Caminhando pela Berlim Oriental na bela Unter den Linden

Atravessando a Hackescher Markt, descrita no post anterior de Berlim, e seguindo em frente, logo se chega à Burgstraße, de onde já se avista a bela Berliner Dom, também já mencionada em outro post.

Nessa região, em frente à Berliner Dom, há uma bonita praça chamada Lustgarten, um grande espaço aberto com uma simpática fonte no meio. A praça, cujo nome significa Jardim do Prazer, era anteriormente a horta do palácio de Brandenburger existente no local e que era o centro do reino da Prússia no século 16.

Lustgarten vista do domo da Berliner Dom

O formato atual da Lustgarten, no entanto, é recente, a praça foi remodelada em 1999. O local é usado hoje para paradas, manifestações e local público para diversão. Em uma das ocasiões em que estive lá, assisti um grupo de adolescentes ligando um som portátil para em seguida dançar várias coreografias. Era algo bem ao estilo dos filmes teens da Sessão da Tarde. Se fosse em um shopping seria como um episódio do Glee.

De frente à Lustgarten está o Altes Museum e, logo atrás deste estão os museus Bodemuseum, Alte Nationalgalerie e o Pergamonmuseum. É a Museumsinsel, Ilha do Museu, um complexo formado por estes 4 museus e que será assunto para um próximo post sobre Berlim.

Bom, cruzando a Lustgarten, chega-se na Schlossbrücke, a Ponte do Palácio, construída em 1824. Essa ponte levava ao palácio antes existente na Museumsinsel. Ela é considerada a ponte mais bonita de Berlim, e com razão.

Schlossbrücke, a Ponte do Palácio, que dá acesso à Unter den Linden

Esta bela ponte, construída sobre um trecho do rio Spree, se liga à Unter den Linden. Ela foi projetada pelo principal arquiteto de Berlim na época, Karl Friedrich Schinkel. Ele foi responsável por várias importantes construções e monumentos do início do século 19, incluindo o Altes Museum, a Neue Wache e o Schauspielhaus, todos desenhados em estilo neo-clássico.

O que mais chama a atenção na ponte são as belas estátuas existentes sobre os pilares de granito.

As estátuas foram também desenhadas por Schinkel, usando mármore branco de carrara, e adicionadas na ponte em 1853.

A inspiração para elas foram os deuses e heróis gregos. O conjunto de estátuas mostra a vida de um herói desde sua juventude até a idade adulta, com sua morte no campo de batalha e subida ao Monte Olimpo, morada dos deuses.

Abaixo dos pilares com as estátuas gregas, há uma balaustrada feita em ferro fundido e decorada com criaturas marinhas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as estátuas foram desmontadas e guardadas em um depósito na Berlim Oriental.

Retornaram ao posto original somente em 1981, após um acordo entre os lados ocidental e oriental.

Cruzando a Schlossbrücke, em direção à Lustgarten, a ordem das estátuas é:

1 – A deusa Nike instruindo o jovem heroi;

2 – A deusa Palas Atenas ensina o herói a arte de atirar lanças;

3 – Atenas prepara o guerreiro para sua primeira batalha;

Estátuas gregas na Schlossbrücke. Fonte: A view on cities

4 – Nike coroa o guerreiro.

No lado oposto:

5 – A deusa Nike apóia o guerreiro ferido;

6 – Palas Atena incita o guerreiro para a batalha

7 – A mesma deusa o protege do inimigo;

8 – Iris carrega o herói morto para o Monte Olimpo.

Após a Schlossbrucke chegamos à Unter den Linden, uma avenida linda e muito agradável para caminhar. É sem dúvida um dos lugares que mais gosto em Berlim.

Esta é a avenida mais bonita e também uma das mais importantes da cidade. Ela se estende por 1,5 km desde a ponte Schlossbrucke na Museumsinsel até o Brandenburger Tor na Pariser Platz

Unter den Linden fica no coração da área histórica de Berlim. A avenida foi feita no local onde havia uma trilha de cavalos estabelecida pelo duque Friedrich Wilhelm, conhecido como Grande Elector, no século 16 para chegar ao seu local de caça no Tiergarten.

A trilha foi substituída por uma avenida com árvores de tílias plantadas em 1647, estendendo-se desde o palácio até os portões da cidade. As tílias deram origem ao seu nome: Unter den Linden ou Sob as Tílias, pois quando Friedrich Wilhelm se dirigia para o campo de caça em Tiergarten, sua carruagem ia Sob as Tílias plantadas ao longo do caminho.

Mapa da Unter den Linden. Fonte: Wikipedia

Um século mais tarde Friedrich II expandiu a avenida com a construção de prédios culturais como a ópera e a biblioteca, tornando o lugar ainda mais popular. No século 19, a Unter den Linden já era um dos lugares mais visitados em Berlim, porém no final da Segunda Guerra Mundial, a avenida virou palco de ruínas e escombros.

As famosas tílias foram cortadas e usadas para fazer fogueiras nos últimos dias da guerra.

Início da Unter den Linden com 0 Alte Kommandantur aparecendo ao fundo

A razão para essa avenida ser tão famosa é sem sombra de dúvida as belas construções em estilo barroco e neo-clássico. Também há alguns palácios antigos restaurados após a Segunda Guerra Mundial que são usados hoje como prédios públicos.

Saindo da Schlossbrucke, o primeiro prédio na Unter den Linden à esquerda é o Alte Kommandantur (Antigo Comando). O edifício foi totalmente destruído no final da II Guerra Mundial, mais tarde deu origem ao Ministério de Assuntos Estrangeiros na Alemanha Oriental. Em 2003, o prédio foi reconstruído basendo-se em fotos e relatos de antes da guerra.

Ao lado do Alte Kommandantur se vê a bela construção em estilo neo-clássico do Kronprinzenpalais (Palácio do Príncipe herdeiro). Originalmente construído em 1663, foi remodelado no século 19 para servir como moradia ao príncipe Wilhelm. O palácio também serviu como lugar de exposições sendo vistado regularmente por Albert Einstein.

Em virtude dos estragos causados pelos bombardeios ocorridos na II Guerra Mundial, o Kronprinzenpalais teve que ser reconstruído em 1968, sendo usado como casa de hóspedes para visitantes do estado comunista.

O famoso acordo de reunificação da Alemanha foi feito no palácio em 31 de agosto de 1990. Hoje em dia, o prédio abriga algumas das mais importantes exposições da Alemanha, incluindo algumas polêmicas como a exposição de 2006 que mostrava o retorno dos alemães da Europa Oriental no pós-guerra e que resultou no cancelamento da visita do prefeito de Varsóvia a Berlin.

Em frente ao Alte Kommandantur e o Kronprinzenpalais, do outro lado da avenida, tem-se o lindo prédio em estilo barroco de fachada rosa e imponentes estátuas na frente. É o Zeughaus Deutsches Historisches Museum, construído em 1706 por Friedrich III de Brandenburger.

O prédio funciona como Museu de História Alemã desde 1952. O térreo mostra a história desde 1918 até os dias atuais, o primeiro andar contém coleções que datam do início da história até o século 20, enquanto a parte mais recente abriga exposições temporárias. Entre as peças mais famosas estão 22 esculturas barrocas de máscaras de guerreiros mortos esculpidas por Andreas Schlüter.

Ao lado do Zeughaus, está uma construção menor, porém que chama a atenção. Chegamos agora ao Neue Wache, memorial de Guerra construído em 1816. Este memorial é considerado um dos melhores exemplos da arquitetura neoclássica em Berlim desenhado também por Karl Friedrich Schinkel, o mais famoso arquiteto da Prússia.

O memorial é facilmente reconhecido pelo pórtico dórico existente na frente. Acima há um friso com deuses gregos esculpidos em baixo-relevo exibindo cenas de batalha.

O monumento foi originalmente usado como uma guarita real para as tropas do príncipe da Prússia, mas, após 1931, se transformou em um monumento aos soldados mortos durante a guerra. Após a reunificação o memorial ficou sendo dedicado à todas as vítimas da guerra e da tirania.

No interior do memorial há uma chama eterna e uma placa de granito sobre as cinzas de um soldado desconhecido, um combatente da resistência e um prisioneiro do campo de concentração.

A entrada no mausoléu é gratuita, o horário para visitação é entre 10 e 18 horas.

Continuando nossa caminhada pela Unter den Linden, do lado direito de quem está indo em direção ao Brandenburger Tor, ao lado do Neue Wache, temos a Humboldt Universität, a universidade mais antiga de Berlim.

A construção é mais um exemplo de arquitetura neoclássica desenhada por Schinkel. A universidade foi criada em 1810 e tornou-se um lugar importante de estudo em Berlim. O local atraiu professores famosos, como os filósofos Georg Hegel e Arthur Schopenhauer, os Irmãos Grimm e Albert Einstein. Alguns de seus alunos também foram famosos como Karl Marx and Friedrich Engels.

Na frente da Universidade Humboldt se vê a estátua de Alexander von Humboldt. Alexander e seu irmão Wilhelm ocupavaram diversos cargos no governo. Foi no seu mandato que a Universidade de Berlim, mais tarde renomeada Universidade Humboldt, foi construída para o príncipe Heinrich da Prussia.

Do lado oposto da Unter den Linden se vê o belo prédio da Staatsoper Unter den Linden, a ópera de Berlim, mais um edifício neoclássico, construído em 1743.

Após um incêndio, a ópera foi restaurada em 1843. Depois da Segunda Guerra Mundial, a ópera teve que ser reconstruída entre 1952 e 1955.

A Staatsoper já serviu como palco para peças famosas, sendo que um de seus diretores foi ninguém menos que Richard Strauss.

Logo ao lado da Staatsoper está a Bebelplatz, inicialmente chamada de Opernplatz, Praça da Ópera. A praça foi desenhada por Georg von Wenzeslaus Knobelsdorff com o objetivo de espelhar a grandeza de Roma antiga.

A Bebelplatz ficou mundialmente famosa pois, em 10 de maio de 1933, ela foi palco da queima de livros organizada pela propaganda nazista. O resultado foi a destruição de 25.000 livros escritos por autores considerados inimigos do Terceiro Reich. Entre os livros queimados haviam trabalhos de Thomas Mann, Robert Musil, Lion Feuchtwanger e Karl Marx.

Hoje, um memorial de Micha Ullman constituído por uma placa de vidro inserida entre os paralelepípedos e um fundo que mostra estantes vazias faz referência a esse péssimo evento nazista.

Lá também está escrito “Onde se queimam livros, acabam por queimar pessoas” (Heinrich Heine, 1820). Parece que o poeta autor dessas palavras já estava prevendo o futuro da Alemanha nazista.

Os alunos da Universidade Humboldt realizam uma venda de livros na Bebelplatz todos os anos na data do aniversário do triste evento.

Ainda neste mesmo lado, logo após a Bebelplatz, está a Alte Bibliothek (Biblioteca Antiga em alemão), que faz parte da Humboldt Universität. A biblioteca é chamada pelos berlinenses de Kommode que significa cômoda, devido à sua fachada côncava.

Ao contrário da maioria das construções existentes na Unter den Linden, a Alte Bibliothek possui um estilo barroco, desenhado por Georg Christian. A Antiga Biblioteca foi construída em torno de 1775 para abrigar a coleção da biblioteca real. O prédio agora abriga a Faculdade de Direito da Humboldt Universität.

Nesse ponto, a Unter den Linden se transforma em um bonito boulevard, com muitas árvores dividindo as pistas e fornecendo um agradável lugar para caminhar ou andar de bicicleta, algo muito comum em Berlim, já que suas avenidas planas e a existência de ciclovias por todos os lugares faciliam a vida de quem gosta de andar de bicicleta.

Aliás, em Berlim não há restrições de idade para pedalar pela cidade. É comum ver pessoas mais velhas pedalando pelas ciclovias e parques.

Também há vários bancos para quem quiser descansar um pouco da caminhada feita até agora.

Logo no início do calçadão, se vê a estátua eqüestre do rei prussiano Frederick o Grande, completada em 1851, 20 anos após o desenho do monumento ter sido feito. Essa imponente estátua é conhecida pelos berlinenses como “Alte Fritz”.

Os historiadores dizem que foram precisos aproximadamente 70 anos, 40 artistas e 100 desenhos para chegarem ao modelo final da estátua. Além dos 20 anos de dedicação do criador Christian Daniel Rauch a este único projeto.

Há outros prédios também famosos e igualmente bonitos de serem vistos na Unter den Linden, como Komische Oper, as embaixadas da Rússia e da Hungria e o Adlon Hotel, porém descrevi aqui aqueles que eu mais gostei.

A Unter den Linden termina na Pariser Platz, onde se encontra o magnífico Brandeburger Tor, que pode ser avistado de longe. Esse lindo portão, símbolo de Berlim e da Alemanha como um todo, será descrito no próximo post.

Em resumo, aconselho para quem estiver indo para Berlim que reserve um tempinho para caminhar calmamente pela Unter den Linden e apreciar todos os belos edifícios neoclássicos ou barrocos. São construções que fizeram parte da história da Alemanha e, de algum modo, também da história do mundo.

9 pensou em “Caminhando pela Berlim Oriental na bela Unter den Linden

    1. Obrigada Alessandro. Vou continuar postando sobre Berlim. Espero poder sempre ajudar quem ama viajar.

  1. This is a very very good read for me, Must admit that you are a single of the greatest bloggers I ever saw.Thanks for posting this informative article.

  2. Estou em Berlin, nao entendo nada da lingua alema e este relato me ajudou muito a entender as coisas daqui. Agradeco pela iniciativa.

  3. Valéria,
    Adorei suas dicas e queria imprimi-las para eu poder levá-las para Berlim.
    Como faço?
    Estou indo no final do mês.

    1. Olá Cida,
      Você pode imprimir diretamente do browser. Selecione a parte que você tem interesse e clique em imprimir ou Ctrl + P. Boa Viagem.

  4. Valéria, Du bist eine inteligent Madschen.
    Send sie mich photo des Deutschland
    Aufdersehen- NELSON BRASILIEN – RIO DE JANEIRO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.