Arquivo mensais:abril 2011

Meknès, a Versailles marroquina

Fui para Meknès, após conhecer Rabat, a capital do Reino do Marrocos.

Foram 140 km apreciando a paisagem com as montanhas Atlas sempre ao fundo e as várias plantações de pistache nas proximidades de Rabat, assim como as plantações de azeitonas e uvas formando o cenário principal da região de Meknès. Além, é claro, dos muitos pastores com seus rebanhos de ovelhas.

Meknès é uma das quatro cidades imperiais do Marrocos, as outras são Fès, Marrakech e Rabat.  A cidade possui cerca de 1 milhão de habitantes e, assim como as demais cidades do Marrocos, também possui uma cor característica, que no seu caso é verde.

A presença de água e belos jardins atraiam o interesse das diferentes dinastias em Meknès

A história da cidade está intimamente ligada a Moulay Ismail, o sultão alaouita, conhecido por sua crueldade. Porém, a origem de Meknès é mais antiga, datando do século X. Nessa época, a tribo Meknassa, atraída pelo solo fértil, água em boa quantidade e muitos jardins, se estabeleceu nas margens do rio Oued e fundou Meknassa Zeitouna e Meknassa Taza.

Conquistada pelos Almorávidas no século XI, a cidade foi principalmente um posto militar, antes de se expandir sob o domínio da dinastia Almóada, no século XII e mais tarde sob o reinado dos Merenidas.

Algumas das muitas muralhas construídas por Moulay Ismail

No início do século XVII, Meknès se tornou uma próspera cidade, porém somente no final do século, com a chegada do sultão alaouita Moulay Ismail ao poder, que Meknès se tornou uma das maiores cidades imperiais do Marrocos.

Em 1672, Moulay Ismail fez de Meknès a capital do Marrocos. O mal afamado sultão usou de todos os seus recursos para dotar a capital de monumentos grandiosos. Sua intenção era que Meknès fosse conhecida como a Versailles Marroquina.

Ruínas da época quando Meknès era a Versailles marroquina de Moulay Ismail

Para garantir sua ambição, ele recrutou um exército de operários, artesãos, escravos, prisioneiros e moradores das vilas próximas para a construção dos muitos quilômetros de muralhas e paredes, portões majestosos, celeiros, estábulos, arquedutos, mesquitas, jardins, palácios e kasbahs (fortaleza).

Mais do que isso, ele ainda ordenou a destruição de monumentos e palácios em Fès e Marrakech, para que nenhuma cidade do Marrocos fosse mais bonita que Meknès.

Ainda hoje Meknès mantem o charme de uma importante cidade imperial

O declínio da cidade começou com a morte de Moulay Ismail. Porém, Meknès continua mantendo seu charme de cidade imperial. Hoje em dia, a cidade é o centro de uma região rica, caracterizada por uma agricultura crescente, onde azeitonas, cereais, citrinos, azeite e vinho fazem parte dos principais produtos comercializados e exportados.

 

Placa indicando alguns dos pontos turísticos de Meknès

Em 2006, a cidade ganhou o prêmio pelo melhor azeite extra virgem do ano, em Roma, sendo indicada no guia italiano Cuisine & Vini ganhando o certificado de qualidade mundial de azeites.

A principal produção de vinho no Marrocos também fica em Meknès, assim esta é a melhor cidade para tomar um vinho cabernet. Os vinhos não são tão bons quanto os europeus, devido principalmente à sua localização geográfica, que não está na faixa considerada ideal para o cultivo das vinhas.

Família marroquina caminhando na Place El Hedim, um importante local da cidade

A cidade também é um importante centro de produção artesanal. É o local ideal para comprar bordados, escultura em madeira, tecelagem, couro, cerâmica e o artesanato típico de Meknès, os objetos feitos com a arte da damasquinaria (damasquinados são semelhantes aos trabalhos encontrados em Toledo, só que elaborados com ferro e prata).

Em Meknès, já se pode sentir mais do estilo de vida do marroquino tradicional. Não é tão moderna quanto Casablanca ou Rabat.

Foi em Meknès que eu vi a primeira mulher de burca, andando na Place El Hedim, um lugar bem movimentado da cidade. Ela se misturava ao turbilhão de pessoas, carros, bicicletas e ônibus, juntamente com outras mulheres sem burca.

Pessoas se misturam aos carros no meio das ruas. Uma cena bem comum nas cidades marroquinas. No meio do tumulto, uma mulher de burca.

Outro costume que choca um pouco a nós ocidentais são os bares freqüentados apenas por homens. Em alguns poucos bares pode-se encontrar uma mulher sentada, e nesse caso, 100% delas são turistas.

Mesmo que para nós seja um hábito mais do que normal mulheres se sentarem acompanhadas ou não em um bar, se uma mulher for fazer isso no Marrocos, é melhor estar acompanhada por um homem. As mulheres ocidentais são vistas pelos locais como “fáceis”, e sentar em um bar desacompanhada pode atrair o assédio indesejado de alguns homens mais saidinhos.

Os bares são frequentados apenas por homens, principalmente nas cidades mais tradicionais

A proximidade de Meknès com Fès (60 km), acabou prejudicando um pouco o turismo na cidade. Porém, a capital do sultão mais tirano da história do Marrocos oferece aos visitantes vários lugares não apenas bonitos, mas também históricos.

Não se pode negar que Meknès não tem as características marcantes das outras cidades imperiais como Rabat, a capital administrativa, Fès com sua divertida medina medieval e Marrakech com a inexplicável praça Djemma El Fna.

Mas mesmo assim, Meknès deve fazer parte de qualquer roteiro turístico, seja pelos seus belos portões, pelas ruínas que sobraram dos projetos megalomaníacos do Moulay Ismail ou pelo magnífico mausoléu desse terrível sultão.

Kasbah des Oudaïas, a casa dos piratas em Rabat

Um dos lugares mais interessantes para conhecer em Rabat é o Kasbah des Oudaïas, uma fortaleza que data do período almorávida (séculos XI e XII). Os almorávidas eram originalmente monges soldados provenientes de grupos nômades do Saara.

Visitei o Kasbah des Oudaïas à noite, após, visitar o Mausoléu de Mohammed V e a Mesquita Hassan. De longe já se avista a impressionante muralha do Kasbah, com cerca de 10 metros de altura e 2,5 metros de espessura.

 

Bela muralha almorávida do Kasbah des Oudaïas

Pode-se entrar no Kasbah pelo imponente portão Bab Oudaïa. Esse portão, assim como muitos dos grandes monumentos do Marrocos, é de fundação almóada, a dinastia que sucedeu aos almorávidas no século XII. O portão foi construído por volta de 1195, por Yacoub el Mansour na parede já construída por seu avô Abd el Moumen.

Imponente portão almoáda Bab Oudaïa

Bab Oudaïa se localiza na Rua Jamaa. O portão foi construído em cantaria (pedra talhada) e magnificamente esculpido em ambos os lados. O portão em si não impressiona tanto por seu tamanho, já que essa é uma característica da arquitetura almoáda, mas sim pela força visual e simplicidade da sua decoração.

A forma do portão é baseada na característica básica da arte islâmica, ou seja, o arco em forma de ferradura, que, nesse caso é seguido por 2 outros arcos decorados com o padrão geométrico darj w ktarf, que significa literalmente um desenho de rosto e ombros, lembrando vagamente uma flor-de-lis.

Entrando no Kasbah

O Kasbah des Oudaïas é um lugar pitoresco, com casas e ruas em um padrão diferente daquelas encontradas nos outros bairros de Rabat. Estando no Kasbah já se nota a diferença. São várias ruelas cheias de casas brancas e azuis, o que acabou originando a cor característica de Rabat (no Marrocos, cada cidade possui uma cor característica).

 

Por dentro do Kasbah des Oudaïas, um labirinto de ruelas charmosas pintadas de branco e azul

Existe toda uma atmosfera romântica permeando as ruas do Kasbah. Suas ruas com casas antigas, belos portões, vasos e mosaicos, nos remete a outra época. É como se tivéssemos voltado no tempo, ou sido transportados para algum cenário de filme.

Porém o Kasbah não é formado apenas por sensações e impressões que se formam nas nossas mentes quanto lá estamos. Ali também aprendemos um pouco da história do Marrocos e seus costumes.

No início era originalmente chamado de Mehdiya, sendo este Kasbah, o que deu origem ao nome da cidade, já que Kasbah significa fortaleza, assim como Ribat, primeiro nome de Rabat.

Quando os mouros e os andaluzes expulsos da Espanha chegaram em Rabat, o local tornou-se conhecido como Kasbah Andaluz, uma república  autônoma de piratas (1621-1647). Em 1833, a tribo Oudaïa guiada pelo Sultão Moulay Abderrahman de Fez se estabeleceu no local e lhe deu o nome de Kasbah des Oudaïas, pelo qual é conhecido até hoje.

Caminhos que se abrem para serem explorados

O Kasbah des Oudaïas funcionou como o bairro dos piratas durante 200 anos, de 1627 a 1829. Os piratas eram patrocinados pelo imperador Moulay Ismail, uma das figuras marcantes da história do Marrocos, conhecido tanto por sua extravagância, bem como pela sua crueldade lendária.

Ismail patrocinava os piratas tanto para obter tesouros roubados quanto para que mulheres de todo o mundo conhecido na época fossem seqüestradas  para incrementar seu harém, que contabilizava 500 esposas.

Casa do líder dos piratas dentro do Kasbah des Oudaïas

Protegidos por Ismaill, os piratas então usaram a cidade e o seu porto. O labirinto de ruelas que formam o Kasbah serviu de moradia para bandidos, traficantes e marginais, a maior parte composta por espanhóis (85%) e holandeses.

A cor azul das casas foi escolhida pelos próprios piratas, pois era a mesma cor das casas que eles possuíam em Córdoba, na Espanha, além de ser também a cor do mar, a outra moradia deles. Assim, os aparentemente saudosos piratas podiam se lembrar de suas casas.

Um dos canhões que defendiam a fortaleza

O Kasbah oferece uma bela vista para o mar, e foi justamente na parte mais aberta do rio Bou Regreg, que faz divisa com a cidade de Salé, que os piratas fizeram um banco de areia para que navios inimigos ficassem encalhados nesse local, bem na mira dos canhões presentes no interior do Kasbah. Hoje em dia, o local é usado para balsas que atravessam para Salé.

Entrada típica de uma casa no interior do Kasbah

As belas casinhas de paredes envelhecidas e descascadas enganam ao primeiro olhar. São simples por fora, porém por dentro são grandes, formadas por um átrio central espaçoso, geralmente com uma fonte no meio e quartos e salas construídos ao seu redor.

Vista discreta do interior de uma casa do Kasbah

Essa disposição dos quartos e salas ao redor do átrio é típica da arquitetura árabe. É no átrio que a família se reúne e as mulheres se encontram para conversar. No segundo andar ficam os quartos mais íntimos e no terceiro andar o terraço.

No segundo andar se vê pequenas janelas com grades de ferro formando pequenos desenhos. Essas janelas serviam para as mulheres olharem para as ruas sem serem vistas pelos homens.

Detalhe de uma casa mostrando o segundo andar com a pequena janela por onde as mulheres olhavam para a rua

Dentro das paredes do Kasbah também se encontra o Musée National des Bijoux (Museu de Joalharia marroquino), abrigado em um palácio do século XVII, rodeado por um belo jardim andaluz. Ainda nas proximidades, tem-se a mais antiga mesquita na capital, a Mesquita Kasbah, construída em meados do século XI.

O Kasbah des Oudaïas é um lugar bonito, diferente e tranquilo para se visitar. Apesar de parecer um labirinto formado por ruelas de paredes brancas e azuis, o local possui pouco mais de 150 metros de uma extremidade à outra. Assim, para quem quiser se aventurar sem um guia e, por acaso, acabar se perdendo, basta perguntar como se chega ao portão Bab Oudaïa ou La Plataforme, outra saída do Kasbah, próxima à cooperativa de tapetes e ao restaurante La Caravelle.

Belas portas enfeitam as ruas do Kasbah des Oudaïas

O Kasbah des Oudaïas vale a pena visitar não apenas por suas histórias, mas também pela encantadora atmosfera e por todos os cenários atemporais com que somos brindados e que se abrem na nossa frente para belas fotos.

 

Mausoléu Mohammed V e outros lugares em Rabat

Já li em alguns lugares que não compensa conhecer Rabat, a capital do Marrocos, principalmente quando comparada com as outras cidades imperiais como Fès e Marrakech.

Eu discordo muito dessa afirmação. Existem lugares lindos para visitar em Rabat e vou descrever alguns aqui.

O primeiro lugar que visitei na capital foi o Palácio Real, já falado no post anterior sobre Rabat.

De lá fomos para o Mausoléu de Mohammed V, avô do atual rei Mohammed VI, e o responsável pelo nome de várias avenidas por todo o Marrocos.

Chellah

Logo na saída do palácio, avistamos o Chellah, um belo conjunto de ruínas merínidas levantadas por cima de ruínas romanas.

O lugar, como já dá para perceber, tem um significado histórico duplo. Foi lá que os romanos construíram a antiga cidade de Sala Colonia. Até hoje ainda não foram descobertas ruínas significativas da presença romana no local, porém as escavações  já mostraram a existência da cidade e dão um idéia de sua importância na época.

Já a presença dos Merínidas, que vieram após os romanos, é bem mais evidente no Chellah. Os Merínidas foram uma dinastia bérbere (povo nativo do Marrocos) que reinou no país entre os séculos XIII e XV, logo após a queda dos Almóadas em Marrakech. Durante o reinado dessa dinastia, a capital foi transferida para Fès e posteriormente para Rabat.

A dinastia Merínida foi construída sobre uma combinação entre o islamismo tradicional e o folclore bérbere. Os governantes merínidas incentivaram muito o desenvolvimento das artes e arquitetura marroquina. Na época de seu domínio, o Chellah funcionava como um cemitério real.

Beleza e força da arquitetura merenida na muralha e porta do Chellah

Uma das partes que mais chama a atenção ​​do Chellah é a bela porta de 800 anos, típica da arquitetura merenida, que combina simplicidade e solidez. Em seu estado original, a porta era revestida de mármore com cores vivas e decorada com azulejos. Dá para imaginar que ela deveria ser então bem mais imponente e bela do que se vê hoje.

O Chellah abre diariamente das 9:00 as 17:30, o ingresso custa 10 dihans.

Mausoléu Mohammed V

Após passar o Chellah, chegamos ao Mausoléu Mohammed V, construído em 1962 pelo Rei Hassan II, o mesmo responsável pela construção da Mesquita Hassan II de Casablanca. Ele mandou construir esse imponente mausoléu em honra ao seu pai, o sultão Mohammed V, chamado pelos marroquinos como o “libertador do Reino”.

O sultão é lembrado como responsável pela luta que resultou na independência do Marrocos. Hoje em dia, Hassan II e seu irmão, Moulay Abdellah, também estão enterrados, ao lado de seu pai.

Fachado do Mausoléu de Mohammed V, construído com mármore branco e azulejos verdes

O mausoléu é uma obra prima da arquitetura hispano-mourisco e da arte tradicional marroquina.  Se do lado de fora ele já chama a atenção, do lado de dentro, seu encanto é ainda maior.

Foram necessários 400 homens para a construção do mausoléu, que levou cerca de 9 anos para ser completado.

 

Entrada principal do Mausoléu Mohammed V
Segurança com roupa típica guarda a porta que leva ao interior do mausoléu

A decoração rica em detalhes atinge o máximo da expressão e evolução da arte no Marrocos. Inscrições, desenhos, formas geométricas, cedro, ouro e mármore dão forma a um espaço belo e cuidadosamente planejado.

 

Interior do Mausoléu com a tumba principal do sultão Mohammed ladeada pelas de seus filhos

Rom Landau (1927-1974), autor britânico e estudioso da cultura árabe marroquina e também de outros países do Oriente Médio, escreveu que o Mausoléu de Mohammed V “une a majestade e a sobriedade da arte almoada, inteiramente dedicada à religião, a elegância e a pompa merenida e o sentido da grandeza das dinastias saadiana (séculos 16 e 17) e alaouita (séculos 17 e 18, os alaouitas são conhecidos por serem árabes descendentes de Maomé)”.

Bom, independente de conhecer ou não esses povos e dinastias, é impossível não se impressionar com a beleza do local.

Beleza do teto de cedro minuciosamente trabalhado

O Mausoléu constitui um importante santuário para os marroquinos e um dos poucos locais onde se permite a entrada de não-muçulmanos.

Devido à sua importância, seja história ou seja religiosa, o local é protegido por vários  guardas vestidos com vibrantes roupas vermelhas.

Inscrições e desenhos geométricos decoram as paredes do mausoléu

O Mausoléu de Mohammed V está localizado na Praça Al-Yacoub Mansour. A entrada é gratuita.

Mesquita Hassan

A Mesquita Hassan fica exatamente em frente ao Mausoléu do Mohammed V. Essa mesquita tem uma história bastante interessante e até certo ponto engraçada.

Inicialmente, a mesquita era o mais ambicioso de todos os edifícios almóadas. Ela foi encomendada pelo sultão Yacoub Al Mansour no final do século 12. Esse sultão pertencia à dinastia Almóada, uma potência religiosa bérbere que se tornou a quinta dinastia moura, tendo se destacado do século XII até meados do século XIII.

O desejo de Al Mansour era construir a maior mesquita do Marrocos, porém a mesma nunca foi concluída. Se tivesse sido finalizada, seria, na época, a segunda maior mesquita do mundo islâmico.

Mesquita Hassan, o projeto mais ambicioso, porém inacabado do sultão Al Mansour

Al Mansour decidiu construir a mesquita para celebrar sua vitória sobre o rei espanhol. Sua idéia de grandiosidade para o edifício superava até mesmo o número de habitantes em Rabat suficientes para frequenta-la.

Na época, a principal mesquita do Marrocos, localizada em Fès, tinha capacidade para 20.000 fiéis, no entanto, seriam necessários 100.000 fiéis para preencher a mesquita Hassan. Esse número nem de longe condizia com a população de Rabat, que naquele tempo era apenas um vilarejo elevado à condição de capital por Al Mansour.

Minarete inacabado de 50 metros de altura. O projeto inicial era de 80 metros

 

A torre teve sua construção iniciada em 1195, ao mesmo tempo em que a mesquita Koutoubia em Marrakech e a Giralda em Sevilha. Todas seguindo o estilo arquitetônico almóada.

Apesar de não aparentar, o minarete da mesquita Hassan é sem dúvida a mais complexa de todas as estruturas almóada, que caracterizam-se pela simplicidade e austeridade.

Cada fachada é diferente, com uma combinação distinta de padrões, com toda a complexidade das arcadas e curvas entrelaçadas sendo baseada em apenas dois modelos formais.

A parte cômica da construção da mesquita Hassan que os marroquinos gostam de contar fica por conta dos anseios religiosos e de grandiosidade de Al Mansour.

Segundo a tradição religiosa, quem constrói 7 mesquitas garante sua entrada direta no Paraíso com direito à compania de 14 virgens. A Mesquita Hassan, seria a sétima e maior mesquita a ser construída pelo sultão. Porém sua grandiosidade acabou atrapalhando seus planos, pois Al Mansour acabou falecendo antes de concluir seu projeto.

Com a sua morte, houve a mudança da dinastia almóada para a merínida e o seu sucessor simplesmente abandonou o projeto da construção da mesquita.

Al Mansour conseguiu construir durante sua vida seis mesquitas e meia e, por isso, o infeliz sultão não conseguiu garantir sua viagem de primeira classe para o Paraíso.

Independente de ter encontrado ou não as virgens no Paraíso, uma coisa é certa, Al Mansour passou a fazer parte das histórias bem humoradas que os marroquinos tanto gostam de contar.

A Mesquita Hassan abre diariamente entre 08:30 e 18:30, a entrada é gratuita.

Outros lugares para se conhecer em Berlim

É sempre interessante caminhar por Berlim. Pode-se ter várias surpresas com artistas de rua, pessoas fantasiadas à carater para fotos (incluindo algumas fantasias de mau gosto como as que fazem referência aos soldados de guerra) e pontos de interesse nem sempre descritos nos mapas.

Aqui vou descrever apenas mais alguns lugares que compensa visitar, mas com certeza vão ficar faltando muitos outros pontos interessantes.

Performista imitando um mendigo bêbado. O "mendigo" soltava um arroto cada vez que alguém lhe dava uma moeda. Arghhh, que mau gosto, mas que é engraçado, isso não dá para negar...

Alexanderplatz

Essa praça é bem conhecida. No início do século 19, a Alexanderplatz foi uma das mais movimentadas praças em Berlim. Já na Idade Média, era o centro da cidade e, desde a reunificação de Berlim, a grande praça voltou a ser o centro da cidade. Seu nome se deve ao czar russo Alexandre I, que visitou Berlim em 1805.

Na verdade, tive que ir até a Alexanderplatz logo no meu segundo dia em Berlin. Na noite anterior, eu queimei o carregador da bateria da máquina fotográfica por pura distração. Era 110 e eu liguei no 220… Resultado, no dia seguinte tive que comprar outro carregador.

A Fernsehturm na Alexanderplatz vista da janela do avião

No próprio albergue me indicaram como lugar mais perto a loja Saturn, que fica na Alexanderplatz. Essa loja, aliás é muito boa para quem quiser comprar eletrônicos em Berlim, pois encontra-se de tudo e o preço é convidativo.

Fernsehturm
É na Alexanderplatz que se encontra a torre de TV, conhecida como Fernsehturm, uma das maiores estruturas na Europa. A altura total até o topo da torre é de 365 metros. Quem vai para Berlim de avião, já consegue visualizar essa torre mesmo do lado de dentro, antes de aterrisar.

A Fernsehturm foi construída em 1969 por uma equipe de arquitetos, com a ajuda de especialistas suecos. Aliás, os suecos parecem ser bem entendidos do assunto, afinal em Estocolmo há a bela torre Kaknastornet, de 155 metros.

A Fernsehturm contém um eixo de concreto, uma enorme esfera de metal e uma antena de TV. Quando foi inaugurada, a torre era o orgulho da República Democrática da Alemanha. Na época, o local era usado para exibir filmes de propaganda comunista com o objetivo de promover a qualidade de vida na Berlim Oriental.

A moderna arquitetura da torre de TV Fernsehturm na Alexanderplatz

Hoje em dia, a Fernsehturm é uma das atrações mais populares Berlim. Os elevadores existentes na base da torre levam os turistas para a grande esfera. Lá em cima há um mirante que permite uma bela visão de 360 ​​graus de Berlim de uma altura de cerca de 203 metros.

Dependendo das condições climáticas pode-se  ter uma visibilidade de até 40 km. Acima da plataforma há o restaurante giratório Telecafé, onde pode-se comer e beber alguma coisa a uma altura de 207 metros.

A torre é aberta à visitação diariamente de março a outubro das 9:00 até meia noite e de novembro a fevereiro das 10:00 até meia noite. O ingresso custa 11,00 euros para adultos e 7,00 euros para crianças e adolescentes até 16 anos.

Potsdamer Platz

Se do lado oriental temos a Alexanderplatz, do lado ocidental da cidade há também outra praça bem famosa de Berlim. É a Potsdamer Platz, um local moderno, que foi totalmente remodelado após a reunificação. É a região onde hoje, empresas como Sony, Mercedez Bens, DaimlerChrysler e outras têm suas matrizes. Há também um shopping center gigante, o Potsdamer Platz Arkaden, um cinema 3D-IMAX, um cassino e o Sony Center.

Modernidade na Potsdamer Platz, onde antes era considerado "terra de ninguém"

A Potsdamer Platz é considerada como uma jóia da arquitetura moderna, uma fênix renascida das cinzas do pós guerra. Antes considerada uma “terra de ninguém” após a divisão de Berlim, hoje é uma região moderna, movimentada e bastante agradável.

Na Potsdamer Platz também há pedaços do Muro de Berlim e marcas no chão mostrando o local por onde o muro passava.

Pedaços do Muro de Berlim ainda estão presentes na Potsdamer Platz

Rotes Rathaus

Esta impressionante construção é a prefeitura de Berlim. Foi desenhada por Hermann Friedrich Waesemann, cuja inspiração veio dos edifícios da Renascença italiana, porém a torre da Rotes Rathaus é uma reminiscência da catedral gótica de Laon, na França.

A construção se deu entre 1861 e 1869. As paredes feitas de tijolo vermelho foram as responsáveis pelo nome dado à Câmara Municipal (prefeitura vermelha, em alemão), porém o nome também seria adequado à orientação política dos prefeitos que a construíram.

Mistura de estilos renascentista e gótico na construção da Rotes Rathaus

O edifício tem um friso conhecido como a “crônica de pedra”, que foi acrescentado em 1879. Esse friso mostra cenas e figuras da história da cidade e do desenvolvimento da sua economia e ciência.

Assim como a maioria das construções de Berlim, a Rotes Rathaus foi seriamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial. Após a reunificação da Alemanha, o prédio voltou a ser a prefeitura da cidade.

Friedrichswerdersche Kirche

Essa é uma bela igreja construída em 1830 no estilo neo gótico. A Friedrichswerdersche é uma obra-prima de Karl Friedrich Schinkel, o renomado arquiteto da Prússia responsável por grande parte das belas construções presentes na Unter den Linden, pela reforma da Berliner Dom, pelo Altes Museum e pela ponte Schlossbrücke. Esta última é a que fica mais perto da Friedrichswerdersche Kirche.

Friedrichswerdersche Kirche, a bela igreja neo gótica de Karl Friedrich Schinkel, vista do topo da Berliner Dom.

A igreja possui uma exposição permanente sobre a vida e obra de Schinkel e seus contemporâneos Johann Gottfried Schadow Christian e Daniel Rauch. Na nave encontra-se a coleção de esculturas do século 19, o trabalho de Schinkel e sua vida são mostrados no piso superior.

Oranienburger Strasse

Um lugar agradável para caminhar, com várias lojas, restaurantes e barzinhos é a Oranienburger Strasse, no lado oriental, perto da Museumsinsel. À noite, o local fica bem movimentado, sendo que a rua possui fama de ser o centro da cultura alternativa de Berlim.

Além dos agitados barzinhos, algumas construções chamam a atenção, como por exemplo, o Postfuhramt um grande e elegante edifício de tijolos localizado na esquina com a rua Tucholskystraße. Foi originalmente construído no século 19 como um estábulo para os cavalos que distribuíam a correspondência.

Sua fachada imponente lembra mais um palácio do que uma sede do correio. Atualmente ele é usado como local para exposições, principalmente de fotografia. A galeria é chamada de C|O Berlin.

A imponente fachada do Postfuhramt

Outra construção famosa na Oranienburger Strasse é a Neue Synagoge (Nova Sinagoga). Ela foi construída entre 1859 e 1866 como a principal sinagoga da comunidade judaica de Berlim. Sua inauguração contou com a presença de Otto von Bismarck, o então ministro presidente da Prússia, em 1866. Na época era a maior sinagoga da Europa, com 3.200 lugares.

Durante o século 19, Berlim começou a se tornar uma importante metrópole na Europa e muitos judeus provenientes do Império Otomano começaram a se estabelecer na cidade. A origem turca dos imigrantes judeus explica o porquê da influência moura e semelhança com o Alhambra em Granada na arquitetura da Neue Synagoge. Todo esse conjunto torna a sinagoga um importante monumento arquitetônico da segunda metade do século 19, em Berlim.

Neue Synagoge na Oranienburger Strasse

Nem precisa falar que o edificio gravemente danificado, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. A sinagoga foi saqueada, profanada e incendiada por nazistas em 1938, após foi fortemente danificada pelos bombardeios dos Aliados em 1943, incendiada por berlinenses em 1944 e demolida pelos alemães do leste comunista na década de 1950.

A sinagoga hoje existente é uma reconstrução feita por volta dos anos 80, resultando em uma mistura exótica de estilos.

Hoje em dia, a sinagoga funciona principalmente como um museu, com exposição sobre a história do edifício e dos seus fiéis e fragmentos de arquitetura e mobiliário originais.

É aberta a visitação domingo e segunda-feira das 10:00 às 20:00, terça-feira a quinta-feira das 10:00 às 18:00 e sexta-feira das 10:00 às 17:00 (abril a setembro) ou das 10:00 às 14:00 (outubro a março). A sinagoga é fechada aos sábados e no feriado judeu Yom Kippur.

A visita guiada dá uma idéia do tamanho da sinagoga original e da dimensão de sua destruição.