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As construções imperiais de Meknès

Um dos primeiros lugares que visitei em Meknès e também um dos lugares mais interessantes da cidade é o Heri es Souani, um complexo de 3 diferentes construções localizado a cerca de 500 metros ao sul do palácio real.  O Heri es Souani funcionava como celeiro e estábulo e foi construído no início do século 18 na época do reinado do cruel e megalomaníaco sultão Moulay Ismail.

Entrada do Heri es Souani, o celeiro construído por Moulay Ismail

A construção possui dimensões colossais,  é composta por 23 naves suportadas por pilares e arcos. Existem 10 grandes salas de teto abobadado com dimensões de mais de 25 metros de comprimento por 10 metros de largura.

O lugar era usado para estocar alimentos e por isso as paredes são bem grossas, de forma a evitar a degradação em virtude da baixa  temperatura mantida no local, evitando assim as  oscilações de temperatura da região. Devido a isso, o interior do Heri es Souani é bem frio. É recomendável entrar com uma blusa de frio para não se sentir desconfortável lá dentro.

Interior mostrando uma das salas principais do celeiro
Detalhe mostrando a espessura das paredes que mantinham a temperatura sempre baixa no interior do Heri es Souani

Uma parte da construção contém os poços rodas de água, puxado por animais, formando um grande reservatório que ganhou o nome de “Dar El Ma” (Casa da Água). Esse reservatório servia para abastecer o prédio e os jardins do harém do sultão, com o intuito de divertir as suas 500 esposas e 800 filhos.

Roda de água que abastecia os jardins do sultão

Ao fundo do celeiro fica o estábulo, construído para ter uma capacidade para 12.000 cavalos, pertencentes ao sultão. Essa parte está um pouco destruída, são ruínas abertas já desgastadas pelo tempo e má conservação.

Ruínas do estábulo, onde antes ficavam os 12.000 cavalos do Moulay Ismail.

Todo o local é muito interessante, vale muito a pena visitar. Ao passar por sua porta de entrada, tem-se  a impressão que está voltando ao passado. Não é a toa que o Heri es Souani foi usado como cenário para a gravação dos filmes “A Última Tentação de Cristo” e “Jesus de Nazaré”.

O prédio foi restaurado e é totalmente aberto à visitação. A entrada custa 10 dihans, o equivalente a 1 euro. Dá para fazer um tour virtual no site da Panoramaroc.

Koubba el Khayatine

Koubba el Khayatine (ou Qoubet Al Khiyatin), também conhecido como Salão dos Embaixadores, é o local onde o imperador Moulay Ismail recebia os embaixadores estrangeiros. Seu nome significa Casa dos Alfaiates, devido aos estabelecimentos de alfaiates que se instalaram ao redor do prédio.

No subterrâneo há uma série de salas conhecidas segundo a tradição popular como Prisão dos Escravos Cristãos. Estes eram trazidos prisioneiros pelos piratas patrocinados por Moulay Ismail para trabalharem nas inúmeras construções de Meknès. No total, são sete hectares de câmaras e passagens subterrâneas iluminadas apenas pelos buracos existentes na parte superior.

Koubba el Khayatine e a Prisão dos Escravos Cristãos

Várias lendas cercam a construção, uma delas conta que os escravos que morriam durante o trabalho eram enterrados nas próprias paredes que estavam construindo, porém nenhum corpo humano foi encontrado, mesmo nas paredes que viraram ruínas. Outra lenda local diz que, abaixo do Koubba el Khayatine, existem 3 túneis subterrâneos que levam para Fès, Volubilis e Médio Atlas.

O Koubba el Khayatine e a Prisão dos Escravos Cristãos são abertos diariamente das 9 até meio-dia e depois das 15 até 18 horas. O mesmo ingresso vale para os dois lugares e custa 10 dihans.

Mausoléu de Moulay Ismail

Um dos locais mais exuberantes de Meknès é, sem dúvida alguma, o Mausoléu de Moulay Ismail, localizado próximo ao Koubba el Khayatine e ao portão Bab er-Rih. Assim, como o Mausoléu de Mohammed V em Rabat, a entrada é permitida para não muçulmanos, com exceção de sexta-feira.

O mausoléu foi construído quando o imperador ainda estava vivo e, desde sua morte, o local é visto como um exemplo do explendor vivido pela cidade durante seu reinado e também como um local de adoração, aonde muitas mulheres vão em busca de baraka, ou seja, boa sorte e fortuna.

Entrada do Mausoléu de Moulay Ismail

É difícil entender a adoração por um imperador conhecido por sua crueldade e excessos, porém, para os marroquinos, Moulay Ismail é lembrado por suas realizações, por trazer a paz e prosperidade ao país, após um período de anarquia, e expulsar os espanhóis de Larache e os britânico de Tânger. Tudo isso aliado ao fato dele ser tido como o fundador da dinastia Alaouita e um grande seguidor do islamismo.

Sala principal do santuário, formada por uma fonte cercada por 12 colunas e belos mosaicos feitos com zellij.

Bom, independente da forma como o sultão é visto, o mausoléu é digno de admiração. Ao passar pelas portas da entrada, logo se chega a um grande átrio com uma fonte no centro. Todas as paredes do átrio são decoradas com belos desenhos em zellij, os pequenos azulejos coloridos.

Por ser um lugar sagrado para os marroquinos, antes de entrar nas salas do santuário é necessário tirar os sapatos, que permanecem na entrada.

Beleza e delicadeza dos detalhes que enfeitam as paredes do interior do mausoléu.

O interior é formado por uma sucessão de salas ricamente trabalhadas, o pátio interior é decorado com deslumbrantes mosaicos, as portas são cuidadosamente esculpidas, as fontes são de mármore, o teto de madeira de cedro e os pisos cobertos por suntuosos tapetes.

Lustres de cobre estão espalhados por todas as salas do mausoléu

A última sala é onde se encontra a lápide de mármore branco de Moulay Ismail. Os outros dois túmulos são de seu filho e sucessor, Moulay Ahmed Ad-Dahab e do sultão Moulay Abderrahman Ibn Hisham, ao lado direito está o túmulo de Lalla Khanty, sua primeira esposa. O chão é totalmente coberto por magníficos tapetes.

Nesta sala não é permitida a entrada de não muçulmanos.

Sala onde está o túmulo de Moulay Ismail ladeados pelos de seus filhos e sua primeira esposa

A entrada é gratuita. O mausoléu é aberto diariamente entre 8:30 e 12:00 e das 14:00 as 18:00. Na sexta-feira, é permitida a entrada somente de muçulmanos.

Campo de Golfe Real

Bem próximo ao Mausoléu de Moulay Ismail, passando o portão Bab er-Rih e virando à esquerda, encontra-se a entrada, vigiada por soldados da guarda real, do Campo Real de Golfe, inaugurado em 1969.

Discreta entrada do Campo de Golf Real

O campo de 9 buracos fica na área dos jardins do palácio real, completamente fechado dentro das enormes muralhas imperiais. O jardim do local é repleto de milhares de flores, laranjeiras, oliveiras, palmeiras, além das plantações de ameixas, nêspera e damasco.

O campo foi recentemente aberto ao público. Mesmo os não-jogadores podem entrar e ter acesso à casa do clube para tomar uma bebida ou fazer uma refeição. A taxa de entrada para um único dia é de 150 dihans.

Comendo em Madri – tapas, cervezas, jamón e viños

A vida em Madri parece ser muito boa. A impressão que se tem é que os madrilenhos passam o tempo todo nos bares e restaurantes comendo e se divertindo. E não há como negar, sentar em um bar para comer tapas acompanhadas de uma boa cerveja é uma delícia.

Mas vamos começar pelo café da manhã. A cidade acorda tarde, então dá para tomar café a qualquer hora da manhã. O mais comum em Madri é o chamado cortado que nada mais é do que o café com leite. O cortado é tão popular que se você quiser tomar café puro, deve especificar, no caso peça um café solo ou negro.

Cortado com tapas de salmão e queijo brie como café da manhã

Os madrilenhos também almoçam tarde, o horário normal para o almoço é entre 15:00 e 17:00, antes disso é muito difícil encontrar algum restaurante aberto. A notícia boa é que, se não dá para almoçar nos horários mais tradicionais, podemos “tapear” à vontade nos muitos bares distribuídos pela cidade.

Tapas constituem uma variedade de petiscos, aperitivos ou lanches na culinária espanhola. Segundo a lenda, a tradição das tapas começou quando o rei Afonso X de Castela, após se recuperar de uma doença ao beber vinho com pequenas porções de comida entre as refeições, proibiu os bares de servirem vinhos aos clientes, a menos que estes fossem acompanhados por um pequeno lanche ou tapa.

O vinho está presente na vida dos espanhóis e faz parte da origem das tapas

Originalmente as tapas eram fatias de pão ou de carne que os frequentadores das tavernas da Andaluzia usavam para cobrir os copos de xerez (vinho fortificado feito de uvas brancas) enquanto tomavam. Dessa forma, eles evitavam que moscas de fruta pousassem sobre a bebida.

A carne utilizada para cobrir o xerez normalmente era presunto ou chouriço, ambos muito salgados, aumentando mais ainda a vontade de beber. Começou-se então a criação da variedade de lanches para servir com xerez e aumentar o consumo da bebida. Assim tinha início o esporte favorito dos madrilenhos, tapear.

As tapas podem ser frias ou quentes, feitas com azeitonas, lulas, presuntos, queijos, salmão defumado (meu  preferido), etc.

Restaurante Sabatini, em frente ao jardim de mesmo nome no coração de Madri

Para quem quer uma refeição tradicional, pode-se optar pelos menus do dia. São menus completos contendo entrada, prato principal, pão e sobremesa. Se come muito bem com esses menus e se paga pouco. Os preços em geral variam entre 10 a 15 euros.

Uma dica é pegar os panfletos que são distribuídos na rua na hora do almoço ou jantar. Esses panfletos podem garantir alguns descontos ou indicar um bom restaurante nas proximidades. As refeições são generosas e saborosas. O prato principal pode incluir uma massa e um peixe ou carne vermelha.

Cervejaria na Calle Mayor, um dos lugares mais movimentados à noite

À noite (lembrando que a noite em Madri também começa tarde) é hora das tapas novamente, e nessa hora Madri ferve. Os bares e lanchonetes ficam lotados. Nos hotéis e albergues há panfletos ou cartões de bares que dão direito a uma cerveja ou uma tapa de graça. Dá para reunir vários e ir de bar em bar, como muitos espanhóis e turistas fazem.

Museu del Jamón, aberto em 1978 e popular até hoje

Em Madri se vê por toda parte os Museos del Jamón, que fazem parte de uma grande rede de restaurantes temáticos especializados em presuntos e embutidos. Os Museos del Jamón ficam super lotados à noite, são bem populares e um pouco pitorescos também. Há presuntos e carnes embutidas pendurados por todos os lados.

Foram inaugurados em 1978, e pelo jeito permanecem até hoje na preferência dos espanhóis. Vale a pena entrar para conhecer.

Será que existem vegetarianos na Espanha?

Mais antigo ainda que o Museo del Jamón é o restaurante Botin, tido como o restaurante mais antigo do mundo. Ele é citado até mesmo no Guiness Book. Fica em uma ruela no centro antigo de Madri.

O restaurante abre todos os dias para o almoço e para o jantar há 286 anos, sem nunca ter mudado de nome ou de ramo de atividade. O prato mais famoso é o cochinillo, que é um leitãozinho assado.

Fachada do Botin, o restaurante mais antigo do mundo

Duas coisas devem ser ditas sobre os bares de Madri. A primeira é que limpeza não é o forte deles, é melhor não reparar muito no chão se quiser curtir a noite madrilenha. A segunda é que fumar é permitido em todos os bares. Levando-se em conta que eles são em geral pequenos e fechados, o ambiente fica bem enfumaçado.

Bom, por último fica a dica: os preços variam. Se você pedir na barra (balcão) vai pagar menos do que se decidir sentar em uma mesa.

Humm, é de dar água na boca, tapa de salmão defumado com camembert e limão

Bom, independente se a escolha é buffet, tapas, presuntos, as refeições em Madri são muito boas e merecem ser bem saboreadas.

À noite, Madri vira uma festa, e nada melhor para acompanhar o espírito boêmio do espanhol do que ir andando de bar em bar experimentando a deliciosa variedade das tapas, acompanhadas de uma boa cerveja espanhola.

Viva a noite madrilenha



Madri, a capital européia que nunca dorme

Fui pra Madri duas vezes, a primeira foi em julho de 2000, chegando de Portugal. Nessa viagem aproveitei para conhecer também Toledo e Mérida, duas lindas cidades históricas que em breve serão comentadas também. A segunda vez foi em novembro de 2010, voltando do Marrocos.

A capital espanhola, embora não seja a preferência dos viajantes, pois perde em popularidade para Barcelona, não desaponta o turista. Madri é uma cidade repleta de atividades, restaurantes convidativos e museus apaixonantes, sem conta a famosa noite madrilenha, que parece nunca terminar.

Madri também é a porta de entrada para a Europa para muitos brasileiros, principalmente por causa das menores tarifas oferecidas pela Iberia.

Já ouvi muitos comentários sobre a “terrível” imigração espanhola, mas na verdade não tive problema algum com a imigração, nem mesmo quando voltava do Marrocos. Acho que, para quem está viajando com intenções de turismo apenas, não há porque ficar preocupado. Eu particularmente achei a imigração inglesa bem mais chata.

Uma situação curiosa aconteceu perto de mim quando voltava de Casablanca. Um policial parou um marroquina ao meu lado. Indignada, ela perguntou ao policial porque ele parara justo ela. Ele respondeu com toda a educação típica dos espanhóis :”Porque eu posso”.

Hall de entrada do teatro na Calle Mayor em Madri

A cidade possui 3,3 milhões de habitantes, sendo no total 6 milhões na região metropolitana. Os horários de funcionamento do comércio variam um pouco, mas em geral as lojas e atrações abrem das 10:00 as 14:00, e depois das 17:00 as 20:00. Esse intervalo é para a famosa siesta.

As melhores épocas para visitar a capital que não dorme são a primavera e outono, quando o clima é mais agradável. Tradicionalmente, Madri possui um clima tipicamente continental, sendo frio e seco no inverno e quente e seco no verão. Normalmente existem dois períodos chuvosos, em outubro e novembro e entre final de março até o início de maio. Em julho e agosto as temperaturas podem chegar a mais de 40ºC.

A lua no céu de Madri durante o inverno vista da Calle Mayor

Para quem estiver indo a Madri, minha dica é que fique hospedado na região mais central. Da última vez que fui, fiquei hospedada no Hotel Astúrias, um hotel agradável, considerando os padrões europeus de idade do prédio e dimensão dos quartos. Esse hotel fica localizado a uma quadra da estação Sevilla e bem perto da Plaza del Sol, dessa praça dá para se locomover para qualquer lugar de Madri.

É bem simples ir do aeroporto Madrid Barajas para o centro. De ônibus, basta pegar as linhas 3, 15, 20, 150, 51, 52, 9 ou qualquer outra que pare nas estações Sol, Alcala ou Sevilla. De metrô também é fácil se locomover, pode-se pegar o metrô no terminal T4 (linha oito, rosa), ir até a estação Mar de Cristal e trocar pela linha 4 (marrom). Em seguida desce na estação Goya, pegando a linha 2 (vermelha) até a estação Sol. Madri possui 11 linhas do metrô, então outras combinações também são possíveis, mas acho essa a mais simples.

O trajeto dura em torno de 40 minutos. Nem todas as estações possuem escada rolantes, então é melhor levar isso em consideração se estiver viajando com muitas malas.

Detalhe de uma loja em frente ao Museo Del Prado

Outro ponto importante é que Madri, como a maioria das cidades turísticas, há muitos trombadinhas e batedores de carteira. A melhor forma de evitá-los é não deixando bolsas e outros objetos pessoais sem atenção.

Apesar de ser a maior cidade da Espanha, dá para conhecer grande parte dos locais turísticos em Madri andando. É uma forma divertida de conhecer as atrações, sem precisar ficar embaixo da terra para se locomover. Mesmo no inverno, dá para caminhar tranquilamente. No verão escaldante, é aconselhável levar uma garrafa de água.

Detalhe de um prédio na Calle Mayor

Não há dúvidas que Madri é um local bem adequado para ser a porta de entrada para a Europa. A cidade possui um espírito festivo regado à boa comida e bebida, esportes e noites agitadas. Além disso, a capital espanhola oferece aos visitantes muita cultura, expressa na forma de belos quadros de famosos pintores espanhóis, arte, incluindo o imponente flamenco, e uma rica história, entrelaçada com a nossa.

 

Mais informações:

www.esmadrid.com
www.descubremadrid.com