No post anterior, falei sobre o sítio arqueológico de Volubilis desde a entrada até o final da Decumanus Maximus, a principal via leste-oeste das cidades romanas. Agora partiremos desse ponto até a saída de Volubilis.
Ao final da Decumanus Maximus, encontra-se a Maison à l’Ephèbe (Casa de Éfebo), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um jovem (éfebo) encontrada em suas ruínas e hoje em exposição no museu de Rabat.
O desenho da casa é muito semelhante à Casa de Orfeu, com um átrio central, quartos privados e públicos e uma prensa de azeite na parte traseira. Essas prensas, aliás, eram bem comuns em Volubilis, já que um dos principais cultivos existentes era de olivas.
O mosaico na casa mais conhecido é uma representação de Baco, o deus do vinho, em uma carruagem puxada por panteras.
Nesse ponto, a Decumanus Maximus cruza com a Cardus Maximus, que era a principal via norte-sul das cidades romanas. Era nessa via que se encontravam as principais construções como fórum, capitólio e basílica.
Um fator interessante da Cardus Maximus era que essa via era sempre direcionada para a próxima cidade romana, e assim sucessivamente, até chegar em Roma. Daí se originou o ditado “Todos os caminhos levam à Roma“.
Neste cruzamento, encontra-se o belíssimo Arco Triunfal ou Arco de Caracalla, construído em 217 DC em homenagem ao imperador Caracalla. O arco relativamente preservado possui colunas coríntias feitas com mármore importado. Em cada pilar encontram-se medalhões esculpidos que retratam provavelmente o imperador Aurelius Antoninus (Caracalla) e sua mãe Julia Augusta, cujo nome também está nas inscrições acima do arco.
O propósito do arco era claramente o de mostrar a onipotência de Roma e de seu imperador aos olhos das populações árabes. As inscrições acima do arco exaltam as virtudes e o poder do imperador Caracalla e de sua mãe Julia Augusta.
Logo ao lado do Arco de Caracalla está a Maison au Chien (Casa do Cachorro), que recebeu esse nome devido à estátua de bronze de um cachorro encontrada no local. A casa é facilmente reconhecida por ter em seu interior uma pedra com um orgão masculino esculpido. A escultura servia para indicar o caminho para o bordel, um tipo de casa existente em todas as cidades romanas. Os bordéis eram identificados por sinais como esse, pintados ou esculpidos, sempre apontando em direção ao estabelecimento.
Também em frente ao Arco de Caracalla e a Maison au Chien, encontram-se as Termas, onde ficavam os banheiros públicos.
Os banheiros romanos geralmente são reconhecíveis por possuírem lugares para se encostar, como assentos, por onde passava água corrente por baixo para levar os resíduos. Os assentos eram distribuídos de forma cicular. Os menores no interior eram destinados para mulheres e crianças, enquanto os maiores no exterior eram para os homens.
Imagino que esses banheiros públicos não deviam ser nada agradáveis nem higiênicos. Segundo o guia, a água que corria por baixo continha rosas com o objetivo de mascarar o odor. Arghhh!
Continuando a caminhada pela Cardus Maximus, chegamos na Maison au Desultor (Casa do Atleta ou Casa do Acrobata), onde há mosaicos se referindo à vida cotidiana de Volubilis. Um deles retrata um acrobata em cima de um cavalo, outro mostra o desenho de peixes com a inscrição Piscat (pesca) em cima.
Chegamos agora nas principais construções romanas em Volubilis. A primeira delas é o Fórum ocupando uma área de 1300 metros². O Fórum consistia na principal base da vida administrativa, política e religiosa da cidade. Era no Fórum que eram feitos discursos em homenagens a algum nobre falecido ou ao imperador.
Em um dos lados do prédio ficava o templo e no outro, a Basílica. O local era rodeado de muitas estátuas de mármore ou bronze, porém hoje em dia restam apenas os pedestais das mesmas.
A Basílica estende-se por cerca de 1000m². Sem dúvida, esta é a construção que mais chama a atenção em Volubilis. Logo da entrada já é possível ver suas imponentes ruínas. Era na Basílica que aconteciam as audiências judiciárias e a administração da cidade, dirigida por sete juízes.
Este é um dos locais mais bonitos de Volubilis que fornece um belo exemplo da arquitetura romana, além de mostrar claramente como funcionava a parte política e administrativa da cidade na época.
Logo atrás da Basílica está o Templo Capitolino, construído em honra do imperador Macrinus em 217 DC. O templo ficava em um espaçoso pátio pavimentado, cercado de vários pórticos. Ao pé da escadaria ficava o altar retangular para os sacrifícios.
O Templo Capitolino possui quatro colunas na frente que foram magnificamente restauradas e duas outras na parte posterior.
Chegamos agora ao final da Cardus Maximus e da visita aos principais pontos de Volubilis.
Como dá para notar, vale muito a pena visitar Volubilis. Esse grande sítio arqueológico merece ser explorado calmamente, pois há várias casas, mosaicos, ruas, arcos e os belos edifícios públicos como a Basílica, o Fórum e o Capitólio. Volubilis nos presenteia com uma mostra muito completa do que era uma cidade romana na época, sua organização, mosaicos e arquitetura.
Como acontece em vários outros sítios arqueológicos, muitas das peças encontradas no local estão dispersas por vários museus no mundo. Algumas peças porém permanecem no Marrocos, no Museu Arqueológico em Rabat.
Infelizmente também, muitos dos mármores existentes nas construções foram retirados a mando do sultão megalomaníaco Moulay Ismail para as suas construções em Meknès, contribuindo para a depredação do local. Além disso, vários prédios que ainda estavam de pé acabaram por ruírem devido ao terremoto de Lisboa em 1772.
O simpático guia local que nos acompanhou lamentou profundamente que Volubilis não está tão preservada quanto deveria e completou falando que ainda tem muito o que explorar no local, pois, na verdade, menos da metade de todo o sítio foi escavado.
Fico imaginando quanta riqueza e história ainda estão escondidas abaixo de toda aquela imensa área a ser escavada.
O sítio arqueológico de Volubilis, assim como o Heri es Souani de Meknès, foi usado como cenário para o filme de Martin Scorsese, A Última Tentação de Cristo.
O local é aberto diariamente ao público entre 9:00 e 12:00 e depois das 14:30 às 18:00. O ingresso custa 20,00 dihans, aproximadamente 2,00 euros.
Após conhecer Meknès, fui para Volubilis, um sítio arqueológico, protegido pela UNESCO desde 1997. A cidade que ali existia pertencia ao Império Romano, porém, sua origem parece ser ainda mais antiga. Algumas escavações feitas em 1915 revelaram que o local já era habitado na Idade do Ferro e no período Cartagiano no século 3 AC.
Com a dominação romana, em 45 DC, o local ganhou as características típicas da urbanização das cidades romanas: muralhas, fórum, capitólio e basílica. A cidade aumentou de tamanho e ganhou uma grande malha de ruas em 169 DC.
Como muitos lugares no Marrocos, existem guias locais na entrada oferecendo seus conhecimentos. Nesse caso, compensa aproveitar a presença do guia, pois ele nos mostra detalhes que passariam despercebidos ou seriam interpretados erroneamente. Os guias falam inglês, francês, espanhol e árabe.
Volubilis fica a apenas 33 km de Meknès e 4 km de Moulay Idriss. É possível se hospedar em qualquer uma dessas cidades e de lá pegar o Grand Taxi para até Volubilis. Esses taxis são do mesmo tipo existentes nas demais cidades do Marrocos e não saem muito caro.
As ruínas que se vê hoje em dia são dos séculos II e III DC. Estima-se que em seu auge, Volubilis tinha uma população de cerca de 20.000 pessoas. A cidade era o posto mais afastado de Roma e fornecia ao Império olivas e trigo, além de animais selvagens como leões e ursos do Atlas para os jogos nas arenas. Foram tantos animais enviados à Roma, que o urso do Atlas, único urso da África, entrou em extinção. O último a ser visto foi em 1867, na fronteira entre Marrocos e Argélia.
A entrada para a cidade romana é feita pela porta sudeste. De lá dá para ver a cidade sagrada de Moulay Idriss e seu formato de camelo deitado. A paisagem ao redor também é muito bonita, com as montanhas Atlas ao fundo.
Começamos a caminhada pelo sítio arqueológico andando por entre as ruínas do Templo dedicado a Saturno, deus do tempo (Cronos para os gregos), porém, o templo parece ter sido um local de adoração para os cartagianos também, pois várias oferendas votivas foram descobertas durante as escavações.
Passando pelas ruínas, chega-se à rua do Aqueduto construído ao final do primeiro século DC. O aqueduto coletava água de uma fonte localizada a cerca de 1 kilometro da cidade. Dele saiam tubulações que forneciam água para as casas particulares, fontes e banhos e banheiros públicos.
No alto da rua do Aqueduto, encontra-se a Maison au Cortège de Vénus (Casa da Procissão de Vênus), onde estão um dos mais preservados mosaicos de Volubilis. Não se pode entrar na casa, mas é possível ver os mosaicos andando ao redor dela. O primeiro mosaico mostra a cena da deusa da caça, Diana, sendo surpreendida durante o banho pelo caçador Actéon. Irritada com a intromissão, Diana transforma o descuidado caçador em um cervo que acaba sendo devorado pelos próprios cães.
O segundo mosaico mostra a cena de Hylas sendo seduzido e levado pelas ninfas do lago. Hylas era um rapaz amado por Hércules que foi raptado pelas ninfas da água quando foi matar a sede em um rio.
A casa de Vênus é uma das maiores de Volubilis (mais de 1000 m²) e mostra o típico arranjo de casas romanas. A entrada principal conduz a um vestíbulo de grande porte que se abre diretamente para um pátio com piscina. Ao redor do pátio estão os quartos e salas de recepção, estar e jantar. Não se sabe quem morou nessa casa, mas com certeza fazia parte da alta classe de Volubilis, pois foram encontrados os bustos de Cato e Juba II, personagens importantes na história de Roma.
Chegamos agora na rua principal de Volubilis, a Decumanus Maximus, essa avenida existia em todas as cidades romanas, sendo a principal via que ligava a cidade na direção leste-oeste. Nela se encontravam as melhores mansões e seus belos mosaicos. No topo da Decumanus Maximus se vê a Porta de Tanger que data de 168 DC e servia como porta de entrada para Volubilis.
Continuando pela Decumanus Maximus, iremos passar por várias das principais mansões de Volubilis. Logo no início se encontra o Palais de Gordien, facilmente reconhecido pela quantidade de colunas. O local era a residência dos procuradores que administravam a cidade. Infelizmente, hoje se encontra bem depredado e sem mosaicos, graças aos saques comandados por Moulay Ismail de Meknès.
Na sequencia, ao lado direito, tem-se as casas Maison des Fauves, com mosaicos de leões, panteras e tigres, Maison du Bain des Nymphes e Maison de Dionysos. Bem de frente, do outro lado da rua, está a Maison des Néréides. Na Maison de Dionysos, o deus do vinho é representado nos mosaicos coroado com folhas de videira. Além do deus, os mosaicos também fazem alusão às quatro estações do ano.
Após, tem-se a Maison aux Travaux d’Hercule (Casa dos Trabalhos de Hércules). Nessa casa, os mosaicos, distribuídos em painéis ovais, representam os 12 trabalhos que Hércules executou: Matar o leão de Neméia, matar a Hidra de Lerna, capturar o javali de Erimanto, capturar a corsa de Cerinéia, que tinha os cascos de bronze e os chifres de ouro, expulsar as aves do lago Estinfale, na Arcádia, limpar os estábulos do rei Augias, da Élida, em um só dia, capturar o touro selvagem de Minos, rei dos cretenses, capturar os cavalos devoradores de homens do rei Diomedes da Trácia, obter o cinto de Hipólita, rainha das Amazonas, as mulheres guerreiras, buscar o gado do monstro Gerião, levar as maçãs de ouro do jardim das Hespérides para Euristeu e, por fim, capturar Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os infernos.
Na casa de Hércules também há mosaicos com motivos para espantar o mau olhado, como golfinhos, tridentes e a suástica.
A casa vizinha é a Maison au Cavalier (Casa do Cavaleiro), com o parcialmente destruído, porém belo, mosaico de Dionísio descobrindo sua amada Ariadne dormindo na praia de Naxos. A casa ganhou esse nome por ter sido o local onde foi encontrada, em 1918, uma estátua de bronze de um cavaleiro. A casa apresenta um formato quadricular com uma área total de 1700 m².
Olhando o estraordinário mosaico, fica-se imaginando como era feito na época um trabalho tão detalhista e perfeito.
Atravessando uma porta, entramos na casa vizinha, a Maison aux Colonnes (Casa das Colunas), parcialmente restaurada. A casa não possui mosaicos, no centro há uma grande piscina circular rodeada por colunas retorcidas, as quais deram origem ao seu nome.
É possível entrar nessa casa e andar ao redor da piscina.
Chegamos agora ao final da Decumanus Maximus, no cruzamento com a Cardus Maximus, próximo ao Arco de Caracalla. Essa outra parte do sítio arqueológico de Volubilis inclui alguns dos prédios mais bem conservados e será descrita no próximo post.
Moulay Idriss fica no caminho entre Meknès e a cidade romana de Volubilis. É uma cidade histórica para os marroquinos pois é onde se encontra o túmulo de Moulay Idriss, o fundador da primeira dinastia árabe do país, conhecida como idrissidas. Além disso, a cidade também é sagrada, pois Moulay Idriss era descendente direto de Maomé, filho de Fátima.
Moulay Idriss procurou refúgio no Marrocos após ascenção ao poder dos Abácidas, inimigos de sua familia. No Marrocos, ele obteve apoio das tribos berberes, sendo proclamado iman (conselheiro da fé muçulmana) em 789.
Uma após a outra, todas as principais tribos do Marrocos juraram lealdade a ele. Porém, acabou sendo assasinado por seus inimigos Abácidas. Desde então, a cidade se tornou local de peregrinação para os marroquinos, que vêm em grande número ao longo do ano, em particular na ocasião da festa conhecida como moussem ou peregrinação, comemorada em agosto.
A peregrinação à Moulay Idriss vale como a ida até Meca para os muçulmanos pobres sem condições financeiras para viajar até a cidade sagrada do Islã.
Curiosamente, Moulay Idriss tem o formato de um camelo deitado. A cidade é composta por 2 distritos: Tasga e Khiber. As casas com seus telhados verdes são construídas umas em cima das outras. As ruas entreitas levam ao mausoléu de seu fundador, bem no centro da cidade. Um minarete cilíndrico moderno, decorado com azulejos verdes que reproduzem versos do Corão, contrasta com o estilo predominante da arquitetura.
Apesar de todo o seu significado para o Marrocos, Moulay Idriss não tem muito a oferecer aos turistas ocidentais, uma vez que não é permitida a entrada de não muçulmanos nos santuários.
Um dos primeiros lugares que visitei em Meknès e também um dos lugares mais interessantes da cidade é o Heri es Souani, um complexo de 3 diferentes construções localizado a cerca de 500 metros ao sul do palácio real. O Heri es Souani funcionava como celeiro e estábulo e foi construído no início do século 18 na época do reinado do cruel e megalomaníaco sultão Moulay Ismail.
A construção possui dimensões colossais, é composta por 23 naves suportadas por pilares e arcos. Existem 10 grandes salas de teto abobadado com dimensões de mais de 25 metros de comprimento por 10 metros de largura.
O lugar era usado para estocar alimentos e por isso as paredes são bem grossas, de forma a evitar a degradação em virtude da baixa temperatura mantida no local, evitando assim as oscilações de temperatura da região. Devido a isso, o interior do Heri es Souani é bem frio. É recomendável entrar com uma blusa de frio para não se sentir desconfortável lá dentro.
Uma parte da construção contém os poços rodas de água, puxado por animais, formando um grande reservatório que ganhou o nome de “Dar El Ma” (Casa da Água). Esse reservatório servia para abastecer o prédio e os jardins do harém do sultão, com o intuito de divertir as suas 500 esposas e 800 filhos.
Ao fundo do celeiro fica o estábulo, construído para ter uma capacidade para 12.000 cavalos, pertencentes ao sultão. Essa parte está um pouco destruída, são ruínas abertas já desgastadas pelo tempo e má conservação.
Todo o local é muito interessante, vale muito a pena visitar. Ao passar por sua porta de entrada, tem-se a impressão que está voltando ao passado. Não é a toa que o Heri es Souani foi usado como cenário para a gravação dos filmes “A Última Tentação de Cristo” e “Jesus de Nazaré”.
O prédio foi restaurado e é totalmente aberto à visitação. A entrada custa 10 dihans, o equivalente a 1 euro. Dá para fazer um tour virtual no site da Panoramaroc.
Koubba el Khayatine
Koubba el Khayatine (ou Qoubet Al Khiyatin), também conhecido como Salão dos Embaixadores, é o local onde o imperador Moulay Ismail recebia os embaixadores estrangeiros. Seu nome significa Casa dos Alfaiates, devido aos estabelecimentos de alfaiates que se instalaram ao redor do prédio.
No subterrâneo há uma série de salas conhecidas segundo a tradição popular como Prisão dos Escravos Cristãos. Estes eram trazidos prisioneiros pelos piratas patrocinados por Moulay Ismail para trabalharem nas inúmeras construções de Meknès. No total, são sete hectares de câmaras e passagens subterrâneas iluminadas apenas pelos buracos existentes na parte superior.
Várias lendas cercam a construção, uma delas conta que os escravos que morriam durante o trabalho eram enterrados nas próprias paredes que estavam construindo, porém nenhum corpo humano foi encontrado, mesmo nas paredes que viraram ruínas. Outra lenda local diz que, abaixo do Koubba el Khayatine, existem 3 túneis subterrâneos que levam para Fès, Volubilis e Médio Atlas.
O Koubba el Khayatine e a Prisão dos Escravos Cristãos são abertos diariamente das 9 até meio-dia e depois das 15 até 18 horas. O mesmo ingresso vale para os dois lugares e custa 10 dihans.
Mausoléu de Moulay Ismail
Um dos locais mais exuberantes de Meknès é, sem dúvida alguma, o Mausoléu de Moulay Ismail, localizado próximo ao Koubba el Khayatine e ao portão Bab er-Rih. Assim, como o Mausoléu de Mohammed V em Rabat, a entrada é permitida para não muçulmanos, com exceção de sexta-feira.
O mausoléu foi construído quando o imperador ainda estava vivo e, desde sua morte, o local é visto como um exemplo do explendor vivido pela cidade durante seu reinado e também como um local de adoração, aonde muitas mulheres vão em busca de baraka, ou seja, boa sorte e fortuna.
É difícil entender a adoração por um imperador conhecido por sua crueldade e excessos, porém, para os marroquinos, Moulay Ismail é lembrado por suas realizações, por trazer a paz e prosperidade ao país, após um período de anarquia, e expulsar os espanhóis de Larache e os britânico de Tânger. Tudo isso aliado ao fato dele ser tido como o fundador da dinastia Alaouita e um grande seguidor do islamismo.
Bom, independente da forma como o sultão é visto, o mausoléu é digno de admiração. Ao passar pelas portas da entrada, logo se chega a um grande átrio com uma fonte no centro. Todas as paredes do átrio são decoradas com belos desenhos em zellij, os pequenos azulejos coloridos.
Por ser um lugar sagrado para os marroquinos, antes de entrar nas salas do santuário é necessário tirar os sapatos, que permanecem na entrada.
O interior é formado por uma sucessão de salas ricamente trabalhadas, o pátio interior é decorado com deslumbrantes mosaicos, as portas são cuidadosamente esculpidas, as fontes são de mármore, o teto de madeira de cedro e os pisos cobertos por suntuosos tapetes.
A última sala é onde se encontra a lápide de mármore branco de Moulay Ismail. Os outros dois túmulos são de seu filho e sucessor, Moulay Ahmed Ad-Dahab e do sultão Moulay Abderrahman Ibn Hisham, ao lado direito está o túmulo de Lalla Khanty, sua primeira esposa. O chão é totalmente coberto por magníficos tapetes.
Nesta sala não é permitida a entrada de não muçulmanos.
A entrada é gratuita. O mausoléu é aberto diariamente entre 8:30 e 12:00 e das 14:00 as 18:00. Na sexta-feira, é permitida a entrada somente de muçulmanos.
Campo de Golfe Real
Bem próximo ao Mausoléu de Moulay Ismail, passando o portão Bab er-Rih e virando à esquerda, encontra-se a entrada, vigiada por soldados da guarda real, do Campo Real de Golfe, inaugurado em 1969.
O campo de 9 buracos fica na área dos jardins do palácio real, completamente fechado dentro das enormes muralhas imperiais. O jardim do local é repleto de milhares de flores, laranjeiras, oliveiras, palmeiras, além das plantações de ameixas, nêspera e damasco.
O campo foi recentemente aberto ao público. Mesmo os não-jogadores podem entrar e ter acesso à casa do clube para tomar uma bebida ou fazer uma refeição. A taxa de entrada para um único dia é de 150 dihans.
Meknès possui quase 40 km de muralhas construídas por Moulay Ismail. As muralhas são pontuadas por suntuosos portões, como Bab El-Khemis, Bab Bardaïne, Bab Al-Mansour, Bab M’Rah, Bab Rih, Bab Nouar Jamaa e Bab Bordj, apenas para citar alguns. Os portões são verdadeiras obras de arte, construídos com todo o cuidado relacionado aos desenhos e detalhes, algo típico do Marrocos, almejando obter a aprovação tão necessária do sultão Moulay Ismail.
Bab el Khemis
Esse portão parece ser injustamente negligenciado em alguns guias, pois não é citado nem no Lonely Planet nem no Rough Guide. Bab el Khemis é um dos portões mais famosos da muralha de Meknès. Atualmente o portão e a muralha ao redor estão repletos de buracos, mas isso se deve ao processo de restauração. Vários monumentos espalhados por todo o Marrocos estão sendo restaurados ou à espera de restauração com a ajuda da UNESCO, já que muitos monumentos fazem parte da lista de patrimônio da humanidade, incluindo a cidade imperial de Meknès.
Bab el Khemis ou Bab Lakhmis só perde em tamanho para o Bab el Mansour, o principal portão de Meknès. Seu nome (Porta de Quinta-feira) se deve à feira que ocorria no local toda quinta-feira.
A porta se localiza na entrada principal do bairro dos Jardins, construído por Moulay Ismail e destruído pelo seu filho Moulay Abdallah, que não ficou satisfeito com a recepção que recebeu dos moradores, após voltar de uma campanha mal sucedida.
Ele foi construído no século 17 em terreno doado pelo sultão a um médico judeu que havia curado uma de suas princesas. As imponentes torres existentes uma de cada lado do portão possuem 4,70 metros de altura e 6,50 metros de largura. No alto, Bab el Khemis é decorado com uma inscrição feita em azulejos pretos sobre o trabalho em alvenaria. Na inscrição se lê:
“Eu sou a porta aberta a todas as pessoas, seja no Ocidente ou Oriente. Eu sou a porta feliz com a minha fama como a lua cheia no céu. Eu fui construída por Moulay Ismail, a fortuna e a prosperidade estão inscritas na minha fronte, eu estou cercada por felicidade”.
Bab el Mansour
Bab el Mansour é o principal portão de Meknès. Essa bela porta constitui um desafio à paciência do turista desejoso de uma boa foto. Bab el Mansour fica em uma região congestionada por carros, pessoas, ônibus, animais, bicicletas e tudo mais que se possa mover. Todos passando ao mesmo tempo na frente da máquina fotográfica.
Esse portão é tido, com razão, como o mais bonito de todo o Marrocos e uma das maiores obras de Moulay Ismail. Bab el Mansour ainda é classificado como estando entre os quatro melhores portões do mundo. Foi construído por um arquiteto cristão convertido ao islamismo, com o objetivo de ascender na corte de Moulay Ismail.
Ele era conhecido como o “Renegado Vitorioso” ou Mansour Laalej, daí o nome do portão (Mansour em árabe significa Vitorioso).
Uma lenda local relata que uma vez o sultão, ao inspecionar o portão, perguntou a El Mansour se ele poderia fazer melhor. O arquiteto teve a infeliz idéia de responder que sim, o que lhe rendeu a sua execução imediata. Essa história, na verdade, parece não ter ocorrido, uma vez que a porta foi concluída em 1732, na época no reinado de Moulay Abdallah, filho de Moulay Ismail.
Seja qual for a verdade, Bab el Mansour é um dos lugares mais visitados em Meknès e uma adaptação interessante do estilo almóada clássico, com colunas de mármore trazido do sítio arqueológico romano de Volubilis, próximo à Meknès.
Bab el Mansour é surpreendentemente rico em sua decoração que permanece quase perfeitamente preservada. O portão é completamente coberto com cerâmica e mosaicos em tons de verde. Seus ricos detalhes são feitos com pedaços de terracota vitrificada, em formato côncavo ou em relevo, de modo a dar a ilusão de um tecido brocado.
Os motivos decorativos encontrados tanto na porta quanto nos baluartes são feitos seguindo o padrão almóada darj w ktarf, que significa um desenho de rosto e ombros, lembrando vagamente uma flor-de-lis.
A inscrição ornamental no alto da porta exalta o triunfo de Moulay Ismail e, mais ainda, de Abdallah, vangloriando-se que não há porta igual em Damasco ou Alexandria. A altura total do portão é de cerca de 16 metros, a abertura do arco é de quase 8 metros.
Place el-Hedim
Não tem como falar do Bab el Mansour sem mencionar a praça El-Hedim, a principal causa do congestionamento na região, ao meu ver. A Place el-Hedim é o centro da atividade da Medina de Meknès, ela se localiza no cruzamento entre a antiga Medina e o Palácio Real, ainda próximo dela está o Dar Jamai, o museu de arte marroquina que abriga belas peças da cidade imperial.
Na praça há um mercado fascinante de frutas, legumes, carnes, aves, pão, e claro, especiarias. Esse tumultuado local é uma boa preparação para a praça Djemaa el Fna de Marrakech, porém em menores proporções.
Seu nome significa Praça do Entulho ou Praça da Demolição. Ela ganhou esse nome quando foi usada para depósito de materiais de construção usados na época de Moulay Ismail. O mármore e outros materiais trazidos de Volubilis para construir a cidade imperial foram armazenados aqui.
Essa retirada de tanto material danificou profundamente o magnífico sítio arqueológico de Volubilis, hoje felizmente patrimônio da humanidade, protegido pela UNESCO.
A praça foi remodelada nos anos 90 em um local para pedestres, com fontes, lojas e arcos decorativos. Bem movimentada, a Place el Hedim fornece um local ideal para tomar um chá de menta e observar o ritmo da vida em Meknès com toda sua cultura tão diferente para nós ocidentais.
À noite, a praça fica povoada por contadores de histórias, encantadores de serpentes, acrobatas, vendedores e toda a diversidade de artistas e performistas.
Bab en Nouar
Esse portão fica paralelo ao Bab el Mansour e foi construído na mesma época. Eele é menor em tamanho, porém segue o mesmo estilo. Esse é o portão onde se pode realmente atravessar, já que o Bab el Mansour fica a maior parte do tempo fechado, sendo aberto somente para exposições temporárias.
Embora suas proporções sejam mais modestas, quando comparado com seu concorrente Bab el Mansour, suas linhas são fortes e harmoniosas. O portão leva à Mesquita El Nouar.
Bab er-Rih
Esse belo portão fica próximo ao Mausoléu de Moulay Ismail (assunto para o próximo post). Seu nome original parece ter sido Bab er-Rais, que significa Porta do Capitão, porém hoje ele é conhecido como Bab er-Rih, Porta dos Ventos, em árabe, devido à sua disposição em linha reta, aberto a todos os ventos.
Ao contrário dos anteriores, ele é formado por dois arcos principais mais estreitos apoiados em colunas pesadas. Sua decoração fica por conta dos cuidadosamente trabalhados desenhos geométricos no alto dos arcos.
Fui para Meknès, após conhecer Rabat, a capital do Reino do Marrocos.
Foram 140 km apreciando a paisagem com as montanhas Atlas sempre ao fundo e as várias plantações de pistache nas proximidades de Rabat, assim como as plantações de azeitonas e uvas formando o cenário principal da região de Meknès. Além, é claro, dos muitos pastores com seus rebanhos de ovelhas.
Meknès é uma das quatro cidades imperiais do Marrocos, as outras são Fès, Marrakech e Rabat. A cidade possui cerca de 1 milhão de habitantes e, assim como as demais cidades do Marrocos, também possui uma cor característica, que no seu caso é verde.
A história da cidade está intimamente ligada a Moulay Ismail, o sultão alaouita, conhecido por sua crueldade. Porém, a origem de Meknès é mais antiga, datando do século X. Nessa época, a tribo Meknassa, atraída pelo solo fértil, água em boa quantidade e muitos jardins, se estabeleceu nas margens do rio Oued e fundou Meknassa Zeitouna e Meknassa Taza.
Conquistada pelos Almorávidas no século XI, a cidade foi principalmente um posto militar, antes de se expandir sob o domínio da dinastia Almóada, no século XII e mais tarde sob o reinado dos Merenidas.
No início do século XVII, Meknès se tornou uma próspera cidade, porém somente no final do século, com a chegada do sultão alaouita Moulay Ismail ao poder, que Meknès se tornou uma das maiores cidades imperiais do Marrocos.
Em 1672, Moulay Ismail fez de Meknès a capital do Marrocos. O mal afamado sultão usou de todos os seus recursos para dotar a capital de monumentos grandiosos. Sua intenção era que Meknès fosse conhecida como a Versailles Marroquina.
Para garantir sua ambição, ele recrutou um exército de operários, artesãos, escravos, prisioneiros e moradores das vilas próximas para a construção dos muitos quilômetros de muralhas e paredes, portões majestosos, celeiros, estábulos, arquedutos, mesquitas, jardins, palácios e kasbahs (fortaleza).
Mais do que isso, ele ainda ordenou a destruição de monumentos e palácios em Fès e Marrakech, para que nenhuma cidade do Marrocos fosse mais bonita que Meknès.
O declínio da cidade começou com a morte de Moulay Ismail. Porém, Meknès continua mantendo seu charme de cidade imperial. Hoje em dia, a cidade é o centro de uma região rica, caracterizada por uma agricultura crescente, onde azeitonas, cereais, citrinos, azeite e vinho fazem parte dos principais produtos comercializados e exportados.
Em 2006, a cidade ganhou o prêmio pelo melhor azeite extra virgem do ano, em Roma, sendo indicada no guia italiano Cuisine & Vini ganhando o certificado de qualidade mundial de azeites.
A principal produção de vinho no Marrocos também fica em Meknès, assim esta é a melhor cidade para tomar um vinho cabernet. Os vinhos não são tão bons quanto os europeus, devido principalmente à sua localização geográfica, que não está na faixa considerada ideal para o cultivo das vinhas.
A cidade também é um importante centro de produção artesanal. É o local ideal para comprar bordados, escultura em madeira, tecelagem, couro, cerâmica e o artesanato típico de Meknès, os objetos feitos com a arte da damasquinaria (damasquinados são semelhantes aos trabalhos encontrados em Toledo, só que elaborados com ferro e prata).
Em Meknès, já se pode sentir mais do estilo de vida do marroquino tradicional. Não é tão moderna quanto Casablanca ou Rabat.
Foi em Meknès que eu vi a primeira mulher de burca, andando na Place El Hedim, um lugar bem movimentado da cidade. Ela se misturava ao turbilhão de pessoas, carros, bicicletas e ônibus, juntamente com outras mulheres sem burca.
Outro costume que choca um pouco a nós ocidentais são os bares freqüentados apenas por homens. Em alguns poucos bares pode-se encontrar uma mulher sentada, e nesse caso, 100% delas são turistas.
Mesmo que para nós seja um hábito mais do que normal mulheres se sentarem acompanhadas ou não em um bar, se uma mulher for fazer isso no Marrocos, é melhor estar acompanhada por um homem. As mulheres ocidentais são vistas pelos locais como “fáceis”, e sentar em um bar desacompanhada pode atrair o assédio indesejado de alguns homens mais saidinhos.
A proximidade de Meknès com Fès (60 km), acabou prejudicando um pouco o turismo na cidade. Porém, a capital do sultão mais tirano da história do Marrocos oferece aos visitantes vários lugares não apenas bonitos, mas também históricos.
Não se pode negar que Meknès não tem as características marcantes das outras cidades imperiais como Rabat, a capital administrativa, Fès com sua divertida medina medieval e Marrakech com a inexplicável praça Djemma El Fna.
Mas mesmo assim, Meknès deve fazer parte de qualquer roteiro turístico, seja pelos seus belos portões, pelas ruínas que sobraram dos projetos megalomaníacos do Moulay Ismail ou pelo magnífico mausoléu desse terrível sultão.
Um dos lugares mais interessantes para conhecer em Rabat é o Kasbah des Oudaïas, uma fortaleza que data do período almorávida (séculos XI e XII). Os almorávidas eram originalmente monges soldados provenientes de grupos nômades do Saara.
Visitei o Kasbah des Oudaïas à noite, após, visitar o Mausoléu de Mohammed V e a Mesquita Hassan. De longe já se avista a impressionante muralha do Kasbah, com cerca de 10 metros de altura e 2,5 metros de espessura.
Pode-se entrar no Kasbah pelo imponente portão Bab Oudaïa. Esse portão, assim como muitos dos grandes monumentos do Marrocos, é de fundação almóada, a dinastia que sucedeu aos almorávidas no século XII. O portão foi construído por volta de 1195, por Yacoub el Mansour na parede já construída por seu avô Abd el Moumen.
Bab Oudaïa se localiza na Rua Jamaa. O portão foi construído em cantaria (pedra talhada) e magnificamente esculpido em ambos os lados. O portão em si não impressiona tanto por seu tamanho, já que essa é uma característica da arquitetura almoáda, mas sim pela força visual e simplicidade da sua decoração.
A forma do portão é baseada na característica básica da arte islâmica, ou seja, o arco em forma de ferradura, que, nesse caso é seguido por 2 outros arcos decorados com o padrão geométrico darj w ktarf, que significa literalmente um desenho de rosto e ombros, lembrando vagamente uma flor-de-lis.
Entrando no Kasbah
O Kasbah des Oudaïas é um lugar pitoresco, com casas e ruas em um padrão diferente daquelas encontradas nos outros bairros de Rabat. Estando no Kasbah já se nota a diferença. São várias ruelas cheias de casas brancas e azuis, o que acabou originando a cor característica de Rabat (no Marrocos, cada cidade possui uma cor característica).
Existe toda uma atmosfera romântica permeando as ruas do Kasbah. Suas ruas com casas antigas, belos portões, vasos e mosaicos, nos remete a outra época. É como se tivéssemos voltado no tempo, ou sido transportados para algum cenário de filme.
Porém o Kasbah não é formado apenas por sensações e impressões que se formam nas nossas mentes quanto lá estamos. Ali também aprendemos um pouco da história do Marrocos e seus costumes.
No início era originalmente chamado de Mehdiya, sendo este Kasbah, o que deu origem ao nome da cidade, já que Kasbah significa fortaleza, assim como Ribat, primeiro nome de Rabat.
Quando os mouros e os andaluzes expulsos da Espanha chegaram em Rabat, o local tornou-se conhecido como Kasbah Andaluz, uma república autônoma de piratas (1621-1647). Em 1833, a tribo Oudaïa guiada pelo Sultão Moulay Abderrahman de Fez se estabeleceu no local e lhe deu o nome de Kasbah des Oudaïas, pelo qual é conhecido até hoje.
O Kasbah des Oudaïas funcionou como o bairro dos piratas durante 200 anos, de 1627 a 1829. Os piratas eram patrocinados pelo imperador Moulay Ismail, uma das figuras marcantes da história do Marrocos, conhecido tanto por sua extravagância, bem como pela sua crueldade lendária.
Ismail patrocinava os piratas tanto para obter tesouros roubados quanto para que mulheres de todo o mundo conhecido na época fossem seqüestradas para incrementar seu harém, que contabilizava 500 esposas.
Protegidos por Ismaill, os piratas então usaram a cidade e o seu porto. O labirinto de ruelas que formam o Kasbah serviu de moradia para bandidos, traficantes e marginais, a maior parte composta por espanhóis (85%) e holandeses.
A cor azul das casas foi escolhida pelos próprios piratas, pois era a mesma cor das casas que eles possuíam em Córdoba, na Espanha, além de ser também a cor do mar, a outra moradia deles. Assim, os aparentemente saudosos piratas podiam se lembrar de suas casas.
O Kasbah oferece uma bela vista para o mar, e foi justamente na parte mais aberta do rio Bou Regreg, que faz divisa com a cidade de Salé, que os piratas fizeram um banco de areia para que navios inimigos ficassem encalhados nesse local, bem na mira dos canhões presentes no interior do Kasbah. Hoje em dia, o local é usado para balsas que atravessam para Salé.
As belas casinhas de paredes envelhecidas e descascadas enganam ao primeiro olhar. São simples por fora, porém por dentro são grandes, formadas por um átrio central espaçoso, geralmente com uma fonte no meio e quartos e salas construídos ao seu redor.
Essa disposição dos quartos e salas ao redor do átrio é típica da arquitetura árabe. É no átrio que a família se reúne e as mulheres se encontram para conversar. No segundo andar ficam os quartos mais íntimos e no terceiro andar o terraço.
No segundo andar se vê pequenas janelas com grades de ferro formando pequenos desenhos. Essas janelas serviam para as mulheres olharem para as ruas sem serem vistas pelos homens.
Dentro das paredes do Kasbah também se encontra o Musée National des Bijoux (Museu de Joalharia marroquino), abrigado em um palácio do século XVII, rodeado por um belo jardim andaluz. Ainda nas proximidades, tem-se a mais antiga mesquita na capital, a Mesquita Kasbah, construída em meados do século XI.
O Kasbah des Oudaïas é um lugar bonito, diferente e tranquilo para se visitar. Apesar de parecer um labirinto formado por ruelas de paredes brancas e azuis, o local possui pouco mais de 150 metros de uma extremidade à outra. Assim, para quem quiser se aventurar sem um guia e, por acaso, acabar se perdendo, basta perguntar como se chega ao portão Bab Oudaïa ou La Plataforme, outra saída do Kasbah, próxima à cooperativa de tapetes e ao restaurante La Caravelle.
O Kasbah des Oudaïas vale a pena visitar não apenas por suas histórias, mas também pela encantadora atmosfera e por todos os cenários atemporais com que somos brindados e que se abrem na nossa frente para belas fotos.
Já li em alguns lugares que não compensa conhecer Rabat, a capital do Marrocos, principalmente quando comparada com as outras cidades imperiais como Fès e Marrakech.
Eu discordo muito dessa afirmação. Existem lugares lindos para visitar em Rabat e vou descrever alguns aqui.
O primeiro lugar que visitei na capital foi o Palácio Real, já falado no post anterior sobre Rabat.
De lá fomos para o Mausoléu de Mohammed V, avô do atual rei Mohammed VI, e o responsável pelo nome de várias avenidas por todo o Marrocos.
Chellah
Logo na saída do palácio, avistamos o Chellah, um belo conjunto de ruínas merínidas levantadas por cima de ruínas romanas.
O lugar, como já dá para perceber, tem um significado histórico duplo. Foi lá que os romanos construíram a antiga cidade de Sala Colonia. Até hoje ainda não foram descobertas ruínas significativas da presença romana no local, porém as escavações já mostraram a existência da cidade e dão um idéia de sua importância na época.
Já a presença dos Merínidas, que vieram após os romanos, é bem mais evidente no Chellah. Os Merínidas foram uma dinastia bérbere (povo nativo do Marrocos) que reinou no país entre os séculos XIII e XV, logo após a queda dos Almóadas em Marrakech. Durante o reinado dessa dinastia, a capital foi transferida para Fès e posteriormente para Rabat.
A dinastia Merínida foi construída sobre uma combinação entre o islamismo tradicional e o folclore bérbere. Os governantes merínidas incentivaram muito o desenvolvimento das artes e arquitetura marroquina. Na época de seu domínio, o Chellah funcionava como um cemitério real.
Uma das partes que mais chama a atenção do Chellah é a bela porta de 800 anos, típica da arquitetura merenida, que combina simplicidade e solidez. Em seu estado original, a porta era revestida de mármore com cores vivas e decorada com azulejos. Dá para imaginar que ela deveria ser então bem mais imponente e bela do que se vê hoje.
O Chellah abre diariamente das 9:00 as 17:30, o ingresso custa 10 dihans.
Mausoléu Mohammed V
Após passar o Chellah, chegamos ao Mausoléu Mohammed V, construído em 1962 pelo Rei Hassan II, o mesmo responsável pela construção da Mesquita Hassan II de Casablanca. Ele mandou construir esse imponente mausoléu em honra ao seu pai, o sultão Mohammed V, chamado pelos marroquinos como o “libertador do Reino”.
O sultão é lembrado como responsável pela luta que resultou na independência do Marrocos. Hoje em dia, Hassan II e seu irmão, Moulay Abdellah, também estão enterrados, ao lado de seu pai.
O mausoléu é uma obra prima da arquitetura hispano-mourisco e da arte tradicional marroquina. Se do lado de fora ele já chama a atenção, do lado de dentro, seu encanto é ainda maior.
Foram necessários 400 homens para a construção do mausoléu, que levou cerca de 9 anos para ser completado.
A decoração rica em detalhes atinge o máximo da expressão e evolução da arte no Marrocos. Inscrições, desenhos, formas geométricas, cedro, ouro e mármore dão forma a um espaço belo e cuidadosamente planejado.
Rom Landau (1927-1974), autor britânico e estudioso da cultura árabe marroquina e também de outros países do Oriente Médio, escreveu que o Mausoléu de Mohammed V “une a majestade e a sobriedade da arte almoada, inteiramente dedicada à religião, a elegância e a pompa merenida e o sentido da grandeza das dinastias saadiana (séculos 16 e 17) e alaouita (séculos 17 e 18, os alaouitas são conhecidos por serem árabes descendentes de Maomé)”.
Bom, independente de conhecer ou não esses povos e dinastias, é impossível não se impressionar com a beleza do local.
O Mausoléu constitui um importante santuário para os marroquinos e um dos poucos locais onde se permite a entrada de não-muçulmanos.
Devido à sua importância, seja história ou seja religiosa, o local é protegido por vários guardas vestidos com vibrantes roupas vermelhas.
O Mausoléu de Mohammed V está localizado na Praça Al-Yacoub Mansour. A entrada é gratuita.
Mesquita Hassan
A Mesquita Hassan fica exatamente em frente ao Mausoléu do Mohammed V. Essa mesquita tem uma história bastante interessante e até certo ponto engraçada.
Inicialmente, a mesquita era o mais ambicioso de todos os edifícios almóadas. Ela foi encomendada pelo sultão Yacoub Al Mansour no final do século 12. Esse sultão pertencia à dinastia Almóada, uma potência religiosa bérbere que se tornou a quinta dinastia moura, tendo se destacado do século XII até meados do século XIII.
O desejo de Al Mansour era construir a maior mesquita do Marrocos, porém a mesma nunca foi concluída. Se tivesse sido finalizada, seria, na época, a segunda maior mesquita do mundo islâmico.
Al Mansour decidiu construir a mesquita para celebrar sua vitória sobre o rei espanhol. Sua idéia de grandiosidade para o edifício superava até mesmo o número de habitantes em Rabat suficientes para frequenta-la.
Na época, a principal mesquita do Marrocos, localizada em Fès, tinha capacidade para 20.000 fiéis, no entanto, seriam necessários 100.000 fiéis para preencher a mesquita Hassan. Esse número nem de longe condizia com a população de Rabat, que naquele tempo era apenas um vilarejo elevado à condição de capital por Al Mansour.
A torre teve sua construção iniciada em 1195, ao mesmo tempo em que a mesquita Koutoubia em Marrakech e a Giralda em Sevilha. Todas seguindo o estilo arquitetônico almóada.
Apesar de não aparentar, o minarete da mesquita Hassan é sem dúvida a mais complexa de todas as estruturas almóada, que caracterizam-se pela simplicidade e austeridade.
Cada fachada é diferente, com uma combinação distinta de padrões, com toda a complexidade das arcadas e curvas entrelaçadas sendo baseada em apenas dois modelos formais.
A parte cômica da construção da mesquita Hassan que os marroquinos gostam de contar fica por conta dos anseios religiosos e de grandiosidade de Al Mansour.
Segundo a tradição religiosa, quem constrói 7 mesquitas garante sua entrada direta no Paraíso com direito à compania de 14 virgens. A Mesquita Hassan, seria a sétima e maior mesquita a ser construída pelo sultão. Porém sua grandiosidade acabou atrapalhando seus planos, pois Al Mansour acabou falecendo antes de concluir seu projeto.
Com a sua morte, houve a mudança da dinastia almóada para a merínida e o seu sucessor simplesmente abandonou o projeto da construção da mesquita.
Al Mansour conseguiu construir durante sua vida seis mesquitas e meia e, por isso, o infeliz sultão não conseguiu garantir sua viagem de primeira classe para o Paraíso.
Independente de ter encontrado ou não as virgens no Paraíso, uma coisa é certa, Al Mansour passou a fazer parte das histórias bem humoradas que os marroquinos tanto gostam de contar.
A Mesquita Hassan abre diariamente entre 08:30 e 18:30, a entrada é gratuita.
Localizada a beira-mar, na foz do rio Oued Bou Regreg, Rabat é a capital administrativa e política do Reino do Marrocos desde a independência em 1956. Lá se encontram a residência principal do rei Mohammed VI e a sede do governo e das embaixadas estrangeiras.
A cidade possui uma longa e rica história que pode ser sentida nos monumentos e ruínas existentes desde a época dos fenícios (primeiros habitantes), romanos, almoádas e merenidas.
Algumas descobertas arqueológicas revelaram a existência de um povoado no local datando do século III A.C. Seu antigo nome era Chellah. No ano 40 D.C, os romanos assumiram a cidade e mudaram seu nome para Sala de Colonia, porém no ano 250 D.C. os romanos abandonaram a colônia.
Por volta do século 10 D.C, Abd al-Mu’min construiu no local, uma fortificação chamada ribat, para uso como ponto de ataques contra a Espanha. Em 1170, devido a sua importância militar, a cidade, passou a chamar-se de Ribatu l-Fath, que significa “fortaleza de vitória“.
A fortificação existente deu origem ao nome atual da cidade: Rabat.
Rabat tornou-se uma das 4 cidades imperiais do Marrocos em 1660. As outras cidades imperiais são Meknès, Fès e Marrakech.
A cidade possui cerca de 1,7 milhões de habitantes. A capital do Marrocos é agradável, com avenidas largas e muito limpas.
Assim como outras cidades do Marrocos, Rabat também possui sua cor: azul claro, a cor das casas do Kasbah des Oudaias, local onde os piratas habitavam (assunto para o próximo post).
Parece existir uma certa rixa entre Casablanca e Rabat, devido principalmente ao ritmo de cada cidade. Uma vez que Rabat é a capital possuindo muitos prédios públicos, os habitantes de Casablanca costumam fazer piadas quanto à lentidão do serviço público de Rabat em contraste com a agitação da vida corporativa em Casablanca. Algo que estamos bem acostumados por aqui também…
A arquitetura predominante na cidade é a colonial, com villas muito bonitas. Villa é o nome como são chamadas as grandes casas, com um pátio central com fonte e os quartos ao redor deste. As villas são habitadas por uma família inteira.
Como Rabat não é tão turística quanto Fès ou Marrakech, é mais fácil andar nas ruas sem atrair tanto a atenção de vendedores ou outras pessoas que vivem do turismo. Isso pode facilitar a vida dos turistas que não gostam muito do costume marroquino da barganha na hora de comprar tapetes, artesanatos ou qualquer outro item.
Para quem gosta de pistache, é o local certo para comprá-lo. É lá que se encontra a maior produção de pistache do Marrocos.
Palácio Real
Quando chegamos em Rabat, ao final da tarde, o primeiro local que visitamos foi o Palácio Real ou Dar al–Mahkzen, a sede do governo, onde trabalham e residem mais de duas mil pessoas.
O palácio foi construído em 1864 sobre as ruínas de outro antigo. Faz parte das muitas construções ordenadas por MoulayIsmail, o primeiro sultão almóada a unificar o país. Embora a base de Moulay Ismail fosse Meknès, ele deu à Rabat uma relativa importância na época. Falarei mais sobre esse polêmico sultão no post sobre Meknès.
O rei MohammedVI usa o palácio para as obrigações do estado. Assim como seus ancestrais, ele recebe convidados estrangeiros no palácio de Rabat, bem como em Fès, Meknès, Tanger, Tetouan, Agadir ou em qualquer outro dos palácios reais existentes no Marrocos.
O palácio é rodeado pelos jardins andaluz que possui, além de lindas árvores, fontes e um agradável boulevard. Toda a área é muito bonita, com uma atmosfera de tranquilidade permeando o local. Os jardins foram construídos pelos franceses no século XX
Na área do palácio também há uma mesquita chamada Ahl Fès. Esta é a mesquita particular do rei Mohammed V, onde ele recita as orações de sexta-feira dentre outras da rotina religiosa.
Entre a mesquita e o palácio há a praça Mechouar, o local onde se realizam as principais festas em homenagem ao rei.
O design do palácio segue o estilo tradicional marroquino, com uma série de salas de recepção agrupadas em torno de um pátio central, dando acesso aos quartos privados.
Os quartos no lado esquerdo do pátio eram os destinados ao hammam, o banho turco, uma característica de todas as mansões nobres, enquanto os quartos do lado direito pertenciam a uma antiga mesquita.
Embora tenham guardas na entrada principal do palácio, eles parecem ser bem mais tranquilos em relação aos turistas e suas máquinas fotográficas do que os guardas de outros palácios reais que já visitei, como os guardas do palácio real de Copenhague, por exemplo.
No alto do portão de entrada principal do palácio há uma inscrição, uma oração de proteção ao rei. Os marroquinos dizem que, como o rei é uma figura muito importante, é necessário pedir a Deus proteção e sabedoria para que ele possa governar bem o país.
A cor verde encontrada no telhado e nos detalhes da construção é uma referência à cor do Alcorão.
Não é permitida a entrada no palácio, porém a visita, mesmo que somente na área externa, vale muito a pena.
A arquitetura do palácio é digna de admiração. Todo o local merece uma visita com tempo para que se possa apreciar os jardins com suas belas árvores de troncos grossos e retorcidos, o ambiente calmo e, por fim, o palácio real e seus cuidadosos detalhes admiráveis, tão característicos da arquitetura árabe.
Monumento que simboliza o compromisso, genialidade arquitetônica e devoção do povo marroquino, a Mesquita Hassan II é uma jóia da arquitetura moderna, situada em um dos bairros mais povoados de Casablanca.
É a maior mesquita do Marrocos e a terceira mais importante da religião islâmica. Além disso, é a única mesquita do mundo que permite a entrada de não muçulmanos. Segundo o guia do local, isso ajudaria a explicar a fé muçulmana para pessoas de outras religiões.
Seja como for, é uma oportunidade única de conhecer o esplendor da arquitetura árabe, com todos os seus ricos detalhes, bem como a tecnologia surpreendente empregada para a construção da mesquita.
Construída uma parte sobre as águas do oceano Atlântico, a Mesquita é uma das mais belas edificações iniciadas pelo rei Hassan II, falecido em 1999 e pai do atual rei Mohammed VI. A mesquita foi construída sobre a água devido ao versículo do Alcorão que diz que “o trono de Deus estava sobre as águas”. A cor verde do teto e dos detalhes também faz referência à cor do Alcorão.
Antes do início de sua construção, o rei Hassan II declarou:
“Desejo que Casablanca seja dotada de um edifício amplo e belo do qual possa orgulhar-se até o final dos tempos … Eu quero construir esta mesquita na água, porque o trono de Deus está sobre a água. Portanto, os fiéis que lá irão para rezar, para louvar o Criador em solo firme, poderão contemplar o céu e o mar de Deus.”
Bom, pode-se dizer que o rei cumpriu sua promessa presenteando Casablanca com uma bela mesquita construída com tecnologia de ponta, que impressiona o viajante independente da religião.
O projeto se iniciou em 1987 e levou 6 anos até ser completado, em 1993, frustrando os planos iniciais de inauguração na ocasião do 60° aniversário do rei em 1989. Participaram de sua construção 2.500 trabalhadores e 10.000 artesãos, contabilizando 50 milhões de horas trabalhadas (dia e noite).
Os números são impressionantes e não páram por ai. Para a construção da Mesquita foram utilizados:
– 300 mil metros cúbicos de concreto
– 40 mil toneladas de aço
– 250 mil metros quadrados de mármore travertino e granito
– 10 mil metros quadrados de azulejo (zellige)
– 53 mil metros quadrados de cedro
– 67 mil metros quadrados de gesso
– 10 mil metros quadrados tadelakt (material de revestimento impermeável típico do Marrocos)
– 800 milhões de dólares
Obra prima da arquitetura árabe-muçulmana, a Mesquita Hassan II é, sem sombra de dúvida, uma proeza.
Ela constitui um complexo religioso e cultural, com área total de 9 hectares (90.000 m²), sendo composta por uma sala de oração, uma sala de ablução (purificação), banhos, uma escola corânica (medersa), uma biblioteca e um museu.
A capacidade total da mesquita é de 105 mil seguidores, sendo 25 mil apenas na sala de oração e os demais no pátio externo da mesquita.
Ela é considerada o maior edifício religioso do mundo árabe graças ao seu minarete de 200 m de altura. A torre foi construída apoiada somente em duas colunas. À noite, do alto do minarete, um laser aponta para Meca, com alcance de 30 km.
A função do minarete na mesquita é propagar a voz do almuadem ou muezim de seus alto falantes, de forma que possa chegar até todos os fiéis, convidando-os à oração. De acordo com as leis religiosas no Marrocos, nenhuma casa ou edifício na cidade pode ser mais alto do que o minarete, porque este foi feito para Deus e, segundo eles, seria arrogância construir algo para os homens maior do que para Deus. Além disso, fica fácil para os fiéis localizarem a mesquita pelo seu minarete.
Sala de oração
Quando se entra na mesquita é necessário tirar os sapatos, que são armazenados em sacolas plásticas entregues aos visitantes. Logo que se entra já se espanta com a beleza interior, a riqueza de detalhes e suas impressionantes dimensões internas.
A sala de orações possui uma área de 20.000 m² com capacidade para 25.000 pessoas. Ela consiste em dois níveis: o piso térreo usado para os homens e dividido em três naves simétricas, voltadas em direção à Meca, com capacidade de 20.000 pessoas e os dois mezaninos para as mulheres, que possuem uma entrada separada, com uma área de 3.500 m² e capacidade para 2500 pessoas cada.
A sala de oração também possui um sistema de aquecimento no solo e caixas de som espalhadas, de forma muito discreta, para que todos possam ouvir a voz do líder da oração, o imam ou muazzin.
Existem ainda na sala 18 portas feitas de titânio e bronze. A porta muito pesada não se abre para o exterior. Ao invés disso, ela se levanta, puxada por engrenagens escondidas nas paredes. Realmente fantástico!
No total existem 50 lustres e arandelas de murano veneziano com 8 tamanhos diferentes entre 3 a 6 metros de diâmetro, 5 a 10 metros de altura e 600 a 1.200 kg de peso.
O teto móvel pesa 1.100 toneladas e possui uma área de 3.400 m². O teto é uma estrutura metálica tridimensional coberto com madeira de cedro entalhada e pintada. O tempo total para a abertura dele é de apenas 5 minutos graças ao sistema motor em rodas que fornece a impulsão.
Quando o teto está aberto, os seguidores podem orar conforme o desejo do rei Hassan II, “vendo o céu e o mar de Deus”.
No meio da sala de oração há um circuito fechado de água do mar chamado “Seguia“. Esse circuito serve para trazer a água do mar para o ritual de purificação realizado na sala de ablução.
No chão existem três aberturas com vista para as abluções. Uma parte do chão também é feita de vidro, de forma que os fiéis possam orar vendo o mar. Essa parte no entanto é reservada para a realeza.
Em ambos os lados da nave há duas colunas de granito sobre as quais está escrito, em ouro, a árvore genealógica do Rei Hassan II.
Na parte leste da sala de oração encontra-se o mihrab, que é a abóbada que direciona para Meca. O mihrab é feito de mármore branco de Carrara, azulejos (zelige) e gesso. Ele é usado pelo Imam para liderar as cinco orações diárias.
Neste local também se vê o minbar, o balcão de mogno com incrustações de marfim usado toda sexta-feira para as orações.
Os detalhes das paredes e arcos são de um cuidado e uma delicadeza extraordinários. É impossível não ficar deslumbrado quando se visita o interior da Mesquita Hassan. A arquitetura, os detalhes da decoração e a força da devoção do povo são fatores que nos impressiona e emociona ao mesmo tempo.
Eu fiquei muito feliz com a oportunidade de entrar em uma mesquita muçulmana. Apesar de ter muito contato com a cultura árabe há anos, eu nunca havia, fora do Brasil, a sentido de forma tão próxima. Para mim foi gratificante ter essa experiência e poder vivenciar o cotidiano de uma cultura que admiro bastante.
Uma cultura cheia de riqueza e encantamento que, ao meu ver, deveria ser separada dos acontecimentos internacionais que ocorreram nos últimos anos.
Sala de ablução
Este é o local onde os fiéis se purificam antes da oração. A ablução consiste em lavar 3 vezes as mãos, boca, nariz, rosto, braços, cabeça, orelhas e pés até a altura do tornozelo. A ablução também pode ser feita em casa antes de se dirigirem à mesquita, mas a maioria faz nas muitas fontes de água do mar existentes no local.
A sala de purificação é de uma beleza incrível. É muito grande, com uma área de 4.800 m². No total são 41 fontes, incluindo 3 grandes e 38 pequenas. O desenho das fontes representa a flor de lótus.
Além das fontes, ainda há uma centena de torneiras por todos os lados para que todos possam fazer o ritual da ablução.
Os lustres de cobre foram fabricados em Fès. Toda a sala é decorada com azulejos e revestida de tadelak vindo de Marrakech. O tadelak possui duas características, ele é resistente à umidade ao mesmo tempo em que mantém o calor no local.
O material consiste em uma mistura de argila arenosa, sabão, cal preto e gema de ovo. Graças à sua ação contra a umidade, os lustres da sala de ablução nunca precisaram ser lavados.
Sala do Hammam
Hammam ou banho turco, combina as funcionalidades e a estrutura dos seus predecessores, termas romanas e banhos bizantinos, com a tradição turca dos banhos de vapor.A sala de Hammam é composta por 3 quartos, sendo uma sala morna, uma quente e, por último, uma muito quente.
A temperatura da última sala pode atingir até 47°C, sendo o local onde se utiliza a água para o banho.
O Hammam a vapor consiste de uma piscina aquecida equipada com saídas de vapor. A temperatura da água é de 38°C e a profundidade da piscina de 1,5 metro.
Também na sala de hammam se encontram zelliges magníficos bem como o revestimento em tadelakt.
Medersa
É a escola corânica, conhecida como Mederda. Fica no lado leste da Mesquita Hassan II.
A biblioteca e museu
Ficam em ambos os lados da praça. São dois prédios idênticos e simétricos.
Chamado para oração
No islamismo existem orações obrigatórias (Salat) que são praticadas cinco vezes ao dia. Essas cinco orações diárias contêm versículos do Alcorão que são recitados em árabe e são praticadas na alvorada, ao meio dia, no meio da tarde, ao crepúsculo e à noite. Assim, elas vão determinando o ritmo de todo o dia.
O dhan, ou o chamado para oração, é pronunciado em um tom melodioso pelo muazzin do alto do minarete.
Enquanto estava no Marrocos ouvi várias vezes o chamado para a oração. É muito bonito de se ouvir, assim como de se ver as pessoas caminhando em direção à mesquita para a oração. As ruas ficam mais vazias, as pessoas parecem se acalmar. Sem dúvida é um ritual muito bonito.
Tradução do Chamado para a oração:
“Deus é Grandioso, Deus é Grandioso
Deus é Grandioso, Deus é Grandioso
Testemunho que não há outra divindade além de Deus
Testemunho que não há outra divindade além de Deus
Testemunho que Mohammad é o Mensageiro de Deus
Testemunho que Mohammad é o Mensageiro de Deus
Vinde à oração! Vinde à oração!
Vinde à salvação! Vinde à salvação!
Deus é Grandioso, Deus é Grandioso
Não há outra divindade além de Deus”
Visitas guiadas
A Mesquita é aberta à visitação guiada em diversos idiomas todos os dias às 9, 10 e 11 horas da manhã e às 14:00, entre os meses de setembro até junho. Durante o período do Ramadã, a mesquita é aberta para visitação somente no período da manhã. Às sextas-feiras, a visita é feita mediante agendamento.
O bilhete de entrada pode ser comprado na própria mesquita e custa 120 dihans (aproximadamente 12 euros). Há desconto de 50% para estudantes, marroquinos, estrangeiros residentes no Marrocos. Estudantes marroquinos e crianças menores de 12 anos pagam 30 dinhans.
Não, essa não é a frase dita, assim como o filme não foi gravado em Casablanca. A frase correta é “Play it once Sam” e o filme foi inteiramente gravado nos estúdios de Hollywood. Bom, seja como for, o filme contribuiu bastante para aumentar a fama da cidade.
Casablanca ou Dar el Baida é a capital econômica do Marrocos e a segunda maior cidade da África, depois do Cairo. Mais de 10% da população do país mora em Casablanca, correspondendo a mais de 3 milhões de habitantes.
A origem da cidade foi provavelmente como um posto de comércio Cartagiano conhecido como Anfa.
O porto existente no local era usado, dentre outras coisas, para a pirataria. O local foi dominado pelos árabes liderados pelo sultão Abd al-Mumin que derrotou os povos bérberes nativos do Marrocos.
A pirataria praticada nos portos, bem como sua localização estratégica, atraiu a atenção dos portugueses, que acabaram por invadir a cidade.
Casablanca foi destruída 2 vezes, em 1468 e 1515. Sessenta anos mais tarde, os portugueses reconstruíram a cidade.
A primeira casa erguida era branca, devido ao material usado na construção, o que originou seu nome: Casa Branca.
Como cada cidade no Marrocos tem uma cor que a representa, a cor de Casablanca não poderia ser outra que não a branca. Sendo assim, as construções da cidade seguem essa cor.
Os portugueses permaneceram em Casablanca por mais de 2 séculos, até o terremoto de 1755, muito comentado até hoje pelos guias locais.
Após a retirada dos portugueses, o sultão Mohammed ben Abdallah reconstruiu a cidade e deu-lhe o nome árabe Dar el Beida. Quando os espanhóis se instalaram no local, no final do século 18, rebatizaram a cidade com o nome Casablanca, que permanece até hoje.
Fui para Casablanca em novembro de 2010. Foi a primeira cidade marroquina que visitei. No início fiquei preocupada com a temperatura, pois é quase inverno no hemisfério norte e muitos guias falavam de chuvas nessa época do ano no Marrocos.
Felizmente choveu apenas uma noite e a temperatura estava ótima. Não fazia tanto calor durante o dia e à noite a temperatura era amena, uma blusa de frio era mais do que suficiente. Portanto recomendo essa época para quem quiser conhecer as cidades imperiais.
Já para o deserto ou montanhas, o melhor é viajar até no máximo outubro, pois as noites no deserto podem ser bem geladas e as chuvas nas montanhas, além do frio, prejudicam muito quem deseja fazer alpinismo.
Embora seja menos turística que Fès ou Marrakech, Casablanca não deixa de ser um destino agradável. Porém não é necessário mais do que dois dias na cidade. Melhor gastar mais tempo em Marrakech.
Casablanca é uma cidade mais moderna, quando comparada com outras cidades do Marrocos. As principais indústrias do país se concentram ai. A cidade é mais cosmopolita e também mais ocidentalizada. Vi algumas mulheres sem véu e nenhuma usando a burca, bem como casais andando de mãos dadas.
O trânsito, assim como em muitas cidades grandes, é caótico. Ouve-se uma sinfonia de buzinadas quase o tempo todo.
Para se locomover na cidade, pode-se pegar os taxis que não são caros. Existem os taxis brancos chamados de Grand Taxi que percorrem um trecho definido, normalmente periferia-centro. Os taxis vermelhos são chamados de Petit Taxi e funcionam como os nossos taxis, com taxímetro.
Aliás é sempre bom conferir se o taxímetro está funcionando antes de pegar o taxi. Preços fechados combinados antes geralmente saem mais caros do que quando se usa o taxímetro.
Marché Central
Um lugar divertido e característico para se visitar em Casablanca é o Mercado Central (Marché Central). É o principal mercado no centro da cidade. Foi criado durante o protetorado francês para satisfazer as necessidades dos europeus. Hoje em dia é frequentado por marroquinos e turistas curiosos.
Mesmo para quem não deseja comprar nada, vale a visita. No mercado encontram-se bancas de flores, peixes, mariscos, frutas, secas, especiarias e outras coisas que fazem parte do coditiano marroquino.
Lá se vê o preparo dos peixes, a forma como são armazenados nas bancas (sem muito conhecimento dos conceitos de vigilância sanitária…) e principalmente muitos gatos rondando as bancas de peixes e roubando alguns pedacinhos que caem ou que sobram nas bacias onde grandes peixes como o peixe espada são lavados e cortados, se necessário.
Pode parecer um destino não muito convidativo, visitar mercados e suas bancas. Porém, acredito que são nesses lugares que se vê e se sente o puro espírito de um lugar e seu povo.
O mercado mistura os diferentes e agradáveis odores das especiarias e frutas frescas com o cheiro forte, que dispensa qualquer descrição, dos peixes. Lá se vê pessoas do lugar em suas atividades coditianas em um cenário próprio e não em um daqueles especialmente projetados para atrair turistas, aqueles que representam o país apenas de forma superficial.
É o local onde Latifa vende seus peixes frescos aos Abdallahs e Alis de Casablanca.
Por estes e outros motivos que gostei bastante de visitar esse mercado e recomendo o passeio para quem for a Casablanca.
O Marché Central se localiza na Rue Chaouia e fica aberto entre 6:00 e 14:00. Há uma entrada também no Boulevard Mohammed V.
Boulevard Mohammed V
Na região do Boulevard Mohammed V pode-se ver lindas construções típicas de Casablanca, de estilo Art-Déco (abreviação de arts décoratifs) em combinação com o estilo mouro. A arquitetura art-déco foi uma idealização francesa em conjunto com a arte mouravida já existente no Marrocos.
Art déco foi um movimento popular internacional de design de 1925 até 1939. Este estilo afetou as artes decorativas, arquitetura, design de interiores e desenho industrial, assim como as artes visuais, moda, pintura, artes gráficas e cinema. Este movimento foi, de certa forma, uma mistura de vários estilos e movimentos do início do século XX, incluindo construtivismo, cubismo, modernismo, bauhaus, art nouveau e futurismo.
A Art déco também procurou inspiração no estilo tradicional marroquino, e por sua vez, teve uma grande influência mais tarde na arquitetura moura, como as janelas, escadas e varandas de ferro fundindo e desenhos florais, geométricos ou de animais em frontões e frisos.
A sua popularidade na Europa foi durante os anos 20 e continuou fortemente nos Estados Unidos através da década de 1930. Ao contrário de muitos movimentos de design que tiveram suas raízes em intenções filosóficas ou políticas, a Art Déco foi meramente decorativa, sendo visto como estilo elegante, funcional e ultra moderno.
Durante o protetorado francês, os franceses residentes eram proibidos de morar nas casas existentes dentro da medina (cidade antiga). Assim, os arquitetos franceses foram construindo casas e edifícios públicos nos bairros novos, chamados de Ville Nouvelle. Essas construções seguiam o então estilo da época, a Art-Déco.
Um belo exemplo da combinação do estilo mouro e art-déco é o Hôtel Lincoln, situado no Boulevard Mohammed V em frente ao Marché Central. O edifício foi construído em 1916 e infelizmente encontra-se hoje em ruínas. Conforme descrito no guia Lonely Planet, “o prédio está pacientemente à espera de uma tão falada restauração“.
O Hôtel Lincoln já foi cenário para um filme americano sobre a guerra na Somália. Em 2006, o jornal La Gazette du Maroc publicou uma matéria sobre a promessa de restauração e sua lentidão em começar: Hôtel Lincoln à Casablanca : L’histoire réhabilitée (Hôtel Lincoln em Casablanca: a história restaurada).
É realmente uma pena que um edifício tão belo, um exemplo de uma arquitetura tão rica, esteja nesse estado de deterioração.
Place Mohammed V
Próxima ao Boulevard Mohammed V, está a Avenida Hassan II. Esta avenida leva até a Place Mohammed V, antigamente conhecida por Place des Nations Unies. Esta praça rodeada de prédios públicos é o coração de Casablanca e o local onde as principais ruas e avenidas se cruzam. Na praça também há uma fonte musical com jatos de água coloridos e muitos aguadeiros a espera de turistas querendo tirar fotos e seus dihans (moeda do Marrocos).
Aguadeiros são pessoas vestidas com roupas e chapéus coloridos. Antigamente não havia água dentro da medina e eram os aguadeiros que levavam água até os moradores que lá habitavam. Eles carregam um recipiente com água e várias “canecas” de metal penduradas no pescoço.
Hoje em dia, eles ainda vendem água, mas a principal atividade desses aguadeiros é realmente tirar fotos com os turistas.
Quando chegamos na praça, eles se aproximam rapidamente já se preparando para as fotos. Em troca, lógico, pedem dihans, uma prática comum por todo o Marrocos. Se desejar tirar fotos, deve-se pagar por elas.
Quanto pagar para os aguadeiros ou performistas é sempre uma dúvida para os viajantes. Em geral pode dar entre 10 e 20 dihans. É claro que o valor vai depender da quantidade de fotos tiradas. Mais fotos, mais dihans. Na dúvida, combine antes o valor das fotos.
Embora eu tenha lido em vários sites e blogs que os performistas e aguadeiros ficam agressivos se a pessoa não paga ou se o valor dado é baixo, eu particularmente não presenciei isso em Casablanca, já em Marrakech a coisa muda um pouco.
Mas não há motivos para preocupação em demasia. Quem quiser tirar fotos, pode tirar calmamente.
Para ter uma idéia do valor, 11 dihans correspondem a cerca de 1,00 euro.
Por outro lado, quem não quiser tirar fotos, deve deixar isso bem claro, pois os marroquinos sabem ser bem insistentes.
Estando na Place Mohammed V, do lado esquerdo (de quem vem da Boulevard Mohammed V) está o Palais de Justice (Palácio da Justiça), construído em 1925. A enorme porta principal e a entrada foram inspirados no iwan persa, que define-se como um corredor ou espaço abovedado, fechado entre três paredes, estando a quarta parede inteiramente aberta ao exterior.
A praça ainda é rodeada por outros prédios públicos seguindo um estilo racional planejado pelos arquitetos franceses Henri Prost e Robert Marrast que planejaram o desenho da praça para uma população de 150 mil, o que era um número muito maior do que o número de habitantes em 1924. Porém a população crescente de Casablanca ultrapassou a estimativa logo em 1923.
Henri Post é o principal responsável pelo estilo arquitetônico de Casablanca. Ele combinou o estilo tradicional marroquino com idéias de urbanização européias existentes na época.
Outras construções que chamam a atenção próximas à praça são: o prédio da sede daagência de correios, inaugurado em 1919. Um maravilhoso edifício facilmente reconhecido pelos arcos e colunas de pedra, pelos mosaicos azuis e pelo teto e lustre de bronze; o Banque al Maghrib,claramente em estilo tradicional marroquino, sendo o último edifício construído na praça; e, por último o prédio da Ancienne Préfecture, de 1930. Conhecida como Wilaya, a construção em estilo colonial francês possui uma torre de 50 metros com um relógio no alto.
Continuando na Avenida Hassan II, no cruzamento com o Boulevard Moulay Youssef, encontra-se o Parc de la Ligue Arabe. Esse parque foi criado em 1918 com o objetivo de formar na cidade um “oásis” de descanso, diversão e local para caminhada.
As belas palmeiras ladeando a avenida criam um ambiente tranquilo que contrasta com o burburinho da cidade. É um lugar que convida para uma agradável caminhada.
Aïn Diab, a praia
A praia de Casablanca fica no bairro Aïn Diab. A praia começa próximo da velha Medina, passa pela Mesquita Hassan II, e continua por cerca de 3 Km. No entanto, a maior atração de Aïn Diab não é tanto o mar, mas sim os clubes existentes no Boulevard de la Corniche. Essa região muito agradável é repleta de hotéis/clubes com piscinas, normalmente preenchidas com água do mar filtrada, restaurantes, bares e discotecas.
Com vista para a praia, no Boulevard de la Corniche, também se encontram as villas, que são as grandes e bonitas casas de sauditas afortunados.
As praias parecem ser mais frequentadas por turistas do que por nativos e não deixa de ser interessante ver, no mesmo ambiente, a presença de turistas de biquines no meio de mulheres com véus.
O Boulevard de la Corniche é uma região muito agradável para uma caminhada no calçadão repleto de nativos com suas famílias e turistas contentes. Nesse local se encontram vários restaurantes. Uma boa dica é pedir peixes ou frutos do mar, uma vez que Casablanca fica no litoral e o peixe é sempre fresco. Deixe para comer as comidas típicas como o tajine ou cuscuz nas outras cidades, mesmo porque corre-se um sério risco de se cansar de comê-los todos os dias.
Marrocos sempre foi um sonho para mim, porém apesar de desejar conhecer o país, acabava sempre escolhendo outro destino na hora de arrumar as malas, na maior parte das vezes a Europa. Foi assim em 2006 e 2007, quando, em ambas as ocasiões, acabei optando pelo Velho Continente ao invés do Marrocos.
E dessa vez não foi tão diferente afinal, eu estava pesquisando roteiros para Egito ou Turquia, quando me deparei com a descrição de um roteiro para Tunísia e Marrocos. Bom, devido a restrições de disponibidade de tempo, a Tunísia foi deixada para uma outra oportunidade e, dessa vez, Marrocos sobressaiu como o destino certo para a ocasião.
É claro que a Europa, minha eterna paixão, acabou sendo de uma forma ou de outra incluída na viagem, com uma rápida passagem pela Espanha com direito a muitos tapas e vinhos. Porém a Espanha fica para outro post. Vamos voltar ao Marrocos.
É incrível como muitas pessoas (e me incluo aqui) imaginam a África um destino tão longe, mas não a Europa, sendo que Espanha e Portugal são países vizinhos ao Marrocos. A viagem para esse belo país africano provou para mim que, afinal de contas, a “África é logo ali” (como diria o Vanucci).
Mesmo quando pensamos no custo de uma viagem à África, podemos nos surpreender, pois uma pesquisa de roteiros, pacotes e passagens me mostrou que ir para o Marrocos, Tunísia ou Egito pode ser mais barato do que uma viagem aos nossos vizinhos Chile ou Peru.
Marrocos é um país encantador logo no primeiro contato. Seu povo, sua cultura, sua arquitetura, sua arte, seu jeito especial de ser uma mistura árabe e africana com uma pitada européia, o tornou um lugar cativante, especial, um país que sentimos saudades mesmo antes de partir.
E quando saimos do Marrocos somos impregnados com a eterna sensação de que devemos voltar, seja para rever suas maravilhas, seja para conhecer novos encantos.
Sua cultura complexa é formada por árabes e berberes e remonta a tempos antigos construídos durante várias invasões de árabes e europeus (romanos, e mais recentemente franceses, portugueses e espanhóis). A história do Marrocos está intimamente ligada à sua localização geográfica. Objeto de desejo de muitos impérios durante séculos, desde o Império Romano até o protetorado francês, sendo que o Reino do Marrocos ganhou sua independência efetiva somente em 1956.
Ponto de encontro das principais caravanas de comércio e excepcional base militar estratégica, o Marrocos conseguiu enriquecer seu patrimônio cultural a partir de todas essas ricas experiências históricas. O resultado foi uma mistura de cultura e arte hoje plenamente expressas através da diversidade de línguas faladas no Marrocos (árabe, berbere e francês), das religiões que convivem em harmonia (islamismo, judaísmo e cristianismo), e de seus magníficos artesanatos, fabricados há séculos quase que da mesma forma.
O Marrocos preservou sua identidade e valores ao longo dos séculos, sem no entanto deixar de se modernizar e de investir em seus recursos, principalmente na exploração do fosfato e no setor de turismo.
A imagem que nos traz é de um povo forte e sereno ao mesmo tempo, ligado em seus valores tradicionais, porém livre de extremismos religioso ou político.
O Islamismo é a religião oficial do país, sendo parte fundamental da história do Marrocos há 14 séculos, orientando a vida espiritual marroquino. O Islã está presente no coração da vida marroquina, através dos costumes, arquitetura e educação. A chamada para a oração pontua a vida das mesquitas marroquinas, mausoléus e escolas corânicas. São hinos fortemente presentes no cotidiano das pessoas.
No entanto, o reino do Marrocos continua a ser essencialmente uma terra de tolerância, onde todos os credos vivem em harmonia. Por séculos, marroquinos judeus e muçulmanos convivem em respeito um ao outro, garantindo a liberdade de culto para uma comunidade diversificada, amigável, equilibrada e hospitaleira.
A complexidade desse país nos desafia a descrevê-lo, mesmo que eu tentasse uma lista imensa de palavras e adjetivos, ainda assim o resultado seria simplificado e superficial. Afinal palavras não conseguem transmitir a beleza das montanhas Atlas, a singularidade de Marrakech, a riqueza dos detalhes encontrados nos mosaicos e outros artesanatos ou o sabor do chá de menta servido em todos restaurantes.
Uma viagem ao Marrocos não se resume apenas em conhecer suas cidades, montanhas ou deserto. É mais do que isso. O país nos convida a um mergulho em sua cultura milenar, sua língua, sua escrita, seus mosaicos magníficos, sua gente.
Um passeio ao Marrocos não acontece sem sentir a vida pulsante e intensa existente dentro dos muros das medinas, sem sentir os mais diversos odores e cores de suas especiarias, dos tajines e cuscuz servidos em todos os lugares, sem ser arrastado para a multidão composta por nativos e turistas na praça Djemma El Fna, repleta de encantadores de serpentes, adestradores, contadores de história, performistas e outros em busca da atenção e moedas dos turistas.
Sem dúvida alguma, Marrocos é um país cheio de encantos e surpresas, que nos presenteia com a magia das 1001 noites e, principalmente, com um destino prazeroso e inesquecível.