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Museu do Louvre (parte 4) – Chegamos no segundo e último andar

Depois de admirarmos a arquitetura e história do Louvre, voltarmos no tempo com as civilizações antigas do piso térreo (rez-de-chaussée) e nos maravilharmos com as belíssimas pinturas e o luxuoso apartamento de napoleão no primeiro andar, chegou a hora de subirmos para o segundo e último andar do Louvre. O acesso é feito pelas alas Richelieu e Sully, e por isso, vamos inverter a ordem e começar dessa vez pela Ala Richelieu (lado esquerdo do Louvre), já que foi a última ala que visitamos no primeiro piso e a ala Denon (lado direito) não está aberta ao público nesse andar.

 

 

Na ala Richelieu encontramos pinturas do norte da Europa, especialmente da Escola Flamenga, Holandesa e Alemã dos séculos XV ao XVII. Vemos então pinturas de Rembrandt, Vermeer, Rubens, Bosch, Bruegel, Hals e Van Dyck. São tantos que fica até difícil escolher de qual falar.

Vamos começar então pelo mestre do claro-escuro, Rembrandt. Atualmente 18 obras suas estão expostas no Louvre. Na sala 844 encontramos Betsabá no Banho, óleo sobre tela de 1654. A obra mostra a Betsabá, alvo da paixão de Davi. Ela segura tristemente a carta anunciando a morte de seu marido Urias que foi enviado à guerra por Davi. O dilema moral Betsabá mostrado na pintura foi descrito como uma das grandes conquistas da pintura ocidental. Sem dúvida uma obra que transmite toda a dor e arrependimento da recente viúva.

Outra obra belíssima é A Rendeira de Vermeer, óleo sobre tela pintada por volta de 1670 (sala 837). A pintura é considerada uma das mais delicadas e refinadas do artista, bem como intimista e sensível. Provavelmente por representar virtude doméstica e concentração feminina, aliado a um moralismo religioso, valores muito importantes na sociedade holandesa da época. Reza a lenda que a mulher retratada era uma dona de casa de alta posição social e não realmente uma rendeira profissional. Rendeira de fato ou não, a verdade é que o quadro é lindíssimo.

Uma obra que acho particularmente divertida é O Agiota e sua Esposa, uma pintura a óleo sobre madeira de 1514 do mestre flamengo da Renascença Quentin Matsys. O motivo disso é que, quando criança possuía uma coleção de 4 livros chamada Reino Colorido da Criança. Grande parte das histórias e contos de fada ricamente ilustradas mostravam pessoas muito parecidas com as desse quadro, tanto as roupas quanto as expressões. Essas histórias e ilustrações permearam minha imaginação por muitos anos e até hoje, quando vejo pinturas como essa, me lembro delas.

O Agiota e a sua Esposa, também conhecido como O Cambista e Sua Mulher, é uma das primeiras cenas de quotidiano da história da arte. Enquanto o homem pesa as moedas, sua esposa ao seu lado folheia um livro de oração sem grande interesse, já que sua atenção está mais voltada ao dinheiro. Isso também traz um ar cômico ou de crítica à pintura.

 

 

Na sala 809 encontramos o Autorretrato de Dürer. Pintado em 1493, é o primeiro dos autorretratos pintados por Dürer e foi identificado como um dos primeiros autorretratos pintados por um artista do Norte. Foi após suas inúmeras viagens à Alemanha, Holanda e, sobretudo, Itália, que Dürer entrou em contato com o Renascimento, o que influenciaria sua pintura até então marcada pelo estilo gótico.

O ramo em sua mão direita é considerado símbolo de fidelidade conjugal e parece fazer referência ao seu futuro casamento com Agnes Frey, a quem a pintura foi dada. O artista possui um olhar melancólico e pensativo em uma obra que para mim é como uma poesia pintada ao invés de escrita.

Na ala Richelieu também há obras de pintores ingleses como William Turner e John Constable do romantismo e Joshua Reynolds do rococó. Destes, o meu favorito é Turner. Suas obras me transmitem calma e leveza com as cores suaves e contornos delicados. De alguma forma ele me faz lembrar de um dos meus pintores favoritos, Monet, talvez pelo uso das cores de maneira tão harmoniosa e sensível.

 

 

Nessa ala ainda encontramos obras de mestres barroco como do espanhol Bartolomé Esteban Murillo com seu tocante O Jovem Mendigo de 1647 (sala 831). O quadro reflete a pobreza das muitas crianças abandonadas nas ruas de Sevilha. Estranhamente pinturas de crianças em situação de pobreza eram muito apreciadas em Flandres devido à longa tradição flamenga de cenas de gênero populares, incluindo cenas de taverna. É a romantização da pobreza acontecendo desde sempre. A pintura foi copiada por muitos artistas. Somente no Louvre existem 77 copistas registrados, com obras do período entre 1851 e 1853. Dentre os admiradores dessa sensível pintura estão nomes como Bonvin, Carpeaux, Cézanne e Fantin-Latour.

 

 

Seguimos agora para a Ala Sully com pinturas de mestres como Monet, Corot, Cézanne, Boudin, Toulosse-Lautrec, Sisley, Renoir e tantos outros. Aqui vou deixar de lado minha paixão por Monet para destacar uma obra de Cézanne, L’Estaque, efeito noturno (sala 903). Essa pintura consegue transmitir toda a dureza da rocha. É realmente impressionante. Talvez as rochas quisessem mostrar a difícil personalidade do seu autor.

 

 

Outra obra de uma beleza delicada contrapondo a dureza da rocha nessa mesma sala é Paisagem de Jean-Baptiste Corot, um título interessante uma vez que muitas de suas obras retratam paisagens. Fico impressionada como o uso de uma única cor, porém em diferentes tons, consegue retratar tão bem a relva, grama, folhas e toda a vegetação. Os tons das nuvens e a única pessoa presente no cenário remete a um estado de paz e silêncio. Conseguimos quase sentir a brisa úmida e o cheiro da relva.

 

 

O agradável e cheio de fofuras estilo Rococó também se faz presente na ala Sully com obras como a doce A Lição de Música de Jean-Honoré Fragonard e a romântica Embarque para Citera de Jean-Antoine Watteau que celebra o amor e o prazer com casais apaixonados partindo para a ilha mítica de Citera, o local de nascimento de Vênus, simbolizando assim a natureza temporária da felicidade humana.

 

 

O Orientalismo celebrado após as campanhas de Napoleão é bem representado com obras de Dominique Ingres como A Banhista de Valpinçon (1808) e o Banho Turco (1862), essa última pintado por Ingres quando ele tinha 82 anos. Aqui ele optou por um formato circular mostrando um grupo de mulheres nuas num harém pintadas num estilo altamente erótico que evocam o oriente bem como os estilos clássicos ocidentais associados aos assuntos mitológicos. Reza a lenda que Ingres se inspirou em uma descrição de uma harém existente em um palácio turco em que haviam cerca de duas centenas de mulheres nuas! O autor incluiu aqui mulheres de outras pinturas suas, podemos ver claramente a Banhista fazendo parte do harém também.

 

 

Para completar as obras francesas, quero incluir aqui uma que me chama muito a atenção, Maria Madalena com Luz Noturna de Georges de La Tour, outro pintor barroco que usa e abusa da mistura claro-escuro. A pintura de 1640 conta com 4 versões do mesmo tema, todas mostrando Maria Madalena de perfil com o rosto iluminado pela chama da vela. Tudo na obra nos convida a meditar, a pose de Maria Madalena com a mão no queixo, seu olhar fixo na vela, a escuridão das partes não iluminadas pela vela e até mesmo a caveira no colo. Um quadro hipnotizante que nos leva a refletir tanto sobre o que ela ou nós mesmos estamos pensando ao olhar fixamente para a luz da vela.

 

E com isso terminamos o quarto e último post da série de posts sobre o Louvre, com plena consciência que ainda ficou faltando tanta coisa para falar. Mas pelo menos temos certeza de uma coisa, vale muito a pena se perder nesse labirinto de arte e cultura.

Para saber mais:

Collections Louvre

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