave foram concluídas entre 1220 e 1250. Porém, desde o início, a igreja teve que lidar com problemas de estabilidade.  As atividades de construção continuaram ainda nos séculos XIV e XV e as primeiras renovações foram realizadas.

O coro foi ampliado e expandido nessa época. Ainda no século XV, a capela principal também foi expandida por meio de uma série de capelas externas que, com o tempo ameaçaram desmoronar. Por causa disso, mais pedras foram adicionadas para fortalecer toda a estrutura. O resultado foi a perda do aspecto simétrico da igreja e dai, na minha opinião, a provável impressão de estrutura amontoada.

Para deixar sua história ainda mais turbulenta, a Igreja sofreu outros danos no século XVI, quando os iconoclastas da Reforma Protestante destruíram suas imagens religiosas. Outro fato curioso, é que em 1580, durante a Revolução Francesa, a Sint Niklaaskerk foi transformada em estábulo! Difícil olhar para essa deslumbrante igreja e imaginá-la cheia de cavalos! Não dá para entender muito bem, mas enfim, história é história.

Já no século XVIII apareceram várias rachaduras que foram apenas escondidas debaixo de camadas de gesso. Nessa época, as janelas da igreja foram fechadas e para piorar a situação, casas e lojas foram construídas em suas paredes externas.

A situação atingiu o ponto mais baixo no final do século 19, e olha que é difícil imaginar o que pode ser mais trágico que virar estábulo. Mas foi aí então que várias restaurações finalmente se seguiram e as casas construídas nos muros externos da igreja foram na sua maioria demolidas. Ufa!

Em 1960 veio mais uma restauração resultando na reabertura do coro com as capelas, o transepto e a torre somente em 1992. As janelas também foram emparedadas para garantir a estabilidade. A restauração da nave só veio a acontecer depois.

Porém sua história de intervenções e restaurações parece estar longe de terminar. Como resultado da tempestade que caiu em Gent no dia 10 de março desse ano (2019), uma parede da igreja desmoronou. Como é de se esperar, por razões de segurança, a Sint Niklaaskerk está agora temporariamente inacessível ao público.

A Sint Niklaaskerk faz parte das chamadas “Três Torres de Gent”, ao lado do Belfry e Sint Baafskathedraal. São as três torres altas de Gent. Na verdade, até o Belfry ser construído, as torres da Igreja é que eram usadas como um posto de guarda para a defesa da cidade. Um  fato interessante é que sua torre  fica bem em cima do cruzamento da nave e transeptos e não na entrada como normalmente é no estilo gótico. Isso permite que a luz entre no transepto vindo pela torre.

O interior da Igreja, cuidadosamente restaurado, é um paraíso para os amantes de fotografia, principalmente pela claridade que sem tem dentro da Igreja. E o melhor, é permitido tirar fotos do seu interior! A estrutura interna com as abóbadas e colunas com escudos, em conjunto com as estátuas dos apóstolos em tamanho natural próximas ao chão, fornecem um efeito visual imponente e ao mesmo tempo de calma e tranquilidade, contrastando com a turbulenta história da Igreja.

Vale mencionar o impressionante órgão do século XIX, feito pelo famoso fabricante de órgãos francês Aristide Cavaillé-Col. Os órgãos de igrejas medievais são sempre impressionantes, é verdade, mas nesse caso, esse é um dos órgãos mais importantes da Bélgica. Como era de se esperar, ele também tem uma história interessante. O órgão foi encaixotado em 1960 e somente exposto novamente para o público em 2010. Em 2013, o órgão teve seu processo de restauração iniciado.

Os dois grandes vitrais também são do século XIX, enquanto que o exuberante altar da igreja foi construído no período barroco na mesma época que as belas estátuas dos apóstolos.

Interessante que quando fui havia uma exposição de vestimentas de diferentes locais. Um museu na nave da igreja. Exposições assim parecem fazer parte da rotina.

Em situações normais, a Sint-Niklaaskerk abre todos os dias das 10:00 às 17:00. Somente as segundas-feiras que a igreja abre mais tarde, as 14:00. A entrada é gratuita.

Torcemos para que sua história de instabilidades e restaurações tenha um final ao estilo “felizes para sempre” e que a igreja possa reabrir logo.

Gante, Ghent ou Gent? Não importa, a “capital de Flandres” é linda independente do idioma

Gante, em português, Ghent em inglês, Gent em neerlandês ou ainda Gand em francês, é uma charmosa cidadezinha medieval, capital da região de Flandres na Bélgica. Como no idioma local é Gent, vamos seguir assim mesmo.

É até um fato histórico o porquê que essa bela cidade tem tantos nomes, por assim dizer. A explicação mais aceita é que o nome Gent deriva da antiga palavra gaulesa (celta) “Ganda”, que significa a confluência de dois rios, no caso, os rios Schelde e Leie . Mais tarde, as tribos germânicas que substituíram os celtas na área, adaptaram nome para Ganta.

Aliado a isso, ainda há a importância histórica de Gent para a região de Flandres e durante a Idade Média. Gent foi fundada no século VII em torno das duas abadias de São Bavão e São Pedro. Naquela época a cidade era conhecida ainda como como Ganda e foi construída entre os rios Schelde e Leie, já mencionados acima.

Por volta do século XI, a cidade foi destruída pelos normandos, e como resultado, os condes de Flandres decidiram construir uma fortaleza, que mais tarde ficou conhecida como Gravensteen. Um centro de comércio cresceu em torno desta fortaleza e Gent se tornou a capital de Flandres.

Foi nessa época, que o comércio de rendas e linho teve um enorme crescimento. Grandes navios traziam a glória e as riquezas de terras distantes para a cidade e Gent tornou-se então uma cidade de grande importância durante a Idade Média. Afinal, até o século XIII Gent foi a segunda maior cidade europeia, perdendo apenas para Paris. Dentro de suas muralhas viviam mais de 65 000 pessoas.

No século XIV, a cidade foi destruída por conflitos civis, enquanto que o século seguinte foi marcado por uma luta pelo poder. No século XVII, a cidade era palco de muitos cercos e guerras. Foi somente no século XVIII que Gent pôde retornar à prosperidade econômica, através do estabelecimento de novas indústrias.

Muita história para uma cidade tão pequena!

E com tudo isso, Gent ainda era totalmente desconhecida para mim. Uma vergonha, eu sei. Só fui ter o prazer de adicioná-la ao meu mapa, na minha terceira viagem para Bruxelas, quando em um domingo preguiçoso, estava pensando em retornar a Bruges, porém na estação de trem vi uma foto de Gent e não deu outra. Resolvi entrar no trem que me levaria para lá.

E posso dizer que foi uma ótima escolha! A saudade de Bruges vai ter que esperar até uma próxima viagem….

Gent fica ainda mais perto de Bruxelas do que Bruges, então, para quem está com pouco tempo, é mais uma ótima opção de bate-volta. O tempo médio de viagem entre Bruxelas e Gent é de 43 minutos, com o primeiro trem saindo logo que começa o dia, as 00:29! Mas não precisa pegar esse, por dia, circulam em média 77 trens entre Bruxelas e Gent, saindo um trem aproximadamente a cada 19 minutos.

Aqui tem algumas opções de horários entre 7:30 e 9:30. Afinal acordar cedo em viagem é bom, mas não precisa ser tããão cedo, rs. No site RailEurope tem muitas outras opções para madrugadores e sonecadores. O trem de Bruxelas sai da estação Bruxelles Midi e chega na estação Gent Sint Pieters.

Quando cheguei na estação, acabei tendo a surpresa de ver todas as informações de ônibus e trams em neerlandês. Sim, não haviam informações em inglês e nem em francês. Por outro lado haviam vários ônibus estacionados vazios e sem nenhum motorista que pudesse me indicar qual ônibus pegar para o centro histórico.

Então decidi colocar aqui as linhas e horários de ônibus para que ninguém passasse o mesmo perrengue de quem decide o destino de viagem na porta do trem como eu fiz.

Aqui tem várias informações sobre o transporte público de Gent. E se eu tivesse consultado antes, saberia que o tram 1, linha vermelha, é o que leva direto para a Korenmarkt, bem no centro histórico. E foi esse mesmo que eu peguei, quando surgiu o motorista. Outras opções são o tram 2 (laranja) e 4 (verde), mas esses dão uma volta maior. Essas três linhas na verdade levam de um lado para o outro de Gent, passando pelo centro.

O ticket deve ser comprado nas máquinas ou “Lijnwinkel”, existentes na estação Gent-Sint-Pieters ou na Korenmarkt para a volta. Uma curiosidade sobre os tickets de ônibus ou tram em Gent é que eles são válidos não somente na cidade, mas em toda a região do Flandres, já que é a mesma companhia que opera, a De Lijn. O ticket único custa 3,00 euros e é válido por até 60 minutos. Crianças menores de 6 anos, inválidos de guerra, desempregados, policiais e outros grupos específicos não precisam pagar a passagem.

Mas foi somente no trecho estação de trem-centro histórico que eu peguei o tram. Gent é pequena e fácil de andar o suficiente para ser desbravada a pé. Além do que é muito mais gostoso descobrir uma cidade a pé do que de ônibus e principalmente de metrô. Para falar a verdade, tenho muita preguiça de pegar metrô, só mesmo para grandes distâncias em cidades maiores e com pouco tempo disponível.

Assim, como a vizinha Bruges, Gent nos presenteia com horas de história, arquitetura medieval, arte e lindos canais. Parece que todos os cantos disputam nossa atenção e nossa máquina fotográfica. Fiquei apenas um dia, um bate-volta, e não deu tempo de ver tudo o que queria, então vale a pena “gastar’ mais um dia por lá. Principalmente se você é como eu que gosta de apreciar tudo com calma e qualidade. Não foi à toa que um cabojano me falou uma vez “vocês ocidentais gostam de apreciar e aprender né?” E foi nesse momento que percebi quantas perguntas eu estava fazendo a ele sobre o a cultura do Camboja, rs.

Bom, agora vamos parar de enrolação e viajar no tempo pelas ruas de Gent, mas só nos próximos posts.

Para saber mais:

Visit Gent

Entre as gárgulas, Quasímodo e Emmanuel na deslumbrante Notre-Dame de Paris (ou o post que eu não queria editar)

Escrevi o post original no dia 12 de abril pensando em publicá-lo somente no final do mês de maio, depois da série de posts sobre Gent que ainda serão publicadas. No dia seguinte, 13 de abril, mostrei a Catedral Notre-Dame de Paris para meu filho mais velho pelo Google Maps. Enquanto exaltava sua beleza, prometi a ele que um dia levaria ele e seus irmãos para conhecerem as “minhas amigas” gárgulas de perto. Dois dias depois a histórica Notre-Dame é embebida pelas chamas cruéis de um incêndio.

Foi impossível conter as lágrimas enquanto assistia pela televisão a bela senhora queimar. Busquei noticiários do mundo inteiro para tentar compreender o que estava acontecendo. Era simplesmente inacreditável que aquilo estava acontecendo de fato.

Mesmo assim, ainda bela e nobre.

No post original, escrevi que a Notre-Dame “segue imponente, indiferente a tantos acontecimentos históricos, revoltas e guerras que por ela passaram”. Era portanto, inconcebível que ela fosse ceder ao incêndio. Assistir a torre desabar foi surreal. Realmente não podia ser verdade que 850 anos de história, arte e centro espiritual pudessem desabar daquela forma.

Me uni em coração e prece a todos católicos, franceses, historiadores, amantes da arte e de Paris naquelas 12 horas trágicas. Me lembrei de cada momento que passei quando a visitei. Quando fui barrada para assistir a missa pois acharam que eu iria tirar fotos na parte dedicada ao rito religioso, ao que respondi “sou católica e vou assistir a missa!” Os seguranças abriram passagem imediatamente. Quando tentei repetidas vezes tirar uma foto boa da Pietá. Mas todas minhas tentativas foram inúteis. Em nenhuma das vezes que a visitei eu tinha a máquina que tenho hoje. E quando subi os degraus desgastados pelo tempo para ver de perto as gárgulas que tanto admirava.

Lua de Mel, terceira visita à Notre-Dame

Uma coisa era certa, França não seria a mesma sem a Notre-Dame e Paris não seria a mesma sem as gárgulas a observando dia e noite através de tantos anos.

À noite, assisti o discurso do presidente Emmanuel Macron e suas palavras foram inspiradoras. Mais ainda, a bravura, coragem e profissionalismo dos bombeiros que conseguiram finalmente dominar o fogo e salvar a catedral. Como eu queria que isso tivesse ocorrido com nosso inesquecível museu do Rio de Janeiro, cujo incêndio também me fez chorar, e mais ainda, me revoltar com o descaso pela nossa história e arte.

Pensei em nem publicar esse post, pois ele já não corresponde mais à realidade que temos hoje, infelizmente. Mas em respeito à Notre-Dame, e principalmente, à emoção que senti ao subir em sua torre, decidi por publica-lo, e ainda antes da data prevista.

As palavras do Macron foram inspiradoras como eu disse, mas vou terminar esse texto, com as palavras de alguém muito mais inspirador para mim, alguém que me ilumina dia e noite, e por isso que eu o chamo sempre de Sol da Minha Vida, meu filho mais velho. No dia seguinte ao incêndio, ao me ver abatida, ele me falou “Calma mamãe, se eles souberam fazer tanta arte antigamente, eles saberão fazer agora também. Logo logo a igreja estará de pé novamente e você poderá cumprir sua promessa de me levar para conhecer as gárgulas”.

Aguardamos ansiosos por esse momento!

Segue o post original, escrito apenas 3 dias antes do incêndio. E que venha a reconstrução!

Entre as gárgulas, Quasímodo e Emmanuel na deslumbrante Notre-Dame de Paris

Já visitei igrejas, catedrais, mesquitas e templos mundo afora. Todos lindos, cada um a seu jeito. Mas difícil algum deles se comparar com o efeito que a visão dessa emblemática catedral nos causa. Seja sua imponência, seja sua fama, seja sua história, seja sua arquitetura, ou tudo isso junto, a Cathédrale Notre-Dame de Paris pausa nossa respiração quando a observamos por fora, tira nosso fôlego quando entramos nela e acaba com o pouquinho que restou de ar quando subimos na sua torre.

Independente da fé da pessoa, é difícil ficar imune ao impacto que essa catedral nos causa.

Maravilhoso exemplo da arquitetura medieval francesa, citada em inúmeros livros sobre arte gótica, a Notre-Dame de Paris, ou Nossa Senhora de Paris, segue imponente, indiferente a tantos acontecimentos históricos, revoltas e guerras que por ela passaram. Alguns pedaços foram danificados, é bem verdade, mas essa velha senhora permanece de pé recebendo milhares de visitantes que tumultuam seu interior e arredores. E mesmo com tanta gente curiosa querendo conhecê-la, ainda é possível assistir uma missa com muita sensação de paz interior. Eu assisti e foi uma experiência bem gratificante para mim.

O Papa Alexandre III colocou a primeira pedra em 1163, iniciando 170 anos de trabalho de milhares de arquitetos góticos e artesão medievais. A catedral foi erguida sobre um antigo templo romano e quando foi concluída em 1330, tinha 130 metros de comprimento e ostentava colunas, um grande transepto, coro e torres de 69 metros. No seu magnífico interior o rei Henrique VI da Guerra dos 100 Anos, e o imperador Napoleão Bonaparte e sua esposa Josefina foram coroados, cruzados foram abençoados e a heroína e santa francesa, Joana D’Arc, canonizada.

Mas a Notre-Dame também foi palco de violência. Os revolucionários a saquearam e aboliram a religião, transformando-a em templo da razão e depois em depósito de vinho. Na frente da Notre-Dame há 28 estátuas, cada uma com 3,5 metros, que representam os reis de Judéia. Na época da Revolução Francesa, em 1793, todas essas belas estátuas que vemos foram simplesmente decapitadas. Isso mesmo. Os revolucionários entenderam que as estátuas representavam os reis da França e tudo o que eles não queriam era menção a qualquer tipo de monarquia.

Em 1804, Napoleão restaurou a religião e daí o edifício foi restaurado, as estátuas perdidas foram recuperadas e as cabeças decapitadas reconstruídas.

Visitei a Notre-Dame três vezes e em todas as vezes ela me repetiu a mesma lição que teimei em não aprender corretamente. A importante lição de que eu precisava de uma máquina melhor se quisesse tirar fotos perfeitas de seu interior. Mesmo que em cada visita eu tivesse uma máquina diferente, não consegui tirar uma foto perfeita da Pietá no altar e outras partes da catedral. Isso por causa do seu interior muito escuro. A Pietá e o órgão saíram tremidos, mas ao menos deu para aproveitar as fotos dos belíssimos vitrais e das famosas rosáceas.

A rosácea da frente (face oeste) da catedral mostra a Virgem Maria no meio das cores dos demais vitrais.  Já rosácea sul situada no extremo sul do transepto mostra Cristo no centro cercado por virgens, santos e dos doze apóstolos. Este vitral ainda possui algumas pinturas originais do século 13. A rosácea norte também é um vitral do século 13, com 21 metros e altura, e mostra a Virgem Maria cercada de personagens do Velho Testamento.

O anteparo do altar que circunda todo ele é feito de pedra e data do século 14. Dentro da catedral ainda vemos uma estátua de Joana d’Arc, uma maquete da construção da Notre-Dame, o antigo lustre que, por causa do seu peso, agora encontra-se no chão e belíssimas pinturas. Isso porque nos séculos 17 e 18, as associações de trabalhadores de Paris doavam à catedral um quadro todo 1° de maio.

Além disso, o Tesouro da catedral, o Trésor, ainda guarda verdadeiras relíquias como manuscritos medievais e a Coroa de Espinhos e um pedaço da cruz de Cristo. A Coroa de Espinhos só pode ser vista pelos fiéis na primeira sexta-feira de cada mês às 15:00 e na Sexta-feira Santa entre 10:00 e 17:00.

Já que as fotos do interior não ficaram do jeito que eu desejava em nenhuma das minhas visitas, o jeito foi me dedicar mesmo ao que eu mais adoro na Notre-Dame, as gárgulas! Acho cada uma mais linda que a outra. Todas me chamam muito a atenção. Já gostava delas, mesmo antes de conhece-las de perto. Algo em seu aspecto estranho e digamos nada religioso, da forma como imaginamos, acaba me atraindo bastante, rs. São magníficas, cada uma a seu modo.

E tirar fotos da lista vista que se tem do alto da torre com as gárgulas se unindo a paisagem, é algo que de fato encanta e emociona. São 56 gárgulas e esculturas quiméricas construídas por Viollet-le-Duc e Bourdon, que observam Paris incessantemente. E quantas histórias elas devem ter para contar!

A cara da felicidade pela realização de um sonho

Assim como o outro solene morador da Notre-Dame, Quasímodo, o corcunda do livro que Victor Hugo escreveu com apenas 29 anos em 1831. Nessa época, o escritor queria chamar atenção para a catedral que, esquecida, estava sendo aos poucos depredada pela ação do tempo. Tenho esse livro, mas confesso que não li ainda. Acho que Victor Hugo me “traumatizou” com Les Misérables, pois choro toda vez que vejo, e o pior, independentemente da versão! E continuo assistindo mesmo assim, rs, afinal é uma obra divina que, a cada versão mostra uma faceta diferente trazendo uma mensagem a mais.

Minha gárgula favorita!

Bom, para subir na torre e visitar a moradia do Corcunda é preciso subir 387 degraus estreitos em uma escada em espiral já gasta pelos seus muitos anos. No entanto, a vista lá de cima é magnífica e faz a gente esquecer rapidinho dos degraus tortos. Na verdade, dá vontade de permanecer ali fazendo companhia para as graciosas e ao mesmo tempo medonhas gárgulas.

Na torre ainda vemos o Emannuel, o único sino original que resistiu à Revolução Francesa, já que os demais foram todos derretidos e fundidos. O resistente Emannuel só toca agora em datas especiais como Natal, Páscoa, Pentecostes, Anunciação ou em caso de falecimento do Papa. Também foi esse sino que trouxe a boa notícia do final das duas Grandes Guerras Mundiais. Fico imaginando quão especial não deve ter sido ouvir o Emannuel tocar anunciando o final de dois períodos tão turbulentos e tão tristes da História Mundial. O próprio som da libertação!

Coisas que podem ser ditas sobre o desventurado Quasímodo é que suas pernas deviam ser bem fortes para subir 387 degraus todos os dias, que seus ouvidos eram potentes para poder ouvir de perto o sino de 13 toneladas tocar, e que seus olhos se beneficiavam com a bela vista da janela de sua morada.

A fila para subir pode ser mais desanimadora que os velhos degraus em caracol, pois, além de grande, também é demorada já que sobem poucas pessoas a cada vez. Mas como já falei, mais do que vale a pena. O ingresso custa 10,00 euros, mas está incluso no Paris Pass. Para quem preferir uma fila virtual, basta baixar o aplicativo JeFile. Basta reservar o horário e aparecer na hora marcada. É possível fazer a reserva a partir de 7:30, mas sempre no mesmo dia da sua visita. A entrada para a torre está localizada fora da catedral, no lado esquerdo, na rue du Cloister Notre-Dame.

Para subir, fui fazendo algumas pausas no caminho, mas para descer, acabei indo direto. O resultado de descer os 387 degraus em espiral foi uma verdadeira prova de equilíbrio para mim. Sai andando na frente da catedral parecendo uma bêbada, pois não conseguia de forma alguma andar em linha reta no chão. Como eu ainda ria muito dessa situação, imagino a impressão que causei. Mas tudo bem, posso dizer que foi o vinho que tomei com as gárgulas. Um brinde a todas elas!

A catedral é aberta todos os dias das 8:00 às 18:45, estendendo o horário até 19:15 aos sábados e domingos. A entrada é livre, mas não é permitido portar nenhum tipo de bagagem.

As linhas do metrô 4 (Station Cité ou Saint-Michel), 1 e 11 (Station Hôtel de Ville), 10 (Station Maubert-Mutualité ou Cluny – La Sorbonne), 7, 11 e 14 (Station Châtelet) ou RER, linhas B (Station Saint-Michel – Notre-Dame) ou (Station Saint-Michel – Notre-Dame) levam até à Notre-Dame. Para quem preferir ir de ônibus, as opções são as linhas 21, 24, 27, 38, 47, 85 e 96. Paris é uma festa do transporte público!

Dramaticidade, romance, natureza, arte e muita, mas muita beleza no Museu de Rodin em Paris

Dentre os estilos de arte, o Impressionismo é um dos que mais sou apaixonada. A quebra de paradigmas, a leitura através de cores e efeitos da luz e a vida desses lindos artistas focada no desejo de fazer essa arte ser reconhecida me fizeram aprender que nem só de Renascentismo (minha primeira paixão) vive a arte, rs.

Esse foi meu maior aprendizado visitando museus mundo afora. Não apenas ter a felicidade de ver de perto obras que eu só conhecia através dos meus livros de arte, mas também poder aprender sobre outros estilos e escolas, bem como sobre outros pintores e escultores.

E esses são os dois motivos principais que me fazem ser tão apaixonada e porque não dizer obcecada por museus. Há ainda um terceiro forte motivo, a paixão também por História, em especial História Antiga. É por isso que costumo dizer que não sou boa companhia para viajar, porque adoro ficar enfurnada em um museu. E é por isso também que já fui expulsa de vários, por ficar até o último segundo antes fechar, inclusive comigo dentro. Como aconteceu em Estocolmo no museu Vasamuseet. Fazer o que? A paixão pela arte e história fala mais alto que o bom senso, rs.

E se Monet é um dos meus pintores favoritos, que me faz ficar horas admirando suas pinturas e sua história de vida, Rodin não podia deixar de ser um dos meus escultores prediletos.

E como não ser? A paixão e dramaticidade desse escultor francês envolvem o expectador de uma tal maneira que é impossível admirar seu trabalho sem ser tocado, e até mesmo arrastado, profundamente por ele.

E foi por tudo isso, que, em uma das vezes que mochilava na linda Paris, reservei um dia para conhecer a casa do meu amigo Rodin, o Musée Rodin.

François-Auguste-René Rodin, ou Auguste Rodin, ou simplesmente Rodin, nasceu em Paris em 12 de novembro de 1840. Era o segundo filho de uma família operária. Ele começou a desenhar já com apenas 10 anos e usava a massa de pão da mãe para fazer esculturas. Quando mais velho, tentou entrar na Grand École, ou escola de Belas Artes de Paris, mas foi rejeitado, não apenas uma vez, mas três vezes!!!

Essa é a parte da História em que temos que dar risadas. Como grandes artistas não são reconhecidos no seu tempo, com exceção dos Renascentistas, ufa! E bem, Rodin não escapou da regra, ele, assim como outros impressionistas não apenas não foram reconhecidos, como ainda foram criticador arduamente. E isso inclui suas esculturas mais famosas.

Em 1875, Rodin decide ir para a Itália, onde ele conhece os trabalhos de Michelângelo, o que acaba por influenciá-lo. Quando descobri esse fato da vida de Rodin que comecei a entender porquê suas esculturas me fascinam tanto, rs. Afinal Michelângelo é incomparável!

Foi em 1878 que Rodin começou a ganhar reconhecimento e fama. E em 1885 ele conheceu sua pupila, mais famosa, Camille Claudel, com apenas 19 anos de idade e com quem teve um relacionamento amoroso bem tumultuado com um fim trágico.

O relacionamento foi tão intenso que os trabalhos Camille são muitas vezes confundidos com os de Rodin. Camille por fim foi considerada insana e em 1913 é internada em um manicômio, onde permaneceu até o final de seus dias. A vida de um artista nem sempre é fácil, quando se juntam dois então…

Em 1908, o escultor passou a viver no Hôtel Biron, que abriga o Musée Rodin, desde o seu falecimento em 1917. Nessa época, Rodin era finalmente e merecidamente um artista consagrado em toda a Europa.

Logo que se entra no museu, se vê O Pensador, uma das mais famosas esculturas em bronze. De 1881, essa bela escultura contemplativa fica sobre o túmulo do seu criador. Inicialmente O Pensador era chamado de O Poeta, quando ele foi desenhado para ficar em cima da Porta do Inferno. Mas então a obra ficou independente, após uma exposição em 1888, foi ampliada em 1904 e se tornou O Pensador que vemos hoje, um homem profundamente perdido em pensamentos, mas cujo corpo musculoso remete a um homem de ação. Talvez mais uma provocação mente versus corpo proposta por Rodin.

Andando em sentido anti-horário pelo jardim na frente do museu, vemos outras belas e famosas esculturas misturadas com o verde. A primeira delas é o conjunto de esculturas que formam O Monumento dos Burgueses de Calais, de 1889. Uma obra admirável de vários ângulos, com rostos dramáticos e gestos fortes. O monumento descreve uma ocorrência na Guerra dos 100 Anos, quando a cidade de Calais foi sitiada pelo rei inglês Eduardo III, que concordou em levantar o cerco da cidade já padecendo de fome, somente se seis dos seus cidadãos mais distintos se entregassem. O rei exigiu que eles deixassem a cidade vestindo apenas camisas, cada um com uma corda no pescoço e as chaves da cidade fortificada na mão.

Na sequência vemos a turbulenta Porta do Inferno, com figuras retorcidas em uma aflição sem fim. Rodin trabalhou fervorosamente neste projeto por vários anos. Ele criou mais de 200 figuras e grupos que formaram um terreno fértil para as idéias que ele continuou desenhou pelo resto de sua vida. Alias, ideias e pensamentos são o que não falta na nossa cabeça quando vemos essa obra inquietante.

Em cima da porta vemos O Pensador em alusão à Dante Aliguieri, que observa impassível toda a turbulência logo abaixo. Uma escultura desconcertante, sem dúvida.

Dentro do museu, vemos outras obras igualmente famosas e belas, incluindo a que eu mais queria ver, O Beijo, de 1888-1889. Obra que já foi considerada infame e sexual demais. Rainer Maria Rilke, um poeta tcheco, em seu livro Auguste Rodin de 1903, assim descreve O Beijo: “… quase se pode sentir as ondas que passam pelos os corpos a partir do vários pontos de contato na superfície, chuvas de beleza, intuição e poder. Isso explica como sentimos que podemos ver o êxtase desse beijo em todas as partes esses corpos. É como um sol nascente, lançando sua luz em todos os lugares.”

Melhor descrição que essa, impossível. Só mesmo um poeta para descrever tão bem as sensações que essa escultura de Rodin pode causar.

Rodin em seu atelier com a escultura em mármore O Beijo © musée Rodin

Se não bastasse todas as belas obras, há ainda um jardim muito bem cuidado para nos trazer paz e tranquilidade contrapondo todas as esculturas com seus dilemas e angústias.

O jardim é tão gostoso e tão tranquilo (pelo menos quando fui, na baixa temporada), que aproveitei para deitar em uma das espreguiçadeiras e relaxar. A calmaria foi tanta que acabei tirando um cochilo, rs. Uma boa soneca no meio da natureza e das obras de Rodin. Quer relaxamento melhor que esse?

O Musée Rodin fica na rue de Varenne 77. Eu fui de metrô para lá, as estações mais próximas são Varenne (linha 13) e Invalides (linhas 13 e 8 e linha C do RER). Para quem preferir ir de ônibus, pode escolher as linhas 69, 82, 87 e 92. Paris sempre oferece muitas opções de transporte.

O museu abre de terça a domingo entre 10:00 e 18:30, sendo o último ingresso vendido as 17:15. O belo jardim é fechado ao público nos meses de inverno, entre 1 de outubro e 31 de março. O ingresso custa 12,00 euros. Quem quiser pode comprar combinado com o Musée D’Orsay, nesse caso fica 21,00 euros. Dá para comprar o ingresso online também aqui.

O museu disponibiliza áudio guias, em francês, inglês, espanhol, chinês, alemão e português!!!! Finalmente um áudio guia em português, rs. O valor do áudio guia é de 6,00 euros.

Ah, os canais de Bruges

Sem dúvida, há várias maneiras de conhecer Bruges, a pé, obviamente, de carruagem, de bicicleta, mas o clássico dos clássicos sem dúvida é pelos canais. Afinal, os canais de Bruges são um charme a mais.

Como comentei em outro post, Bruges faz parte da “lista de cidades” conhecidas como Veneza do Norte. Isso devido exatamente aos seus canais, pontes e o rio Reie, de cujas margens a cidade se originou.

A duração do passeio de barco é de meia hora. Ou seja, são 30 minutos que proporcionam um olhar único sobre a cidade ao custo de 10,00 euros por adulto. Um custo-benefício que vale muito a pena.

Os passeios são sempre os mesmos sendo 5 pontos de desembarque: Huidenvettersplein 13, próximo da Basiliek van het Heilig Bloed (Basílica do Sangue Sagrado), Rozenhoedkaai e Wollestraat 32, ambos pertinho da ponte com a estátua de São João Nepomuceno, Nieuwstraat 11, a poucos metros da Onze Lieve Vrouwekerk, e finalmente, Katelijnestraat 4, ao lado do Sint Janshospitaal .

Todos muito fáceis de serem localizados.

Devido à legislação de Bruges, somente 20 barcos podem cruzar os canais ao mesmo tempo.

Os passeios de barco ocorrem diariamente entre março até a metade de novembro entre 10:00 e 18:00, sendo o último horário de embarque às 17:30. Os barcos não são cobertos, mas em caso de chuva, são disponibilizados guarda-chuvas para os passageiros azarados.

Depois da Groten Markt, é a vez da Burg. Mais uma praça importante e bela de Bruges

Depois de conhecer a Groten Markt, fui para outra praça que fica coladinha nela, conhecida como Burg e tão importante na vida de Bruges quanto a Markt.

A praça recebeu esse nome por causa da fortaleza construída no século IX pelo primeiro conde da região de Flandres, conhecido como Baldwin Braço de Ferro. A Burg logo se tornou centro político e religioso da região.

Hoje não há mais traços da antiga fortaleza, seu lugar foi tomado por belíssimas construções. E mesmo sem a fortaleza, a praça continua tendo sua importância para Bruges, seja do ponto de vista político, seja religioso, seja para turistas ávidos em conhecer mais locais lindos nessa cidade de conto de fadas medieval.

Há uma variedade de estilos arquitetônicos na Burg, indo desdo o gótico de sempre, passando pelo renascentista e chegando ao neo-clássico. O representante do estilo gótico e mais impressionante prédio dessa praça é sem dúvida o Stadhuis, ou a prefeitura, construída em 1376, o que a torna uma das prefeituras mais antigas dos países baixos.

O Stadhuis funcionou como prefeitura por nada menos que 600 anos, adoro essa longevidade nas datas, rs, para mim é impossível não comparar com o tempo de história conhecida que temos do Brasil. Me lembro que no ano que o Brasil comemorou 500 anos (ou seja em 2000), eu visitei uma Igreja no interior da Espanha que tinha demorado exatos 500 anos para ser totalmente construída. Isso acaba nos levando a infinitas reflexões sobre nossa história…, mas enfim isso são divagações para outro post (ou até mesmo outro blog…).

Voltando ao Stadhuis, outra coisa que adoro em prédios góticos assim são as muitas estátuas e esculturas que adornam as fachadas, e nosso prédio aqui não foge disso. São lindas esculturas que dão charme e personalidade a qualquer construção. Sempre fico pensando quem eram as figuras que inspiraram as estátuas e fizeram jus a serem imortalizadas ali. No caso do Stadhuis, as esculturas representam os condes da região de Flandres e santos e outras figuras bíblicas.

Vale notar que as estátuas não são as originais, uma vez que a fachada do Stadhuis foi destruída no final do século 18. Uma perda lastimável sem dúvida, uma vez que a fachada original havia sido desenhada por ninguém menos que Jan van Eyck, um dos mais famosos pintores flamengos. Se você, assim como eu gosta de história da arte, provavelmente o conhece, ou ao menos suas pinturas. A pintura mais famosa dele é o Casal Arnolfini, uma pintura a óleo de 1434 de um comerciante rico e sua esposa que moravam em Bruges, obviamente.

Do ladinho do Stadhuis, vemos o Brugse Vrije, ou Palácio da Liberdade de Bruges. A construção em estilo renascentista é menor que o Stadhuis, mas nem por isso deixa de chamar a atenção. O palácio foi construído entre 1722 e 1727 e serviu como sede do governo até 1795. Depois o local serviu como Tribunal de Justiça por quase 200 anos. Hoje funciona como sede do Conselho Administrativo da cidade e também abriga a história de Bruges, uma vez que todos os arquivos da cidade estão guardados ali.

E agora chegamos em uma das menores construções no cantinho da praça, e no entanto uma das Igrejas mais famosas de Bruges. Estamos falando da Basílica do Sangue Sagrado, ou Basiliek van het Heilig Bloed.

A igreja, inicialmente dedicada à Nossa Senhora e São Basílio no século 12, foi transformada em basílica em 1923. A parte de baixo mantém o belo estilo românico enquanto a parte de cima segue o neo-gótico.

A Basílica é tão especial pois nela está guardada a relíquia do Sangue Sagrado. o que deu o seu nome. Se não bastasse isso, a Basílica ainda abriga várias obras de arte que, em conjunto com a relíquia, fazem valer muito a visita.

E o que é a relíquia afinal de contas? É uma relíquia da Crucificação de Jesus, um frasco contendo um pequeno pedaço de tecido que se diz estar manchado com gotas de sangue de Jesus, após ter Seu corpo lavado José de Arimatéia.

A relíquia foi trazida para Bruges pelo Conde de Flandres, Derrick de Alsace, após as cruzadas, em 1150. Ele trouxe para essa Basílica, uma vez que ele havia ajudado na sua construção.

A entrada na Basílica é gratuita. O ingresso para entrar no museu custa 2,50 euros. A Basílica fica aberta para visitação entre 9:30 as 12:30 e 14:00 as 17:30. A relíquia é exposta para adoração pelos fiéis a cada sexta-feira antes e após a missa.

A cada ano, a praça recebe cerca de 50 mil peregrinos para a procissão do Sangue Sagrado que ocorre no Dia da Ascensão. Esse é um evento milenar, registrado pela primeira vez em 1291. Na procissão, bispos e prelados carregam o santuário pelas ruas da cidade acompanhados por mais de 1800 atores representando cenas bíblicas.

Groten Markt, o centro da cidade e do turismo de Bruges

A Groten Markt, ou Grand Place ou Grande Praça, ou simplesmente Markt, é tudo em Bruges. É o centro da cidade, o centro da vida social, o centro do turismo, o centro de tudo, enfim. Não tem como fazer uma visita a Bruges, mesmo que por um dia, e não passar umas boas horas na Groten Markt. E foi exatamente isso que fiz. Fiquei um bom tempo por lá, admirando a arquitetura, o número de turistas, o movimento, resumindo o tudo do centro de tudo.

A praça é pequena, apenas 1 hectare, mas acredite, você vai querer permanecer por lá mais tempo do que imagina. Seja para descansar da caminhada enquanto aprecia as construções, seja para tirar muuuuitas fotos, seja para conhecer de perto as construções e suas histórias.

Na Groten Market conversei com um casal de idosos americanos que estavam felizes por fazer turismo fora dos Estados Unidos e com uma senhora nativa que me falou com toda a sinceridade, que a Bélgica e, principalmente Bruges, eram uma maravilha, um local seguro e traquilo e o que estragava eram os imigrantes! Não pude deixar de perguntar a ela de quais imigrantes ela estava falando. Afinal, quando se é turista em um local você também é um estrangeiro, assim como os imigrantes. A senhora acabou me respondendo que ela se referia aos mulçumanos, pois em sua opinião, os costumes deles não condiziam com os da Bélgica. Não é de se estranhar que após algum tempo de prováveis conflitos sociais aconteceram os ataques terroristas na Bélgica.

Como dizia meu antigo professor de francês, há alguns anos atrás, o problema social dos imigrantes muçulmanos, negligenciado pelo governo (ou nas palavras deles, totalmente ignorado) ainda iria acabar explodindo de alguma forma. Na época ele se referia obviamente à França, mas sabemos como termina (ou ainda não termina) essa questão.

Mas enfim, vamos voltar à Groten Markt e todo o seu encanto.

A construção que domina a praça é o Belfry, ou o campanário. Afinal durante séculos ele foi o principal edifício de Bruges. E é impossível não ficar impressionado com sua torre de 83 metros de altura que começou a ser erguida em 1282 e foi finalizada apenas em 1482. Como a torre sofreu inúmeros incêndios em sua história, ela só foi finalizada, com menor risco de incêndio, em 1822. Pelo bom turismo em Bruges, esperamos que o campanário continue livre de incêndios.

O Belfry, na minha opinião é bonito, mas também esquisito. Explico melhor, sem dúvida sua torre chama a atenção, mas quando se compara com o resto da construção, ou seja sua parte baixa, a impressão que dá é que a construção é desproporcional, o que dá um aspecto desajeitado. De qualquer forma, talvez seja justamente isso que dá ao campanário o seu charme, e principalmente seu aspecto único rs.

Dá para subir na torre para ter uma vista da cidade, mas para isso é preciso subir 366 degraus. A torre também possui um carrilhão com 47 sinos. O ingresso custa 8,00 euros e o horário de visitação é entre 9:30 e 17:00.

Em frente ao campanário, no meio da praça, está a estátua de 1887 dois heróis locais, Pieter de Coninck, da associação de tecelões, e Jan Breydel, da associação dos açougueiros de Bruges. Esses dois heróis lideraram as forças rebeldes flamengas contra os franceses na batalha conhecida como Golden Spurs ou Batalha das Esporas Douradas.

Essa batalha é relembrada até hoje sendo o dia escolhido como feriado nacional da comunidade flamenga na Bélgica. A batalha também foi romantizada no livro The Lion of Flanders de Hendrik Conscience, um escritor belga. Infelizmente não existe versão em português, apenas em inglês. Confesso que fiquei com vontade de ler esse livro, mas ele terá que entrar na lista de livros que desejo ler e que nunca consigo fazer diminuir (lista cresce exponencialmente inversa ao tempo livre para leitura).

A estátua dos dois heróis é mais lembrada pela batalha do que pelo massacre que a antecedeu, liderado também pela dupla. O ocorrido ficou conhecido como Bruges Matins, ou a Matina de Bruges, onde os rebeldes mataram todos os de língua francesa que não conseguissem pronunciar as palavras flamengas “schild en vriend” escudo e amigo. Toda essa história ajuda a explicar também o porquê dos nativos relutarem em falar francês, que é afinal um dos idiomas oficiais do país.

Continuando, do lado esquerdo de quem está de frente ao Belfry, ou do lado leste da praça, para quem gosta de informações mais certinhas, rs, está o belíssimo prédio da Provinciaal Hof ou Corte Provincial, construído em estilo neo-gótico em duas fases (1887-1892 e 1914-1921).

Esse prédio parece ter saído daquelas miniaturas de cidades de conto de fadas, ou de cenário de presépio medieval. Sim, ele parece de brinquedo, um brinquedo em tamanho real que deixa a praça ainda mais bonita e atraente.

O prédio do lado esquerdo foi construído originalmente pra ser a residência do governador, mas nunca foi usado para isso. Hoje ele abriga vários escritórios públicos. Já do lado direito funciona o correio.

E do lado oposto da praça estão as charmosas e encantadoras casas flamengas em estilo neo-clássico. Essas casas eram as residências dos ricos comerciantes de Bruges na sua época de principal posto comercial da região

É da Groten Markt que sai o passeio de charrete pela cidade, com exceção de quarta-feira de manhã, em que a saída é na Burg devido à feira que ocorre na Markt. Devo confessar que adoro esses passeios. Adoro charrete! E, é claro, esse tipo de passeio em Bruges, vendo a paisagem medieval misturada com os canais ao som do trote do cavalo, além de relaxante, é mágico.

Nossa cocheira era super simpática, fomos conversando e ela explicando alguns pontos da cidade. O passeio dura 30 minutos. O valor é meio salgado, são 50 euros por charrete, mas se forem em mais pessoas, dá para dividir o valor. Cabem até 5 pessoas na charrete. De qualquer forma, vai muito pelo gosto. Mesmo aqui no Brasil, sempre que posso faço esses passeios. E em uma cidade medieval se torna mais especial ainda.

Caminhando por Bruges em direção à Groten Markt

Sem dúvida, a melhor maneira de descobrir Bruges é caminhando mesmo. De preferência sem pressa, admirando a arquitetura medieval combinada com os muitos canais. E foi o que eu fiz.

Cheguei de trem em Bruges vindo de Bruxelas, há duas estações com o nome de Bruges, então é bom ter atenção para não se confundir, há a estação Bruges e a estação Bruges-Saint Pierre (ou Brugge-Sint-Pieters em neerlandês). Essa última, fica mais ao norte, em Sint-Pietersstatiedreef, no bairro Saint Pierre e, embora a distância entre as duas seja menos que 5 km, não é nessa estação que queremos descer. A estação Bruges, localizada na Stationplein 5 é a que fica mais próxima do centro histórico.

Bom, quando cheguei, o primeiro lugar em que interrompi minha caminhada foi em Oud Sint Janshospitaal, que fica a 13 minutos andando da estação. O Sint Janshospitaal, ou Hospital de São João em português, foi construído aproximadamente em 1150, o que o torna um dos hospitais mais antigos da Europa ainda preservado. As demais construções ao redor são do século XIX. O hospital foi construído para dar alojamento para peregrinos, andarilhos e vendedores ambulantes. Pessoas com doenças não contagiosas também eram aceitas.

Em 1977, o hospital foi transferido para outro prédio e hoje o local abriga um museu e outros eventos e exposições.

O museu hoje conta com várias peças de arte, instrumentos médicos e pinturas de Hans Memling, um pintor alemão que viveu a maior parte da sua vida na região de Flanders na Bélgica. Daí o seu nome de Museu Memling.

O Museu Memling é um dos menores em Brugges, mas ao mesmo tempo um dos mais interessantes por ter em sua coleção 6 pinturas de Hans Memling do século 15.

Ele abre todos os dias das 9:00 as 17:00. O ingresso custa 12,00 euros para adultos. Pessoas acima de 65 anos ou abaixo de 25 anos pagam 10,00 euros, enquanto menores de 17 anos e portadores do Museum Pass tem entrada gratuita.

A região do antigo hospital é belíssima e uma das coisas que mais me encantou foi a estátua de dois monges, conhecida como Pax. A escultura do pintor e escultor nativo de Bruges Octave Rotsaert representa dois monges dando o Beijo da Paz e foi colocada no jardim do hospital em 1947 para celebrar o fim da guerra. Uma linda escultura com uma linda história e que traz uma mensagem tão sensibilizante e atual até os dias de hoje.

Bem perto do antigo hospital, está a Onze Lieve Vrouwekerk, ou a Igreja Nossa Senhora. Com sua torre de 115,5 metros de altura, a igreja do século XIII é a construção mais alta de Bruges.

A igreja possui um grande acervo de obras de arte, e a mais famosa sem dúvida, é a Madonna e criança de 1505 esculpida por ninguém menos que Michelângelo, um dos meus artistas preferidos, se não O preferido.

É a única escultura de Michelângelo a deixar a Itália. Isso não é para qualquer um! Porém, como a igreja está constantemente em restauração, algumas obras de arte não estão acessíveis para os visitantes.

A torre da Onze Lieve é tão alta, que praticamente dá para vê-la de qualquer canto do centro histórico

A entrada na igreja é gratuita, para o museu, o ingresso é 6,00 euros para adultos. Acima de 65 anos e abaixo de 25 anos é 5,00 euros. Abaixo de 17 não paga. O horário de visitação é das 9:30 as 17:00, de segunda a sábado. Domingo a igreja abre mais tarde, às 13:30.

Continuando a caminhada, cheguei até outra igreja a apenas cerca de 240 metros da Onze Lieve, a Sint Salvatorskerkhof, ou Catedral de São Salvador. Essa é igreja paroquial mais antiga de Bruges, sendo que sua construção remonta ao século X. Inicialmente não era uma catedral até 1834, quando ganhou esse título após a destruição de Saint Donatian pelos franceses.

A igreja foi destruída por um incêndio (estava faltando algum incêndio nesse post de construções medievais né?) e reconstruída nos séculos XIII e XIV em estilo neo-gótico. Seu interior é rico e encantador. E o melhor, é permitido tirar fotos! (rs).

Esta catedral conta com alguns pontos interessantes que sem dúvida, valem a pena ver. Como por exemplo o coro gótico de 1430, o púlpito ao estilo de Luís XVI, o órgão impressionante, a capela de São Jacó com os murais do fim do século XIII até 1576, as pinturas da escola flamenga dos séculos XIV a XVII e as tapeçarias do século XVIII.

A igreja abre de segunda a sexta das 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 17:30.

Bom, depois de passar por esses lugares tão especiais, cheguei na Groten Markt, ou a Grande Praça, situada bem no centro da cidade, mas isso fica para outro post.

Bruges, o melhor trem saindo de Bruxelas (ou o melhor de Bruxelas)

O título desse post é uma piada a respeito dos muitos comentários negativos que ouvi sobre Bruxelas. Antes de me aventurar pela capital da Europa pela primeira vez, perguntei algumas dicas para conhecidos que já haviam visitado ou morado em Bruxelas.

O que mais ouvia era “Bruxelas é ótimo, você pode ir lá e pegar o trem para Bruges

“Mas… e Bruxelas, o que você tem a me dizer de lá?”

“Então, você vai para lá e pega o trem para Bruges!”

E assim continuavam as muitas dicas sobre Bruxelas. Como já escrevi nos posts anteriores, eu realmente gostei muito da capital belga e, sendo assim, o tempo não me permitiu pegar o melhor trem logo de cara. Apenas na minha segunda viagem à Bélgica que consegui incluir Bruges no meu roteiro.

E realmente, Bruges não decepciona. Essa palavra aliás nem deveria estar na mesma frase que Bruges, rs. A cidade é de fato um encanto, um charme, um conto de fadas medieval muito bem preservado. Já deu para ver que eu me apaixonei por Bruges, assim como tenho certeza que muitos, se não todos, os que tem a felicidade de conhecer essa linda cidadezinha, situada na região flamenga do país, também se apaixonaram.

É muito fácil fazer um bate e volta na cidade a partir de Bruxelas, foi o que eu fiz. Mas imagino que se hospedar por lá tenha sim o seu charme. Na verdade, só de pensar já me dá vontade de fazer isso em uma próxima vez, rs.

Saindo de Bruxelas pela estação Bruxelles-Midi, em um sábado por exemplo, há vários horários de trem que cobrem entre 6:03 a 9:00, com duração entre 0:57 e 1:04. Ah, eu adoro essa precisão nos horários de trem na Europa….

Se você clicar no site da Eurail Pass, verá as muitas opções de horários saindo também das demais estações. Mesmo da estação mais longe, a viagem não durará mais que 1 hora e 15 minutos. Para quem vai de carro, o tempo pode variar conforme as paradas, mas não será muito mais que isso, afinal são apenas 96,6 km. Bom, eu fui de trem porque curto muito as viagens de trem, além de não ter que me preocupar com estrada e, principalmente, estacionamento em cidades históricas.

E Bruges é uma cidade histórica! Como já mencionei é uma cidade medieval e teve seu centro histórico tombado como patrimônio mundial pela UNESCO, em 2000.

Além de tudo isso, Bruges ainda foi eleita a capital cultural da Europa em 2002, ao lado de Salamanca, da Espanha.

Não é à toa, que em seu livro 1000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer, Patricia Schultz define a cidade como um lugar onde o relógio parou alguns séculos atrás.

Essa linda cidade medieval na região de Flandres tem apenas 117 mil habitantes. É conhecida como Veneza do Norte por causa dos canais que cortam a cidade. Fazendo um parênteses aqui, são tantas cidades que se intitulam como Veneza do Norte que fica até difícil saber qual a “verdadeira cópia” da inigualável Veneza.

Como Bruges fica na região flamenga, o idioma dominante lá não é o francês e sim o neerlandês ou flamengo, que é mais parecido com o holandês (possuem a mesma origem) . Essa questão do idioma parece ser bem sensível para eles. Quando cheguei na estação de trem, pedi informações a um senhor que encontrei. Perguntei a ele se poderia falar francês lá e ele me respondeu sorrindo e de maneira bem simpática que eu poderia sim falar francês com qualquer um e as pessoas me responderiam educadamente, mas que se ele falasse francês, os nativos seriam rudes com ele pelo simples fato dele ser belga, e que portanto deveria saber que naquela região o idioma oficial é o neerlandês e não o francês.

Interessante essa questão de cultura não é? Ouvi coisa semelhante na França, uma senhora me falou que eu poderia falar francês errado e que as pessoas entenderiam, mas que se ela falasse errado e trocasse os pronomes Vous (tratamento mais formal) por Tu (tratamento mais informal), isso seria visto como uma grande falta de educação. E ela me disse isso justamente para me dar a liberdade de trata-la como Tu e não Vous, embora, nessa época eu só soubesse conjugar os verbos para o pronome vous, rs.

Bom, enfim, seja para falar francês, inglês, neerlandês ou até mesmo o portunhol amigo; seja para fazer bate e volta ou para curtir mais alguns dias; seja para apreciar arte e história ou para andar em seus canais; seja para ser o único motivo para ir à Bruxelas ou mais um motivo, não importa, Bruges sempre será uma ótima opção, uma linda cidade que com certeza agradará a todos os gostos.

Para saber mais:

Visit Bruges

Discover Bruges

Visit Flanders