Casablanca, play it again Sam

 

Não, essa não é a frase dita, assim como o filme não foi gravado em Casablanca. A frase correta é “Play it once Sam” e o filme foi inteiramente gravado nos estúdios de Hollywood. Bom, seja como for, o filme contribuiu bastante para aumentar a fama da cidade.

Casablanca ou Dar el Baida é a capital econômica do Marrocos e a segunda maior cidade da África, depois do Cairo. Mais de 10% da população do país mora em Casablanca, correspondendo a mais de 3 milhões de habitantes.

A origem da cidade foi provavelmente como um posto de comércio Cartagiano conhecido como Anfa.

O porto existente no local era usado, dentre outras coisas, para a pirataria. O local foi dominado pelos árabes liderados pelo sultão Abd al-Mumin que derrotou os povos bérberes nativos do Marrocos.

A pirataria praticada nos portos, bem como sua localização estratégica, atraiu a atenção dos portugueses, que acabaram por invadir a cidade.

Casablanca foi destruída 2 vezes, em 1468 e 1515. Sessenta anos mais tarde, os portugueses reconstruíram a cidade.

A primeira casa erguida era branca, devido ao material usado na construção, o que originou seu nome: Casa Branca.

Como cada cidade no Marrocos tem uma cor que a representa, a cor de Casablanca não poderia ser outra que não a branca. Sendo assim, as construções da cidade seguem essa cor.

Os portugueses permaneceram em Casablanca por mais de 2 séculos, até o terremoto de 1755, muito comentado até hoje pelos guias locais.

Após a retirada dos portugueses, o sultão Mohammed ben Abdallah reconstruiu a cidade e deu-lhe o nome árabe Dar el Beida. Quando os espanhóis se instalaram no local, no final do século 18, rebatizaram a cidade com o nome Casablanca, que permanece até hoje.

Portão da medina de Casablanca

Fui para Casablanca em novembro de 2010. Foi a primeira cidade marroquina que visitei. No início fiquei preocupada com a temperatura, pois é quase inverno no hemisfério norte e muitos guias falavam de chuvas nessa época do ano no Marrocos.

Avenidas largas e limpas na parte nova de Casablanca, a Ville Nouvelle

Felizmente choveu apenas uma noite e a temperatura estava ótima. Não fazia tanto calor durante o dia e à noite a temperatura era amena, uma blusa de frio era mais do que suficiente. Portanto recomendo essa época para quem quiser conhecer as cidades imperiais.

Já para o deserto ou montanhas, o melhor é viajar até no máximo outubro, pois as noites no deserto podem ser bem geladas e as chuvas nas montanhas, além do frio, prejudicam muito quem deseja fazer alpinismo.

Embora seja menos turística que Fès ou Marrakech, Casablanca não deixa de ser um destino agradável. Porém não é necessário mais do que dois dias na cidade. Melhor gastar mais tempo em Marrakech.

Casablanca é uma cidade mais moderna, quando comparada com outras cidades do Marrocos. As principais indústrias do país se concentram ai. A cidade é mais cosmopolita e também mais ocidentalizada. Vi algumas mulheres sem véu e nenhuma usando a burca, bem como casais andando de mãos dadas.

Brasil, sempre presente

O trânsito, assim como em muitas cidades grandes, é caótico. Ouve-se uma sinfonia de buzinadas quase o tempo todo.

Para se locomover na cidade, pode-se pegar os taxis que não são caros. Existem os taxis brancos chamados de Grand Taxi que percorrem um trecho definido, normalmente periferia-centro. Os taxis vermelhos são chamados de Petit Taxi e funcionam como os nossos taxis, com taxímetro.

Aliás é sempre bom conferir se o taxímetro está funcionando antes de pegar o taxi. Preços fechados combinados antes geralmente saem mais caros do que quando se usa o taxímetro.

Marché Central

Um lugar divertido e característico para se visitar em Casablanca é o Mercado Central (Marché Central). É o principal mercado no centro da cidade. Foi criado durante o protetorado francês para satisfazer as necessidades dos europeus. Hoje em dia é frequentado por marroquinos e turistas curiosos.

Entrada do Marché Central

Mesmo para quem não deseja comprar nada, vale a visita. No mercado encontram-se bancas de flores, peixes, mariscos, frutas, secas, especiarias e outras coisas que fazem parte do coditiano marroquino.

Lá se vê o preparo dos peixes, a forma como são armazenados nas bancas (sem muito conhecimento dos conceitos de vigilância sanitária…) e principalmente muitos gatos rondando as bancas de peixes e roubando alguns pedacinhos que caem ou que sobram nas bacias onde grandes peixes como o peixe espada são lavados e cortados, se necessário.

Frutas frescas em uma banca típica
Peixes dispostos como em uma pintura em uma das muitas bancas de peixe do Marché Central

Pode parecer um destino não muito convidativo, visitar mercados e suas bancas. Porém, acredito que são nesses lugares que se vê  e se sente o puro espírito de um lugar e seu povo.

O mercado mistura os diferentes  e agradáveis odores das especiarias e frutas frescas com o cheiro forte, que dispensa qualquer descrição, dos peixes. Lá se vê pessoas do lugar em suas atividades coditianas em um cenário próprio e não em um daqueles especialmente projetados para atrair turistas, aqueles que representam o país apenas de forma superficial.

É o local onde Latifa vende seus peixes frescos aos Abdallahs e Alis de Casablanca.

A diversidade de cores e odores das especiarias marroquinas

Por estes e outros motivos que gostei bastante de visitar esse mercado e recomendo o passeio para quem for a Casablanca.

O Marché Central se localiza na Rue Chaouia e fica aberto entre 6:00 e 14:00. Há uma entrada também no Boulevard Mohammed V.

Filhotes a procura de sobras de peixes. Os donos das bancas também oferecem pequenos pedaços aos bichanos

Boulevard Mohammed V

Na região do Boulevard Mohammed V pode-se ver lindas construções típicas de Casablanca, de estilo Art-Déco (abreviação de arts décoratifs) em combinação com o estilo mouro. A arquitetura art-déco foi uma idealização francesa em conjunto com a arte mouravida já existente no Marrocos.

Art déco foi um movimento popular internacional de design de 1925 até 1939. Este estilo afetou as artes decorativas, arquitetura, design de interiores e desenho industrial, assim como as artes visuais, moda, pintura, artes gráficas e cinema. Este movimento foi, de certa forma, uma mistura de vários estilos e movimentos do início do século XX, incluindo construtivismo, cubismo, modernismo, bauhaus, art nouveau e futurismo.

Boulevard Mohammed V. Mohammed V era o avô do atual rei do Marrocos: Mohammed VI.

A Art déco também procurou inspiração no estilo tradicional marroquino, e por sua vez, teve uma grande influência mais tarde na arquitetura moura, como as janelas, escadas e varandas de ferro fundindo e desenhos florais, geométricos ou de animais em frontões e frisos.

A sua popularidade na Europa foi durante os anos 20 e continuou fortemente nos Estados Unidos através da década de 1930. Ao contrário de muitos movimentos de design que tiveram suas raízes em intenções filosóficas ou políticas, a Art Déco foi meramente decorativa, sendo visto como estilo elegante, funcional e ultra moderno.

Durante o protetorado francês, os franceses residentes eram proibidos de morar nas casas existentes dentro da medina (cidade antiga). Assim, os arquitetos franceses foram construindo casas e edifícios públicos nos bairros novos, chamados de Ville Nouvelle. Essas construções seguiam o então estilo da época, a Art-Déco.

Exemplo da arquitetura Art-Déco de Casablanca

Um belo exemplo da combinação do estilo mouro e art-déco é o Hôtel Lincoln, situado no Boulevard Mohammed V em frente ao Marché Central. O edifício foi construído em 1916 e infelizmente encontra-se hoje em ruínas. Conforme descrito no guia Lonely Planet, “o prédio está pacientemente à espera de uma tão falada restauração“.

Hôtel Lincoln a espera de uma necessária restauração

O Hôtel Lincoln já foi cenário para um filme americano sobre a guerra na Somália. Em 2006, o jornal La Gazette du Maroc publicou uma matéria sobre a promessa de restauração e sua lentidão em começar: Hôtel Lincoln à Casablanca : L’histoire réhabilitée (Hôtel Lincoln em Casablanca: a história restaurada).

É realmente uma pena que um edifício tão belo, um exemplo de uma arquitetura tão rica, esteja nesse estado de deterioração.

Detalhe da fachada do Hôtel Lincoln

Place Mohammed V

Próxima ao Boulevard Mohammed V, está a Avenida Hassan II. Esta avenida leva até a Place Mohammed V, antigamente conhecida por Place des Nations Unies. Esta praça rodeada de prédios públicos é o coração de Casablanca e o local onde as principais ruas e avenidas se cruzam. Na praça também há uma fonte musical com jatos de água coloridos e muitos aguadeiros a espera de turistas querendo tirar fotos e seus dihans (moeda do Marrocos).


Aguadeiro na praça Mohammed V

 

Aguadeiros são pessoas vestidas com roupas e chapéus coloridos. Antigamente não havia água dentro da medina e eram os aguadeiros que levavam água até os moradores que lá habitavam. Eles carregam um recipiente com água e várias “canecas” de metal penduradas no pescoço.

Hoje em dia, eles ainda vendem água, mas a principal atividade desses aguadeiros é realmente tirar fotos com os turistas.

Quando chegamos na praça, eles se aproximam rapidamente já se preparando para as fotos. Em troca, lógico, pedem dihans, uma prática comum por todo o Marrocos. Se desejar tirar fotos, deve-se pagar por elas.

 

Quanto pagar para os aguadeiros ou performistas é sempre uma dúvida para os viajantes. Em geral pode dar entre 10 e 20 dihans. É claro que o valor vai depender da quantidade de fotos tiradas. Mais fotos, mais dihans. Na dúvida, combine antes o valor das fotos.

Embora eu tenha lido em vários sites e blogs que os performistas e aguadeiros ficam agressivos se a pessoa não paga ou se o valor dado é baixo, eu particularmente não presenciei isso em Casablanca, já em Marrakech a coisa muda um pouco.

Mas não há motivos para preocupação em demasia. Quem quiser tirar fotos, pode tirar calmamente.

Para ter uma idéia do valor, 11 dihans correspondem a cerca de 1,00 euro.

Por outro lado, quem não quiser tirar fotos, deve deixar isso bem claro, pois os marroquinos sabem ser bem insistentes.

Estando na Place Mohammed V, do lado esquerdo (de quem vem da Boulevard Mohammed V) está o Palais de Justice (Palácio da Justiça), construído em 1925. A enorme porta principal e a entrada foram inspirados no  iwan persa, que define-se como um corredor ou espaço abovedado, fechado entre três paredes, estando a quarta parede inteiramente aberta ao exterior.

Palais de Justice na Place Mohammed V

A praça ainda é rodeada por outros prédios públicos seguindo um estilo racional planejado pelos arquitetos franceses Henri Prost e Robert Marrast que planejaram o desenho da praça para uma população de 150 mil, o que era um número muito maior do que o número de habitantes em 1924. Porém a população crescente de Casablanca ultrapassou a estimativa logo em 1923.

Henri Post é o principal responsável pelo estilo arquitetônico de Casablanca. Ele combinou o estilo tradicional marroquino com idéias de urbanização européias existentes na época.

Prédio público na Place Mohammed V

Outras construções que chamam a atenção próximas à praça são: o prédio da sede da agência de correios, inaugurado em 1919. Um maravilhoso edifício facilmente reconhecido pelos arcos e colunas de pedra, pelos mosaicos azuis e pelo teto e lustre de bronze; o Banque al Maghrib, claramente em estilo tradicional marroquino, sendo o último edifício construído na praça; e, por último o prédio da Ancienne Préfecture, de 1930. Conhecida como Wilaya, a construção em estilo colonial francês possui uma torre de 50 metros com um relógio no alto.

Ancienne Préfecture ou Wilaya

Continuando na Avenida Hassan II, no cruzamento com o Boulevard Moulay Youssef, encontra-se o Parc de la Ligue Arabe. Esse parque foi criado em 1918 com o objetivo de formar na cidade um “oásis” de descanso, diversão e local para caminhada.

As belas palmeiras ladeando a avenida criam um ambiente tranquilo que contrasta com o burburinho da cidade. É um lugar que convida para uma agradável caminhada.

Parc de la Ligue Arabe

Aïn Diab, a praia

A praia de Casablanca fica no bairro Aïn Diab. A praia começa próximo da velha Medina, passa pela Mesquita Hassan II, e continua por cerca de 3 Km. No entanto, a maior atração de Aïn Diab não é tanto o mar, mas sim os clubes existentes no Boulevard de la Corniche. Essa região muito agradável é repleta de hotéis/clubes com piscinas, normalmente preenchidas com água do mar filtrada, restaurantes, bares e discotecas.

Esteiras de um clube no Boulevard de la Corniche

Com vista para a praia, no Boulevard de la Corniche, também se encontram as villas, que são as grandes e bonitas casas de sauditas afortunados.

As praias parecem ser mais frequentadas por turistas do que por nativos e não deixa de ser interessante ver, no mesmo ambiente, a presença de turistas de biquines no meio de mulheres com véus.

Villas em Aïn Diab

O Boulevard de la Corniche é uma região muito agradável para uma caminhada no calçadão repleto de nativos com suas famílias e turistas contentes. Nesse local se encontram vários restaurantes. Uma boa dica é pedir peixes ou frutos do mar, uma vez que Casablanca fica no litoral e o peixe é sempre fresco. Deixe para comer as comidas típicas como o tajine ou cuscuz nas outras cidades, mesmo porque corre-se um sério risco de se cansar de comê-los todos os dias.

Mais informações:

http://www.casablanca.ma

http://www.morocco.com

http://www.visitmorocco.com

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