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Volubilis, um pedaço do Império Romano no Marrocos (parte II)

Detalhe de uma coluna coríntia em Volubilis

No post anterior, falei sobre o sítio arqueológico de Volubilis desde a entrada até o final da Decumanus Maximus, a principal via leste-oeste das cidades romanas. Agora partiremos desse ponto até a saída de Volubilis.

Ao final da Decumanus Maximus, encontra-se a Maison à l’Ephèbe (Casa de Éfebo), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um jovem (éfebo) encontrada em suas ruínas e hoje em exposição no museu de Rabat.

O desenho da casa é muito semelhante à Casa de Orfeu, com um átrio central, quartos privados e públicos e uma prensa de azeite na parte traseira. Essas prensas, aliás, eram bem comuns em Volubilis, já que um dos principais cultivos existentes era de olivas.

O mosaico na casa mais conhecido é uma representação de Baco, o deus do vinho, em uma carruagem puxada por panteras.

Nesse ponto, a Decumanus Maximus cruza com a Cardus Maximus, que era a principal via norte-sul das cidades romanas. Era nessa via que se encontravam as principais construções como fórum, capitólio e basílica.

Um fator interessante da Cardus Maximus era que essa via era sempre direcionada para a próxima cidade romana, e assim sucessivamente, até chegar em Roma. Daí se originou o ditado “Todos os caminhos levam à Roma“.

Neste cruzamento, encontra-se o belíssimo Arco Triunfal ou Arco de Caracalla, construído em 217 DC em homenagem ao imperador Caracalla. O arco relativamente preservado possui colunas coríntias feitas com mármore importado. Em cada pilar encontram-se medalhões esculpidos que retratam provavelmente o imperador Aurelius Antoninus (Caracalla) e sua mãe Julia Augusta, cujo nome também está nas inscrições acima do arco.

Belo Arco de Caracalla no cruzamento da Decumanus Maximus com a Cardus Maximus

O propósito do arco era claramente o de mostrar a onipotência de Roma e de seu imperador aos olhos das populações árabes. As inscrições acima do arco exaltam as virtudes e o poder do imperador Caracalla e de sua mãe Julia Augusta.

Detalhe das inscrições existentes no alto do Arco de Caracalla

Logo ao lado do Arco de Caracalla está a Maison au Chien (Casa do Cachorro), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um cachorro encontrada no local. A casa é facilmente reconhecida por ter em seu interior uma pedra com um orgão masculino esculpido. A escultura servia para indicar o caminho para o bordel, um tipo de casa existente em todas as cidades romanas. Os bordéis eram identificados por sinais como esse, pintados ou esculpidos, sempre apontando em direção ao estabelecimento.

Também em frente ao Arco de Caracalla e a Maison au Chien, encontram-se as Termas, onde ficavam os banheiros públicos.

Termas romanas existentes no centro de Volubilis, em frente ao Arco de Caracalla

Os banheiros romanos geralmente são reconhecíveis por possuírem lugares para se encostar, como assentos, por onde passava água corrente por baixo para levar os resíduos. Os assentos eram distribuídos de forma cicular. Os menores no interior eram destinados para mulheres e crianças, enquanto os maiores no exterior eram para os homens.

Imagino que esses banheiros públicos não deviam ser nada agradáveis nem higiênicos. Segundo o guia, a água que corria por baixo continha rosas com o objetivo de mascarar o odor. Arghhh!

Guia mostrando como as pessoas se sentavam nos banheiros públicos

Continuando a caminhada pela Cardus Maximus, chegamos na Maison au Desultor (Casa do Atleta ou Casa do Acrobata), onde há mosaicos se referindo à vida cotidiana de Volubilis. Um deles retrata um acrobata em cima de um cavalo, outro mostra o desenho de peixes com a inscrição Piscat (pesca) em cima.

Mosaico mostrando um acrobata sentado de costas em um cavalo

Chegamos agora nas principais construções romanas em Volubilis. A primeira delas é o Fórum ocupando uma área de 1300 metros². O Fórum consistia na principal base da vida administrativa, política e religiosa da cidade. Era no Fórum que eram feitos discursos em homenagens a algum nobre falecido ou ao imperador.

Em um dos lados do prédio ficava o templo e no outro, a Basílica. O local era rodeado de muitas estátuas de mármore ou bronze, porém hoje em dia restam apenas os pedestais das mesmas.

Ruínas do Fórum, centro da vida política, administrativa e religiosa da cidade

A Basílica estende-se por cerca de 1000m². Sem dúvida, esta é a construção que mais chama a atenção em Volubilis. Logo da entrada já é possível ver suas imponentes ruínas.  Era na Basílica que aconteciam as audiências  judiciárias e a administração da cidade, dirigida por sete juízes.

Este é um dos locais mais bonitos de Volubilis que fornece um belo exemplo da arquitetura romana, além de mostrar claramente como funcionava a parte política e administrativa da cidade na época.

Basílica de Volubilis, um dos principais prédios da cidade romana

Logo atrás da Basílica está o Templo Capitolino, construído em honra do imperador Macrinus em 217 DC.  O templo ficava em um espaçoso pátio pavimentado, cercado de vários  pórticos. Ao pé da escadaria ficava o altar retangular para os sacrifícios.

O Templo Capitolino possui quatro colunas na frente que foram  magnificamente restauradas e duas outras na parte posterior.

Imponentes ruínas do Capitólio com um lindo ninho de cegonha em uma das colunas

Chegamos agora ao final da Cardus Maximus e da visita aos principais pontos de Volubilis.

Como dá para notar, vale muito a pena visitar Volubilis. Esse grande sítio arqueológico merece ser explorado calmamente, pois há várias casas, mosaicos, ruas, arcos e os belos edifícios públicos como a Basílica, o Fórum e o Capitólio. Volubilis nos presenteia com uma mostra muito completa do que era uma cidade romana na época, sua organização, mosaicos e arquitetura.

Como acontece em vários outros sítios arqueológicos, muitas das peças encontradas no local estão dispersas por vários museus no mundo. Algumas peças porém permanecem no Marrocos, no Museu Arqueológico em Rabat.

Infelizmente também, muitos dos mármores existentes nas construções foram retirados a mando do sultão megalomaníaco Moulay Ismail para as suas construções em Meknès, contribuindo para a depredação do local. Além disso, vários prédios que ainda estavam de pé acabaram por ruírem devido ao terremoto de Lisboa em 1772.

Uma das muitas oliveiras existentes no local, principal cultivo de Volubilis (não caiam na tentação de provar uma, são terrivelmente ruins...).

O simpático guia local que nos acompanhou lamentou profundamente que Volubilis não está tão preservada quanto deveria e completou falando que ainda tem muito o que explorar no local, pois, na verdade, menos da metade de todo o sítio foi escavado.

Fico imaginando quanta riqueza e história ainda estão escondidas abaixo de toda aquela imensa área a ser escavada.

Ruínas de Volubilis rodeadas pela bela paisagem das Montanhas Atlas.

O sítio arqueológico de Volubilis, assim como o Heri es Souani de Meknès, foi usado como cenário para o filme de  Martin Scorsese, A Última Tentação de Cristo.

O local é aberto diariamente ao público entre 9:00 e 12:00 e depois das 14:30 às 18:00. O ingresso custa 20,00 dihans, aproximadamente 2,00 euros.

Mais informações:

Site de Volubilis

Volubilis, um pedaço do Império Romano no Marrocos (parte I)

Após conhecer Meknès, fui para Volubilis, um sítio arqueológico, protegido pela UNESCO desde 1997. A cidade que ali existia pertencia ao Império Romano,  porém, sua origem parece ser ainda mais antiga. Algumas escavações feitas em 1915 revelaram que o local já era habitado na Idade do Ferro e no período Cartagiano no século 3 AC.

Com a dominação romana, em 45 DC,  o local ganhou as características típicas da urbanização das cidades romanas: muralhas, fórum, capitólio e basílica. A cidade aumentou de tamanho e ganhou uma grande malha de ruas em 169 DC.

Como muitos lugares no Marrocos, existem guias locais na entrada oferecendo seus conhecimentos. Nesse caso, compensa aproveitar a presença do guia, pois ele nos mostra detalhes que passariam despercebidos ou seriam interpretados erroneamente. Os guias falam inglês, francês, espanhol e árabe.

Volubilis fica a apenas 33 km de Meknès e 4 km de Moulay Idriss. É possível se hospedar em qualquer uma dessas cidades e de lá pegar o Grand Taxi para até Volubilis. Esses taxis são do mesmo tipo existentes nas demais cidades do Marrocos e não saem muito caro.

As ruínas que se vê hoje em dia são dos séculos II e III DC. Estima-se que em seu auge, Volubilis tinha uma população de cerca de 20.000 pessoas. A cidade era o posto mais afastado de Roma e fornecia ao Império olivas e trigo, além de animais selvagens como leões e ursos do Atlas para os jogos nas arenas. Foram tantos animais enviados à Roma, que o urso do Atlas, único urso da África, entrou em extinção. O último a ser visto foi em 1867, na fronteira entre Marrocos e Argélia.

Ruínas do templo com as montanhas Atlas ao fundo

A entrada  para a cidade romana é feita pela porta sudeste. De lá dá para ver a cidade sagrada de Moulay Idriss e seu formato de camelo deitado. A paisagem ao redor também é muito bonita, com as montanhas Atlas ao fundo.

Começamos a caminhada pelo sítio arqueológico andando por entre as ruínas do Templo dedicado a Saturno, deus do tempo (Cronos para os gregos), porém, o templo parece ter sido um local de adoração para os cartagianos também, pois várias oferendas votivas foram descobertas durante as escavações.

Ruínas de um dos templos encontrados em Volubilis

Passando pelas ruínas, chega-se à rua do Aqueduto construído ao final do primeiro século DC. O aqueduto coletava água de uma fonte localizada a cerca de 1 kilometro da cidade. Dele saiam tubulações que forneciam água para as casas particulares, fontes e banhos e banheiros públicos.

No alto da rua do Aqueduto, encontra-se a Maison au Cortège de Vénus (Casa da Procissão de Vênus), onde estão um dos mais preservados mosaicos de Volubilis. Não se pode entrar na casa, mas é possível ver os mosaicos andando ao redor dela. O primeiro mosaico mostra a cena da deusa da caça, Diana, sendo surpreendida durante o banho pelo caçador Actéon. Irritada com a intromissão, Diana transforma o descuidado caçador em um cervo que acaba sendo devorado pelos próprios cães.

Belíssimo mosaico representando a cena de Diana sendo surpreendida no banho por Acteón

O segundo mosaico mostra a cena de Hylas sendo seduzido e levado pelas ninfas do lago. Hylas era um rapaz amado por Hércules que foi raptado pelas ninfas da água quando foi matar a sede em um rio.

A casa de Vênus é uma das maiores de Volubilis (mais de 1000 m²) e mostra o típico arranjo de casas romanas. A entrada principal conduz a um vestíbulo de grande porte que se abre diretamente para um pátio com piscina. Ao redor do pátio estão os quartos e salas de recepção, estar e jantar. Não se sabe quem morou nessa casa, mas com certeza fazia parte da alta classe de Volubilis, pois foram encontrados os bustos de Cato e Juba II, personagens importantes na história de Roma.

Detalhe da Maison au Cortège de Vénus, mostrando algumas paredes e o chão enfeitado com o mosaico de Diana e Acteón

Chegamos agora na rua principal de Volubilis, a Decumanus Maximus, essa avenida existia em todas as cidades romanas, sendo a principal via que ligava a cidade na direção leste-oeste.  Nela se encontravam as melhores mansões e seus belos mosaicos. No topo da Decumanus Maximus se vê a Porta de Tanger que data de 168 DC e servia como porta de entrada para Volubilis.

Porta de Tanger vista da Decumanus Maximus, o portal servia como entrada para a cidade

Continuando pela Decumanus Maximus, iremos passar por várias das principais mansões de Volubilis. Logo no início se encontra o Palais de Gordien, facilmente reconhecido pela quantidade de colunas. O local era a residência dos procuradores que administravam a cidade. Infelizmente, hoje se encontra bem depredado e sem mosaicos, graças aos saques comandados por Moulay Ismail de Meknès.

Colunas que restaram do Palais des Gordien

Na sequencia, ao lado direito, tem-se as casas Maison des Fauves, com mosaicos de leões, panteras e tigres, Maison du Bain des Nymphes e Maison de Dionysos. Bem de frente, do outro lado da rua, está a Maison des Néréides. Na Maison de Dionysos, o deus do vinho é representado nos mosaicos coroado com folhas de videira. Além do deus, os mosaicos também fazem alusão às quatro estações do ano.

Detalhe do mosaico na Maison de Dionysos, o deus do vinho conhecido também como Baco.

Após, tem-se a Maison aux Travaux d’Hercule (Casa dos Trabalhos de Hércules). Nessa casa, os mosaicos, distribuídos em painéis ovais, representam os 12 trabalhos que Hércules executou: Matar o leão de Neméia, matar a Hidra de Lerna, capturar o javali de Erimanto, capturar a corsa de Cerinéia, que tinha os cascos de bronze e os chifres de ouro, expulsar as aves do lago Estinfale, na Arcádia, limpar os estábulos do rei Augias, da Élida, em um só dia, capturar o touro selvagem de Minos, rei dos cretenses, capturar os cavalos devoradores de homens do rei Diomedes da Trácia, obter o cinto de Hipólita, rainha das Amazonas, as mulheres guerreiras, buscar o gado do monstro Gerião, levar as maçãs de ouro do jardim das Hespérides para Euristeu e, por fim, capturar Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os infernos.

Na casa de Hércules também há mosaicos com motivos para espantar o mau olhado, como golfinhos, tridentes e a suástica.

Detalhes do belo mosaico existente na Casa dos Trabalhos de Hércules

A casa vizinha é a Maison au Cavalier (Casa do Cavaleiro), com o parcialmente destruído, porém belo, mosaico de Dionísio descobrindo sua amada Ariadne dormindo na praia de Naxos. A casa ganhou esse nome por ter sido o local onde foi encontrada, em 1918, uma estátua de bronze de um cavaleiro. A casa apresenta um formato quadricular com uma área total de 1700 m².

Olhando o estraordinário mosaico, fica-se imaginando como era feito na época um trabalho tão detalhista e perfeito.

Mosaico incompleto mostrando Dionísio e Ariadne na praia de Naxos

Atravessando uma porta, entramos na casa vizinha, a Maison aux Colonnes (Casa das Colunas), parcialmente restaurada. A casa não possui mosaicos, no centro há uma grande piscina circular rodeada por colunas retorcidas, as quais deram origem ao seu nome.

É possível entrar nessa casa e andar ao redor da piscina.

Interior da Maison aux Colonnes com as colunas retorcidas ao fundo

Chegamos agora ao final da Decumanus Maximus, no cruzamento com a Cardus Maximus, próximo ao Arco de Caracalla. Essa outra parte do sítio arqueológico de Volubilis inclui alguns dos prédios mais bem conservados e será descrita no próximo post.

Os aeroportos mais perigosos do mundo

Esse post é mais para divertir do que para amendrontar. Pesquisando sobre a qualidade dos aeroportos e sobre os melhores do mundo, acabei me deparando também com os piores e mais perigosos aeroportos do mundo.

As listas variam de site para site, mas alguns aeroportos são bem populares na disputa pelo primeiro lugar dentre os piores. Sendo assim, reuni aqui os aeroportos mais citados nas listas dos mais perigosos do mundo.

Apertem os cintos e comecem a fazer todas as mandingas para atrair boa sorte, pois, para aterrisar ou levantar vôo nestes aeroportos é necessário não somente uma excelente habilidade dos pilotos, como também uma boa dose de fé.

Funchal, Ilha da Madeira

O Aeroporto de Madeira, também conhecido como Funchal Airport, é um aeroporto internacional localizado em Funchal, na Ilha da Madeira. Ele controla o tráfego nacional e internacional da ilha.

O aeroporto ficou famoso devido sua pista curta ladeada de um lado pelo mar e pelo outro a montanha, o que o torna um desafio para a aterrissagem, até mesmo para os pilotos mais experientes, que necessitam voar em direção às montanhas, para depois alinhar o avião com a pista de pouso.

Aeroporto Funchal, Ilha da Madeira. Fonte: Structurae

Inicialmente, a pista possuía apenas 1.400 metros de comprimento, mas depois foi estendida para atingir o comprimento de 2.700 metros. A extensão foi construída sobre o oceano, apoiada em uma série de 180 colunas de 70 metros de altura.

Devido a essa ponte construída em 2004, o aeroporto inaugurado em junho de 1964 ganhou o Prêmio Mundial de Engenharia de Estruturas e foi escolhido como uma das “100 Obras de Engenharia Civil do Século XX”. O desenho e a engenharia para a construção da ponte foram feitos pela construtora brasileira Andrade Gutierrez. Porém, mesmo com a extensão, o Aeroporto Funchal é conhecido por ser um dos aeroportos mais perigosos do mundo.

Courchevel International Airport, França

Esta pista é sem dúvida alguma, a mais bizarra do mundo. Além de totalmente sinuosa, ela ainda é inclinada em 18,5º. Para piorar a situação, a pista é extremamente curta, com apenas 525 metros de comprimento.

A estranha pista foi construída em uma área de esqui nos Alpes Franceses e foi usada na cena de abertura do filme 007 – O Amanhã Nunca Morre. Segundo o The Times, “aterrissar no Courchevel dá medo, mas o pior é decolar, já que a visão de dentro do avião é prejudicada por causa da inclinação da pista.”

Pista sinuosa do Courchevel Airport na França

Aterrissar no Courchevel não é uma tarefa fácil, por isso, os pilotos necessitam obter uma certificação especial antes de tentarem a sorte da perigosa pista. As operações no aeroporto se limitam a vôos privados durante a temporada de esqui.

Gibraltar Airport

O Aeroporto Internacional de Gibraltar fica a apenas 500 metros do centro da cidade, mas não é isso que o torna popular nas listas dos aeroportos mais perigosos do mundo. O ponto forte para que ele apareça em praticamente todas as listas é o fato da Avenida Winston Churchill cruzar a pista de pouso e decolagem.

Se não bastasse esse estranho fato, a turbulência provocada pela formação rochosa a 400 metros da pista provocam sérias sacudidas nos aviões.

Aeroporto Internacional de Gibraltar e a avenida que cruza a pista

Gibraltar é uma cidade espremida entre montanhas, para resolver a falta de espaço, a solução foi que a avenida atravessasse a pista de pouso. Os veículos trafegam normalmente nos intervalos entre pousos e decolagens.

Resta saber se em Gibraltar, o cruzamento entre a avenida e a pista do aeroporto funciona como nas linhas férreas de trem: “Pare, olhe e escute antes de atravessar”.

Princess Juliana International Airport, Saint Martin, Antilhas Holandesas

Aviso alertando os turistas dos perigos da proximidade com as aeronaves

Dentre todos os aeroportos bizarros, este é o meu preferido. O Aeroporto Princess Juliana é um dos mais movimentados do Caribe.

Ele é famoso pelas aterrissagens de grandes aviões em sua pista curta, cerca de 2.180 m. Mas a parte mais curiosa é que uma das cabeceiras fica localizada a poucos metros da praia.

É comum que os banhistas se agrupem para acompanhar a chegada dos aviões, que passam a pouco mais de 20 metros de suas cabeças. Isso sem contar os carros que passam na rua próxima à praia.

Caminhões mais altos podem oferecer um risco maior tanto para a aterrissagem quanto para o próprio veículo, que pode tombar em virtude do vento causado pelas aeronaves.

Avião pousando no Aeroporto Internacional de Saint Martin. Fonte Jetphotos

A proximidade com as aeronaves faz com que alguns turistas se agarrem nas grades na pista para serem jogados nas ondas pelo vento causado por aviões pousando.

Ver as fotos e vídeos existentes na internet sobre esse aeroporto realmente dá vontade de conferir de perto a estranha combinação pista de pouso e praia.

Lukla Airport, Nepal

Localizado a 2900 metros acima do nível do mar, o aeroporto de Lukla, no Nepal, tem uma pista de apenas 527 metros de comprimento, 20 metros de largura e uma inclinação de 11 graus.

Se não bastassem as dimensões reduzidas da pista, ainda há uma montanha de 900 metros que se encontra em uma de suas cabeceiras. No outro lado há um despenhadeiro. Para deixar tudo ainda mais emocionante, também há fortes ventos e baixa visibilidade devido às nuvens.

Pista do Lukla Airport no Nepal com as montanhas ao fundo

Com tantas razões contra esse aeroporto, somente helicópteros e aviões de pequeno porte podem aterrissar no local. Apesar das pequenas dimensões, Lukla é bastante movimentado por ser o início da jornada ao monte Everest.

Juancho E. Yrausquin Airport, Saba, Antilhas Holandesas

O fator de perigo deste aeroporto é o local onde a pista foi construída, uma ponta rochosa da ilha que avança para o mar. Por isso, ambas as cabeceiras terminam com desfiladeiros de rochas que, por sua vez, terminam no oceano. Ou seja, não há área de escape.

Aeroporto Juancho E. Yrausquin nas Antilhas Holandesas. Fonte: Airliners.net

Devido à limitada área da ilha e sua topografia pouco favorável, não houve outra opção para a construção do aeroporto. No final da pista há um X marcado para indicar que o aeroporto é fechado para aviações comerciais.

Curiosamente, a ilha de Saba fica perto de St. Martin. É possível ver o Aeroporto Juancho E. Yraude de alguns pontos da ilha.

Barra Airport, Escócia

Se os aeroportos citados até agora possuem pista pequena, sinuosa ou cortada por uma avenida, o Barra Airport sequer possui uma pista para pouso e decolagem. O aeroporto fica localizado na praia Traigh Mhòr na ilha de Barra. É o único aeroporto do mundo que usa a areia da praia como pista. São três pistas no total, sendo que cada uma delas é marcada com postes de madeira. As pistas são escolhidas para pouso ou decolagem de acordo com a direção do vento.

Uma placa no Barra Airport avisa aos pedestres para se afastarem da área quando a biruta estiver voando e o aeroporto funcionando. Fonte: Wikipedia

Em virtude da ausência de asfalto e lâmpadas sinalizadoras na pista-praia, quando as condições climáticas pioram, os moradores do local deixam os faróis acesos ao longo da praia para orientar os pilotos. Uma luz na torre de controle avisa os pedestres quando um avião está prestes a chegar para que eles fiquem atentos à biruta e liberem o trecho de praia a ser percorrido pelo avião.

Para complementar o quadro bizarro desse aeroporto, quando a maré está alta, as três pistas ficam completamente submersas e, portanto, impossíveis de serem utilizadas.

Gustaf III Airport, Saint Bart

Este aeroporto também fica localizado no Caribe, na ilha de Saint Barthélemy. Ele é considerado como um dos mais perigosos do mundo devido ao local onde se encontra a pista de pouso e decolagem.

Aterrisagem íngreme no Gustaf III Airport. Fonte Titof, Panoramio

Ela se inicia no final de uma encosta e termina na praia. Além disso, assim como no aeroporto Princess Juliana na ilha de Saint Martin, os aviões passam diretamente acima dos banhistas quando decolam.

Para a aterrisagem, os vôos  vêm da direção oposta, mas isso não ajuda nem um pouco já que os pilotos são obrigados a fazerem uma descida íngreme, devido à colina existente.

Sem dúvida alguma, esses aeroportos são bem intrigantes. Porém, apesar de todas as adversidades, não há tantos casos de acidentes como seria o esperado. E apesar de todas as particularidades envolvendo cada um deles, deve ser bem divertido pousar nesses aeroportos.

Em todo o caso, vale a pena levar o santinho preferido, só para garantir.

Moulay Idriss, a cidade sagrada do Marrocos

Moulay Idriss fica no caminho entre Meknès e a cidade romana de Volubilis. É uma cidade histórica para os marroquinos pois é onde se encontra o túmulo de Moulay Idriss, o fundador da primeira dinastia árabe do país, conhecida como idrissidas. Além disso, a cidade também é sagrada, pois Moulay Idriss era descendente direto de Maomé, filho de Fátima.

A cidade sagrada Moulay Idriss

Moulay Idriss procurou refúgio no Marrocos após ascenção ao poder dos Abácidas, inimigos de sua familia. No Marrocos, ele obteve apoio das tribos berberes, sendo proclamado iman (conselheiro da fé muçulmana) em 789.

Uma após a outra, todas as principais tribos do Marrocos juraram lealdade a ele. Porém, acabou sendo assasinado por seus inimigos Abácidas. Desde então, a cidade se tornou local de peregrinação para os marroquinos, que vêm em grande número ao longo do ano, em particular na ocasião da festa conhecida como moussem ou peregrinação, comemorada em agosto.

A peregrinação à Moulay Idriss vale como a ida até Meca para os muçulmanos pobres sem condições financeiras para viajar até a cidade sagrada do Islã.

Formato de camelo da cidade Moulay Idriss, vista do sítio arqueológico de Volubilis

Curiosamente, Moulay Idriss tem o formato de um camelo deitado. A cidade é composta por 2 distritos: Tasga e Khiber. As casas com seus telhados verdes são construídas umas em cima das outras. As ruas entreitas levam ao mausoléu de seu fundador, bem no centro da cidade. Um minarete cilíndrico moderno, decorado com azulejos verdes que reproduzem versos do Corão, contrasta com o estilo predominante da arquitetura.

Apesar de todo o seu significado para o Marrocos, Moulay Idriss não tem muito a oferecer aos turistas ocidentais, uma vez que não é permitida a entrada de não muçulmanos nos santuários.